Pesquisadores acreditam que alguns efeitos da contaminação causada pelo vazamento de petróleo da British Petroleum poderão ser notados por vários anos em águas mexicanas.
Cidade do México, México, 18 de abril de 2011 (Terramérica).- Quando completa um ano do pior vazamento acidental de petróleo no mar, o da British Petroleum (BP) no Golfo do México, a busca por danos em território mexicano ainda não é concludente, enquanto os cientistas continuam coletando e analisando provas. Entre 20 de abril e 15 de julho de 2010, quase cinco milhões de barris de petróleo vazaram do poço da BP em águas norte-americanas do Golfo do México, segundo medição de agências federais dos Estados Unidos. Foi o pior acidente deste tipo na história da indústria do petróleo. Do vazamento foram recuperados apenas 800 mil barris (de 159 litros).
Ao contrário dos danos ainda visíveis em águas e nas costas dos Estados Unidos, “não observamos evidência direta de altos níveis de hidrocarbonos ou de seus resíduos na área de trabalho. Não há informação sobre a chegada de hidrocarbonos associados ao vazamento a águas mexicanas”, disse ao Terramérica a doutora em Ecologia Marinha Sharon Herzka, do Centro de Pesquisa Científica e de Educação Superior de Ensenada (Cicese). Isto “provavelmente porque o ponto mais próximo entre o poço e as águas mexicanas é de cerca de 400 quilômetros”, acrescentou a pesquisadora do Cicese, com sede no Estado da Baixa Califórnia, na costa do Oceano Pacífico.
Sharon coordena uma pesquisa sobre os efeitos do vazamento, da qual participam, entre outros, a Universidade Autônoma da Baixa Califórnia (UABC) e os governamentais institutos Mexicano do Petróleo e Nacional de Ecologia. Na primeira etapa, entre 6 e 22 de novembro, uma equipe a bordo do barco oceanográfico Xiximi-1 recolheu mais de mil amostras de água e centenas de sedimentos a profundidades entre mil e 3.500 metros. A segunda fase é a análise química e biológica das amostras e a definição das características da água, como salinidade e temperatura, na área central do Golfo do México. Os resultados ficarão prontos em junho.
Contudo, Sharon alerta que “nos anos seguintes pode haver efeitos negativos indiretos”, como a redução de “mamíferos e tartarugas marinhas e espécies de peixes grandes que sustentam pescas importantes”. O Golfo do México é uma região do Oceano Atlântico que, em seus 1,55 milhão de quilômetros quadrados, contém importante bacia petrolífera, compartilhada pelos países costeiros: Estados Unidos no Norte e Noroeste, México no Oeste e Sul, Cuba no Leste. A atividade petrolífera compete com uma biodiversidade cujos recursos pesqueiros são vitais para muitas populações litorâneas.
O segundo pior vazamento marinho também aconteceu no Golfo do México, quando, em 1979, explodiu a plataforma mexicana Ixtoc, derramando 3,3 milhões de barris de óleo na água. “O Golfo do México tem uma alta capacidade natural de degradação de hidrocarbonos. Isto significa que, aparentemente, ‘consumiu’ muito do que estava na água, que não evaporou nem foi retirado perto do poço”, disse Sharon. “Manejamos o alerta sobre espécies migratórias, como a tartaruga de kemp, o atum de barbatana azul e os pelicanos, que foram afetados e chegam ao litoral de Veracruz e Yucatán”, disse ao Terramérica o coordenador da campanha de Oceanos e Costas do Greenpeace, Alejandro Olivera.
O ecologista integrou uma expedição do Greenpeace de 32 especialistas que, em outubro e novembro, percorreu a região contaminada pelo acidente, cujos resultados serão divulgados dentro de algumas semanas. Na parte norte-americana de mar, a expedição identificou uma faixa de água de vários quilômetros com baixa concentração de oxigênio, sintoma de contaminação que, segundo Alejandro, poderia aparecer em Tamaulipas, o Estado mexicano mais próximo. Além de seus mangues, que têm um papel biológico importante e servem de barreira natural contra furacões e erosão das praias, Taumalipas é o principal produtor de camarão marrom (Farfantepenaeus aztecus), com cerca de 10.784 toneladas por ano.
“No médio e longo prazos, o vazamento pode afetar a reprodução do atum de barbatana amarela e do de barbatana azul”, disse ao Terramérica o pesquisador da UABC, Rafael Solana. O atum de barbatana amarela (Thunnus albacares) e o de barbatana azul (Thunnus thynnus) estão com superexploração em águas mexicanas do Pacífico e do Golfo do México. A produção anual nesta última área é de aproximadamente mil toneladas, segundo a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico. Entre setembro e novembro do ano passado, os governos estaduais de Tamaulipas, Veracruz e Quinta Roo entraram com dois processos em tribunais norte-americanos contra a BP, a Transocean e outras empresas por possíveis danos ao ambiente marinho, à costa e aos estuários.
Os processos passaram a integrar o litígio multidistrital MDL-2179, a cargo de um tribunal de Louisiana, com outras centenas de casos consolidados de milhares de reclamantes, entre os quais estão os referentes a 11 pessoas mortas, danos pessoais, danos ambientais e econômicos. Estima-se que poderão chegar a julgamento em fevereiro do ano que vem. Um aspecto que preocupa os cientistas são as bolas de petróleo depositadas no leito marinho, formadas pela aplicação de substâncias químicas tóxicas para diluir o óleo que flutuava na água. Podem ser ingeridas por algumas espécies, entrando na cadeia alimentar. A BP reconheceu ter lançado 6,8 milhões de litros do solvente Corexit.
Os “contaminantes químicos afetam seriamente a fisiologia dos peixes, o que repercute indiretamente na própria dinâmica populacional, no ciclo reprodutor. Isso se refletirá nos rendimentos da pesca, na economia e na conservação do recurso”, explicou Rafael. O governo mexicano apoia a pesquisa do Cicese e inspecionou as águas nacionais do Golfo do México, sem encontrar rastros de petróleo. Além disso, ativou o Plano Nacional de Contingência para Combate e Controle de Vazamentos de Hidrocarbonos e Outras Substâncias Nocivas no Mar, criado no final da década de 1990.
“Os especialistas calculam que será preciso esperar até mesmo décadas para conhecer as consequências reais do vazamento”, afirma o último relatório oficial mexicano divulgado no dia 5 de agosto pela internet. Determinar o impacto ambiental do vazamento é crucial diante do apetite dos países da bacia para explorar suas jazidas. México e Estados Unidos acertaram, em 2000, no Tratado sobre Delimitação da Plataforma Continental da Região Ocidental do Golfo do México Além das 200 Milhas Náuticas, suspender por dez anos o aproveitamento das jazidas transfronteiriças na área, enquanto negociavam um regime de prospecção e exploração.
A moratória vencia em janeiro, mas em 2010 os dois governos a prorrogaram até 2014. Diante da evidência do avanço das concessões norte-americanas em águas profundas, a estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) tenta se ajustar. Em janeiro, a Comissão Nacional de Hidrocarbonos, criada em 2008, divulgou normas sobre uso de tecnologia, proteção ambiental, segurança industrial e contratação de seguros contra acidentes como o da Deepwater Horizon.
* O autor é correspondente da IPS.
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