Estar próximo a uma fonte de água não impede que elevados índices de pobreza atinjam os agricultores e suas comunidades. Por outro lado, e de forma surpreendente, comunidades rurais menos favorecidas em termos de recursos hídricos podem mostrar baixos níveis de pobreza rural.
Situações assim foram constatadas pelo economista Marcelo Torres, da Universidade Católica de Brasília, em duas áreas da bacia do rio São Francisco: a sub-bacia de Buriti Vermelho – próxima à capital federal, e a de Boqueirão/Juazeiro – em terras da Bahia e de Pernambuco. Elas estão relatadas na pesquisa que tomou parte durante curso de pós-doutorado na Universidade da Califórnia-Davis, junto com especialistas dessa instituição de ensino, da Embrapa Cerrados e Embrapa Semi-Árido.
Modelos
A pesquisa integra o Challenge Program for Water and Food (Programa Desafio sobre Água e Alimento), parte do Consultive Group on International Agricultural Research (CGIAR), que avalia os potenciais vínculos entre disponibilidade de água e pobreza rural. As duas áreas da bacia do rio São Francisco foram o foco inicial do estudo.
Marcelo apresentou o método e os dados coletados em recente palestra no 380 Congresso de Engenharia Agrícola (Conbea), realizado em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). É um trabalho de pesquisa original por integrar modelos hidrológicos a modelos econômicos em diferentes escalas espaciais, e aplicados à realidade brasileira.
Segundo ele, os modelos hidrológicos quantificam a disponibilidade de recursos hídricos no tempo e no espaço. Isto é, estimam e organizam as informações sobre onde e quanto de água há disponível para uso em cada mês do ano. Já os modelos econômicos se baseiam em técnicas de otimização matemática para medir os efeitos, por exemplo, sobre a alocação de terra entre culturas, uso de insumos (incluindo água) e quantidade produzida decorrentes de mudanças na disponibilidade de recursos hídricos.
A análise conjunta destas duas perspectivas não deixa dúvida em Marcelo Torres de que a relação entre disponibilidade de água, renda e emprego agrícolas não é tão direta como se costuma imaginar.
Ausência – Diversos fatores revelam que essa é uma relação complexa. A localização dos produtores, as espécies que cultivam, a habilidade que possuem para substituir insumos e a escala de produção são aspectos que os pesquisadores identificaram como essenciais para avaliar e quantificar os impactos da disponibilidade uso de água e de alterações ambientais sobre a renda e o emprego agrícolas.
Para Marcelo Torres, as análises integradas dos modelos hidrológicos e econômicos mostram que a proximidade físicado produtor a um reservatório de água, por si só, não significa muita coisa. Sobretudo, se em sua comunidade há outros produtores que podem e retiram água dos cursos d’água, e do lençol freático, que abastecem tal reservatório, antes que ele faça o mesmo. Isto é, os últimos da fila, em posição desfavorável, tendem a perder mais, mesmo quando mudanças nas condições ambientais e econômicas afetam a todos em sua comunidade de maneira uniforme.
Os modelos indicam também que os produtores mais diversificados, tanto em termos de culturas e de tecnologias, se saem melhor do evento de uma seca em relação àqueles mais especializados em monocultivos, sejam pequenos ou grandes. Por fim, dependendo dos tipos de culturas (irrigada ou de sequeiro) e do nível de intensidade de uso da água, os produtores podem ser mais ou menos impactados.
Quantificar – O economista do departamento de pós-graduação em economia da Universidade Católica de Brasília assegura que a ausência de meios técnicos para empregar a água em atividades econômicas dinâmicas ou na irrigação de culturas com valor agregado, por exemplo, pode fazer com que agricultores amarguem sérias conseqüências das baixas produções e a pequena renda agrícola, causando empobrecimento das suas famílias.
A amplitude de informações fornecida por essa pesquisa é importante para planejar o desenvolvimento da região, afirma. O método de estudo em uso pelos pesquisadores permite que análises sejam feitas da bacia, considerando toda a sua extensão geográfica. Mas é flexível o bastante para focar a observação em escalas menores, como em pequenas sub-bacias e suas comunidades rurais, de uma propriedade, apenas. Determinar com precisão as relações entre recursos hídricos, meios técnicos e efeitos que mudanças nos ambientes político, econômico e natural podem ter na renda e emprego rurais apoio de intervenções governamentais mais acertadas no sentido de reduzir a pobreza nas comunidades rurais e entre os pequenos agricultores.
O estudo realizado por Marcelo Torres e sua equipe, em dimensões espaciais tão diferentes, deverá ser estendido para toda a bacia do rio São Francisco mas não deixará de focar em algumas sub-bacias de interesse. A conclusão, prevista para meados de 2010, vai permitir a avaliação e planejamento de políticas alternativas de uso da água, afirma.
Contatos:mtorres@ucb.br
Marcelo Torres – Ph.D em Economia Agrícola e dos Recursos Naturais.
Universidade Católica de Brasília;
Departamento de Pós-Graduação em Economia
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