Com 19% da população global, a China
abriga um terço das cidades que estão no ranking das que mais sofrem com
escassez de água e possui 16 dos 20 municípios mais poluídos do mundo, em
termos de recursos hídricos. Paralelo ao problema, a densidade demográfica do
país não para de crescer e, até 2030, a demanda por água dobrará. Para Norman
Gall, diretor executivo do Instituto Braudel, a falta do recurso causará na
China mais conflitos do que o comunismo já provocou até hoje e enfraquecerá o
país na economia global
Por Débora Spitzcovsky - Planeta
Sustentável - 30/05/2012
As previsões de Gall
são baseadas nos números. Atualmente, com 19% da população global - cerca de
1,3 bilhão de habitantes -, a China abriga um terço das cidades que estão no
ranking mundial das que mais sofrem com escassez de água e possui 16 dos 20
municípios mais poluídos do mundo, em termos de recursos hídricos. Além disso,
desde a década de 90, o câncer é a principal causa de morte no país - sobretudo
o de fígado, por conta da água poluída - e a necessidade de buscar água cada
vez mais fundo, nos poços subterrâneos, está fazendo a China afundar,
literalmente. "Já existem no país poços com cerca de mil metros de profundidade
e o bombeamento de água que está sendo feito para suprir a demanda é mais
rápido do que a capacidade da natureza de repor o recurso. Como consequência, a
terra afundou cerca de dois metros em aproximadamente 50 cidades da China e,
inclusive, está ameaçando o funcionamento das ferroviais de alta velocidade do
país, sobretudo a linha Xangai-Pequim", contou Norman.
A situação é ruim e a
tendência é piorar. "Até 2025, a população da China ganhará mais 400
milhões de pessoas. É o dobro da população do Brasil. E, até 2030, a demanda
por água duplicará, com relação a 1980. Se as pessoas já sofrem hoje com a
falta de água, imaginem na próxima década. As contas simplesmente não
fecham", disse Norman, que completa: "O problema está, apenas, no começo.
Eu desejo ao povo chinês sorte".
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
Gesner Oliveira,
professor da FGV-SP e ex-presidente da Sabesp, também participou da palestra A
crise da água na China e disse não acreditar na tese malthusiana de que a
população crescerá e faltarão recursos para todos. "Os números chineses
são assustadores, mas eles são capazes de enfrentar o problema, se derem uma
grande guinada rumo à inovação tecnológica", afirmou Gesner.
Para o professor,
superar a crise de água na China e em tantos outros países que também sofrem
com o problema, em menor ou maior escala - como Brasil, Índia e Bangladesh -,
depende, essencialmente, de dois processos:
- a precificação da
água, somada à conscientização para o uso racional do recurso e
- o estímulo a um
ciclo produtivo.
Quanto ao estímulo a
um ciclo produtivo, Gesner explica que desperdiçamos o recurso em seu processo
de produção e descarte. "No geral, perde-se 40% da água em sua produção.
Se investíssemos em eficiência e diminuíssemos esse índice de perda pela
metade, aumentaríamos a oferta em 33%. Além disso, devemos reaproveitar a água
que vai para o ralo, transformando-a em recurso de reuso. Até o lodo dessa água
pode ser reutilizado para a fabricação de materiais de construção, geração de
energia e produção de fertilizantes", disse. "É tudo uma questão de
gestão, planejamento e educação", concluiu.
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