Em vista desta histeria coletiva que se alastra pela mídia mundial contaminando a todos os menos avisados nós resolvemos elucidar uma série de pontos cuja divulgação está causando esta enorme celeuma.
O Alarmismo
O
relatório anual das Nações Unidas faz terríveis projeções para o futuro da
humanidade. A ONU prevê que em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá
contar com a porção mínima individual de água para necessidades básicas.
Segundo dados estatísticos existem hoje 1,1 bilhão de pessoas praticamente sem
acesso à água doce. Estas mesmas estatísticas projetam o caos em pouco mais de
40 anos, quando a população atingir a cifra de 10 bilhões de indivíduos.
A partir destes dados projeta-se que a próxima
guerra mundial será pela água e não pelo
petróleo.
Qual o volume de água potável disponível?
Os dados que são utilizados pela mídia mundial
são: De toda a água disponível na terra 97,6%
está concentrada nos oceanos (tabela 1.1). A água fresca corresponde aos
2,4% restantes. Você acha 2,4% pouco? Então ouça isso: destes 2,4% somente
0,31% não estão concentrados nos pólos na forma de gelo. Resumindo: de toda a
água na superfície da terra menos de 0,02% está disponível em rios e lagos na
forma de água fresca pronta para consumo.
Assustado? A realidade não é tão terrível
quanto estes números parecem apontar. Em sua grande maioria estes números estão
sendo manipulados, por alguns, de forma a criar uma verdadeira histeria
coletiva em relação a água.
Oceanos | 1.370.000 | 97,61 |
Calotas polares e geleiras | 29.000 | 2,08 |
Água subterrânea | 4.000 | 0,29 |
Água doce de lagos | 125 | 0,009 |
Água salgada de lagos | 104 | 0,008 |
Água misturada no solo | 67 | 0,005 |
Rios | 1,2 | 0,00009 |
Vapor d’água na atmosfera | 14 | 0,0009 |
Fonte: R.G. Wetzel, 1983. |
tabela 1.1
|
O que está sendo feito em relação a isso?
Em decorrência das notícias alarmistas vários
países já começam a se preparar para a venda de grandes volumes de água,
pensando em lucrar em cima da necessidade dos outros. No Canadá, por exemplo, a
preocupação já é com a legislação que não permite a venda de grandes volumes
como é feito com o petróleo.
A população se prepara para tempos ruins, onde
o consumo de água deverá ser significativamente reduzido. Existe uma tendência
mundial de culpar e perseguir aqueles que, mesmo pagando, consomem mais.
Neste relatório iremos fornecer alguns dados,
cientificamente embasados, que irão adicionar uma nova perspectiva àquela
gerada pelas projeções catastróficas acima.
As reservas mundiais de água
Em
primeiro lugar é importante falar que nós Brasileiros, no que diz respeito a
água, estamos muito bem, obrigado. O
Brasil, Rússia, China e Canadá são os países que basicamente
"controlam" as reservas de água fresca mundial.
A distribuição da água no Mundo é muito
desigual e, uma grande parte do planeta está situada em regiões com carência de
água. No momento cabe a estes países, em caráter de urgência, desenvolver
tecnologias que permitam a captação, armazenamento e preservação da água e seus
mananciais.
Antes de nos aprofundarmos nesse assunto é
muito importante dizer que apesar de
termos a impressão de que a água está desaparecendo, a quantidade de água na
Terra é praticamente invariável há centenas de milhões de anos. Ou seja a
quantidade de água permanece a mesma o que muda é a sua distribuição e seu
estado.
CICLO HIDROLÓGICO:
O causador deste fenômeno é um processo chamado
Ciclo Hidrológico, através do qual as águas do
mar e dos continentes se evaporam, formam nuvens e voltam a cair na
terra sob a forma de chuva, neblina e neve. Depois escorrem para rios, lagos ou
para o subsolo formando os importantes aquíferos subterrâneos, e aos poucos
correm de novo para o mar mantendo o equilíbrio no sistema hidrológico do
planeta (clique na foto para detalhes).
A água somente passa a ser perdida para o
consumo basicamente graças à poluição e à contaminação, nunca devido ao
assoreamento como muitos dizem. São estes fatores que irão inviabilizar a
reutilização, causando uma redução do volume de água aproveitável da Terra.
O Brasil é altamente privilegiado em termos de
disponibilidade hídrica global. Nós temos um volume médio anual de 8.130 km3,
que representa um volume per capita de 50.810 m3/hab.ano. Estes números devem
ser encarados com uma certa reserva pois a distribuição de água no Brasil, como
veremos adiante, também é bastante irregular. A Amazônia, o lugar mais rico em
água potável superficial de todo o Planeta está distante dos grandes centros
urbanos nacionais.
Conclusão 1: O gerenciamento da água é que deve
ser considerado o grande problema e não seu "desaparecimento". Desta
forma quando o Governo tenta culpar o usuário pelo consumo excessivo de água
está, na realidade, confessando a sua incapacidade em suprir este excesso de
água no presente e, possivelmente, no futuro. O cidadão pode e deve evitar
perdas desnecessárias do produto, mas não deve, sob hipótese nenhuma, ser
responsabilizado pela falta de água. A única forma de inviabilizar a água para
o consumo é a contaminação da mesma por poluentes. Portanto cabe, mais uma vez
as autoridades criar leis severas que punam exemplarmente aqueles que poluem e
contaminam as águas.
Como é consumida a água?
O consumo de água no planeta é que ditará as
políticas de gerenciamento da água.
O consumo de água per capita varia de país para
país e de lugar para lugar. Alguns exemplos abaixo.
PAÍS
| CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA |
Escócia
|
410 litros/pessoa/dia
|
Estados Unidos/Canadá
|
300 litros/pessoa/dia
|
Austrália
|
270 litros/pessoa/dia
|
Brasil RJ
|
140 litros/pessoa/dia
|
Brasil MG
|
124 litros/pessoa/dia
|
Brasil DF
|
225 litros/pessoa/dia
|
Brasil Norte
|
140 litros/pessoa/dia
|
Na tabela acima observamos que o consumo é
significativamente maior nos países desenvolvidos quando comparados ao Brasil.
No Brasil o maior consumo per capita é observado no Distrito Federal que é
ainda 33% menor que o consumo médio do Canadá.
O principal uso de água é, sem dúvida nenhuma,
na agricultura. As águas públicas, que precisam tratamento e transporte tem uma
distribuição diferente. Aproximadamente 60% desta água será usada para fins
domésticos, 15% para fins comerciais e 13% em indústrias. O restante para fins
públicos e outras necessidades.
No Brasil o consumo de água per capita
multiplicou-se por mais de dez ao longo do século 20. Mesmo assim existem
milhões de cidadãos sem acesso a água de qualidade. Da mesma forma milhões de
casas não tem rede de esgotos.
É necessário um investimento significativo, por
parte das autoridades, neste setor. Se este investimento não for efetuado, em
pouco tempo teremos o caos social derivado pela falta d'água. Neste caso o
grande culpado será, mais uma vez, a falta de previsão e de investimentos do
setor público e não o cidadão.
Já, nos outros países onde além do problema de
gerenciamento existe a falta de reservas de água o problema poderá ser,
realmente, gravíssimo no futuro próximo.
A água no Brasil
O nosso país, conforme dito, é privilegiado.
Temos gigantescas reservas de água praticamente em todos os Estados com exceção
dos situados no semi-árido do Nordeste.
Isso não é nenhuma novidade!
O que a maioria não sabe é que existem reservas
simplesmente gigantescas, maiores ainda que aquelas contidas nos rios e lagos
de superfície. São as reservas dos aquíferos subterrâneos.
A grande reserva Brasileira de água: os
aquíferos subterrâneos
Lembre-se que no ciclo hidrológico, uma parte
da água superficial penetra nas rochas permeáveis formando vastos lençóis
freáticos também chamados de aquíferos.
O maior aqüífero conhecido do mundo, O AQÜÍFERO
GUARANI, está localizado em rochas da Bacia Sedimentar do Paraná e ocupa uma
área de mais de 1,2 milhões de km2. Este super-aquífero estende-se pelo Brasil,
(Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul com 840.000 Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina,
(255.000 Km²).
Este aqüífero pode conter mais de 40 mil
quilômetros cúbicos de água o que é superior a toda a água contida nos rios e
lagos de todo o planeta. Somente este fato poderia significar que o
abastecimento de água Brasileiro estaria garantido , sem reciclagem e
reaproveitamento por milhares e milhares de anos...imagine então se fizermos
uma reciclagem, tratamento e reaproveitamento eficientes...teremos água para
todo o sempre.
Estima-se que por ano o Aquífero Guarani receba
160 quilômetros cúbicos de água adicional vindas da superfície. Este é um ponto
que pode ser considerado um problema ou uma solução. Se estas águas
superficiais estiverem contaminadas o
aquífero será terrivelmente atingido.
A água do Guarani já abastece muitas
comunidades nos Estados do Sul-Sudeste do País.
Reservatórios subterrâneos de água potável são
conhecidos em todos os terrenos e regiões do Brasil. Mesmo no semi-árido do
Nordeste existem gigantescos reservatórios. Somente um deles possui um volume
de 18 trilhões de metros cúbicos de água disponível para o consumo humano,
volume este suficiente para abastecer toda a atual população brasileira por um
período de, no mínimo, 60 anos isso sem reciclagem ou reaproveitamento desta
água.
O potencial de descoberta de novos aquíferos,
inclusive maiores do que o próprio Guarani é muito grande. É só lembrar que 3/4
dos 8,5 milhões de quilômetros quadrados da superfície Brasileira correspondem
a Bacias Sedimentares como a do Paraná. Todas estas bacias contém unidades
sedimentares porosas e permeáveis que podem formar excelentes aquíferos de
dimensões continentais.
Em sondagens profundas (>400m) na Bacia do
Amazonas (PA) podemos constatar esta verdade. Intersectamos um gigantesco
aqüífero com artesianismo que até hoje fornece água ininterrupta à comunidade
da Transamazônica. Este reservatório, ainda não mapeado, foi intersectado em
poucos furos distantes dezenas de quilômetros o que dá uma idéia de seu volume.
Mais interessante ainda é que os aquíferos tem
uma água pura, sem poluentes ou contaminantes podendo ser utilizada diretamente
para consumo. Em outras palavras uma água barata e pura que não necessita de
tratamento.
Conclusão 2: O Brasil tem, provavelmente, as
maiores reservas de água do mundo. Estas reservas estão distribuídas em todo o
Território Nacional. O mapeamento dos principais mananciais subterrâneos do
Brasil deve ser uma prioridade. Mais ainda é fundamental que seja monitorada a
qualidade da água que penetra nos aquíferos evitando, por intermédio de pesadas
multas, a poluição e contaminação desta água o que pode comprometer um dos
maiores bens do País.
Reservas alternativas de água
A única maneira de acabar com a água da Terra é
acabando com o planeta.
A água está presente em praticamente todos os
ambientes conhecidos. Na atmosfera, na superfície, nos aquíferos subterrâneos,
nos seres vivos, nas emanações vulcânicas e também na maioria das rochas.
As rochas da crosta terrestre são ricas em
minerais hidratados. Se alguém tiver interesse em calcular a quantidade de água
encerrada na estrutura de minerais formadores de rocha verá que o volume é
simplesmente imenso. É lógico que , nas condições atuais essas reservas são
apenas teóricas, já que o custo da extração desta água será muito elevado e
anti-econômico. No entanto esta tecnologia poderá ser útil na conquista de
planetas com pouca água como Marte.
Soluções mais óbvias que estão sendo ou serão
praticadas em breve são:
Dessalinização: A dessalinização das águas do
mar e de aquíferos subterrâneos com salinidade elevada será a solução para
vários países que tenham o capital, a tecnologia e o acesso à água salgada.
Infelizmente a água potável gerada por estas usinas ainda será um produto caro
e, naturalmente inacessível a muitos.
Tratamento de águas servidas: No processo de
gerenciamento de águas este é um ponto fundamental. Os países mais
desenvolvidos estão investindo pesado nesse campo. No Brasil cidades como
Brasília estão se destacando no tratamento e reaproveitamento dessas águas.
Captação das águas da chuva: Em países com
estações chuvosas é possível maximizar os reservatórios e estoques de água pelo
uso inteligente da água de precipitação.
Por exemplo: somente a água que é precipitada
na Grande S. Paulo durante os meses de janeiro a março é superior em volume a
todo o consumo desta cidade em um ano. Este exemplo é válido para quase todos
os locais onde existem estações chuvosas.
Precipitação média mensal (mm) em São Paulo no
período 1961-1990
Conclusão final: A água da terra não está
acabando. Na realidade a água da superfície terrestre pode estar aumentando
pela adição de água vulcânica. O valor da água deverá aumentar
consideravelmente pois existem países carentes que terão que utilizar
tecnologias caras ou importar água de países ricos. O Brasil não deverá ter
problema de falta de água se os governantes investirem adequadamente no
gerenciamento, armazenagem, tratamento e distribuição das águas. Evitar a poluição
das águas deve ser considerada a prioridade número um dos Governantes.