sábado, 29 de maio de 2010

Explorar o pré-sal pode ser mais perigoso que perfurar o Golfo do México

Quais lições o Brasil deve aprender com a tragédia ambiental provocada pelo vazamento de petróleo nos Estados Unidos
O executivo Tony Hayward deve estar com algumas noites de sono atrasadas. Presidente da British Petroleum (BP), a responsável por um dos maiores vazamentos de petróleo da história dos Estados Unidos, ele divide seus dias entre encontros para remediar a tragédia e reuniões para limpar a imagem da companhia. No dia 7 de maio, Hayward acompanhava num monitor a tentativa de técnicos de conter o derrame. Diante do fracasso da equipe, teria dito: “Ainda há uma quantidade enorme de coisas a aprender por aqui. Esta é a primeira vez que estamos fazendo isto de verdade.”
É bom que os executivos da indústria do petróleo se acostumem com a curva íngreme de aprendizagem. O vazamento do Golfo do México, além arruinar a vida de milhares de animais da biodiversidade marinha e interromper as atividades de pesca na região, revelou o despreparo da maior indústria no mundo para lidar com mega desastres. Há 20 anos, a exploração em águas profundas era algo quase desconhecido. Hoje virou o foco das petroleiras. “À medida que se aumenta a profundidade, o risco de vazamentos é maior”, afirma Segen Estefen, professor de engenharia oceânica da Coppe/UFRJ (um instituto de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Cerca de 6% da produção mundial de óleo vem de poços com mais de mil metros de profundidade. Em duas décadas, o número deve dobrar. E junto os acidentes com dimensões de catástrofe.
Nos últimos 30 anos, a BP e outras petroleiras têm empurrado seus poços cada vez mais para o centro da Terra. A indústria tem hoje cerca de 5.000 campos perfurados mil metros abaixo da superfície do mar. É o tipo de exploração conhecida como águas profundas. Para retirar óleo da camada pré-sal na costa brasileira, a Petrobras terá de descer ainda mais. A estatal vai operar a cerca de 2.500 metros do subsolo oceânico (ver arte). Até 2013, serão necessários cerca de US$ 600 bilhões para a operação. E a estatal terá de arcar com os riscos. “A Petrobras está bem mais sujeita a acidentes que as demais”, diz o geógrafo Jules Soto, professor de oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. “Quase todo o seu petróleo é explorado no mar. Além disso, a empresa é referência em tecnologia off-shore e está sempre quebrando recordes.”



A indústria do petróleo desfruta de uma capacidade teórica satisfatória de contingência de tragédias. Mas o desastre no Golfo do México deixou claro que o setor não tem nenhum método infalível para lidar, na prática, com os problemas nas profundezas do oceano. O que se viu foi uma sequência de tentativas frustradas para limpar o óleo e impedi-lo de chegar à costa. A operação, num custo de US$ 33 milhões por dia, envolveu mais de 13 mil pessoas. Foram 530 embarcações e 120 voos para lançar milhares de litros de dispersantes na água. Sem contar a cúpula de contenção que tentou tapar o buraco. Nenhuma das atividades, entretanto, resolveu a questão fundamental: como parar o vazamento contínuo.
O episódio fez soar o alarme de ambientalistas. Há os que brigam por uma redução drástica das atividades off-shore. Há também os que acreditam que a exploração deveria ser totalmente banida. Até mesmo o presidente Barack Obama teve um posicionamento radical. Num discurso inflamado (suficiente para abalar a opinião pública), pediu às agências reguladoras mais rigidez na liberação de licenças de perfuração. Anunciou uma moratória de 30 dias sobre essas permissões. Mas até que ponto tanto rigor é válido só depois do desastre? O que outras empresas precisam aprender com esse derrame sem precedentes?
A reportagem de ÉPOCA procurou a Petrobras para falar sobre o vazamento no Golfo do México – e os riscos de exploração da camada pré-sal. Nenhum executivo da empresa se dispôs a falar. Pela assessoria de imprensa, a companhia enviou o seguinte recado: “A Petrobras informa que atua em todas as suas frentes operacionais de acordo com os melhores padrões, normas e procedimentos internacionais da indústria do petróleo e desenvolve programas permanentes de capacitação e treinamento contínuo de seus empregados diretos e contratados no campo da segurança, meio ambiente e saúde.” Falta às petroleiras mais que planos de contenção. As companhias precisam também de transparência.


fonte: revista Epoca on line, por ALINE RIBEIRO
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI143132-15259,00-EXPLORAR+O+PRESAL+PODE+SER+MAIS+PERIGOSO+QUE+PERFURAR+O+GOLFO+DO+MEXICO.html

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