Desde que o termo tornou-se popular em meados da década de 1980, o chamado “ecoturismo” atravessou diferentes etapas e passou a significar diferentes coisas. Primeiro, concentrou-se mais no turismo de aventura, depois na conservação, e mais tarde, na condução de operações turísticas que economizam energia e recursos.
O que o conceito significa neste momento e quais são os principais temas em discussão nesta indústria? Aqui vão três grandes tendências discutidas na conferência Planeta, Pessoas, Paz, que ocorreu nos dias 3 e 4 de outubro na Costa Rica, com cobertura do TreeHugger.
As culturas são os novos destinos
A medida que o mundo se globaliza, não só as florestas estão em extinção: também as tradições das comunidades nativas, os sons, sabores e cores das diferentes culturas do mundo estão perdendo sua singularidade e se tornando cada vez mais uniformes. Em outras palavras: nos bares do mundo, tomam-se cada vez mais as mesmas bebidas e escuta-se a mesma música.
Em um movimento contrário, os viajantes responsáveis estão buscando experiências mais ligadas à história dos locais que visitam, e os fornecedores turísticos estão tentando se conectar às comunidades locais para oferecer esse tipo de atividades.
A ex-ministra do turismo das Filipinas, Guillermina Gabor, uma das apresentadoras da conferência, citou os esforços da Escola Internacional de Turismo para promover a educação das comunidades locais para que conservem e compartilhem suas tradições. "Existem várias áreas tropicais no mundo, mas como elas se diferenciam entre si? Por meio das culturas. É o que nos torna mais ricos”, refletiu Gabor.
Algumas ações da escola incluem programas para ajudar as comunidades locais a criar produtos mais atraentes e úteis, que sirvam de recordações e sejam fabricados com materiais nativos; e a promoção de hospedagem nas casas dos moradores, para que os viajantes interajam de outra forma com as comunidades.
A ex-ministra do turismo das Filipinas, Guillermina Gabor, fala sobre preservação das tradições culturais.
Aumento dos viajantes “zero carbono”
O evento 24 Horas de Realidade Climática demonstrou, há algumas semanas, que o aquecimento global é real e já está causando desastres naturais, inclusive na América Latina.
O turismo é responsável por 5% das emissões globais de gases do efeito-estufa, segundo dados divulgados pela Organização Mundial do Turismo, e a indústria precisa adotar medidas para reduzir sua pegada.
À compensação voluntária das emissões de voos realizada por algumas companhias aéreas, soma-se a iniciativa da Câmara Nacional de Ecoturismo da Costa Rica (Canaeco): seu Programa de Viajantes com Consciência Climática busca incentivar as empresas fornecedoras de serviços a compensar as emissões dos voos de seus hóspedes.
Outra iniciativa interessante nesta linha é a empresa área regional Nature Air, que se auto-denomina "a primeira companhia aérea neutra em carbono" porque compensa todas as suas emissões investindo em projetos de conservação de reflorestamento.
Certamente, há quem argumente que é preferível não emitir, mas o tráfego aéreo aumenta a cada dia e não irá retroceder, enquanto o turismo é uma atividade positiva para os países e as culturas locais.
Histórias em vez de certificações
Por mim, uma interessante apresentação sobre comunicação na indústria turística insistiu que as certificações e selos que comprovam a sustentabilidade dos processos de estabelecimentos e empresas são menos importantes que as histórias ocultas em cada iniciativa.
Alexi Khajavi, diretor de estratégia global da Mercury CSC e titular da Nature Air, falando sobre comunicação.
Este ponto de vista é interessante porque não se aplica só ao turismo: cada vez mais, as pessoas querem se envolver nos processos de produção do que consumem; portanto, os fornecedores de serviços devem se preocupar em contar as histórias por trás de seu trabalho. Em outras palavras: é mais interessante que os operadores de turismo falem de seu impacto nas comunidades locais do que de suas certificações; é mais interessante contar como uma peça de roupa é fabricada de forma artesanal em uma oficina familiar que enfatizar a sustentabilidade dos tecidos.
Embora essas ideias pareçam específicas da área de turismo, também indicam que o movimento ambiental está evoluindo para abandonar as saídas fáceis e o “greenwashing” e se concentrar em ações com impactos mais amplos, tanto no meio ambiente como nas comunidades.
A conferência Planeta, Pessoas, Paz foi realizada nos dias 3 e 4 de outubro na sede da Universidade Earth da região de Limón, na Costa Rica. O fato de o país sediar o evento não é uma casualidade: a pioneira Costa Rica atua há mais de 25 na promoção do turismo sustentável. No entanto, vários participantes do evento destacaram a necessidade de o setor de turismo começar a atuar mais em outros segmentos para promover mais igualdade social. Confira outras informações no site oficial do evento.
Vocês praticam o turismo sustentável? O que observam quando viajam?
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