Os acordos celebrados na conferência do clima em Durban, na África do Sul, são o maior avanço desde a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 2007. Mas não vão resolver o problema do aquecimento global. Eles nem sequer vão impedir que as emissões poluentes continuem crescendo. É o que explica o engenheiro florestal Tasso Azevedo. Ele é consultor do Ministério do Meio Ambiente. Foi um dos responsáveis pelo plano brasileiro de redução nas emissões, que sustenta as metas apresentadas pelo país em Durban. Em entrevista a Época, Tasso explica como vê os resultados das negociações do clima.
ÉPOCA – Os acordos de Durban são um avanço?
Tasso Azevedo – Sim. São o maior avanço nas negociações de clima desde o Protocolo de Kyoto em 2007. Pela primeira desde então, todos os maiores emissores concordam em se comprometer com um instrumento com força legal para redução de emissões. Adicionalmente se consolidou a continuidade de Kyoto. Ele é mais importante pelos regulações que criou do que pelos novos compromissos. Durban também deu pontapé inicial para operar o Fundo Verde (para ajudar nações pobres a reduzir emissões e enfrentar as mudanças climáticas inevitáveis) agora com estrutura clara e recurso mínimo.
ÉPOCA – Os acordos são base para redução de emissões até 2020?
Tasso – Não. E este é o problema central. As emissões atualmente não apenas continuam crescendo como aceleraram. Considerando todos os compromissos obrigatórios e voluntários de todos os países apresentados até o momento as emissões em 2020 devem chegar a 55 bilhões de toneladas de carbono por ano. É um aumento de 10 bilhões comparando com as emissões de 2005. Para que tenhamos 25% de chance de não subir a temperatura em mais de 2 graus centígrados – que é o objetivo definido no Acordo de Copenhagen – não devemos emitir mais de 1,8 trilhões de toneladas em todo século, ou seja uma média de 18 bilhões por ano. Acontece que com todos compromissos chegaremos em 2020 tendo emitido mais da metade de tudo que poderíamos emitir em todo século. Por isso, estamos longe, muito longe da trajetória necessária, que nos leve a reduzir as emissões a menos de 10 bilhões de toneladas por ano até 2050.
ÉPOCA – Como evitar um aumento de catastrófico 3 a 4 graus na temperatura média da Terra?
Tasso – Ainda não podemos jogar a toalha. Mas devemos pensar em encarar cenários de impactos gerados por uma aumento desta magnitude. E ao mesmo tempo temos que colocar toda energia para que o acordo global com metas para todos seja completado o mais rápido possível. Um anuncio que passou quase desapercebido durante a conferência do clima dá uma dica de por onde devemos caminhar. A Etiópia, um dos países mais pobres do mundo, anunciou que pretende crescer e se tornar uma economia média se comprometendo com crescimento absoluto zero das suas emissões e conclamou o mundo a ajudá-la a conseguir este intento.
(Alexandre Mansur)
fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com/planeta/2011/12/13/%e2%80%9cas-emissoes-poluentes-nao-so-continuam-crescendo-como-aceleraram%e2%80%9d/
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