segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Vamos ter de esperar por racionamentos?

07/10/2013 - 11h55, por Washington Novaes

É cada vez mais frequente na sociedade a sensação de que as instituições das áreas de políticas públicas (Executivo e Legislativo – no Judiciário os problemas têm outros formatos) parecem sempre mais distantes da formulação de macropolíticas e projetos capazes de resolver nossos gravíssimos problemas sociais. Suas decisões ou são muito limitadas na abrangência ou atendem a interesses específicos dos formuladores e dos que os apoiam – não da sociedade nem da solução de graves carências que a afligem.

Ainda há poucos dias (28/9) o jornal O Estado de S.Paulo publicou em várias páginas as gravíssimas consequências das alterações no clima do planeta enumeradas no novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, da ONU) e endossadas pela quase totalidade dos cientistas. Que consequências ou desdobramentos isso está tendo em nossas políticas internas? Que urgência está sendo dada às recomendações do IPCC, embora seu secretário-geral, Rajendra Pachauri, tenha dito que o mundo está “a cinco minutos da meia-noite”?

Não que nos faltem, internamente, informações capazes de fundamentar políticas adequadas. Ainda há poucas semanas, o próprio relatório de 345 cientistas do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas – no qual o governo federal está representado – afirmou que a temperatura no nosso Semiárido (que já passa pela maior seca em 50 anos) poderá aumentar de 3 a 4,5 graus Celsius até o fim do século, com de 40% a 50% menos de chuvas; na Amazônia poderão ser 6 graus mais; na Mata Atlântica do Sudeste poderá haver 30% mais de chuvas, no Cerrado, 40% menos. Vamos mudar algo? Estudo de grupo interdisciplinar de 26 pesquisadores da Unicamp alerta (1.º/10) que, ao contrário, a expansão da cana-de-açúcar no Centro-Oeste, em razão de vantagens econômicas de curto prazo, esconde problemas sociais e ambientais que “tendem a se agravar por causa de mudanças climáticas”. A necessidade de irrigação intensa, principalmente, está levando a conflitos pelo uso de recursos hídricos cada vez mais escassos – quando o conveniente seria criar variedades mais resistentes às condições locais. Enquanto isso, as administrações públicas “parecem fascinadas demais pela riqueza fácil” trazida pela cultura.

Nessa área dos recursos hídricos, não é preciso trazer de novo os dramas do saneamento, com quase 90 milhões de pessoas no País sem ligação de suas casas a redes de esgotos, quase 15 milhões sem receber água tratada – e com todas as nossas bacias hidrográficas, da Bahia ao Sul, em “situação crítica”, segundo a Agência Nacional de Águas, por causa do despejo de esgotos sem tratamento.

Mas não é só aqui. Na recente 23.ª Semana Mundial da Água, em Estocolmo, lembrou-se (2/9) que as insuficiências no abastecimento de água provocam 5 mil mortes diárias no mundo, quase 2 milhões por ano. Reunidos no seminário Water in the Anthropocene, em Bonn, 350 cientistas asseguraram (New Scientist, 1.º/6) que “em apenas uma ou duas gerações a maioria da população da Terra sofrerá com a falta de água de boa qualidade”. Mais de metade dos rios e córregos dos Estados Unidos, diz a Agência de Proteção Ambiental desse país (16/4), já tem problemas graves de contaminação dos peixes, contaminação por bactérias fecais e nutrientes contidos em fertilizantes, que fazem proliferar algas, poluem com fósforo e nitratos. A cada ano, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) que 100 milhões de toneladas de nitrogênio usadas nas lavouras chegam aos oceanos. O respeitado Thomas Friedman (The New York Times) contou neste jornal (Estado, 10/5) que ao visitar o Iêmen encontrou uma cidade na região de montanhas (Taiz) onde as pessoas só podem usar as torneiras de suas casas por 36 horas a cada 30 dias, no restante do tempo têm de pagar por água transportada em caminhões que a comercializam.

A gravidade progressiva dos conflitos por água já está à vista. O volume de água necessário para produzir energia dobrará no mundo em 15 anos, segundo a Agência Internacional de Energia (O Globo, 31/3). Enquanto isso, já chegamos à perda de 50% das áreas úmidas no planeta, com o avanço da exploração agropecuária, industrial e urbana. E ainda precisaríamos aumentar o consumo de água para irrigação, de 70% do total atual para 90%, com o aumento da população. Como? No Fórum Mundial da Água, em junho, em Foz do Iguaçu, o brasileiro Benedito Braga, seu presidente, enfatizou que o Nordeste do Brasil “já precisa armazenar água”. E foi ao ponto central abordado no início deste texto: “Soluções técnicas nós temos; mas a questão é política; e necessita de recursos financeiros”.

Enquanto não chegamos às macropolíticas e à conjugação de projetos, vamos com ações isoladas. São Paulo lança pacote de barragens e diques urbanos, mas continuamos com centenas de milhares de pessoas morando em áreas de preservação obrigatória às margens de reservatórios para abastecimento. Enquanto se vai buscar mais água a dezenas de quilômetros de distância e a custos altíssimos, outras tantas pessoas vivem em áreas de risco, sujeitas a deslizamentos, desmoronamentos. Não se consegue evitar que dezenas de afluentes do Tietê, sepultados sob o asfalto, levem para o rio mais lixo e sedimentos; e ele tem mais de cem quilômetros de suas águas sob um mar de espuma, que o transforma no rio mais poluído do País, embora a nascente, em Salesópolis, continue a fornecer água potável (Estado, 22/9).

Aonde teremos de chegar? Todos os dias discutimos o crescimento ou recuo do produto interno bruto, o avanço ou decréscimo da dívida pública, o progresso ou retrocesso deste ou daquele setor econômico, mais ou menos empregos – mas sem discutir o que está na base física de tudo: os recursos naturais (que não são infinitos). Será preciso enfrentarmos racionamentos, penúrias? Não teremos competência para formular políticas adequadas?

* Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Rede de aprendizagem incentiva consumo consciente

por Davi Lira, do Porvir, 13-set-13

Mesmo estando mais presente na agenda de discussões da sociedade, a sustentabilidade é um tema que as pessoas já entenderam, mas ainda não incorporam completamente ao seu dia a dia. Isso é o que afirma o Instituto Akatu, ONG que está por trás da Edukatu, uma rede de aprendizagem virtual que busca, por meio de atividades educacionais lúdicas e interdisciplinares, estimular práticas de sustentabilidade e o consumo consciente no país entre estudantes de 6 a 14 anos. Considerada a primeira do gênero, a comunidade virtual entrou no ar nesta quarta-feira (11) e já pode ser acessada gratuitamente por professores e alunos de todo o país.

Tendo como um dos principais objetivos incentivar a troca de conhecimentos e práticas entre os professores e alunos sobre os temas sócio-ambientais, a Edukatu permite que os docentes possam montar projetos e, assim, trabalhar de forma interativa com os seus alunos as temáticas da sustentabilidade e do consumo consciente. É preciso apenas alguns minutos para criar um perfil – o de professor ou o de aluno – e usufruir das funcionalidades da plataforma. “Nossa proposta maior é a inclusão do consumo consciente dentro da educação formal, como tema transversal que pode ser trabalhado em diversas disciplinas do currículo em todas as escolas”, diz a gerente de educação do Akatu, Silvia Sá.

Dessa forma, assuntos como planejamento financeiro, ciclo da água, coleta seletiva ou impactos do homem no meio ambiente podem ser trabalhados de forma complementar ao aprendizado em sala de aula por meio do ambiente virtual da Edukatu. Para tanto, foi criada uma seção especial para que o professor crie seu projeto de aula, de curso ou atividade extra. Trata-se do seção intitulada “Circuito”, um espaço de navegação guiada, onde os alunos aprendem sobre os temas selecionados pelo professor por meio de quizzes, vídeos e jogos educativos, sempre dentro da lógica de fases e de desafios a serem cumpridos até o fim do percurso do circuito montado. Todas as atividades são divididas por nível de ensino ao qual pertencem os estudantes.

“A ideia é não ter um aprendizado unidirecional. Práticas conscientes não podem ser impostas. Por isso, o projeto conta com uma plataforma totalmente interativa”, afirma o diretor-presidente do Akatu, Helio Mattar. E para que a experiência proposta nas atividades montadas pelos professores – sempre a partir das ferramentas disponibilizadas pela plataforma –, a Edukatu ainda possui outros espaços de interlocução. Na aba “Na Mochila”, os participantes podem consultar notícias sobre educação para a sustentabilidade, planos de aulas envolvendo os 4Rs – as práticas de repensar, reduzir, reutilizar e reciclar – e analisar outros projetos que já foram incluídos pela plataforma por outros professores espalhados por todo o Brasil.

http://www.youtube.com/watch?v=16wvKuoP7WQ

E como outros ambientes de aprendizado, a exemplo do popular EdModo, a Edukatu tem no “Rede” um mural eletrônico onde professores e alunos podem fazer contato e compartilhar experiências. Se surgir dúvida, quando requisitado, mediadores do Akatu entrarão na conversa para esclarecer qualquer ponto ou questionamentos sobre a melhor forma de navegação pelo ambiente virtual. É possível também pela página inicial da aba “Rede”, checar o estágio de evolução dos circuitos que o usuário participa. Há ainda um espaço para checar quantas “medalhas” já foram garantidas pelos alunos depois que eles conseguem concluir as atividades propostas pelo professor.

Desenvolvido por meio de um processo colaborativo que envolveu especialistas em educação, em consumo consciente, sustentabilidade e cultura digital, antes do lançamento realizado hoje, a Edukatu teve que passar por uma série de testes. Durante a fase piloto feita no primeiro semestre deste ano, a ferramenta pode ser aperfeiçoada depois que 400 alunos e professores de 16 escolas públicas de todas as regiões do Brasil testaram a ferramenta. A partir do lançamento, a ideia é que mais objetos digitais de aprendizagem, especialmente os jogos, sejam adicionados às atividades que podem ser criadas no ambiente virtual.

* Publicado originalmente no site O Porvir.

sábado, 21 de setembro de 2013

Top 10: árvores extraordinárias



Assim como os animais, as árvores precisam se alimentar, e fazem de tudo para chegar à sua principal fonte de comida: a luz. As sequoias são as maiores árvores do mundo e podem ter mais de 100 metros de altura. General Sherman, uma sequoia de aproximadamente 2.100 anos possui um peso equivalente a dez baleias-azuis.
Na tentativa de chegar ao topo, algumas espécies foram ao extremo e podem até matar. A figueira mata pau começa a crescer em cima de outras plantas. No processo acaba abraçando sua hospedeira, que não consegue mais transportar água e nutrientes, e acaba morrendo.
Algumas delas estão na Terra há tanto tempo que presenciaram o nascer do sol mais de um milhão de vezes. As bristocne pines têm mais de 4.600 anos, e já estavam aqui quando as pirâmides do Egito foram erguidas ou quando Cristóvão Colombo chegou à América. Outras, como as cerejeiras e os ipês, não vivem tanto, mas possuem flores vistosas que embelezam os campos e as cidades pelo mundo.
Infelizmente a maior ameaça a esses seres vivos é o desmatamento. Mas, na luta pela sobrevivência, as árvores desenvolveram estratégias extraordinárias e farão qualquer coisa para continuar existindo.

Confira a galeria especial para o dia da árvore (21 de setembro) que A NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ON LINE preparou para você.
Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/materias/arvores-pelo-mundo

21 de Setembro - Dia da Arvore


Dia da Arvore - 21 de Setembro

OXIGÊNIO
Mesmo com a fumaça, dá para ver 
A incessante sinfonia da floresta 
Respirando pelo mundo
Vendo tudo acontecer.
Rogério Flausino



Você já deve ter ouvido falar que a Amazônia é o pulmão do mundo, por ser ela a responsável por manter os níveis de oxigênio no ar. Mas saiba que, há algum tempo, essa afirmativa foi questionada.
Apesar de as plantas produzirem oxigênio como resultado da fotossíntese, elas também respiram dia e noite, consumindo oxigênio. 
Sabemos hoje que  as grandes florestas, como a Amazônia, consomem quase todo o oxigênio que produzem na fotossíntese. Isso acontece porque as árvores da Amazônia são árvores velhas, em estágio de desenvolvimento avançado. Por causa  disso, a quantidade de carbono que elas assimilam, durante a fotossíntese, é muito baixa, liberando praticamente todo esse carbono de volta para a atmosfera no seu processo de respiração.
Os responsáveis pela produção de oxigênio são as algas - seres aquáticos  que podem ser microscópicos ou macroscópicos – e que, juntos, formam o  chamado fitoplâncton. Acredita-se que o fitoplâncton produza cerca de 98%  do oxigênio atmosférico. Porém, a importância desses seres vai além da  fotossíntese: eles formam a base da cadeia alimentar dos ambientes  aquáticos, servindo de alimento para organismos maiores.
Mas é claro que isso não anula a importância ecológica das florestas! A Amazônia é a grande responsável pelo equilíbrio climático do mundo. As plantas nela encontradas fazem muita fotossíntese. Como resultado, elas liberam moléculas de água na atmosfera, possibilitando a formação de grandes nuvens de chuva na região. Se, um dia, a Floresta Amazônica acabar, a temperatura global irá subir muito. Além disso, grandes secas poderão acontecer.
Tanto as florestas como as águas de nosso planeta estão sofrendo com nosso consumismo. E se, um dia, tudo isso que a natureza nos oferece se extinguir e literalmente virar fumaça, nós também faremos parte 
dessa fumaça.

Texto originalmente escrito por Hugo Huth para o programa Ritmos da Ciência da Rádio UFMG
Educativa FM 104,5 e adaptado por Joyce Padilha de Melo.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Desmatamento na Amazônia: Avanços em conceitos e recuos nas práticas

por Washington Novaes*

Embora não surpreendam – havia indícios -, são inquietantes as informações sobre aumento do desmatamento na Amazônia. Foram 2.007 quilômetros quadrados na Amazônia Legal em um ano, segundo o Imazon (20/8), ou quase 92% mais que em igual período anterior. Aos quais se devem acrescentar 1.155 quilômetros quadrados de florestas degradadas no período. E tudo se traduzindo em 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalentes emitidas em 12 meses.

Mais complicado ainda porque um balanço oficial de cinco anos (2005-2010) dizia que o desmatamento era o único setor no País em que se haviam reduzido (em 65%) as emissões de poluentes que contribuem para o aumento da temperatura planetária, quando as emissões no setor energia haviam subido 21,4%, no tratamento de resíduos, 16,4%, na indústria, 5,3% e na agropecuária, 5,2%. Nesse quadro, as emissões totais do Brasil ficavam em 1,25 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes (2,03 bilhões em 2005), que se traduziam em cerca de 7 toneladas por brasileiro (outras fontes apontam até 10 toneladas por pessoa).

Pode ser ainda mais inquietante saber que terminou em Bonn, na Alemanha, uma reunião preparatória para a Convenção do Clima, que será realizada em novembro em Varsóvia (Polônia). E a maioria dos analistas saiu convencida de que é muito improvável, este ano ou no próximo, chegar a um acordo que defina metas obrigatórias de redução de emissões em todos os países, a serem incluídas em 2015 num convênio global para vigorarem em 2020 e possibilitarem que se contenha o aumento de temperatura na Terra em 2 graus Celsius até 2050. Também empacaram as discussões sobre contribuições financeiras dos países industrializados para “mitigação de emissões” e “adaptação às mudanças”, com os “países em desenvolvimento” exigindo recursos para compensar danos que poderiam ser de US$ 1 trilhão por ano.

Pode parecer repetitivo tratar com tanta frequência neste espaço desse tema das mudanças climáticas, mas as notícias são a cada dia mais graves. Uma boa informação, entretanto – ainda não anunciada oficialmente -, é a de que o Brasil voltará, na reunião da convenção, à proposta que fez em 1997, quando se discutia o Protocolo de Kyoto: passariam a ser obrigatórios compromissos de todos os países para reduzir as emissões de poluentes, proporcionalmente à contribuição que tenham dado para a concentração de gases na atmosfera e às suas emissões atuais (em Kyoto decidiu-se apenas que os 37 industrializados baixariam suas emissões em 5,2%, calculados sobre as de 1990; mas o protocolo não teve as adesões necessárias). Até aqui, o Brasil só tem aceitado “compromissos voluntários” de baixar entre 36,1% e 38,9% suas emissões, calculadas sobre o total a que chegaríamos em 2020.

É um assunto vital, quando cenários traçados para este século por 345 cientistas para o Painel do Clima da convenção dizem que a temperatura no Brasil pode subir até 3 graus Celsius. E a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê (20/8) que as culturas de milho, arroz e mandioca serão as mais afetadas, com perdas, hoje em mais de R$ 7 bilhões, que serão o dobro em mais algumas décadas.

Há visões mais otimistas, como as de cientistas que apontam a intenção da China e dos Estados Unidos de reduzirem em 40% as suas emissões na fabricação de cada produto. Mas a China também está deixando cientistas de cabelos em pé com a criação de uma rota de navegação para a Europa atravessando o Ártico (reduz de 48 para 33 dias o tempo gasto) – e contribuindo para mais degelo. Os Estados Unidos conseguiram baixar suas emissões intensificando a exploração de gás de xisto, com um método baseado em fratura de rochas e injeção de água e produtos químicos – que implica, no retorno deles à superfície, a mistura da água superficial com poluentes altamente danosos e em grande quantidade (o Brasil também vai entrar por esse caminho).

Acrescem-se as informações da Global Footprint Network de que no dia 20 último se completou o prazo (menos de oito meses) em que o mundo consumiu os recursos naturais que deveriam bastar para um ano todo – ou seja, a “pegada ambiental” global indica que precisamos de 50% mais de recursos que os disponíveis. E com isso se vai agravando o quadro planetário (Folha de S.Paulo, 20/8). O Japão já consome 7,1 vezes mais que os recursos disponíveis em seu território, a Grã-Bretanha, 3,5 vezes e os Estados Unidos, 1,9. O Brasil, embora use menos recursos que sua disponibilidade interna, consome mais que a média global disponível. Em 2050, afirma o estudo da Global Footprint Network, o mundo precisará de recursos equivalentes ao dobro dos disponíveis na Terra.

Não é diferente do que pensa a Convenção da Biodiversidade, que, preocupada, já em 2010 pediu que se adotassem metas de pelo menos 17% das áreas terrestres no mundo protegidas, assim como 10% de áreas oceânicas.

São visões como essa que levaram o escritor (austríaco radicado nos Estados Unidos) Fritjof Capra – autor de O Tao da Física e A Teia da Vida – a dizer no X Congresso Brasileiro de Direito Socioambiental (Instituto Carbono Brasil, 9/8), que nosso país é um dos “possíveis líderes para o desenvolvimento qualitativo sustentável” – desde que “os negócios, a economia, as tecnologias, as estruturas físicas não interfiram na capacidade da natureza de sustentar a vida”.

Porque “o crescimento infinito é ilusão”. Bem na linha que se propaga entre economistas de que já vivemos uma “crise de finitude de recursos”, com o consumo global maior que a reposição. E crescerá ainda mais, com a população mundial – hoje pouco acima de 7 bilhões de pessoas e um acréscimo de 80 milhões por ano – chegando a mais de 9 bilhões em 2050.

* Washington Novaes é jornalista.

** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Aprovada há três anos, Política Nacional de Resíduos Sólidos caminha a passos lentos

por Akemi Nitahara, da Agência Brasil - 9-9-2013

Rio de Janeiro – O prazo para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) termina no ano que vem, mas, apesar dos avanços muitas das diretrizes inovadoras não saíram do papel. Entre elas estão os planos nacional, estaduais e municipais com o planejamento de longo prazo para cada ente da Federação. A política nacional foi sancionada em 2010, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ronaldo Hipólito, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos está pronto, mas ainda não foi decretado pela Presidência da República. “Ele passou pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), foi discutido em audiências públicas nacionais, regionais, conselhos nacionais e temáticos. Está com a cara final, só esperando o decreto”. O texto pode ser acessado no site do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos, instrumento também em construção pelo ministério, que vai monitorar o andamento da implantação da PNRS nos estados e municípios.

Hipólito explicou que o plano apresenta diretrizes, estratégias e metas para direcionar estados e municípios sobre as áreas nas quais o governo federal pretende avançar mais rapidamente ou mais devagar nos vários pontos existentes dos instrumentos previstos na PNRS. “A política nacional coloca vários instrumentos, ela institui a necessidade de planos, de planejamento, que não é uma coisa que o brasileiro está acostumado a fazer, principalmente nessa área de resíduos sólidos”.

té o momento nenhum estado entregou ao ministério o planejamento para a implementação de políticas de resíduos sólidos. Os estados que já tinham o documento precisam se adequar às novas diretrizes. O Ministério do Meio Ambiente fez convênios para auxiliar os estados a construir seus planos e também apoia 616 municípios que se consorciaram para trabalhar no texto, selecionados por meio de chamadas públicas.

O superintendente de Políticas de Saneamento da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA), Victor Zveibil, lembra que o planejamento abrange todos os tipos de resíduos. “O Plano de Resíduos Sólidos é muito mais amplo, porque não trata apenas de resíduos domésticos. Trata de resíduos de saúde, de resíduos de construção civil, de vários fluxos de resíduos. Vai trazer, também, indicações para a questão da coleta seletiva, da inclusão social de catadores e para as questões da logística reversa”.

Entende-se por logística reversa o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou, ainda, outra destinação.

Zveibil ressaltou que até o fim de setembro a proposta do plano deve estar pronta e será enviada à análise da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ele informou que nenhum município fluminense entregou as propostas e ressaltou que ninguém é obrigado a fazer o documento.

“Chamo a atenção para o fato de que ninguém é obrigado a entregar um plano para o governo federal e nenhum município é obrigado a entregar [o plano] para o estado. Ele é um pré-requisito para acessar recursos federais. Eu vou entregar porque nós estamos fazendo o plano com parte dos recursos proveniente do governo federal”, disse o superintendente.

Outro ponto da PNRS em implantação são as cadeias de logística reversa, obrigatória para o recolhimento de alguns materiais. Ronaldo Hipólito destacou que foram instituídos grupos técnicos temáticos para começar a discutir os acordos com cinco setores: embalagem de óleos lubrificantes, embalagens em geral – plástico, metal, papelão e vidro – eletroeletrônicos, lâmpadas de mercúrio e mistas e a cadeia de medicamentos.

“O [setor] de embalagens de óleo lubrificante já foi feito todo o processo e foi assinado o acordo entre o governo e essa cadeia de embalagem, em dezembro do ano passado. A cadeia de lâmpadas e de embalagens em geral já foi feito o contato, as instruções e os estudos necessários e as empresas e associações representativas nacionais já mandaram as propostas de acordo setorial. Para a cadeia de embalagem vieram quatro propostas, nós estamos discutindo como fazer para resumir em uma só”, informou, Hipólito.

O setor de medicamentos tem algumas experiências pontuais em São Paulo e no Paraná, onde redes de farmácia fazem o recolhimento dos remédios. “Estamos verificando se essa seria a melhor forma de fazer e convocar uma chamada pública para o setor se pronunciar e apresentar os acordos”, destacou o superintendente.

Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012, publicação anual da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduo cresceu 1,3%, de 2011 para 2012, maior que a taxa de 0,9% de crescimento da população.

O total de lixo gerado no Brasil, em 2012, chegou a 62.730.096 toneladas, uma média de 383,2 quilos por pessoa e a coleta de resíduo sólido urbano chega a 90,7% da população. Todos os dias, são coletados 178 toneladas de lixo, 1,25 quilo por habitante. Desse total, 58% teve destinação adequada, que são os aterros sanitários; 24,2% vão para aterros controlados e 17,8% ainda vão para os lixões.

O levantamento é publicado há dez anos pela entidade e conclui que o comprometimento da sociedade brasileira com a questão aumentou muito. No entanto, a evolução para a gestão integrada dos resíduos sólidos ocorre a passos muito lentos e ainda é preciso aumentar os investimentos no setor de limpeza urbana para poder efetivar as políticas públicas previstas na Lei 12.305/2010.




quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Estudantes criam garrafa que torna potável a água do mar

por TATIANE RIBEIRO, DE SÃO PAULO, 30-ago-2013


A água salgada também pode ser utilizada para matar a sede dos seres humanos. Basta colocá-la na Puri, uma garrafa recém-inventada com um sistema interno que torna a água do mar uma bebida potável.

Criada pelos universitários sul-coreanos Younsun Kim, Kangkyung Lee, Byungsoo Kim e Minji Kim, a invenção possui um pequeno sistema de bombeamento que dessaliniza o líquido por meio da osmose reversa.

Para funcionar, o usuário precisa bombear o cilindro dentro da garrafa para aumentar a pressão e ocorrer o processo de separação dos componentes por meio de uma membrana permeável à água e que barra o sal.

Além de ser essencial para salvar a vida de náufragos, os criadores recomendam o uso da Puri em longas trilhas e em viagens longas em alto mar.

veja o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Ox6Q-ccjpsI

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2013/08/1334326-estudantes-criam-garrafa-que-torna-potavel-a-agua-do-mar.shtml

domingo, 1 de setembro de 2013

A era da Energia Extrema

por Charlotte Wilson*

Dos EUA à Índia, avança corrida por combustíveis fósseis rarefeitos e de extração dificílima. Quais são, e por que é desastroso explorá-los?

Alguns anos atrás, nas vésperas das negociações climáticas em Copenhagen, a indústria dos combustíveis fósseis parecia estar na defensiva, com o crescimento da pressão para cortar as emissões de carbono. A elevação dos preços no setor energético e as dúvidas a respeito de sua capacidade em aumentar a produção de petróleo, faziam a indústria parecer um dinossauro em luta para sobreviver. Hoje, ela está na ofensiva e, longe de enfrentar restrições, empanha-se na expansão maciça da extração de combustíveis fósseis, em novas áreas do globo.

Não há melhor medida para essa mudança que a ExxonMobil, a maior empresa privada de petróleo no mundo. Em 2008, estava financiando, agressivamente, a negação da mudança climática e fazendo lobby intenso contra as restrições impostas a seu negócio. Acelere o filme para o último verão. Na esteira da caricata conferência Rio+20, o diretor-executivo da Exxon, Rex Tillerson, em palestra para o Conselho de Relações Exteriores, não apenas reconheceu a mudança climática mas também a “abraçou” dizendo que era um “problema de engenharia” e uma oportunidade de negócio.

Os fatos são alarmantes. O preço do barril de petróleo permanece nas alturas e a concentração de dióxido de carbono na atmosfera ultrapassará 400 partes por milhão este ano, pela primeira vez na história da humanidade. O que mudou radicalmente é o volume da retórica empregada para negar essa realidade. Até as ações de mera fachada estão desaparecendo. Agora, o foco está no surgimento de “planos de de planos para suposta “reparação”, por meio de tecnologias como captura e armazenagem de carbono (CSS) ou geo-engenharia, em um futuro 
distante.

Por trás de toda essa cortina de fumaça, há um mundo real não tão suscetível a esses truques. De um lado, o aumento constante da temperatura indica o que a mudança climática pode representar; de outro, o aumento nos custos energéticos marca o contínuo esgotamento dos combustíveis fósseis.

Mas os depósitos combustíveis fósseis não são poço de tamanho determinado, que está sendo consumido e em certo momento irá se esgotar. O uso das rochas betuminosas, as perfurações no Oceano Ártico e a extração de petróleo por fragmentação hidráulica (“fracking”) demonstram que, embora as reservas de extração mais fácil estejam acabando, existem sempre outras, mais difíceis de explorar, para substituir as primeiras, se você estiver suficientemente desesperado. Esses combustíveis fósseis de extração mais difícil vêm, entretanto, com um custo adicional – como se não bastasse a emissão de carbono.

Nestes casos, a exploração anda quase sempre de mãos dadas com a devastação ambiental. Isso é bem claro, por exemplo, na destruição causada nas florestas boreais em Alberta, Canadá, para extração em rochas betuminosas. Mas não apenas lá. Seja na passagem para a mineração a céu aberto, quando o carvão ficou cada vez mais escasso, ou no impulso para extração de petróleo em águas profundas, o resultado tem sido maior pressão sobre o meio-ambiente. Áreas cada vez maiores do planeta têm de ser destruídas para um retorno cada vez menor.

Os impactos sociais desses métodos mais extremos são igualmente perturbadores. Maior esforço direcionado à extração para fins energéticos significa maior trabalho e recursos consumidos. Na última década, o peso do setor de energia mais que dobrou na economia mundial – de menos de 5% para mais de 10%. Mercados complexos e mecanismos políticos têm ocultado a verdade por trás das manchetes: enquanto o setor energético cresce, o resto da economia é achatado e aqueles com menor poder político sãoRumo aos extremos

A mudança para métodos ainda mais extremos, à medida em que se exaurem os recursos fáceis de extrair, exige uma cuidadosa consideração: onde esse processo irá acabar? Quando a energia usada na extração tender a se tornar maior que a produzida, em que momento já não poderemos falar em uma “fonte de energia”? Na prática, problemas sérios surgem muito antes de este ponto ser atingido. Imagine um mundo onde a principal fonte de energia precise de metade da energia produzida para manter em funcionamento o processo de extração. Não apenas metade de toda a economia será destinada à extração de energia, mas o nível de destruição ambiental será aterrorizante.

O Reino Unido é hoje, como quase sempre, a maior ameaça no que tange extração não-convencional de gás e petróleo (coloquialmente conhecida como fracking); de gás e óleo de xisto; de metano em jazidas de carvão (CBM, em inglês) e gaseificação de carvão subterrâneo (GCS). Esses métodos consomem enorme quantidade de energia e requerem imenso volume de recursos, como plataformas avançadas de perfuração. As características comuns incluem poços densos de perfuração horizontal, algum tipo de fraturação hidráulica ou (desidratação). As quantidades de energia produzidas em cada poço são relativamente pequenas, e o período de produção é curto.

A gaseificação de carvão subterrâneo (GCS), o método mais extremo que conhecemos até o momento, envolve atear fogo no carvão subterrâneo e trazer à superfície o coquetel tóxico produzido. O Reino Unido é o pioneiro, com 21 licenças de GCS já vendidas, em seu litoral, perto de grandes cidades como Swansea, Liverpool e Edimburgo. Algo sem precedentes: uma nova licença está à venda em terra firme, no interior de Warwickshire, próximo a Leamington Spa. Uma companhia, a Five-Quarter Energy, planeja iniciar a perfuração na costa de Northumberland nesse verão (nosso inverno). os primeiros a sofrer.
A escala de tudo isso é raramente analisada. A característica mais fundamental do gás e petróleo não-convencionais é sua natureza dispersa. Qualquer poço irá produzir pouco gás, e apenas por curto período. É necessário que milhares de poços sejam constantemente perfurados, cobrindo a paisagem de buracos, para produzir volumes moderados de energia. O maior campo de gás convencional no Reino Unido era o de Saltfleetby, em Lincolnshire. Possuía oito poços, mas para se produzir a mesma quantidade de gás não-convencional seriam necessários centenas de poços.

Os maiores impactos de fracking incluem vazamento de metano, poluição e produção de resíduos tóxicos e radioativos nas águas; poluição severa do ar; industrialização desenfreada das áreas internas e aceleração da mudança climática. Entretanto, o debate público no Reino Unido concentrou-se em torno de um “não-problema”: se os terremotos subterrâneos induzidos por fracking podem causar dano na superfície. Nos EUA, desvia-se o foco dos problemas reais especulando se há alguma ligação entre a contaminação da água e uma forma específica da fraturação hidráulica. Oculta-se, assim, a ligação clara entre a contaminação e a extração de gás de xisto como um todo.

Esta estratégia tem, efetivamente, desviado a atenção do grande problema que causará impactos em nossa sociedade e meio-ambiente. Até mesmo o sistema acadêmico pode ser corrompido para servir a indústria: descobriu-se que estudos acadêmicos pró-fracking foram financiados secretamente por essa indústria.
A luta esquenta

Felizmente, a luta contra os métodos extremos esquenta. A vila rual de Balcombe é a próxima na linha de tiro, enquanto a Cuadrilla Resources (nome sugestivo…) procura estender sua extração de gás de xisto, de Lancashire para Sussex. Comunidades ameaçadas estão se organizando para resistir, seguindo o exemplo da Austrália, onde houve êxitos consideráveis na luta para travar os avanços da indústria. Embora as forças que se uniram contra as comunidades fossem formidáveis, as conquistas materializaram-se no recente pedido de James Hansen– um dos pioneiros no estudo da mudança climática – para que os combustíveis fósseis não-convencionais sejam deixados onde estão.

Ainda que os impactos nos países ricos parecem ser maléficos, eles tornam-se pequenos, quando comparados ao que os povos no sul do planeta enfrentam. São estes que não podem dar-se ao luxo de tomar água em garrafas de plástico e estão mais próximos das consequências ambientais. O anúncio recente de que a Essar Oil obteve permissão para perfurar 650 poços de carvão gaseificado (GCS) em Bengala Ocidental, ao norte de Kolkata, é apenas a ponta de um iceberg que se agiganta. A área é próxima à de maior densidade populacional na Índia e já sofre de problemas sérios com falta de água.

O diretor-executivo da Exxon teria dito, recentemente: “Qual o benefício de salvar o planeta, se a humanidade sofre?”. É como se o futuro da humanidade pudesse ser separado dos ecossistemas dos quais todos dependemos. Nessa visão de mundo distorcida, a Exxon é a salvadora, pois descobre, para nós, maneiras novas e criativas de manter níveis insustentáveis de consumo de energia.

No mundo real, está se tornando cada vez mais claro que o futuro da humanidade e do planeta dependem de manter os combustíveis fósseis onde eles estão. Isso irá requerer uma completa transformação nos sistemas econômicos e sociais que estão produzindo os métodos extremos de produção de energia.

* Tradução: Vinícius Gomes

** Publicado originalmente no Zmag e retirado do site Outras Palavras.




sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Brasil: candidato a sediar o Fórum Mundial da Água de 2018

por Bernhard J. Smid*

O Brasil, especificamente Brasília, concorre com a Dinamarca como candidatos finalistas a sediar o “8º Fórum Mundial da Água”, em 2018.  A cada três anos, o Fórum proporciona o diálogo e a busca de estratégias de uso racional e sustentável da água no mundo.

Diferente da “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável”, o Fórum não almeja estabelecer protocolos de entendimento ou acordos. O objetivo é promover o compartilhamento de experiências e boas práticas.

A decisão, que será tomada pelos representantes do “Conselho Mundial da Água”, tem o apoio do “Senado Federal” brasileiro, além de outros interlocutores.  Se Brasília for aprovada como cidade-sede, será a primeira vez que o evento ocorrerá na América Latina.  Sua realização no Brasil é particularmente importante, considerando que o país detém 12% da água doce superficial do planeta, além de grandes aquíferos subterrâneos.

A proposta brasileira, se aceita, terá importante papel de interlocução para governos e sociedade civil, além de permitir uma visibilidade das características brasileiras quanto aos diversos biomas aqui presentes. O resultado sobre a escolha da cidade sede para este Fórum de 2018 será anunciado no início de 2014.

É importante observar que a gestão de águas nem sempre é bem coordenada e a preocupação com o tema é, muitas vezes, observado somente quando ocorrem desastres, como inundações, e consequentemente a restrição de água potável.

A importância do Brasil em sediar o Evento e consequentemente permitir uma ampla participação da sociedade é a chance de poder mostrar a realidade brasileira no âmbito internacional, principalmente de como diversas famílias brasileiras que residem na floresta vivem sobre o balanço de casas-barco e resistindo a grandes variações de cheias e vazantes de rios, como o “Rio Amazonas”, cuja diferença entre os períodos de cheias e vazantes é, normalmente, de 15 metros, tendo já chegado a marcas históricas de até 30 metros de variação entre os períodos.

Essa realidade, cuja experiência poderia ser um dos temas para a troca de experiências durante o Fórum,  é certamente muito distante do que se verifica na Europa, onde muitos rios possuem diques de contenção para grandes inundações, como é o caso do Elba, na Alemanha.

Destaca-se, também, que a gestão dos recursos hídricos traz ainda a discussão quanto à necessidade de se discutir a mitigação e/ou a adaptação às mudanças climáticas, bem como a discussão sobre o desenvolvimento socioeconômico de regiões, como a Amazônia, bem como a implementação de infraestrutura, como as rodovias.

A última edição do “Fórum Mundial da Água” ocorreu em Marselha (França) em 2012 e teve a participação de 35 mil pessoas de 147 países. A próxima edição, em 2015, será na “Coreia do Sul”.

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Fonte:


* Bernhard J. Smid possui mestrado (Master of Arts) em Negócios Internacionais pela Munich Business School – Alemanha (2008) e MBA em Comércio Exterior e Negociações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas – FGV (Brasil). Profissionalmente, atualmente trabalha no Projeto Setorial de Promoção Comercial do Setor Lácteos (Organização das Cooperativas Brasileiras / Apex-Brasil) e é colaborador voluntário no CEIRI (Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais)

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.



Distribuição geográfica de árvores da Mata Atlântica pode cair 65% até 2100

Caso se concretizem as projeções mais pessimistas do IPCC e o aquecimento atingir a casa dos quatro graus Celsius, a distribuição geográfica das árvores da Mata Atlântica poderá ter redução de até 65% em 2100

por Noêmia Lopes, Agência Fapesp - 26/08/2013

Caso se concretizem as projeções mais otimistas do IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas e a temperatura nas áreas com remanescentes de Mata Atlântica aumentar até dois graus Celsius, a distribuição geográfica das árvores desta floresta poderá ter redução de 30% em 2100. Se as estimativas mais pessimistas vingarem e o aquecimento atingir a casa dos quatro graus Celsius, tal redução poderá chegar a 65%.

O alerta foi feito por Carlos Joly, coordenador do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP) e pesquisador do IB/Unicamp - Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, durante o sexto encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, realizado no dia 22 de julho na FAPESP, em São Paulo.

Os números foram obtidos a partir de um levantamento que começou em herbários. “Identificamos pelo menos 30 pontos de ocorrência exata de árvores da Mata Atlântica e, com isso, fizemos um mapa de onde elas ocorrem hoje em determinadas condições de temperatura, precipitação, tipo de solo e altitude”, explicou Joly.

Considerando os 30 pontos iniciais, o passo seguinte foi usar um algoritmo para calcular em que outros lugares haveria potencial para a ocorrência das espécies, o que deu origem a um segundo mapa. De acordo com o pesquisador, “isso nos permitiu dizer que determinada espécie é capaz de ocorrer em certa localidade, sob certas condições anuais de temperatura e precipitação”.

Em seguida, as projeções do IPCC permitiram traçar o panorama de 2100, considerando cenários mais e menos otimistas. “Estimamos que a porção nordeste dos remanescentes – onde a estimativa é que também haja redução significativa de chuvas – vá diminuir. E a distribuição geográfica das espécies ficará mais restrita a áreas como a Serra do Mar, onde a precipitação é garantida e o relevo impede que a temperatura suba demais”, afirmou Joly.

ESTOQUES DE CARBONO
Outro tema abordado durante a conferência foi o monitoramento do carbono estocado na Floresta Atlântica paulista, em uma faixa equivalente a 14 campos de futebol entre Ubatuba e São Luiz do Paraitinga.

Desde 2005, pesquisas viabilizadas pelo BIOTA-FAPESP e pelo Programa FAPESP de PFPMCG - Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais investigam os remanescentes de Mata Atlântica na região, inclusive no que diz respeito às trocas gasosas entre as plantas e o meio ambiente.

O acompanhamento é feito por meio de cintas de aço colocadas nos troncos das árvores – a medição do diâmetro, a cada dois anos, aponta quanto carbono vem sendo fixado por elas. “Também monitoramos árvores que morrem e vão entrar em decomposição e plantas novas, que no último período verificado cresceram o bastante para entrar em nossa amostragem”, afirmou Joly. Uma torre de 60 metros de altura, equipada com um grande conjunto de sensores, também mede o fluxo de trocas gasosas, além de radiação, chuva, vento, entre outros fatores.

Os resultados obtidos até o momento apontam para a existência de grandes estoques de carbono, principalmente no solo das regiões mais altas, onde as temperaturas frias tornam o processo de decomposição mais lento e há acúmulo de serapilheira – camada fofa que se forma com folhas caídas no chão.

“Imaginamos que, em um processo de aquecimento, a serapilheira que se acumulou por milhares de anos vai se decompor mais depressa, fazendo com que a floresta libere mais gás carbônico do que pode assimilar. Ou seja, ela se tornaria uma fonte emissora e nós perderíamos o serviço ambiental de estocagem que hoje as espécies nos prestam”, explicou Joly.

Nos próximos anos, o monitoramento na Floresta Atlântica paulista será comparado a estudos na Floresta Amazônica e em florestas da Malásia, em parceria com pesquisadores britânicos. Já se sabe, por exemplo, que a Floresta Amazônica não acumula tanto carbono no solo como a Atlântica e, nas medições anuais, estabelece trocas com a atmosfera que resultam em um balanço próximo a zero.


FAUNA E SENSORIAMENTO
André Victor Lucci Freitas, pesquisador do IB/Unicamp, também participou da conferência apresentando dados sobre origem, evolução e diversidade da fauna da Mata Atlântica. Ele apontou que a grande diversificação e o alto endemismo faunístico podem ser explicados por um conjunto de processos.

“A interação entre as tolerâncias ambientais dos diferentes grupos de animais, a heterogeneidade de habitats (florestas, restingas, campos) e os processos históricos (como variações climáticas no passado) explicam a grande diversidade encontrada ao longo de toda a extensão da Mata Atlântica”, disse Freitas.

O terceiro palestrante, Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tratou sobre os bastidores do desenvolvimento de um atlas.

“O acompanhamento, agora anual, dos remanescentes da Mata Atlântica é feito a partir da interpretação de imagens de satélites. Fotografias aéreas resultariam em um detalhamento maior, mas essa ainda é uma técnica muito cara para a grande extensão que precisamos monitorar”, disse. Outro desafio é identificar desmatamentos menores causados pela expansão urbana.

De acordo com Ponzoni, o bioma cobre 7,9% de sua extensão original, se considerados os remanescentes acima de 100 hectares. Quando computados todos os polígonos com 100 hectares ou menos, o domínio é de 11% a 16%.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Stephan Schwartzman: Plano de redução de emissões dos EUA pode impulsionar agenda climática global

08/7/2013 - 10h15, por Cassuça Benevides, do IPAM

Steve Schwartzman, como é apresentado no website da ONG Environmental Defense Fund (Fundo de Defesa do Meio Ambiente) – onde é Diretor de Políticas para Florestas Tropicais, está otimista com o Plano de Ação Climática anunciado no final de junho pelo presidente americano Barack Obama. Schwartzman, que também é Vice-Presidente do Conselho Deliberativo do IPAM, acredita que o plano possa injetar ânimo nas negociações da Convenção do Clima na ONU e que quando ficar claro que os cortes nas emissões de carbono não terão impactos tão drásticos para a economia e competitividade americanas vai ser “mais fácil avançar o suficiente para evitar as consequências mais drásticas das mudanças climáticas”.

Clima e Floresta – Com o Plano de Ação Climática, o presidente americano, Barack Obama, tenta trazer de volta a questão das mudanças climáticas para o centro da agenda política. A repercussão entre os especialistas em clima foi muito boa, mas quais as chances reais de sucesso, apesar da resistência da oposição Republicada e do lobby da indústria de carvão, que vai ser a mais afetada pelo plano?

Stephan Schwartzman - O presidente está sendo bastante consistente na sua forma de lidar com a questão das mudanças climáticas. Ele disse no início do primeiro mandato que achava prioritário um regime nacional de controle das emissões de gases causadores do efeito estufa. E que a preferência dele era ter uma legislação nacional tratando da questão. Em 2010 ele conseguiu passar uma lei federal na Câmara, mas não no Senado. Desde então, o presidente vem dizendo que a preferência dele é a lei, mas que se o Congresso não conseguisse passar uma lei, ele iria utilizar autoridades executivas cabíveis para avançar na questão. Isto é que ele está anunciando mais concretamente agora. Não existe dúvida que a Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental – órgão regulador) tem autoridade para controlar as emissões de CO2. Isto já foi levado ao Supremo Tribunal Federal, a decisão existe e não há dúvida de que a EPA tem este direito. A questão é dos detalhes, dos pormenores: Quanto será o limite para as usinas (de carvão) já existentes e para as novas. E agora há o processo dos reguladores acharem as formas legalmente mais robustas e mais facilmente defensáveis para incluir na regulação final. É de se esperar que possa haver contestações no plano jurídico, mas no final das contas, algum sistema de limites nacionais vai ser criado.

C e F – Os Estados Unidos são hoje o segundo maior emissor de gases que provocam o efeito estufa, atrás da China, mas historicamente são os maiores poluidores do planeta. Mesmo que as metas definidas por Obama de reduzir emissões de dióxido de carbono sejam cumpridas, os especialistas acreditam que isto não será suficientes. O que mais precisa mudar?

SC - Nenhum regime de controle das emissões que existem ou que estão surgindo no mundo, na forma como estão sendo propostos, seriam suficientes para conter as emissões abaixo do limite de dois graus centígrados até o final do século. Acho que todo mundo sabe disto, mas o importante é começar. É estabelecer os limites, começar o processo de redução para poder avançar mais lá na frente. Acho que não tem outra forma. Obviamente precisamos de cortes mais drásticos, mais severos. Politicamente a única forma de se fazer isto é estabelecer um sistema, demonstrar para a indústria e para o público que de fato não é aquilo que os setores mais conservadores da indústria vêm dizendo sempre, principalmente em relação às mudanças climáticas, que este tipo de regulamentação vai alijar a nossa economia, vai destruir a nossa capacidade competitiva no comercio internacional etc. E isto nunca acaba sendo tão drástico como eles dizem. E uma vez constatado isto, acho que vai ser politicamente muito mais fácil de avançar o suficiente para evitar as consequências mais drásticas das mudanças climáticas.

C e F – Obama falou em liderar pelo exemplo e também em reativar as negociações internacionais. Na sua opinião, as negociações internacionais da Convenção do Clima podem começar a progredir um pouco mais rápido?

SC -Da mesma forma que o anúncio de um limite para emissões de desmatamento do Brasil induziu à declaração da China de que vai começar com programas-piloto de cap and trade* de emissões em várias cidades e províncias. Claramente atitudes destas por parte dos Estados Unidos só podem fortalecer o andamento das negociações.  Mesmo assim, são 196 países e é muito difícil concordar sobre qualquer coisa neste contexto, mas esta posição tende a facilitar o andamento das discussões.

C e F – No discurso em que anunciou o plano, Obama citou parcerias estratégicas com países emergentes, incluindo o Brasil. Como pode ser a evolução desta parceria? O Brasil se queixa de ter reduzido o desmatamento pela metade e não ter tido benefícios com o seu desempenho…

SC - Resta ver o campo que pode haver para colaboração do Brasil com os Estados Unidos nesta área. Historicamente o Brasil tem tido uma posição eu diria, bastante reservada em relação à redução do desmatamento nas negociações de clima. Verdade que o Brasil não conseguiu angariar benefícios significativos com a redução do desmatamento. Mas também, no contexto das negociações de mudanças climáticas não usou o prestígio, a liderança que conquistou com este programa para dinamizar mais o processo. Sempre teve uma posição de não querer discutir mecanismos de mercado para compensação da redução do desmatamento. No contexto Brasil/Estados Unidos vamos esperar para ver as propostas concretas do EPA. De um lado, o EPA não tem autoridade para instituir um sistema de mercado, de cap and trade para emissões no país. Por outro lado, muita gente acha que (o EPA) teria possibilidade de criar certos mecanismos de mercado no sistema de controle de emissões. Sendo assim, talvez haja campo para colaborações maiores além da colaboração existente de biocombustíveis, na área de etanol.

C e F – Talvez fosse possível o Brasil aproveitar e tomar uma posição de liderança junto com os Estados Unidos?

SC - Junto com os EUA e com os outros atores. Há muitos anos a União Européia vem dizendo que se compromete a fazer uma redução de 20% em relação a 1990 até 2020, independente do que os outros países forem fazer. Se houver colaboração e esforços a altura por parte de outros países, a UE assume a meta de 30%.  Por que o Brasil não coloca suas reduções à disposição para ajudar a União Européia a cumprir esta meta? Topa fazer 30% e a gente vende uma porção da redução que fizemos com  o combate ao desmatamento para colaborar? Teria várias posições possíveis de alavancagem deste sucesso do Brasil, mas o Brasil não quis entrar nesta área ainda.

C e F – No discurso do presidente americano ficou clara a preocupação com adaptação às mudanças climáticas que já estão acontecendo. Obama citou o furacão Sandy e falou bastante em investimentos em adaptação. E no Brasil? Como o senhor vê os esforços para adaptação no país?

SC - Talvez eu não tenha conhecimento suficiente para avaliar. O Brasil não está só, mas parece que os investimentos em adaptação para mudanças climáticas estão começando meio devagar. Aqui nos Estados Unidos o furacão Sandy, incêndios descontrolado no oeste do país, a seca, estas coisas estão chamando muita atenção e fica cada vez mais difícil ignorar estes impactos que estão ficando cada vez mais concretos. Agora mesmo morreram 19 bombeiros de uma vez combatendo um incêndio florestal no oeste dos EUA. Foi o maior número de bombeiros a morrer desde 2001, no ataque ao World Trade Center. Este tipo de coisa se multiplica, se prolifera cada vez mais e fica premente tomar uma atitude para se prevenir contra as consequências.

Em Nova York tinha gente que vinha falando há anos que iria acontecer exatamente o que ocorreu com o Sandy. Que iria ter enchentes dentro do metrô, em várias partes da cidade e aconteceu exatamente como previsto pelos cientistas que vinham estudando o assunto. E quando isto acontece fica difícil dizer que a gente não vai fazer nada. A questão é: economicamente vamos ter esta capacidade de investimento para fazer um progresso significativo?

No Brasil, eu acho que falta ainda mapear os efeitos. Na Amazônia se sabe que a perspectiva de savanização é real. Pelo menos existem alguns estudos neste sentido. Mas nas regiões costeiras acho que falta um mapeamento mais sério sobre quais serão os efeitos mais previsíveis para poder já começar a investir nas medidas cabíveis.

Ce F – Os efeitos nocivos para as florestas, que são importantes na regulação e no equilíbrio do clima, também foram citados pelo presidente americano, mas ele não adiantou nada de concreto. O que se espera aí nos Estados Unidos que possa ser feito em relação à proteção florestal?

SC - O tipo de incêndio florestal que começa a acontecer no oeste do pais é muito difícil de controlar. Há uma série de políticas que será preciso rever. Tem certos ecossistemas em que o fogo era parte constante durante milhares de anos e agora recentemente, por causa das políticas que foram adotadas, começou a ser suprimido. O objetivo era  evitar qualquer incêndio florestal, por achar que a floresta era valiosa demais, ou que era perigoso. Hoje em dia, já em certos econssistemas começa-se a reintroduzir o fogo mais controlado, para impedir grandes incêndios. Este tipo de coisa precisa de aprofundamente, de investimento em pesquisa básica para entender o que pode ser feito. Espero que não seja tarde demais, mas precisamos lidar com isto agora.

C e F – O senhor acompanha de perto e há muitos anos, a questão do desmatamento no Brasil. Há alguns anos o senhor e outros ambientalistas vêm insistindo para que sejam criados mecanismos de incentivo à valorização da floresta em pé. A regulamentação do novo Código Florestal, em preparação pelo governo federal, pode trazer algum avanço neste sentido?

SC - A gente entende que o Congresso incluiu uma série de possibilidades de criação de incentivos positivos para a proteção florestal, mas que cabe ao Executivo criar os mecanismos financeiros para que elas sejam concretizadas. Eu acho que depende bastante da vontade política do Poder Executivo. Fala-se criação de mercado de carbono brasileiro, incentivos para a redução do desmatamento e para restauro florestal, que é de fundamental importância. As pistas, os caminhos para se criar os incentivos estão aí no novo Código, são caminhos importantes e cabe à Presidência fazer os investimentos necessários, criar os mecanismos necessários para que estes incentivos efetivamente passem a funcionar. Afinal, o Brasil conseguiu um avanço enorme ao reduzir seu desmatamento a nível nacional em 75% de 2005 a 2012, inteiramente com mecanismos de comando e controle, de fiscalização e criação de novas áreas protegidas. Isto é ótimo, mas todo mundo sabe que só com mecanismo de controle neste contexto é difícil de sustentar ao longo do tempo.  É preciso primeiro, quem sempre defendeu florestas – os indígenas, as populações tradicionais – precisam de melhores oportunidades econômicas. E o produtor que quer fazer direito, merece um incentivo para faze-lo de forma competitiva.

* Introdução de limites máximos para emissões com mecanismos de compensação: os que emitem menos do que o limite, ganham créditos ou cotas que podem ser negociados com quem emite mais do que o permitido. Os emissores acima do limite são obrigados a comprar créditos dos que conseguem reduzir mais suas emissões.
* Publicado originalmente no site IPAM.
 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Economia verde não decola na América Latina

02/7/2013 - 11h05, por Emilio Godoy, da IPS

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Reduzir a contaminação pelo transporte é fundamental para a sustentabilidade. Uma rua do centro de Mérida, no sudeste do México. Foto: Emilio Godoy/IPS

Cidade do México, México, 2/7/2013 – Um ano depois de endossar os princípios da economia verde na cúpula Rio+20, a América Latina apresenta um avanço duvidoso para modelos de desenvolvimento sustentável. Esta é a opinião dominante entre especialistas consultados pela IPS. A região, “em geral, está em uma situação precária; embora haja esforços de política pública para integrar o capital natural como objeto de sustentabilidade econômica, pode-se contar os poucos casos. Não há um enfoque transversal e compreensivo”, disse à IPS a diretora do Instituto Global para a Sustentabilidade (IGS), Isabel Studer, do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey. 

O IGS participa de um estudo comandado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) sobre experiências de sucesso em economia verde em nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que deve ficar pronto no final deste ano. Segundo Studer, os países “baseiam seu crescimento econômico na exploração dos recursos naturais, e isto agravou uma situação que por si só não era das melhores. Não se integrou a sustentabilidade ambiental à política econômica”. 

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), sustentabilidade é “um sistema de atividades econômicas relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços que resulta em melhoria do bem-estar humano no longo prazo, sem, ao mesmo tempo, expor as gerações futuras a riscos ambientais e escassez ecológica significativa”. Para o Pnuma, o investimento verde pode contribuir com a redução da demanda de energia e água e da pegada de carbono na produção de bens e serviços, e ajudar no combate à pobreza e à desigualdade social. 

“Primeiro é preciso conhecer as condições da economia e depois as que podem ser aplicadas. Antes vem uma análise das maneiras e dos setores prioritários para transitar para uma economia verde”, disse Dolores Barrientos, representante do Pnuma no México. “O avanço fundamental é reconhecer as falhas no sistema econômico, que eventualmente possam ser corrigidas com melhores políticas públicas e que possam incluir os grandes temas da economia verde”, pontuou.

A declaração “O futuro que queremos”, adotada em junho de 2012 pela conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), no Rio de Janeiro, considera que a economia verde é um dos instrumentos mais importantes para se conseguir a sustentabilidade e poder oferecer alternativas para a formulação de políticas. Ao mesmo tempo, reconhece os diferentes enfoques, visões e modelos, em função das circunstâncias e prioridades nacionais. Governos, universidades, organizações não governamentais e empresas registraram, junto ao secretariado da Rio+20, 741 iniciativas voluntárias em setores como energia, transporte, agricultura e saúde. O Brasil apresentou 72, México 47 e Peru 25. 

O Pnuma afirmou que são necessários por ano mais de US$ 1,3 bilhão em iniciativas sustentáveis para enfrentar o esgotamento dos recursos e diminuir a produção de substâncias contaminantes. Até 2030, o México necessitará de investimentos no valor de US$ 64 bilhões em geração elétrica, petróleo e gás, agricultura e silvicultura, consumo de energia e transporte para gerar menos emissões contaminantes, segundo o Banco Mundial, que prefere falar em “crescimento verde e inclusivo” e destaca experiências que já são aplicadas em muitos países da região. 

Porém, governos, acadêmicos e organizações da sociedade civil, especialmente do mundo em desenvolvimento, questionam os postulados da economia verde com o argumento de que a riqueza natural será mercantilizada, sem dar resposta a problemas de fundo, como a pobreza e a desigualdade, que são muito graves na América Latina. Em seu estudo Estratégias de Desenvolvimento de Países Latino-Americanos e Caribenhos Selecionados e sua Aproximação da Economia Verde. Uma Análise Comparativa, o Pnuma avaliou os casos de Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, cujos governos não creem na economia verde. 

O documento constata que, “apesar de a maioria dos países analisados integrar em suas estratégias de desenvolvimento certos elementos que regem a relação de pessoas e comunidades com o meio ambiente e os caminhos para alcançar a sustentabilidade, há uma brecha entre as posturas dos países, frequentemente muito inovadoras expressas na esfera internacional, e suas atuais políticas de desenvolvimento”. “O desafio é fazer mudanças substanciais de maneira integral na economia nacional. As políticas públicas passam pelas políticas macroeconômica, financeira, fiscal e de inovação. A economia verde pode ser motor para corrigir desigualdades”, destacou Studer. 

Para a diretora do IGS, “a economia verde não é opcional, porque os problemas existentes vão se agravar. Ela oferece oportunidade de desenvolvimento de novas indústrias, de energia renovável, de reciclagem de materiais; mas requer um esforço gigantesco para incluir externalidades nos preços e avaliar custos de oportunidade”. Em agosto serão apresentados resultados sobre boas práticas na Alemanha, China e Austrália, vinculadas ao manejo da água e a incentivos às energias renováveis. 

Em geral, os especialistas coincidem quanto à urgência de adotar medidas para enfrentar de forma mais eficiente o uso da energia e os recursos hídricos e para manejar o lixo e o transporte. O México está para concluir um estudo sobre agricultura, capital natural, transporte, água e empregos verdes, que pode ser insumo para que os tomadores de decisões desenhem políticas. 

Outros países da região começam a estudar e analisar diferentes setores sob esta ótica. “A chave é os países se convencerem das recomendações da economia verde, a seguir analisarem onde há oportunidades para aplicá-las e executarem essas ações”, opinou Barrientos. O estudo do Pnuma aconselha a estabelecer mecanismos internacionais que garantam que uma economia verde contribuirá para a erradicação da pobreza, respeitará a soberania das nações, facilitará a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade e permitirá uma distribuição equitativa da riqueza. 

 fonte: Envolverde/IPS (IPS)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Sustentabilidade e escola: uma dupla de futuro

05/7/2013 - 11h30, por Edson Grandisoli


Segundo o ministério, o Programa Dinheiro Direto na Escola – Escola Sustentável apoiará projetos que promovam ações voltadas à melhoria da qualidade de ensino e a sustentabilidade socioambiental do espaço escolar. É uma tentativa de fazer com que as escolas se tornem espaços educadores sustentáveis considerando sempre intervenções dentro do tripé espaço físico–gestão­–currículo.

Há inúmeras definições sobre o que seria uma escola sustentável, mas é justamente neste tripé que reside uma explicação detalhada que as escolas aderentes ao programa deverão atentar. Primeiro, com o uso de um espaço físico que cuida e educa, em que as construções tenham um maior conforto térmico e acústico, a energia e a água sejam usadas de forma eficiente. Em seguida, com uma gestão que encoraje relações de respeito à diversidade e que seja mais democrática e participativa. Por último, a adoçam de um currículo que estimule a visão complexa da educação integral e sustentável, estimulando a responsabilidade e o engajamento individual e coletivo na transformação local e global.

O investimento ainda pode ser considerado tímido, se realmente considerarmos o número de escolas do nosso país. Mas a iniciativa é animadora. Nos últimos anos, tenho tido a chance de colaborar com diferentes instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que têm a sustentabilidade como eixo condutor.

Junto a equipes interdisciplinares de professores dessas instituições, tenho mantido a preocupação de criar um projeto novo e personalizado para cada escola – afinal, cada instituição tem sua história e suas características próprias –, sempre valorizando práticas que aliem as esferas tradicionalmente ligadas ao conceito de sustentabilidade: a ambiental, a econômica e a social. Somente identificando os desafios que deixem claras as interligações e a interdependência entre essas três esferas, estaremos de verdade formando professores e estudantes dentro do novo paradigma da sustentabilidade.

Minha fonte primária de inspiração são as ideias e os ideais do sociólogo francês Edgar Morin. Apenas por meio da compreensão profunda da complexidade do mundo atual, colaboraremos efetivamente na formação de indivíduos críticos e capazes de propor soluções de cunho coletivo aos desafios do dia a dia. O trabalho dentro dos paradigmas da complexidade quebra as barreiras disciplinares, dando um novo significado ao que é trabalhado em sala de aula.
Costumo dizer que projetos em educação e sustentabilidade devem “trazer o mundo para a escola e inserir a escola no mundo”. De maneira geral, esses projetos devem (ou deveriam) ousar e ir além das propostas isoladas de ecoeficiência, que geralmente empobrecem e resumem a sustentabilidade ao seu componente ambiental.

Assim, para a implantação de projetos integrais em educação e sustentabilidade, tenho seguido um roteiro simples com seis etapas:

1. Formação teórica competente de professores e estudantes dentro da história e da conceituação de sustentabilidade;

2. Elaboração de um diagnóstico real da escola, caracterizando seus principais desafios e formas viáveis de solucioná-los;

3. Identificação dos principais atores envolvidos em cada desafio e que podem se tornar parceiros em ações;

4. Estabelecimento de um verdadeiro diálogo democrático entre os atores, visando compreender os vários lados da mesma questão, garantindo, dessa forma, uma visão sistêmica complexa;

5. Monitoramento participativo dos resultados alcançados;

6. Criação de parcerias com outras instituições de ensino, ONGs, entidades governamentais, etc., aumentando ainda mais a complexidade do trabalho e envolvendo de forma efetiva sua comunidade.
Um ponto fundamental de toda essa caminhada é sempre colocar os estudantes como protagonistas desde a elaboração do diagnóstico até a avaliação das ações implantadas, permitindo que conheçam melhor sua escola e sua comunidade. O professor está ali para auxiliar a caminhada, funcionando como tutor e não como aquele que detém o conhecimento e sabe o que é certo ou errado. Esse deslocamento do professor de sua posição onipotente estabelece uma relação mais saudável, o que favorece muito o diálogo e a busca conjunta por soluções.

Por sinal, considero o desenvolvimento da capacidade de propor soluções criativas para problemas coletivos por meio do diálogo democrático um dos grandes resultados positivos dos projetos de educação e sustentabilidade com que tenho colaborado.

Acredito muito nesse caminho para garantir uma educação mais integral e integrada. Espero que o investimento do MEC na criação de escolas sustentáveis valorize todo o potencial existente dentro do tema da sustentabilidade. Para isso, entretanto, boa parte desse investimento deve ser voltado à formação de professores dentro dos preceitos da sustentabilidade.

A prática da verdadeira sustentabilidade na escola é capaz formar cidadãos responsáveis, que valorizam mais o coletivo que o individual, e os prepara para construir uma sociedade mais sustentável, justa e democrática para todos.

fonte: Publicado originalmente no site O Porvir. Edson Grandisoli é professor, diretor educacional da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a Sustentabilidade. 

Desmatamento na Amazônia volta a crescer

por Redação do Greenpeace , 08/7/2013 - 11h30 


“Aqui se faz, aqui se paga.” A parceria com a bancada ruralista começa a passar uma amarga fatura para o governo Dilma: o desmatamento da floresta amazônica, que demorou tanto para começar a ser controlado, mostra sinais tão evidentes de subida que nem o governo consegue mais esconder.

Em coletiva de imprensa na manhã de sexta-feira (5-jul-13), o Ibama anunciou uma tendência de aumento de desmatamento que não se via mais no Brasil. Segundo dados do Deter, em maio de 2013 a Amazônia perdeu 46,5 mil hectares de floresta – quase a área da cidade de Porto Alegre. Isso representa um aumento de mais de 400% em comparação com o mesmo período de 2012.

Isso tudo com uma cobertura de nuvens de 42% sobre a Amazônia Legal, o que prejudica a detecção de focos de desmatamento pelos satélites. E mais: o Deter só identifica corte raso em áreas médias e grandes – as pequenas e fragmentadas, que se tornaram frequentes para justamente sumirem aos olhos do satélite, não entram nessa conta.

Luciano Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama, disse recentemente estar confiante em zerar a tendência de desmatamento ainda neste ano. Mas as informações divulgadas hoje mostram que o país segue o caminho contrário.

“Os números são preocupantes, mas lamentavelmente previsíveis”, diz Kenzo Jucá, da campanha Amazônia do Greenpeace. “O governo Dilma tem sido conivente com o desmatamento. Cedeu aos ruralistas e, em nome de um modelo atrasado e predador de desenvolvimento, avança sobre unidades de conservação e territórios indígenas. Agora chegou a fatura.”

É de se notar que, na coletiva de hoje, apenas o Ibama estava presente, enquanto nas anteriores, quando havia queda ou leve aumento, um circo com ministros de Estado era montado – hoje nem Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, deu as caras. Era o momento para o governo mostrar que tem, em suas prioridades, atacar o problema e acabar com essa chaga ambiental.

Mas, pelo visto, em vez de zerar o desmatamento na Amazônia, e mostrar para o mundo pelo menos um feito positivo de seu governo, Dilma prefere entregar o futuro da floresta e dos brasileiros para quem tem motosserra no lugar de mãos. No acumulado de agosto de 2012 a maio de 2013, o país perdeu 233,8 mil hectares de floresta – um aumento de 35% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Só cresce

 A pressão não poupa nem unidades de conservação (UCs) e terras indígenas (TIs), que são alvo atual dos ruralistas. Em maio, o Deter viu 54 mil hectares de florestas desmatadas em UCs e 8,9 mil hectares em TIs. A Flona Jamaxim, no Pará, foi a unidade de conservação mais desmatada no mês (perdeu 28,4 mil hectares), enquanto que a TI Maraiwatsede, no Mato Grsso, teve 8,8 mil hectares de florestas derrubadas. 

Os Estados campeões do desmatamento em maio foram Mato Grosso, com 27,7 mil hectares, seguido de Pará (13,4 mil), Amazonas (3,3 mil), Tocantins (900), Rondônia (770) e Maranhão (440).

O Ibama aplicou R$ 1,7 bilhão em multas no período de agosto a maio deste ano e embargou 236 mil hectares da áreas com desmatamento ilegal.

 * Publicado originalmente no site Greenpeace Brasil e retirado do site Mercado Ético. (Mercado Ético)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

FÓRUM MUNDIAL DE MEIO AMBIENTE

In The International Year for Cooperation on Water, the World Environment Forum brings together business and political leaders, researchers and environmental organizations for discussing issues that strengthen the concept of sustainability in the management of water resources. The event will be held in Foz do Iguaçu, the site of the majestic Iguaçu Falls, a Natural Heritage of Humanity.

No Ano Internacional da Cooperação pela Água, o FÓRUM MUNDIAL DE MEIO AMBIENTE reúne lideranças empresariais, políticas, pesquisadores e organizações socioambientais para debater questões que fortaleçam o conceito de sustentabilidade na gestão de recursos hídricos. O evento será realizado em Foz do Iguaçu, berço das majestosas Cataratas do Iguaçu, Patrimônio Natural da Humanidade.

EVENTO

O FÓRUM MUNDIAL DE MEIO AMBIENTE, promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais em 21 e 22 de junho no Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, discutirá o tema“2013: Ano internacional da cooperação pela água”. Cerca de 400 lideranças empresariais, políticas, pesquisadores e organizações socioambientais trocarão experiências de gestão durante o evento, que irá fortalecer o conceito de sustentabilidade para a preservação socioambiental e fomentar parcerias, diálogo e cooperação pela água como prioridades máximas.
Durante os dois dias serão debatidos temas como crise global da água, energia, transposições, controle de enchentes, despoluição e a interdependência global entre economia e ecologia.
Paralelo às palestras, o FÓRUM MUNDIAL DE MEIO AMBIENTE trará cinco workshops, com exposições sobre “Gestão de recursos hídricos: participação da sociedade civil na gestão”; “Gestão de unidades de conservação: o Parque Nacional do Iguaçu, um exemplo brasileiro de sucesso”; “Água e saneamento: o papel da parceria público-privada”; “Restauração de ecossistemas: a nova legislação brasileira e o pagamento por serviços ambientais – PSA” e “Oceanos: ações em prol da sua conservação”.

fonte: http://www.forummundialmeioambiente.com.br/index.html

segunda-feira, 27 de maio de 2013

27 de maio - Dia da Mata Atlantica

Dia da Mata Atlântica marca desafio de proteger o que ainda resta É impossível falar da Mata
 
Atlântica, uma das florestas mais exuberantes do mundo, sem usar superlativos para dimensionar sua importância e evidenciar sua urgente proteção. Restam apenas 7% do bioma em seu estado natural e 60% dos animais ameaçados de extinção do país dependem desse ambiente para sobreviver. Hoje, comemora-se o Dia da Mata Atlântica. A data marca a necessidade de barrar o desmatamento, recuperar o que foi degradado, ampliar o número de áreas protegidas, públicas e privadas, e melhorar a gestão daquelas que já existem. Assista ao vídeo para saber como o WWF-Brasil trabalha para conservar a Mata Atlântica:

http://www.youtube.com/watch?v=uJn-baQzEhk&feature=player_embedded



fonte:
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/mata_atlantica/dia_da_mata_atlantica/

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quer uma vida criativa? Conecte-se à natureza!

por Giuliana Capello - 14/05/2013 Remédio para todos os males? Seu nome é natureza, mato, cachoeira, terra, chuva, som de passarinho. Pessoas que vivem mais próximas à natureza e conseguem estabelecer uma conexão profunda com o meio ambiente natural são mais felizes, já notou? Elas têm um entusiasmo espontâneo e, de quebra, ainda levam a vida de um jeito mais saudável. Lembro-me da minha infância e adolescência no interior. Eu passava quase o dia todo fora de casa, brincando ao ar livre, fazendo esportes, sentindo a brisa e o sol no rosto, feliz da vida. Chega a ser triste pensar nisso, mas hoje em dia muita gente sofre de falta de natureza. É só pensar rápido: quantas vezes por semana você vai a um parque ou área verde na sua cidade? Com que frequência contempla um pôr do sol, uma noite de Lua? Quantas vezes por mês você senta sob a sombra de uma grande árvore para descansar, relaxar por alguns instantes? Quando fui morar em São Paulo, o trabalho consumia todo o meu dia: ou eu estava sentada na frente de um computador, ou sentada no ônibus e no metrô, em trânsito. Natureza era aquilo distante, bem longe, com que eu sonhava para minhas férias e, com sorte, alguns fins de semana… Hoje mesmo li uma pesquisa feita nos EUA que concluiu que passar quatro dias em imersão na natureza e sem equipamentos eletrônicos aumenta a capacidade criativa em 50%. E está lá no texto também: em média, crianças de 8 a 18 anos passam mais de 7,5 horas por dia no computador e, no máximo, apenas 25 minutos diários em atividades externas. O resultado, além daqueles que até a medicina mais careta já listou (obesidade, sedentarismo, problemas de coluna, entre outros), é que as pessoas estão ficando apáticas, desanimadas, pálidas, com cara de doentes. Conexão virou palavra restrita ao contexto da cibercultura. Mas, quero compartilhar com você: é de conexão com a natureza que todos nós precisamos! Tempos atrás, escrevi aqui sobre termos “menos iPad e mais Aipim”. Agora levanto a bandeira da conexão com a natureza real, palpável, sensorial, em substituição àquela conexão fria com o mundo virtual: menos internet, mais natureza! Passar horas na frente de uma tela, lendo e-mails e trabalhando de maneira automatizada, sem muito espaço para a criação atrofia – pode acreditar! – nossa capacidade criativa. Como diz a pesquisa, mergulhar na natureza, entrar em sintonia fina com o ritmo do planeta, ao contrário, inspira a nossa alma inventiva. Ontem passei a tarde me deliciando com esses pequenos (e essenciais) prazeres que a natureza nos oferece diariamente. A tarde aqui na ecovila estava linda e não resisti: me desconectei da internet e saí para dar um passeio pelos pastos vizinhos, acompanhada das minhas cachorras. Tudo era lindo: as grandes pedras no topo do morro pareciam ter sido colocadas ali como convite para assistir ao espetáculo de cores do entardecer; o som do sininho do gado, lá longe, produzia uma atmosfera nostálgica, de algo perdido no tempo e no espaço. Havia flores pelo caminho, pedras de todos os tamanhos e, quando me dei conta, uma sensação de liberdade e plenitude havia me invadido por dentro, tomando conta de tudo. Nem o site mais interessante da web ou a rede social mais bacana seriam capazes de mudar meu estado de espírito como fez aquele banho de natureza de pouca mais de uma hora… Nesse mundo de estímulos constantes, a natureza é nossa grande aliada, porque ajuda a purificar o organismo e a mente, elimina os excessos, descomprime, relaxa, liberta. Lembra-se da sensação gostosa que você sentiu quando entrou naquela cachoeira gelada? E de como foi inesquecível fazer aquela trilha na mata fechada? Esses momentos na natureza são condição fundamental para uma vida mais criativa. Agora, com todo respeito, está na minha hora de curtir isso na prática…

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