Levantamento realizado pelo arquiteto Luís Sérgio Ozório Valentim em pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP aponta a relação entre os eixos históricos de industrialização da Região Metropolitana de São Paulo, a produção de impactos ambientais e a identificação de cenários de risco à saúde da população. Além dos postos de combustíveis, atividade econômica que mais contribui atualmente para a contaminação do solo e das águas subterrâneas, há na região 191 áreas contaminadas de origem industrial, onde se concentram solventes, metais pesados e outras substâncias químicas tóxicas.
De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), existem cerca de 2.900 áreas contaminadas cadastradas em todo o Estado, quase metade delas na Região Metropolitana de São Paulo. “Os contextos urbanos contemporâneos, especialmente os de escala metropolitana, apresentam perturbações de várias ordens, dentre outras, as decorrentes das contaminações ambientais”, aponta Valentim. “As áreas contaminadas, que só recentemente passaram a ser objeto de atenção do poder público, são fenômenos simbólicos de um modelo histórico de produção e reprodução do capital de bases urbanas e fabris”, ressalta o arquiteto.
O trabalho menciona a região de Jurubatuba (Zona Sul de São Paulo) para explicar a relação entre atividades produtivas e áreas contaminadas. “Esta é uma área de concentração industrial que se formou a partir de meados do século passado, cujos atrativos estavam então nos modais ferroviário e rodoviário, no rio Pinheiros e nos generosos terrenos planos varzeanos”, conta o pesquisador. “Nos últimos anos, intensificou-se a vocação do bairro para abrigar condomínios residenciais, comércio e serviços de alto padrão, com retração das atividades fabris.”
O cenário mais evidente de risco à saúde legado pelos processos produtivos fabris em Jurubatuba está relacionado à contaminação de aquíferos. “Ainda não está caracterizada totalmente a extensão dessa contaminação, mas há evidências que ela é significativa”, afirma Valentim. “As vulnerabilidades hidrogeológicas potencializam a contaminação e os modos da população interagir com o ambiente favorecem ou dificultam situações de risco.”
Eixos
O arquiteto aponta que a localização histórica das indústrias na Grande São Paulo está estreitamente associada com as vias de transporte ferroviário e as várzeas. “Um dos mais antigos eixos de desenvolvimento industrial acompanha o rio Tamanduateí e a ferrovia, em direção ao porto de Santos”, relata. “O mesmo se deu às margens do Tietê, cuja industrialização remonta às primeiras décadas do século XX.”
O processo de reestruturação produtiva que tem caracterizado a Região Metropolitana de São Paulo nas últimas décadas implicaria, então, em novas localizações, prenunciando novas possibilidades de saúde ou novos cenários de riscos de doenças. “Na pesquisa, os cenários de risco são tidos como localizações onde incidem um feixe de fatores que potencializam condições adversas de saúde”, enfatiza Valentim.
As indústrias com maior potencial de impacto ao meio ambiente já não se instalam com facilidade na Região Metropolitana de São Paulo devido a restrições econômicas e ambientais, ganhando espaço atividades comerciais e de serviço. “No entanto, o acúmulo histórico de processos produtivos extremamente agressivos confere à região cenários de risco diferenciados, que podem ser interpretados a partir do modo como a metrópole se estruturou e está se reestruturando”, diz o arquiteto.
Na opinião do arquiteto, políticas públicas para áreas contaminadas em ambientes urbanos que se pretendam efetivas demandam uma visão ampla, integrando as áreas de desenvolvimento urbano, saúde e meio ambiente. “Assim, a gestão das áreas contaminadas em contextos complexos como o metropolitano demandaria a compreensão do problema para além do factual, pois a produção de passivos ambientais marca profundamente, há mais de século, a paisagem de nossas cidades”, conclui. A pesquisa “Sobre a produção de bens e males nas cidades : estrutura urbana e cenários de risco à saúde em áreas contaminadas da região metropolitana de São Paulo” teve a orientação da professora Gilda Collet Bruna, da FAU.
(Agência USP)
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