1. HOTSPOTS
Destruição da camada de ozônio, chuva ácida, erosão, poluição do ar, do solo e da água… Estes problemas, combinados com a pressão do crescimento populacional nos países em desenvolvimento e o consumo desenfreado nos países desenvolvidos, apresentam um cenário sombrio que ameaça atualmente a vida no planeta. No entanto, por mais sérios que sejam, não se comparam ao efeito amplo e devastador que a destruição em grande escala da biodiversidade tem sobre o meio ambiente.
A destruição da biodiversidade - ou seja, a perda das espécies existentes na Terra - não só causa o colapso dos ecossistemas e seus processos ecológicos, como é irreversível. Nem a mais alta tecnologia, nem as descobertas biotecnológicas, nem as imagens computadorizadas ou a realidade virtual podem compensar o prejuízo inigualável da extinção das espécies; certamente nada pode recuperar o que foi formado de forma tão singular, ao longo de bilhões de anos, na história evolutiva de nosso planeta.
A importância da conservação da biodiversidade alcançou destaque mundial durante a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Desde então, foram consolidados fundos mundiais voltados especificamente para a conservação e cresceram os investimentos de agências multi-laterais e bilaterais de fomento, assim como os de fundações privadas ligadas ao meio ambiente. Vale notar que o interesse e a consciência sobre a importância da biodiversidade também têm aumentado significativamente entre o setor privado, com um número crescente de empresas que apoiam projetos de conservação em todo o mundo.
Apesar desses avanços, ainda há muito a ser feito, já que grande parte dos recursos humanos e financeiros destinados à área não são utilizados de maneira eficaz. Dessa forma , os grandes desafios são estabelecer prioridades claras para ações de conservação e saber como investir os escassos recursos humanos e financeiros de maneira eficiente.
Em resposta a esse desafio, a Conservation International segue uma estratégia que concentra seus esforços e investimentos em áreas prioritárias. Esta estratégia tem como diretriz o conceito dos Hotspots.
2. HOTSPOTS E AS GRANDES ÁREAS NATURAIS CONSERVADAS
O conceito dos Hotspots, criado em 1988 pelo Dr. Norman Myers, estabeleceu 10 áreas críticas para conservação em todo o mundo. Essa estratégia foi adotada pela Conservation International para estabelecer prioridades em seus programas de conservação, assim como pela John D. & Catherine T. MacArthur Foundation. Em 1996, um novo estudo liderado pelo Dr. Russell A. Mittermeier, presidente da Conservation International, aperfeiçoou a teoria inicial de Myers, identificando 17 Hotspots. Estudos recentes, conduzidos com a contribuição de mais de 100 especialistas, ampliaram e atualizaram essa abordagem. Após quatro anos de análises, o grupo de cientistas estabeleceu os 25 Hotspots atuais, descritos no livro "Hotspots - The Earth's Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecoregions", de autoria de Russell Mittermeier, Presidente da Conservation International, e de outros colaboradores. Em artigo publicado na Nature, no ano 2000, a estratégia dos Hotspots é justificada pelo fato que os conservacionistas estão longe de conseguirem proteger todas as espécies ameaçadas do mundo. Em consequência, a definição de prioridades pode aumentar a eficiência das ações de cada recurso investido em conservação.
A escolha desses pontos críticos leva em consideração que a biodiversidade não está igualmente distribuída ao redor do planeta, sendo que cerca de 60% de todas as espécies de plantas e animais estão concentradas em apenas 1,4% da superfície terrestre. Essa abordagem prioriza as ações nas áreas mais ricas - como as florestas tropicais da Mata Atlântica, as savanas do Cerrado brasileiro, os ecossistemas do tipo mediterrâneo e outros - protegendo espécies em extinção e mantendo o amplo espectro de vida no planeta.
O critério mais importante na determinação dos Hotspots é a existência de espécies endêmicas, isto é, que são restritas a um ecossistema específico e, portanto, sofrem maior risco de extinção. É o caso do mico-leão-dourado, encontrado apenas no estado do Rio de Janeiro e em mais nenhum outro lugar do mundo. Outro critério importante é o grau de ameaça ao ecossistema, sendo consideradas como Hotspots, as bioregiões onde 75% ou mais da vegetação original tenha sido destruída. Muitas áreas mantém apenas 3 a 8% do que existia inicialmente, como a Mata Atlântica, que hoje guarda entre 7 a 8% de sua extensão original.
Enquanto o conceito de Hotspots concentra-se em ecossistemas fragmentados e devastados, dois outros conceitos, desenvolvidos pelo Dr. Russell A. Mittermeier, vêm complementar as diretrizes para a priorização de áreas para conservação. O segundo conceito é o de Wilderness Areas, que identifica os grandes blocos de florestas tropicais, praticamente intactos (ou seja, que possuem mais de 75% de sua vegetação original) e com baixa densidade populacional (menos de 1 habitante por km²). Nessas regiões, como é o caso de grande parte da Floresta Amazônica, encontram-se as algumas populações indígenas que têm conseguido manter sua identidade cultural. O terceiro conceito leva em consideração as fronteiras políticas e a riqueza biológica encontrada dentro de cada nação . Os 17 países de Megadiversidade são aqueles com os mais altos índices de riqueza natural do mundo.
Em todas as três abordagens, o Brasil tem posição de destaque. É o país campeão de Megadiversidade, tendo maior número de espécies do que qualquer outra nação. Possui também o maior bloco de área verde do planeta, a Floresta Amazônica. Além disso, em território brasileiro podem ser encontrados dois Hotspots importantes, a Mata Atlântica e o Cerrado.
Para a definição de estratégias nacionais para os Hotspots brasileiros, a Conservation International do Brasil colaborou com o Projeto de Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade dos Biomas Brasileiros, do Ministério do Meio Ambiente. Centenas de especialistas e representantes de várias instituições trabalharam em conjunto para a indicação das áreas mais críticas e importantes para conservação do Cerrado em 1998, e da Mata Atlântica em 1999.
3. MATA ATLÂNTICA
A Mata Atlântica está entre os cinco primeiros colocados na lista dos Hotspots. O total de mamíferos, aves, répteis e anfíbios que ali ocorrem alcança 1361 espécies, sendo que 567 são endêmicas, representando 2% de todas as espécies do planeta, somente para esses grupos de vertebrados. A Mata Atlântica, que possui 20.000 espécies de plantas - das quais 8.000 são endêmicas - é o segundo maior bloco de floresta tropical do país. Inclui diversos tipos de ecossistemas tropicais como as faixas litorâneas do Atlântico, as florestas de baixada e de encosta da Serra do Mar, as florestas interioranas e as matas de Araucária.
Originalmente, a Mata Atlântica ocupava 1.290.000 km² do território brasileiro. Os impactos de diferentes ciclos de exploração e a concentração das maiores cidades e núcleos industriais fizeram com que a vegetação natural fosse reduzida drasticamente. A devastação foi maior nas áreas planas da região costeira e na estreita faixa litorânea do Nordeste, onde resta menos de 1% da floresta original.
Diante desse quadro de destruição, a Conservation International do Brasil e a Fundação SOS Mata Atlântica decidiram unir esforços para atender as necessidades de conservação desse Hotspot. Em 1999, foi estabelecida uma nova estratégia entre essas duas organizações, a "Aliança para a Conservação da Mata Atlântica". Com a proposta do "Desmatamento Zero" (Rede de ONGS da Mata Atlântica) e da "Perda de Espécies Zero", essa iniciativa busca amplificar a eficiência das duas organizações e servir como um modelo para os Hotspots ao redor do mundo.
4. Espécies Bandeiras
A Mata Atlântica tem várias "espécies-bandeira", que simbolizam a região e são utilizadas em campanhas de conscientização para a proteção desse ecossistema. Dentre elas, algumas espécies de primatas endêmicos, como os mico-leões (gênero Leontopithecus) e as duas espécies de muriquis (gênero Brachyteles), têm ajudado a popularizar essa floresta no Brasil e no mundo. O muriqui, por exemplo, é o maior macaco das Américas e também o maior mamífero endêmico do Brasil. No passado, essa espécie foi a principal fonte de proteína dos exploradores da região costeira. Hoje, o muriqui está restrito à alguns blocos remanescentes de florestas na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo e suas populações estão reduzidas a cerca de 2.000 indivíduos.
Para proteger essas e tantas outras espécies, a Conservation International do Brasil desenvolve projetos de conservação em vários pontos do país. Um dos exemplos é o projeto realizado, juntamente com o Instituto de Estudos Sócio-Econômicos do Sul da Bahia (IESB), na região da Reserva Biológica de Una (Bahia), o último refúgio do mico-leão-de-cara-dourada. Outra iniciativa importante busca proteger uma das últimas populações do "muriqui do norte" na Estação Biológica de Caratinga, Minas Gerais, em parceria com a Fundação Biodiversitas.
http://www.aliancamataatlantica.org.br/
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