Flavia Loureiro NAB Núcleo dos Amigos do Brooklin
"INFORMAÇÃO" Direito e Dever de todos Art.5ºXIV,CF/Cap.40 Agenda 21
"INFORMAÇÃO" Direito e Dever de todos Art.5ºXIV,CF/Cap.40 Agenda 21
O voluntariado ambiental vem ganhando força e espaço, tornando-se uma prática necessária em tempos de adaptação às mudanças climáticas. Porém, mais do que uma simples ação pontual, o voluntariado exige responsabilidade, cuidado e continuidade.
Nesta entrevista, a bióloga Cláudia Ribeiro Barbosa, que atua na DNA – Identidade Ambiental, e a engenheira florestal Joelma Cavalcante de Souza, da ONG Nasce - Núcleo de ação em Ambiente, Saúde, Cultura e Educação, ambas envolvidas com a disseminação da educação ambiental e da sustentabilidade, falam sobre o voluntariado ambiental e como podemos contribuir para a causa ambiental.
Mobilizadores COEP - O que é o voluntariado ambiental?
R.: É um compromisso social, onde cada um pode fazer a diferença. Mais do que uma ação pontual, como observamos em boa parte das vezes, voluntariado exige responsabilidade, cuidado e continuidade. Na atualidade, a temática ambiental vem ganhando espaço na mídia e nas discussões diárias. Hoje em dia, muitos já sabem que meio ambiente é um direito garantido por lei. Da mesma forma, todos nós temos o dever de cuidar do planeta e de seus habitantes. E, com certeza, ações voluntárias poderão tornar nosso planeta um lugar melhor de se viver.
Mobilizadores COEP - Qual a importância de ações voluntárias para a preservação do meio ambiente e para ajudar nos processo de adaptação às mudanças climáticas?
R.: Partimos de uma premissa antiga que dizia: “Pensar globalmente e agir localmente”. É isso mesmo, nós precisamos fazer a nossa parte. No entanto, só isso não basta, precisamos contagiar a todos. Atuarmos juntos e de maneira integrada.
E para tal, precisamos repensar posturas e mudar hábitos. Quer um exemplo? O simples ato de utilizarmos a bicicleta ou mesmo adotarmos a carona solidária para irmos ao trabalho, poderá fazer a diferença. Ao adotarmos uma árvore em nossa calçada, teremos contribuído para deixar nossa rua mais bonita e fresca.
Mobilizadores COEP - Na sua avaliação, quais os principais desafios ambientais enfrentados pelas comunidades mais vulneráveis? De que maneira as populações podem atuar para minorar esses problemas?
R.: As comunidades mais vulneráveis são as primeiras a serem atingidas pelos problemas socioambientais como enchentes, desabamentos, secas, dentre outros. Afinal, os recursos naturais não estão disponibilizados de forma igualitária. Nem todos têm acesso à informação e a espaços democráticos de participação. Criar espaço de participação como fóruns, comitês e conselhos podem ajudar a minorar tais problemas.
Mobilizadores COEP - Como podemos estimular o voluntariado ambiental?
R.: Criando espaços de treinamento e de estímulo. Locais onde as pessoas possam ajudar os outros, atuando em ações com as quais elas próprias se identifiquem. É necessário aprender a ser um voluntário e entender o que ele faz.
Por exemplo, imagine-se como um voluntário, pode ser de sua igreja ou local de trabalho. Digamos que você está atuando junto a algum hospital, tendo como público crianças. Além do conforto de sua presença e de seu grupo, você gostaria de organizar uma ação para a coleta de brinquedos ou livros. Para isso, é preciso organização e comprometimento. É preciso enviar e-mail, avisos e organizar listas para a organização dos materiais doados. É necessário selecionar os brinquedos, organizá-los por faixa etária, etc. Pense, sozinho você não conseguiria. Você precisa de mais pessoas. Pessoas que gostem de crianças e que tenham tempo. Pessoas que queiram participar. Assim, a sua ação pode motivá-los. A motivação alimentará a ação.
Mobilizadores COEP - O que é a Agenda 21 e qual a importância de pautarmos por ela as ações ambientais?
R.: É um dos principais produtos oriundos da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio 92. Os 179 países participantes do evento acordaram e assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento sustentável”. Além da Agenda 21 Global, existem as agendas 21 brasileira e local.
A Agenda 21 Brasileira é um instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável do país, resultado de uma vasta consulta à população brasileira. Já a Agenda 21 Local é o processo de planejamento participativo de um determinado território que envolve a implantação, naquela localidade, de um Fórum de Agenda 21. Composto por governo e sociedade civil, o fórum é responsável pela construção de um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio de projetos e ações de curto, médio e longo prazos. No Fórum são também definidos os meios de implementação e as responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na implementação, acompanhamento e revisão desses projetos e ações. É, portanto, um documento que preconiza a participação de todos na resolução de problemas locais.
Mobilizadores COEP - De que maneira os conceitos de Agenda 21, desenvolvimento local, desenvolvimento territorial e voluntariado ambiental se interrelacionam?
R.: Essas temáticas se encontram e interagem na discussão do território. É no âmbito territorial que pautamos nossas ações e intenções. Os compromissos com um futuro sustentável como preconiza a Agenda 21 são materializados no território. O desenvolvimento local, não aquele pautado no crescimento econômico a todo custo, e sim, aquele cujo planejamento envolve pessoas e lugares, requer ações integradas e coletivas. Nesse viés, o voluntário pode assumir papel de destaque.
A organização de comitês e conselhos pode ser uma tarefa de todos nós; o fomento ao debate e a criação de estratégias de ação pode e deve ser incentivada. Assim, voluntários podem ajudar a mobilizar e organizar pessoas em ruas ou bairros. Pense em formas de atuação na área onde você reside ou em seu local de trabalho; contagie as pessoas e vá à luta.
Mobilizadores COEP - Poderia citar exemplos de projetos ou ações bem sucedidas baseados no voluntariado ambiental?
R.: Um bom exemplo a ser citado seria a ONG “Doutores da alegria”, voltada à ajuda a crianças em recuperação por meio do humor e da diversão, contribuindo para tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor. Podemos citar ainda o Centro de Valorização da Vida (CVV), um serviço de apoio emocional gratuito que funciona 24 horas por dia, todos os dias, escutando as pessoas em momentos em que elas precisam desabafar, o que ajuda a prevenir o suicídio. A DNA identidade ambiental é uma ONG que desenvolve ações voluntárias desde sua formação, atuando no ensino formal e não formal. A DNA atua junto às comunidades escolares e ao movimento social fornecendo orientações sobre voluntariado, elaboração de projetos, dentre outros temas.
O Nasce - Núcleo de ação em Ambiente, Saúde, Cultura e Educação - também atua nesse viés desde sua criação, apoiando pequenos agricultores na formação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
Mobilizadores COEP - Quais as maiores dificuldades enfrentadas por aqueles que desejam implantar um projeto ambiental de forma voluntária? Como essas dificuldades podem ser sanadas?
R.: A principal dificuldade é garantir o envolvimento e compromisso dos voluntários. É preciso saber que estar voluntário não é atuar somente quando estamos “afim”. É compromisso com a instituição, com as pessoas e com a proposta adotada. Voluntariado é um compromisso ético. Por isso, é preciso criar a cultura do voluntariado. Recomendamos a apresentação da proposta e o entendimento por parte de todos da Lei do Voluntariado.
Mobilizadores COEP - Quais as opções de financiamento disponíveis para projetos ambientais?
R.: Nós temos várias fontes de financiamento para projetos ambientais. Fontes públicas (governamentais) e privadas (empresas). Exemplificando, o Ministério do Meio Ambiente é uma fonte governamental e Petrobras Ambiental representa a esfera privada.
Mobilizadores COEP - O Projeto Escola em Ação do COEP estimula escolas públicas e privadas de todo o país a desenvolverem ações com foco na área ambiental. Qual o papel da escola para o fortalecimento do voluntariado e a formação de cidadãos comprometidos com as causas ambientais?
R.: A política educacional da escola deveria conter em seu bojo a proposta de voluntariado para toda comunidade escolar, a citar: responsáveis professores, direção, alunos e funcionários. Lembramos, contudo, que quando falamos de causas ambientais, estamos na verdade, falando do ambiente como um todo, ou seja, das relações sociais, da cultura, da saúde, entre outros assuntos. Envolver a comunidade escolar em uma ação voluntária poderá contribuir para a formação individual de cada aluno e, por tabela, da comunidade da qual ele faz parte.
Mobilizadores COEP - Hoje em dia, com a internet, o voluntariado pode ser difundido em âmbito mundial, convocando cidadãos de todas as partes do planeta para as mais diferentes ações. Como você vê essa integração através da tecnologia?
R.: Muito benéfica. A informática é uma das ferramentas que mais atraem jovens e adultos. Não há como pensar na sociedade desvinculada da net: Orkut, Facebook, You tube, dentre outros sites afins que disseminam experiências e vídeos. Basta observarmos o papel das redes sociais na atualidade, como no caso do Egito.
Acreditamos que esses espaços possam ampliar a rede de atores sociais engajados em uma boa ideia. Entretanto, é preciso responsabilidade e posicionamento crítico na forma de apresentar a proposta.
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Entrevista para o Grupo Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Pobreza
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo.
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