.. O sujeito ecológico agrega uma série de traços e valores e crenças e poderia ser descrito em facetas variadas. Em sua versão política, poderia ser apresentado como sujeito heróico, vanguarda de um movimento histórico, herdeiro de tradições políticas de esquerda, mas protagonista de novo paradigma politico-existencial. Em sua versão Nova Era, é visto como alternativo integral, equilibrado, harmônico, planetário, holista. Em sua versão de gestor social, supõe-se que partilhe de uma compreensão política e técnica da crise socioambiental, sendo responsável por adotar procedimentos e instrumentos legais para enfrentá-la, por mediar conflitos e planejar ações.
O que há de comum em tudo isso que torna possível pensar em um perfil de sujeito ecológico? Uma das possíveis respostas está na postura ética de crítica à ordem social vigente que se caracteriza pela produtividade material baseada na exploração ilimitada dos bens ambientais, bem como na manutenção da desigualdade e da exclusão social e ambiental. O mundo contra a qual crítica ecológica se levanta é aquele organizado sobre a acumulação de bens materiais, no qual vale mais ter do que ser, no qual a crença na aceleração, na velocidade e na competitividade sem limites tem sido o preço da infelicidade humana, da desqualificação e do abandono de milhões de pessoas, grupos e sociedades que não satisfazem esse modelo de eficácia. A tal modelo de exploração humana corresponde um modo de apropriar-se das forças da natureza e dos ambientes de vida e explorá-los. O ecologismo nasceu criticando a aposta no progresso ilimitado tanto do ponto de vista da duração e da qualidade da existência humana quanto à permanência dos bens ambientais e da natureza em que vivemos.
O desejo de mudança e sua força utópica seguem vigentes, atraindo muito das energias e inspirações dos que hoje se identificam com o ideário ecológico. Talvez isso se vê justamente porque nos tempos atuais não há o clima revolucionário de "acreditar poder mudar o mundo" das décadas de 60/70, as quais deram origem ao ecologismo. O clima social do fim do século XX e início do XXI é outro. As utopias políticas não estão tão em alta no Ocidente, os grupos e as pessoas talvez não acreditem tanto em sua capacidade de mudar as coisas; temos mais medo do futuro. Possivelmente, há menos ousadia e mais resignação como sentimento geral na sociedade, neste momento de desenlace do "breve século XX", como o denominou o conhecido historiador inglês Hobsbawm. Afinal, em um tempo de desesperança com os sistemas políticos e institucionais, a questão ambiental é, talvez, uma das esferas da vida social que hoje mais reúne esperanças e apostas na possibilidade de mudanças tanto em termos coletivos - sociais e até planetários - quanto em termos de estilo de vida e de transformações na vida pessoal.
Assim, a existência de um sujeito ecológico põe em evidência não apenas um modo individual de ser, mas, sobretudo, a possibilidade de um mundo transformado, compatível com esse ideal. Fomenta esperanças de viver melhor, de felicidade, de justiça e bem-estar. Assim, além de servir de fonte de identificação para os ativistas e ecologistas, mobiliza sensibilidades que podem ser experenciadas pro muitos segmentos de nossa sociedade. Os educadores que passam a cultivar as idéias e sensibilidades ecológicas em sua prática educativa estão sendo portadores dos ideais do sujeito ecológico.
Contribuir para a constituição de uma atitude ecológica caracteriza a principal aspiração da Educação Ambiental. É por isso que ela traz consigo forte potencial para alimentar esse ideal de sujeito ecológico, ao mesmo tempo em que opera como importante meditação, pela qual esse ideal vai sendo transformado em experiências concretas de identificação e subjetivação de indivíduos e coletividades. Dessa maneira, a Educação ambiental está efetivamente oferecendo um ambiente de aprendizagem em seu sentido radical, a qual, muito mais do que apenas prover conteúdos e informações, gera processos de formação do sujeito humano, instituindo novos modos de ser, de compreender, de posicionar-se ante os outros e a si mesmo, enfrentando os desafios e as crises do tempo em que vivemos.
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