sexta-feira, 4 de junho de 2010

taxa global de perda de biodiversidade

Países não cumprem metas assumidas na CDB - Washington, DC, 29 de abril de 2010 


Os líderes mundiais não conseguiram cumprir os compromissos assumidos em 2002 para reduzir a taxa global de perda de biodiversidade até 2010 e, ao contrário do prometido, negligenciaram o declínio alarmante da riqueza natural no planeta. Essas constatações integram um novo estudo publicado hoje na revista científica  Science, que constitui a primeira avaliação independente e mais robusta sobre o status do cumprimento das metas traçadas na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) . Os resultados do estudo serão considerados também na Global Biodiversity Outlook 3, publicação oficial da CDB, que será lançada no dia 10 de maio em Nairobi, no Quênia, quando representantes de governos do mundo inteiro irão discutir novas metas e propostas sobre como lidar com a crise da conservação da biodiversidade.

Por meio da compilação de mais de 30 indicadores – que mensuram diferentes aspectos da biodiversidade, incluindo mudanças nas populações das espécies e nas categorias de ameaça de extinção, extensão de seus habitats, cobertura de áreas protegidas etc – o estudo não encontrou evidência de redução significativa na taxa de declínio de perda da biodiversidade e constatou que as pressões sobre esta continuam a aumentar. O estudo fornece evidências que comprovam que as metas para 2010 não foram atingidas. Os indicadores foram desenvolvidos e sintetizados por meio da Parceria de Indicadores da Biodiversidade 2010, resultado da colaboração de mais de 40 organizações  internacionais para o desenvolvimento de indicadores de biodiversidade global e recursos de ponta para informação sobre a biodiversidade global.

“Nossa análise mostra que os governos falharam no cumprimento dos compromissos assumidos em 2002”, diz o principal autor do estudo, Stuart Butchart, cientista do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa do Meio Ambiente da ONU e da ONG BirdLife International. “A velocidade da perda da biodiversidade é a mais rápida já evidenciada e há pouco progresso na redução das pressões sobre as espécies, habitats e ecossistemas”, completa. Segundo Butchart, apesar de algumas nações terem colocado em prática políticas para diminuir a perda da biodiversidade, os resultados comprovam que essas políticas têm sido inadequadas e que a lacuna entre as pressões sobre a biodiversidade e as respostas para sua mitigação está cada vez maior.

Para ele, os dados demonstram que 2010 não será o ano no qual a diminuição da perda da biodiversidade será alcançada. “No entanto, este ano precisa ser o ano em que nós começamos a levar esse assunto a sério e tomamos atitudes para cuidar da biodiversidade ainda existente no planeta”, afirma. Na avaliação de Matt Foster, Diretor da ONG Conservação Internacional, a exorbitante perda da biodiversidade já atinge todos nós, mas principalmente aqueles que já são mais vulneráveis e dependentes da natureza para a obtenção de água, de alimentos e de remédios. “Os líderes mundiais, que se reunirão em outubro deste ano para a COP-10 em Nagoya, no Japão, durante a Convenção de Diversidade Biológica, terão que ser mais ambiciosos para impedir a perda da biodiversidade, pois nossa sobrevivência depende disso”, esclarece.

O cientista chefe do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas, Joseph Alcamo, informa que, desde 1970 as populações de fauna sofreram 30% de redução, a área de mangues e gramas marinhas foi reduzida em 20% e a cobertura de corais vivos em 40%. “Essas perdas são insustentáveis uma vez que a conservação da biodiversidade é chave para o bem-estar humano e para o desenvolvimento sustentável. E isso é reconhecido nos Objetivos do Milênio da ONU”.

Avanços - O estudo reconhece que há resultados importantes em níveis local e nacional no combate à perda da biodiversidade, como  a delimitação de várias áreas protegidas (como, por exemplo, o Parque Nacional do Juruena, em Mato Grosso, com 20.000 km²), a recuperação de algumas espéciesameaçadas  (como é o caso do o Bisão europeu), e a prevenção da extinção de outras (pernilongo de costas negras da Nova Zelândia).

Segundo Paulo Gustavo Prado, Diretor de Política Ambiental da CI-Brasil, o país avançou bastante na criação de novas unidades de conservação, embora ainda faltem esforços substanciais em sua consolidação e em seu uso como unidade de  pesquisa. “Infelizmente, o arcabouço jurídico ainda é muito confuso e frustrante no que se refere aos usos da biodiversidade brasileira. É preciso avançar rapidamente no detalhamento e na implementação dos mecanismos para o cumprimento efetivo dos acordos internacionais de cooperaração técnico-científica de forma a conferir maior visibilidade à importância social da biodiversidade”, aponta.

Apesar desses sucessos encorajadores, os esforços para combater a perda da biodiversidade precisam ser substancialmente incrementados e o investimento no estabelecimento de indicadores  e em um monitoramento efetivo da biodiversidade global é essencial para o rastreamento e a melhoria das estratégias de ação e a eficácia dos resultados.

De acordo com a diretora do programa Amazônia da CI-Brasil, Patrícia Baião, o país irá à reunião de Nagoya reforçando a necessidade de uma plataforma político-científica robusta que promova a tradução de novas descobertas no campo da ciência em ações concretas e claras, nos diferentes níveis, e com agilidade e eficiência. “Além disso, o Brasil levará à COP-10 a proposição de critérios socioambientais que devam ser considerados em quaisquer compras efetuadas pelos governos, visando assim promover cadeias produtivas mais sustentáveis. Sabemos que as transações de compras do setor público representam até 1/3 da economia de países em desenvolvimento, que são também onde teremos maiores chances para reverter o atual quadro de declínio de espécies”, completa.

“As preocupações com a biodiversidade devem ser integradas em todos os setores do governo e dos negócios, e o valor econômico da biodiversidade precisa ser considerado adequadamente nos processos de tomada de decisão. Só então conseguiremos solucionar o problema", alerta Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica.

A íntegra do artigo Global Biodiversity: Indicators of Recent Declines está disponível na Conservação Internacional mediante solicitação.

                                      ###

Para  mais informações

Patricia Malentaqui, Conservação Internacional
Escritório +1 703 341-2471 / celular +1 571 225-8345 / p.malentaqui@conservation.org

Isabela Santos, CI-Brasil
(31) 3261-3889 – i.santos@conservacao.org

Os co-autores do estudo representam as seguintes instituições: United Nations Environment Programme, World Conservation Monitoring Centre, BirdLife International, Institute of Zoology (Zoological Society of London), Statistics Netherlands, The University of North Carolina, IUCN, Conservação Internacional, United Nations Environment Programme, Global Environment Monitoring System, IUCN Species Survival Commission, Food and Agriculture Organization of the United Nations, Secretariat of the Ramsar Convention on Wetlands, European Commission Joint Research Centre, Center for Applied Biodiversity Science (CI), Global Footprint Network, University of Virginia, ISPRA, Royal Society for the Protection of Birds, European Bird Census Council, University of Queensland, University of Cambridge, National Center for Atmospheric Research, WWF International, Centre for Invasion Biology and Cape Research Centre (South African National Parks), UNESCO, TRAFFIC International, University of British Columbia, National Centre for Biological Sciences (Tata Institute of Fundamental Research), The Nature Conservancy, USGS Patuxent Wildlife Research Center, American Bird Conservancy, Stellenbosch University, University of Bath, e the Al Ain Wildlife Park & Resort.

Sobre a Conservação Internacional
Tendo como base os alicerces sólidos da ciência, as parcerias e as demonstrações em campo, a Conservação Internacional possibilita que as sociedades cuidem da natureza – nossa biodiversidade global -, de forma responsável e sustentável, para o bem-estar da humanidade. Com sede em Washington, DC, a CI atua em mais de 40 países em quatro continentes.

Para obter mais informações acesse www.conservacao.org e www.conservation.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...