quinta-feira, 20 de maio de 2010

Lembranças da Minha Infância, por Nelson Mandela

Minhas primeiras lembranças da infância são do vilarejo de Qunu, nas montanhas onduladas e nos vales verdes do território de Transkei, na região sudeste da África do Sul. Foi em Qunu que passei os anos mais felizes de minha meninice, rodeado por uma família tão cheia de bebês, crianças, tias e tios que não me lembro de estar sozinho em nenhum único momento em que eu estivesse acordado.
Foi em Qunu que minha mãe me deu as historias que encheram minha imaginação, ensinando-me bondade e generosidade enquanto preparava as refeições em uma fogueira, mantendo-me alimentado e saudável. Em meus tempos de menino pastor, aprendi a amar o campo, os espaços abertos e as belezas simples da natureza. Foi naquele momento e naquele lugar que aprendi a amar esta terra.
Com meus amigos de meninice, aprendi dignidade e o significado da honra.
Ouvindo e assistindo reuniões dos anciãos da tribo, aprendi a importância da democracia e de dar a todos uma chance de ser ouvido. E aprendi sobre o meu povo, a nação Xhosa. Com meu benfeitor e guia, o Regente, aprendi a história da África e da luta dos africanos para serem livres.
Foram esses primeiros anos que determinaram como seriam vividos os muitos anos plenos de minha longa vida.
Sempre que paro um momento e olho para trás, sinto imensa gratidão por meu pai e minha mãe, e por todas as pessoas que me ajudaram a crescer quando eu era apenas um menino, e que me transformaram no homem que sou hoje.
Foi isso que aprendi enquanto criança.
Agora que sou homem velho, são as crianças que me inspiram.
Meus queridos jovens: vejo a luz em seus olhos, a energia de seus corpos e a esperança que está em seu espírito. Sei que são vocês, e não eu, que consertarão nossos erros e levarão adiante tudo o que está certo no mundo.
Se eu pudesse, de boa fé, prometer-lhes a infância que tive, eu prometeria. Se eu pudesse prometer-lhes que cada um de seus dias será de aprendizado e de crescimento, eu prometeria. Se eu pudesse prometer-lhes que nada – nem guerras, nem pobreza, nem injustiças- privará vocês de seus pais, de seu nome, de seu direito a uma boa infância, e que essa infância levará vocês a uma vida plena e frutífera, eu prometeria.
Mas prometerei apenas o que eu sei que posso cumprir. Vocês têm a minha palavra de que continuarei a aplicar tudo o que aprendi no começo de minha vida, e tudo o que aprendi a partir de então, para proteger os seus direitos. Trabalharei todos os dias, de todas as maneiras que conheço, para apoiá-los enquanto crescerem. Buscarei suas vozes e suas opiniões, e farei com que outras pessoas também as ouçam.

Trecho extraído da publicação: Situação Mundial da Infância 2001 – UNICEF.

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