25/02/2011 - 10h02 - Por Sérgio Abranches, do Ecopolítica
Revolta na África do Norte e no Oriente Médio provoca um surto de aumentos no preço do petróleo. Esse aumento tem reflexos negativos e positivos. Deveríamos aproveitar a ambos para incentivar o crescimento verde.
A elevação do preço do petróleo não tem teto. Há especialistas dizendo que ele pode bater em US$ 150.00 o barril. Pode ir além disso. Essa estimativa certamente não inclui instabilidade grave na Arábia Saudita. Mas a monarquia gerontocrática da família Saud tem futuro curto e é pouco provável que os filhos de Abdul-Azys, todos octogenários, consigam promover uma sucessão tranquila para os netos de Abdul-Azys. Embora na Arábia Saudita a renda da maior produção mundial de petróleo permita ao rei pagar uma mesada a cada cidadão, a revolta anda batendo em suas fronteiras. Já há alguns esboços de manifestação em Ryad. Se a revolta chega às ruas do país, o preço do petróleo não terá teto previsível.
Além disso, é pouco provável que ele caia rapidamente abaixo da marca dos US$ 100.00. A rebelião ainda está nas ruas. Os manifestantes voltaram à praça Tahrir, no Cairo, descontentes com a lentidão das reformas prometidas pelo Conselho Militar. Os revoltosos continuam ativos no Iêmen, em Bahrein, no Irã e na Jordânia. Na Líbia, o massacre já fez mil vítimas e está longe de terminar. Depois da derrubada das ditaduras, ainda haverá um caminho longo para construir uma governança estável, que respeite as liberdades e os direitos dos cidadãos. Será um caminho turbulento, com prováveis surtos de instabilidade. Esse contexto instável manterá alto o patamar de preço do petróleo.
Qual a consequência negativa dessa elevação sustentada dos preços do petróleo? Provavelmente ela interromperá a recuperação da economia no EUA e na Europa. Além disso, petróleo em alta alimenta o processo inflacionário, que já está em curso por causa do impacto dos eventos climáticos extremos do ano passado e início deste ano na produção (queda) e preço (alta) dos alimentos. Embora ainda não seja este o cenário mais provável, já não se pode descartar um ciclo de estagflação, se as políticas econômicas não derem respostas mais sofisticadas do que as que têm sido dadas. Certamente não há de ser com as medidas anunciadas na última reunião de ministros da Finança do G20 em Paris, que conseguirão enfrentar essa nova realidade que se desenha para a economia global.
O que pode haver de positivo nisso? O caminho é retornar à ideia de uma “recuperação verde” das economias investindo em tecnologias e energias limpas e em atividades geradoras de emprego como a construção verde e as reformas de prédios para reduzir sua pegada de carbono, transportes públicos com veículos elétricos, trens de alta velocidade.
Hoje, ao contrário do que ocorreu na primeira crise do petróleo, há alternativas viáveis aos combustíveis fósseis. A alta do petróleo estimula o investimento nessas tecnologias de energia limpa renovável. As ações das empresas de energia solar e eólica já estão subindo nas bolsas de Nova York e da Europa. Com esse preço de petróleo, essas fontes são mais que competitivas. O mesmo é verdade para o biocombustível de segunda geração, que não compete com culturas alimentares.
Além disso, o pipeline – a cadeia – de geração de novas tecnologias, que vai do P&D até a produção comercial, está cheia de alternativas para energias limpas renováveis em toda sua extensão. Há numerosos projetos em estágio de P&D; grande número já em fase de demonstração; um bom número em teste piloto. Os investimentos nessa cadeia já estão aumentando significativamente. O resultado é que a entrada de novas alternativas tecnológicas no mercado de energia pode ser acelerada, antecipando os cenários que previam que elas deveriam estar disponíveis entre 2020 e 2030. Agora, provavelmente, muitas poderão estar disponíveis entre 2012 e 2015 e uma segunda onda poderá emergir entre entre 2015 e 2020.
No Brasil, tudo indica que não aproveitaremos essa oportunidade. A Petrobrás já anunciou que não haverá aumento na gasolina, acompanhando o movimento dos mercados internacionais. Portanto, o preço da gasolina terá subsídio ainda maior do que já tem. A safra de cana de 2010-2011 cresceu três vezes menos do que a de 2009-2010, segundo mostrou análise de dados de satélite do INPE. E o mix de plantio está enviesado para a produção de açúcar, cujo preço internacional está elevado. A oferta de álcool será menor, o preço maior. Os carros flex serão abastecidos a gasolina, aumentando as emissões de CO2 e a poluição. Coisa que, aliás, já aconteceu no ano passado.
Não há também intenção de dar prioridade à energia solar e eólica na geração de eletricidade. Provavelmente vamos perder mais esta parada do trem para o século XXI na nossa porta. Mas o mundo deve embarcar nele, inclusive nossos concorrentes do BASIC, Índia e China.
A elevação do preço do petróleo não tem teto. Há especialistas dizendo que ele pode bater em US$ 150.00 o barril. Pode ir além disso. Essa estimativa certamente não inclui instabilidade grave na Arábia Saudita. Mas a monarquia gerontocrática da família Saud tem futuro curto e é pouco provável que os filhos de Abdul-Azys, todos octogenários, consigam promover uma sucessão tranquila para os netos de Abdul-Azys. Embora na Arábia Saudita a renda da maior produção mundial de petróleo permita ao rei pagar uma mesada a cada cidadão, a revolta anda batendo em suas fronteiras. Já há alguns esboços de manifestação em Ryad. Se a revolta chega às ruas do país, o preço do petróleo não terá teto previsível.
Além disso, é pouco provável que ele caia rapidamente abaixo da marca dos US$ 100.00. A rebelião ainda está nas ruas. Os manifestantes voltaram à praça Tahrir, no Cairo, descontentes com a lentidão das reformas prometidas pelo Conselho Militar. Os revoltosos continuam ativos no Iêmen, em Bahrein, no Irã e na Jordânia. Na Líbia, o massacre já fez mil vítimas e está longe de terminar. Depois da derrubada das ditaduras, ainda haverá um caminho longo para construir uma governança estável, que respeite as liberdades e os direitos dos cidadãos. Será um caminho turbulento, com prováveis surtos de instabilidade. Esse contexto instável manterá alto o patamar de preço do petróleo.
Qual a consequência negativa dessa elevação sustentada dos preços do petróleo? Provavelmente ela interromperá a recuperação da economia no EUA e na Europa. Além disso, petróleo em alta alimenta o processo inflacionário, que já está em curso por causa do impacto dos eventos climáticos extremos do ano passado e início deste ano na produção (queda) e preço (alta) dos alimentos. Embora ainda não seja este o cenário mais provável, já não se pode descartar um ciclo de estagflação, se as políticas econômicas não derem respostas mais sofisticadas do que as que têm sido dadas. Certamente não há de ser com as medidas anunciadas na última reunião de ministros da Finança do G20 em Paris, que conseguirão enfrentar essa nova realidade que se desenha para a economia global.
O que pode haver de positivo nisso? O caminho é retornar à ideia de uma “recuperação verde” das economias investindo em tecnologias e energias limpas e em atividades geradoras de emprego como a construção verde e as reformas de prédios para reduzir sua pegada de carbono, transportes públicos com veículos elétricos, trens de alta velocidade.
Hoje, ao contrário do que ocorreu na primeira crise do petróleo, há alternativas viáveis aos combustíveis fósseis. A alta do petróleo estimula o investimento nessas tecnologias de energia limpa renovável. As ações das empresas de energia solar e eólica já estão subindo nas bolsas de Nova York e da Europa. Com esse preço de petróleo, essas fontes são mais que competitivas. O mesmo é verdade para o biocombustível de segunda geração, que não compete com culturas alimentares.
Além disso, o pipeline – a cadeia – de geração de novas tecnologias, que vai do P&D até a produção comercial, está cheia de alternativas para energias limpas renováveis em toda sua extensão. Há numerosos projetos em estágio de P&D; grande número já em fase de demonstração; um bom número em teste piloto. Os investimentos nessa cadeia já estão aumentando significativamente. O resultado é que a entrada de novas alternativas tecnológicas no mercado de energia pode ser acelerada, antecipando os cenários que previam que elas deveriam estar disponíveis entre 2020 e 2030. Agora, provavelmente, muitas poderão estar disponíveis entre 2012 e 2015 e uma segunda onda poderá emergir entre entre 2015 e 2020.
No Brasil, tudo indica que não aproveitaremos essa oportunidade. A Petrobrás já anunciou que não haverá aumento na gasolina, acompanhando o movimento dos mercados internacionais. Portanto, o preço da gasolina terá subsídio ainda maior do que já tem. A safra de cana de 2010-2011 cresceu três vezes menos do que a de 2009-2010, segundo mostrou análise de dados de satélite do INPE. E o mix de plantio está enviesado para a produção de açúcar, cujo preço internacional está elevado. A oferta de álcool será menor, o preço maior. Os carros flex serão abastecidos a gasolina, aumentando as emissões de CO2 e a poluição. Coisa que, aliás, já aconteceu no ano passado.
Não há também intenção de dar prioridade à energia solar e eólica na geração de eletricidade. Provavelmente vamos perder mais esta parada do trem para o século XXI na nossa porta. Mas o mundo deve embarcar nele, inclusive nossos concorrentes do BASIC, Índia e China.