25/02/2011 - 03h02-Por Ana Carolina Amaral, da Envolverde
A Amazônia se conecta a São Paulo de forma pouco sustentável, a convite de soja, madeira e gado. Investigar as cadeias produtivas dessas matérias-primas até sua chegada ao varejo foi o objetivo do 2º. estudo Conexões Sustentáveis: São Paulo-Amazônia, realizado pela ONG Repórter Brasil e pela Papel Social Comunicação e apresentado nesta quarta-feira, 23, no SESC Vila Mariana, em São Paulo.
Os coordenadores do projeto, Leonardo Sakamoto e Marques Casara, explicaram que o primeiro estudo focou o escoamento de madeira para a indústria, principalmente para o setor siderúrgico; dessa vez, no entanto, o estudo foi mais longe e pôde chegar à cadeia do varejo. A investigação focou a madeira destinada à construção civil e à indústria moveleira e chegou até empresas bem conhecidas pelos paulistanos - das construtoras Tecnisa e SKR até a Tramontina, gigante das pequenas utilidades domésticas, passando ainda pelas Casas Bahia. No Brasil, 30% da extração de madeira ainda é ilegal.
A sondagem da cadeia da soja detectou casos como trabalho escravo e uso de terra indígena, mostrando a Bunge na ponta paulistana da cadeia. Outro grande detectado foi o frigorífico JBS Friboi (Bertin). Ele não só aparece nas sondas da pecuária bovina, como também nas da madeira, usada na caldeira dos frigoríficos. As respostas das empresas estão na página do relatório na Internet: http://www.conexoessustentaveis.org.br/ .
Para Sakamoto o estudo não poderia mais ser relatado em centenas de páginas – “só a mãe de quem escreveu aguenta ler um relatório assim”, brincou. Multimídia e animado, o relatório organiza a informação por setores e busca interessar ao consumidor final. Sakamoto lembrou que “o desafio é envolver camadas sociais que só agora estão tendo acesso ao consumo, que também precisa ser feito com consciência.”
Esse mesmo consumo consciente foi solicitado às empresas identificadas no estudo como financiadoras de crimes sociais e ambientais. Marques Casara alertou que no estudo anterior a madeireira Sulmap já havia sido flagrada na cadeia criminosa. “As construtoras que compram da Sulmap sabem que estão comprando madeira ilegal”, conclui.
“Se você compra de um produtor que pratica crimes ambientais, mesmo que a madeira seja de área legal, você está financiando a prática. A conta bancária é a mesma”, alega Sakamoto. Por isso, ele explica, as empresas que aderem ao pacto do Conexões Sustentáveis não barram áreas; barram fontes.
“Boi anda”, alertaram os coordenadores do estudo durante a apresentação. A obviedade da frase na verdade detona a premissa de que a origem do produto é garantida pela área onde foi produzido. O problema é que uma mesma fonte pode produzir em áreas legais e ilegais: antes da comercialização, o produto das áreas ilegais são transferidos para as permitidas. É aí que a fria do desmatamento vira “madeira esquentada”. E o boi, anda – dessa vez rastreado pelo estudo.
“Eu excluo os passivos da minha cadeia” é um conceito ilusório, argumentou o diretor da ONG Amigos da Terra Roberto Smeraldi, durante o debate que se seguiu à apresentação do relatório. Uma prova da ilusão, segundo ele, é que a maioria das empresas que respondeu ao relatório explicou suas compras como “uma falha, ora operacional, ora humana.” Para Smeraldi as compras não podem ser chamadas de falha enquanto não houver meios claros para conhecimento da origem dos produtos amazônicos.
Da platéia, o advogado ambientalista André Lima pediu por aprimoramentos nas listas do Ibama e do trabalho escravo, que ainda não representam a realidade. Para Casara, a dificuldade de chegada das informações à outra ponta da cadeia produtiva não é apenas metodológica. “A Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará tem uma quadrilha que frauda os esquemas de licenciamento e já foi flagrada no primeiro estudo”, denuncia ele, acrescentando que nenhuma atitude foi tomada até agora. “Precisamos mobilizar os governos do Pará e do Mato Grosso para que abram as caixas-preta da SEMA”, insistiu.
Mas há por que ter esperança, conforme o diretor da Conservação Internacional Brasil, Valmir Ortega. “Antes as investigações da Polícia Federal se referiam a crimes de quatro anos atrás. Hoje elas se concluem em três meses, graças à informatização”, argumenta. Para Ortega, o fato de o Conexões Sustentáveis ter conquistado os pactos da madeira, soja e carne - cujos signatários se comprometem a exigir de seus fornecedores a certificação dos produtos - é uma prova de que temos o que comemorar.(Envolverde)
Os coordenadores do projeto, Leonardo Sakamoto e Marques Casara, explicaram que o primeiro estudo focou o escoamento de madeira para a indústria, principalmente para o setor siderúrgico; dessa vez, no entanto, o estudo foi mais longe e pôde chegar à cadeia do varejo. A investigação focou a madeira destinada à construção civil e à indústria moveleira e chegou até empresas bem conhecidas pelos paulistanos - das construtoras Tecnisa e SKR até a Tramontina, gigante das pequenas utilidades domésticas, passando ainda pelas Casas Bahia. No Brasil, 30% da extração de madeira ainda é ilegal.
A sondagem da cadeia da soja detectou casos como trabalho escravo e uso de terra indígena, mostrando a Bunge na ponta paulistana da cadeia. Outro grande detectado foi o frigorífico JBS Friboi (Bertin). Ele não só aparece nas sondas da pecuária bovina, como também nas da madeira, usada na caldeira dos frigoríficos. As respostas das empresas estão na página do relatório na Internet: http://www.conexoessustentaveis.org.br/ .
Para Sakamoto o estudo não poderia mais ser relatado em centenas de páginas – “só a mãe de quem escreveu aguenta ler um relatório assim”, brincou. Multimídia e animado, o relatório organiza a informação por setores e busca interessar ao consumidor final. Sakamoto lembrou que “o desafio é envolver camadas sociais que só agora estão tendo acesso ao consumo, que também precisa ser feito com consciência.”
Esse mesmo consumo consciente foi solicitado às empresas identificadas no estudo como financiadoras de crimes sociais e ambientais. Marques Casara alertou que no estudo anterior a madeireira Sulmap já havia sido flagrada na cadeia criminosa. “As construtoras que compram da Sulmap sabem que estão comprando madeira ilegal”, conclui.
“Se você compra de um produtor que pratica crimes ambientais, mesmo que a madeira seja de área legal, você está financiando a prática. A conta bancária é a mesma”, alega Sakamoto. Por isso, ele explica, as empresas que aderem ao pacto do Conexões Sustentáveis não barram áreas; barram fontes.
“Boi anda”, alertaram os coordenadores do estudo durante a apresentação. A obviedade da frase na verdade detona a premissa de que a origem do produto é garantida pela área onde foi produzido. O problema é que uma mesma fonte pode produzir em áreas legais e ilegais: antes da comercialização, o produto das áreas ilegais são transferidos para as permitidas. É aí que a fria do desmatamento vira “madeira esquentada”. E o boi, anda – dessa vez rastreado pelo estudo.
“Eu excluo os passivos da minha cadeia” é um conceito ilusório, argumentou o diretor da ONG Amigos da Terra Roberto Smeraldi, durante o debate que se seguiu à apresentação do relatório. Uma prova da ilusão, segundo ele, é que a maioria das empresas que respondeu ao relatório explicou suas compras como “uma falha, ora operacional, ora humana.” Para Smeraldi as compras não podem ser chamadas de falha enquanto não houver meios claros para conhecimento da origem dos produtos amazônicos.
Da platéia, o advogado ambientalista André Lima pediu por aprimoramentos nas listas do Ibama e do trabalho escravo, que ainda não representam a realidade. Para Casara, a dificuldade de chegada das informações à outra ponta da cadeia produtiva não é apenas metodológica. “A Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará tem uma quadrilha que frauda os esquemas de licenciamento e já foi flagrada no primeiro estudo”, denuncia ele, acrescentando que nenhuma atitude foi tomada até agora. “Precisamos mobilizar os governos do Pará e do Mato Grosso para que abram as caixas-preta da SEMA”, insistiu.
Mas há por que ter esperança, conforme o diretor da Conservação Internacional Brasil, Valmir Ortega. “Antes as investigações da Polícia Federal se referiam a crimes de quatro anos atrás. Hoje elas se concluem em três meses, graças à informatização”, argumenta. Para Ortega, o fato de o Conexões Sustentáveis ter conquistado os pactos da madeira, soja e carne - cujos signatários se comprometem a exigir de seus fornecedores a certificação dos produtos - é uma prova de que temos o que comemorar.(Envolverde)
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