terça-feira, 16 de julho de 2013

Stephan Schwartzman: Plano de redução de emissões dos EUA pode impulsionar agenda climática global

08/7/2013 - 10h15, por Cassuça Benevides, do IPAM

Steve Schwartzman, como é apresentado no website da ONG Environmental Defense Fund (Fundo de Defesa do Meio Ambiente) – onde é Diretor de Políticas para Florestas Tropicais, está otimista com o Plano de Ação Climática anunciado no final de junho pelo presidente americano Barack Obama. Schwartzman, que também é Vice-Presidente do Conselho Deliberativo do IPAM, acredita que o plano possa injetar ânimo nas negociações da Convenção do Clima na ONU e que quando ficar claro que os cortes nas emissões de carbono não terão impactos tão drásticos para a economia e competitividade americanas vai ser “mais fácil avançar o suficiente para evitar as consequências mais drásticas das mudanças climáticas”.

Clima e Floresta – Com o Plano de Ação Climática, o presidente americano, Barack Obama, tenta trazer de volta a questão das mudanças climáticas para o centro da agenda política. A repercussão entre os especialistas em clima foi muito boa, mas quais as chances reais de sucesso, apesar da resistência da oposição Republicada e do lobby da indústria de carvão, que vai ser a mais afetada pelo plano?

Stephan Schwartzman - O presidente está sendo bastante consistente na sua forma de lidar com a questão das mudanças climáticas. Ele disse no início do primeiro mandato que achava prioritário um regime nacional de controle das emissões de gases causadores do efeito estufa. E que a preferência dele era ter uma legislação nacional tratando da questão. Em 2010 ele conseguiu passar uma lei federal na Câmara, mas não no Senado. Desde então, o presidente vem dizendo que a preferência dele é a lei, mas que se o Congresso não conseguisse passar uma lei, ele iria utilizar autoridades executivas cabíveis para avançar na questão. Isto é que ele está anunciando mais concretamente agora. Não existe dúvida que a Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental – órgão regulador) tem autoridade para controlar as emissões de CO2. Isto já foi levado ao Supremo Tribunal Federal, a decisão existe e não há dúvida de que a EPA tem este direito. A questão é dos detalhes, dos pormenores: Quanto será o limite para as usinas (de carvão) já existentes e para as novas. E agora há o processo dos reguladores acharem as formas legalmente mais robustas e mais facilmente defensáveis para incluir na regulação final. É de se esperar que possa haver contestações no plano jurídico, mas no final das contas, algum sistema de limites nacionais vai ser criado.

C e F – Os Estados Unidos são hoje o segundo maior emissor de gases que provocam o efeito estufa, atrás da China, mas historicamente são os maiores poluidores do planeta. Mesmo que as metas definidas por Obama de reduzir emissões de dióxido de carbono sejam cumpridas, os especialistas acreditam que isto não será suficientes. O que mais precisa mudar?

SC - Nenhum regime de controle das emissões que existem ou que estão surgindo no mundo, na forma como estão sendo propostos, seriam suficientes para conter as emissões abaixo do limite de dois graus centígrados até o final do século. Acho que todo mundo sabe disto, mas o importante é começar. É estabelecer os limites, começar o processo de redução para poder avançar mais lá na frente. Acho que não tem outra forma. Obviamente precisamos de cortes mais drásticos, mais severos. Politicamente a única forma de se fazer isto é estabelecer um sistema, demonstrar para a indústria e para o público que de fato não é aquilo que os setores mais conservadores da indústria vêm dizendo sempre, principalmente em relação às mudanças climáticas, que este tipo de regulamentação vai alijar a nossa economia, vai destruir a nossa capacidade competitiva no comercio internacional etc. E isto nunca acaba sendo tão drástico como eles dizem. E uma vez constatado isto, acho que vai ser politicamente muito mais fácil de avançar o suficiente para evitar as consequências mais drásticas das mudanças climáticas.

C e F – Obama falou em liderar pelo exemplo e também em reativar as negociações internacionais. Na sua opinião, as negociações internacionais da Convenção do Clima podem começar a progredir um pouco mais rápido?

SC -Da mesma forma que o anúncio de um limite para emissões de desmatamento do Brasil induziu à declaração da China de que vai começar com programas-piloto de cap and trade* de emissões em várias cidades e províncias. Claramente atitudes destas por parte dos Estados Unidos só podem fortalecer o andamento das negociações.  Mesmo assim, são 196 países e é muito difícil concordar sobre qualquer coisa neste contexto, mas esta posição tende a facilitar o andamento das discussões.

C e F – No discurso em que anunciou o plano, Obama citou parcerias estratégicas com países emergentes, incluindo o Brasil. Como pode ser a evolução desta parceria? O Brasil se queixa de ter reduzido o desmatamento pela metade e não ter tido benefícios com o seu desempenho…

SC - Resta ver o campo que pode haver para colaboração do Brasil com os Estados Unidos nesta área. Historicamente o Brasil tem tido uma posição eu diria, bastante reservada em relação à redução do desmatamento nas negociações de clima. Verdade que o Brasil não conseguiu angariar benefícios significativos com a redução do desmatamento. Mas também, no contexto das negociações de mudanças climáticas não usou o prestígio, a liderança que conquistou com este programa para dinamizar mais o processo. Sempre teve uma posição de não querer discutir mecanismos de mercado para compensação da redução do desmatamento. No contexto Brasil/Estados Unidos vamos esperar para ver as propostas concretas do EPA. De um lado, o EPA não tem autoridade para instituir um sistema de mercado, de cap and trade para emissões no país. Por outro lado, muita gente acha que (o EPA) teria possibilidade de criar certos mecanismos de mercado no sistema de controle de emissões. Sendo assim, talvez haja campo para colaborações maiores além da colaboração existente de biocombustíveis, na área de etanol.

C e F – Talvez fosse possível o Brasil aproveitar e tomar uma posição de liderança junto com os Estados Unidos?

SC - Junto com os EUA e com os outros atores. Há muitos anos a União Européia vem dizendo que se compromete a fazer uma redução de 20% em relação a 1990 até 2020, independente do que os outros países forem fazer. Se houver colaboração e esforços a altura por parte de outros países, a UE assume a meta de 30%.  Por que o Brasil não coloca suas reduções à disposição para ajudar a União Européia a cumprir esta meta? Topa fazer 30% e a gente vende uma porção da redução que fizemos com  o combate ao desmatamento para colaborar? Teria várias posições possíveis de alavancagem deste sucesso do Brasil, mas o Brasil não quis entrar nesta área ainda.

C e F – No discurso do presidente americano ficou clara a preocupação com adaptação às mudanças climáticas que já estão acontecendo. Obama citou o furacão Sandy e falou bastante em investimentos em adaptação. E no Brasil? Como o senhor vê os esforços para adaptação no país?

SC - Talvez eu não tenha conhecimento suficiente para avaliar. O Brasil não está só, mas parece que os investimentos em adaptação para mudanças climáticas estão começando meio devagar. Aqui nos Estados Unidos o furacão Sandy, incêndios descontrolado no oeste do país, a seca, estas coisas estão chamando muita atenção e fica cada vez mais difícil ignorar estes impactos que estão ficando cada vez mais concretos. Agora mesmo morreram 19 bombeiros de uma vez combatendo um incêndio florestal no oeste dos EUA. Foi o maior número de bombeiros a morrer desde 2001, no ataque ao World Trade Center. Este tipo de coisa se multiplica, se prolifera cada vez mais e fica premente tomar uma atitude para se prevenir contra as consequências.

Em Nova York tinha gente que vinha falando há anos que iria acontecer exatamente o que ocorreu com o Sandy. Que iria ter enchentes dentro do metrô, em várias partes da cidade e aconteceu exatamente como previsto pelos cientistas que vinham estudando o assunto. E quando isto acontece fica difícil dizer que a gente não vai fazer nada. A questão é: economicamente vamos ter esta capacidade de investimento para fazer um progresso significativo?

No Brasil, eu acho que falta ainda mapear os efeitos. Na Amazônia se sabe que a perspectiva de savanização é real. Pelo menos existem alguns estudos neste sentido. Mas nas regiões costeiras acho que falta um mapeamento mais sério sobre quais serão os efeitos mais previsíveis para poder já começar a investir nas medidas cabíveis.

Ce F – Os efeitos nocivos para as florestas, que são importantes na regulação e no equilíbrio do clima, também foram citados pelo presidente americano, mas ele não adiantou nada de concreto. O que se espera aí nos Estados Unidos que possa ser feito em relação à proteção florestal?

SC - O tipo de incêndio florestal que começa a acontecer no oeste do pais é muito difícil de controlar. Há uma série de políticas que será preciso rever. Tem certos ecossistemas em que o fogo era parte constante durante milhares de anos e agora recentemente, por causa das políticas que foram adotadas, começou a ser suprimido. O objetivo era  evitar qualquer incêndio florestal, por achar que a floresta era valiosa demais, ou que era perigoso. Hoje em dia, já em certos econssistemas começa-se a reintroduzir o fogo mais controlado, para impedir grandes incêndios. Este tipo de coisa precisa de aprofundamente, de investimento em pesquisa básica para entender o que pode ser feito. Espero que não seja tarde demais, mas precisamos lidar com isto agora.

C e F – O senhor acompanha de perto e há muitos anos, a questão do desmatamento no Brasil. Há alguns anos o senhor e outros ambientalistas vêm insistindo para que sejam criados mecanismos de incentivo à valorização da floresta em pé. A regulamentação do novo Código Florestal, em preparação pelo governo federal, pode trazer algum avanço neste sentido?

SC - A gente entende que o Congresso incluiu uma série de possibilidades de criação de incentivos positivos para a proteção florestal, mas que cabe ao Executivo criar os mecanismos financeiros para que elas sejam concretizadas. Eu acho que depende bastante da vontade política do Poder Executivo. Fala-se criação de mercado de carbono brasileiro, incentivos para a redução do desmatamento e para restauro florestal, que é de fundamental importância. As pistas, os caminhos para se criar os incentivos estão aí no novo Código, são caminhos importantes e cabe à Presidência fazer os investimentos necessários, criar os mecanismos necessários para que estes incentivos efetivamente passem a funcionar. Afinal, o Brasil conseguiu um avanço enorme ao reduzir seu desmatamento a nível nacional em 75% de 2005 a 2012, inteiramente com mecanismos de comando e controle, de fiscalização e criação de novas áreas protegidas. Isto é ótimo, mas todo mundo sabe que só com mecanismo de controle neste contexto é difícil de sustentar ao longo do tempo.  É preciso primeiro, quem sempre defendeu florestas – os indígenas, as populações tradicionais – precisam de melhores oportunidades econômicas. E o produtor que quer fazer direito, merece um incentivo para faze-lo de forma competitiva.

* Introdução de limites máximos para emissões com mecanismos de compensação: os que emitem menos do que o limite, ganham créditos ou cotas que podem ser negociados com quem emite mais do que o permitido. Os emissores acima do limite são obrigados a comprar créditos dos que conseguem reduzir mais suas emissões.
* Publicado originalmente no site IPAM.
 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Economia verde não decola na América Latina

02/7/2013 - 11h05, por Emilio Godoy, da IPS

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Reduzir a contaminação pelo transporte é fundamental para a sustentabilidade. Uma rua do centro de Mérida, no sudeste do México. Foto: Emilio Godoy/IPS

Cidade do México, México, 2/7/2013 – Um ano depois de endossar os princípios da economia verde na cúpula Rio+20, a América Latina apresenta um avanço duvidoso para modelos de desenvolvimento sustentável. Esta é a opinião dominante entre especialistas consultados pela IPS. A região, “em geral, está em uma situação precária; embora haja esforços de política pública para integrar o capital natural como objeto de sustentabilidade econômica, pode-se contar os poucos casos. Não há um enfoque transversal e compreensivo”, disse à IPS a diretora do Instituto Global para a Sustentabilidade (IGS), Isabel Studer, do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey. 

O IGS participa de um estudo comandado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) sobre experiências de sucesso em economia verde em nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que deve ficar pronto no final deste ano. Segundo Studer, os países “baseiam seu crescimento econômico na exploração dos recursos naturais, e isto agravou uma situação que por si só não era das melhores. Não se integrou a sustentabilidade ambiental à política econômica”. 

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), sustentabilidade é “um sistema de atividades econômicas relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços que resulta em melhoria do bem-estar humano no longo prazo, sem, ao mesmo tempo, expor as gerações futuras a riscos ambientais e escassez ecológica significativa”. Para o Pnuma, o investimento verde pode contribuir com a redução da demanda de energia e água e da pegada de carbono na produção de bens e serviços, e ajudar no combate à pobreza e à desigualdade social. 

“Primeiro é preciso conhecer as condições da economia e depois as que podem ser aplicadas. Antes vem uma análise das maneiras e dos setores prioritários para transitar para uma economia verde”, disse Dolores Barrientos, representante do Pnuma no México. “O avanço fundamental é reconhecer as falhas no sistema econômico, que eventualmente possam ser corrigidas com melhores políticas públicas e que possam incluir os grandes temas da economia verde”, pontuou.

A declaração “O futuro que queremos”, adotada em junho de 2012 pela conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), no Rio de Janeiro, considera que a economia verde é um dos instrumentos mais importantes para se conseguir a sustentabilidade e poder oferecer alternativas para a formulação de políticas. Ao mesmo tempo, reconhece os diferentes enfoques, visões e modelos, em função das circunstâncias e prioridades nacionais. Governos, universidades, organizações não governamentais e empresas registraram, junto ao secretariado da Rio+20, 741 iniciativas voluntárias em setores como energia, transporte, agricultura e saúde. O Brasil apresentou 72, México 47 e Peru 25. 

O Pnuma afirmou que são necessários por ano mais de US$ 1,3 bilhão em iniciativas sustentáveis para enfrentar o esgotamento dos recursos e diminuir a produção de substâncias contaminantes. Até 2030, o México necessitará de investimentos no valor de US$ 64 bilhões em geração elétrica, petróleo e gás, agricultura e silvicultura, consumo de energia e transporte para gerar menos emissões contaminantes, segundo o Banco Mundial, que prefere falar em “crescimento verde e inclusivo” e destaca experiências que já são aplicadas em muitos países da região. 

Porém, governos, acadêmicos e organizações da sociedade civil, especialmente do mundo em desenvolvimento, questionam os postulados da economia verde com o argumento de que a riqueza natural será mercantilizada, sem dar resposta a problemas de fundo, como a pobreza e a desigualdade, que são muito graves na América Latina. Em seu estudo Estratégias de Desenvolvimento de Países Latino-Americanos e Caribenhos Selecionados e sua Aproximação da Economia Verde. Uma Análise Comparativa, o Pnuma avaliou os casos de Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, cujos governos não creem na economia verde. 

O documento constata que, “apesar de a maioria dos países analisados integrar em suas estratégias de desenvolvimento certos elementos que regem a relação de pessoas e comunidades com o meio ambiente e os caminhos para alcançar a sustentabilidade, há uma brecha entre as posturas dos países, frequentemente muito inovadoras expressas na esfera internacional, e suas atuais políticas de desenvolvimento”. “O desafio é fazer mudanças substanciais de maneira integral na economia nacional. As políticas públicas passam pelas políticas macroeconômica, financeira, fiscal e de inovação. A economia verde pode ser motor para corrigir desigualdades”, destacou Studer. 

Para a diretora do IGS, “a economia verde não é opcional, porque os problemas existentes vão se agravar. Ela oferece oportunidade de desenvolvimento de novas indústrias, de energia renovável, de reciclagem de materiais; mas requer um esforço gigantesco para incluir externalidades nos preços e avaliar custos de oportunidade”. Em agosto serão apresentados resultados sobre boas práticas na Alemanha, China e Austrália, vinculadas ao manejo da água e a incentivos às energias renováveis. 

Em geral, os especialistas coincidem quanto à urgência de adotar medidas para enfrentar de forma mais eficiente o uso da energia e os recursos hídricos e para manejar o lixo e o transporte. O México está para concluir um estudo sobre agricultura, capital natural, transporte, água e empregos verdes, que pode ser insumo para que os tomadores de decisões desenhem políticas. 

Outros países da região começam a estudar e analisar diferentes setores sob esta ótica. “A chave é os países se convencerem das recomendações da economia verde, a seguir analisarem onde há oportunidades para aplicá-las e executarem essas ações”, opinou Barrientos. O estudo do Pnuma aconselha a estabelecer mecanismos internacionais que garantam que uma economia verde contribuirá para a erradicação da pobreza, respeitará a soberania das nações, facilitará a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade e permitirá uma distribuição equitativa da riqueza. 

 fonte: Envolverde/IPS (IPS)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Sustentabilidade e escola: uma dupla de futuro

05/7/2013 - 11h30, por Edson Grandisoli


Segundo o ministério, o Programa Dinheiro Direto na Escola – Escola Sustentável apoiará projetos que promovam ações voltadas à melhoria da qualidade de ensino e a sustentabilidade socioambiental do espaço escolar. É uma tentativa de fazer com que as escolas se tornem espaços educadores sustentáveis considerando sempre intervenções dentro do tripé espaço físico–gestão­–currículo.

Há inúmeras definições sobre o que seria uma escola sustentável, mas é justamente neste tripé que reside uma explicação detalhada que as escolas aderentes ao programa deverão atentar. Primeiro, com o uso de um espaço físico que cuida e educa, em que as construções tenham um maior conforto térmico e acústico, a energia e a água sejam usadas de forma eficiente. Em seguida, com uma gestão que encoraje relações de respeito à diversidade e que seja mais democrática e participativa. Por último, a adoçam de um currículo que estimule a visão complexa da educação integral e sustentável, estimulando a responsabilidade e o engajamento individual e coletivo na transformação local e global.

O investimento ainda pode ser considerado tímido, se realmente considerarmos o número de escolas do nosso país. Mas a iniciativa é animadora. Nos últimos anos, tenho tido a chance de colaborar com diferentes instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que têm a sustentabilidade como eixo condutor.

Junto a equipes interdisciplinares de professores dessas instituições, tenho mantido a preocupação de criar um projeto novo e personalizado para cada escola – afinal, cada instituição tem sua história e suas características próprias –, sempre valorizando práticas que aliem as esferas tradicionalmente ligadas ao conceito de sustentabilidade: a ambiental, a econômica e a social. Somente identificando os desafios que deixem claras as interligações e a interdependência entre essas três esferas, estaremos de verdade formando professores e estudantes dentro do novo paradigma da sustentabilidade.

Minha fonte primária de inspiração são as ideias e os ideais do sociólogo francês Edgar Morin. Apenas por meio da compreensão profunda da complexidade do mundo atual, colaboraremos efetivamente na formação de indivíduos críticos e capazes de propor soluções de cunho coletivo aos desafios do dia a dia. O trabalho dentro dos paradigmas da complexidade quebra as barreiras disciplinares, dando um novo significado ao que é trabalhado em sala de aula.
Costumo dizer que projetos em educação e sustentabilidade devem “trazer o mundo para a escola e inserir a escola no mundo”. De maneira geral, esses projetos devem (ou deveriam) ousar e ir além das propostas isoladas de ecoeficiência, que geralmente empobrecem e resumem a sustentabilidade ao seu componente ambiental.

Assim, para a implantação de projetos integrais em educação e sustentabilidade, tenho seguido um roteiro simples com seis etapas:

1. Formação teórica competente de professores e estudantes dentro da história e da conceituação de sustentabilidade;

2. Elaboração de um diagnóstico real da escola, caracterizando seus principais desafios e formas viáveis de solucioná-los;

3. Identificação dos principais atores envolvidos em cada desafio e que podem se tornar parceiros em ações;

4. Estabelecimento de um verdadeiro diálogo democrático entre os atores, visando compreender os vários lados da mesma questão, garantindo, dessa forma, uma visão sistêmica complexa;

5. Monitoramento participativo dos resultados alcançados;

6. Criação de parcerias com outras instituições de ensino, ONGs, entidades governamentais, etc., aumentando ainda mais a complexidade do trabalho e envolvendo de forma efetiva sua comunidade.
Um ponto fundamental de toda essa caminhada é sempre colocar os estudantes como protagonistas desde a elaboração do diagnóstico até a avaliação das ações implantadas, permitindo que conheçam melhor sua escola e sua comunidade. O professor está ali para auxiliar a caminhada, funcionando como tutor e não como aquele que detém o conhecimento e sabe o que é certo ou errado. Esse deslocamento do professor de sua posição onipotente estabelece uma relação mais saudável, o que favorece muito o diálogo e a busca conjunta por soluções.

Por sinal, considero o desenvolvimento da capacidade de propor soluções criativas para problemas coletivos por meio do diálogo democrático um dos grandes resultados positivos dos projetos de educação e sustentabilidade com que tenho colaborado.

Acredito muito nesse caminho para garantir uma educação mais integral e integrada. Espero que o investimento do MEC na criação de escolas sustentáveis valorize todo o potencial existente dentro do tema da sustentabilidade. Para isso, entretanto, boa parte desse investimento deve ser voltado à formação de professores dentro dos preceitos da sustentabilidade.

A prática da verdadeira sustentabilidade na escola é capaz formar cidadãos responsáveis, que valorizam mais o coletivo que o individual, e os prepara para construir uma sociedade mais sustentável, justa e democrática para todos.

fonte: Publicado originalmente no site O Porvir. Edson Grandisoli é professor, diretor educacional da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a Sustentabilidade. 

Desmatamento na Amazônia volta a crescer

por Redação do Greenpeace , 08/7/2013 - 11h30 


“Aqui se faz, aqui se paga.” A parceria com a bancada ruralista começa a passar uma amarga fatura para o governo Dilma: o desmatamento da floresta amazônica, que demorou tanto para começar a ser controlado, mostra sinais tão evidentes de subida que nem o governo consegue mais esconder.

Em coletiva de imprensa na manhã de sexta-feira (5-jul-13), o Ibama anunciou uma tendência de aumento de desmatamento que não se via mais no Brasil. Segundo dados do Deter, em maio de 2013 a Amazônia perdeu 46,5 mil hectares de floresta – quase a área da cidade de Porto Alegre. Isso representa um aumento de mais de 400% em comparação com o mesmo período de 2012.

Isso tudo com uma cobertura de nuvens de 42% sobre a Amazônia Legal, o que prejudica a detecção de focos de desmatamento pelos satélites. E mais: o Deter só identifica corte raso em áreas médias e grandes – as pequenas e fragmentadas, que se tornaram frequentes para justamente sumirem aos olhos do satélite, não entram nessa conta.

Luciano Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama, disse recentemente estar confiante em zerar a tendência de desmatamento ainda neste ano. Mas as informações divulgadas hoje mostram que o país segue o caminho contrário.

“Os números são preocupantes, mas lamentavelmente previsíveis”, diz Kenzo Jucá, da campanha Amazônia do Greenpeace. “O governo Dilma tem sido conivente com o desmatamento. Cedeu aos ruralistas e, em nome de um modelo atrasado e predador de desenvolvimento, avança sobre unidades de conservação e territórios indígenas. Agora chegou a fatura.”

É de se notar que, na coletiva de hoje, apenas o Ibama estava presente, enquanto nas anteriores, quando havia queda ou leve aumento, um circo com ministros de Estado era montado – hoje nem Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, deu as caras. Era o momento para o governo mostrar que tem, em suas prioridades, atacar o problema e acabar com essa chaga ambiental.

Mas, pelo visto, em vez de zerar o desmatamento na Amazônia, e mostrar para o mundo pelo menos um feito positivo de seu governo, Dilma prefere entregar o futuro da floresta e dos brasileiros para quem tem motosserra no lugar de mãos. No acumulado de agosto de 2012 a maio de 2013, o país perdeu 233,8 mil hectares de floresta – um aumento de 35% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Só cresce

 A pressão não poupa nem unidades de conservação (UCs) e terras indígenas (TIs), que são alvo atual dos ruralistas. Em maio, o Deter viu 54 mil hectares de florestas desmatadas em UCs e 8,9 mil hectares em TIs. A Flona Jamaxim, no Pará, foi a unidade de conservação mais desmatada no mês (perdeu 28,4 mil hectares), enquanto que a TI Maraiwatsede, no Mato Grsso, teve 8,8 mil hectares de florestas derrubadas. 

Os Estados campeões do desmatamento em maio foram Mato Grosso, com 27,7 mil hectares, seguido de Pará (13,4 mil), Amazonas (3,3 mil), Tocantins (900), Rondônia (770) e Maranhão (440).

O Ibama aplicou R$ 1,7 bilhão em multas no período de agosto a maio deste ano e embargou 236 mil hectares da áreas com desmatamento ilegal.

 * Publicado originalmente no site Greenpeace Brasil e retirado do site Mercado Ético. (Mercado Ético)

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