segunda-feira, 31 de março de 2014

A inteligência das plantas revelada

Pesquisas recentes mostram que as plantas têm linguagem, memória, cognição e são capazes de fazer escolhas. Ao site de VEJA, pesquisadores desvendam o mecanismo da inteligência vegetal e mostram como as plantas passaram a dividir com os animais o status de criaturas autônomas e sensíveis
Rita Loiola - Veja.com - 08/03/2014

Em 1880, o naturalista britânico Charles Darwin foi o primeiro a escrever que as extremidades das raízes vegetais "agem como o cérebro de animais inferiores". Desde então, cientistas descobriram que as plantas atuam também como se tivessem linguagem, memória, visão, audição, defesas e cognição. Percebem-se como indivíduos e são capazes de fazer escolhas. Em outras palavras, elas têm o que Darwin previa no último parágrafo de seu livro O Poder do Movimento nas Plantas: inteligência.

As evidências para isso vêm de diversos países ao redor do globo, em instituições de pesquisa como a Universidade da Califórnia e a Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o Instituto Max Planck e a Universidade de Bonn, na Alemanha, a Universidade de Lausanne, na Suíça, além de institutos de pesquisa no México, França, Itália e Japão.
Nos últimos meses, diversos estudos, publicados em revistas científicas como Nature, Science ou Plos One têm demonstrando o funcionamento dessas até então desconhecidas habilidades vegetais. E provado que as plantas estão longe de ser criaturas passivas, como se acreditava. Um dos estudos mais recentes, divulgado no fim do ano passado na revista Ecology Letters, mostrou como as plantas se comunicam por meio de compostos voláteis. Viajando pelo ar, eles avisam outras árvores sobre a presença de herbívoros potencialmente perigosos — as folhas recebem a mensagem e tornam-se mais resistentes às pragas.

"As plantas são capazes de comportamentos muitíssimo mais sofisticados do que imaginávamos", afirma o biólogo Rick Karban, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo sobre comunicação vegetal. "Elas passaram por uma seleção em que tiveram de lidar com os mesmos desafios que os animais e desenvolveram soluções que, às vezes, guardam semelhanças com as deles." É o avanço dos estudos em biologia e fisiologia vegetal, aliado a tecnologias mais potentes para conduzir experimentos e recolher dados, que está fazendo com que os cientistas percebam que árvores e arbustos são criaturas sensíveis, que dividem o mesmo espaço com os animais na escala evolutiva.

História

A LÍNGUA DAS PLANTAS
Quem está mostrando as evidências mais contundentes de uma cara característica animal — a linguagem — nos vegetais são pequenas artemísias. Há mais de uma década, Karban cuida do cultivo de quase cem delas em um campo aberto na Califórnia. Regularmente, suas folhas ganham pequenos cortes que imitam dentadas de insetos para que emitam os compostos orgânicos voláteis, conhecidos pela sigla VOC. O objetivo é entender o papel desses elementos perfumados na natureza, que parecem enviar mensagens muito precisas de uma planta para outra.

Com seu campo californiano, Karban não só provou que esses compostos existem, como percebeu que eles viajam a até 60 centímetros de distância e são percebidos por outros ramos da planta, por pés vizinhos da mesma espécie e, por vezes, por outras espécies que estão ao lado. "As plantas coordenam suas defesas e as de seus parentes", afirma Karban, que estuda o tema há mais de trinta anos. "Esse e outros trabalhos indicam que a comunicação entre os vegetais é um fenômeno real que ocorre na natureza."

Pelas contas do pesquisador, outros 48 estudos de comunicação vegetal confirmam que as plantas detectam esses sinais aéreos. E dominam mais de uma língua: algumas conseguem também enviar mensagens para predadores de herbívoros que, atraídos pelos compostos emitidos, evitam que as folhas sejam comidas. "Plantas reconhecem os herbívoros que as atacam, às vezes até antes que eles cheguem", diz o pesquisador. "Descobrir essa linguagem das plantas, além de ser muito interessante, pode nos mostrar como manipular a defesa de safras inteiras."

SINAPSES VEGETAIS
Afora as mensagens voláteis, as plantas emitem sinais elétricos — semelhantes a sinapses dos neurônios — para enviar informações entre uma célula e outra. Edward Farmer, o biólogo pioneiro em pesquisas sobre comunicação vegetal da Universidade de Lausanne, na Suíça, descobriu, há alguns meses, uma maneira até então inédita de transmissão de sinais elétricos vegetais, com pulsos que seguem por longas distâncias entre as membranas da planta. É como um rudimento das sinapses animais.

sábado, 29 de março de 2014

Rio e São Paulo não têm nenhum rio com boa qualidade

Fundação SOS Mata Atlântica analisou a qualidade da água de 96 rios, córregos e lagos que passam pelo bioma Mata Atlântica, em sete diferentes estados do Brasil. Apenas 11% apresentam boa qualidade e nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro nenhum passou no teste. Principal fonte de poluição é o despejo de esgoto doméstico

por Débora Spitzcovsky - Planeta Sustentável - 20/03/2014 - Planeta Sustentável


Na Semana Mundial da Água, a necessidade de cuidar melhor dos cursos d’água do Brasil urge. Levantamento divulgado nesta quarta-feira (19) pela Fundação SOS Mata Atlântica revelou que a maioria dos rios, córregos e lagos brasileiros apresenta baixa qualidade. 

O estudo analisou a água de 96 cursos que correm por sete estados do sul e sudeste do Brasil, no bioma Mata Atlântica. O resultado? 40% deles têm qualidade ruim ou péssima, 49% estão em situação regular e, apenas, 11% podem ser considerados de boa qualidade. Não por coincidência, todos os rios e mananciais que foram aprovados no teste estão localizados em áreas protegidas e que contam com matas ciliares preservadas. 

"Notamos na prática a importância de recuperar a floresta. Em seis pontos que monitoramos, por exemplo, nos Córregos São José e da Concórdia e no Rio Ingazinho, na Bacia do Rio Piraí, em SP, a qualidade da água passou de regular a boa após trabalho de reflorestamento", conta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas, da SOS Mata Atlântica, e coordenadora do estudo. Ela conclui: "Isso comprova que para garantir água em qualidade e quantidade é preciso recompor matas ciliares e manter as florestas". 

Mas não é só de mais verde que o Brasil precisa. Melhor coleta e tratamento de esgoto, bons planos diretores e um trabalho de conscientização dos cidadãos também são fundamentais. Isso porque o estudo da SOS Mata Atlântica apontou que as principais fontes de poluição e contaminação nos cursos d’água analisados são a falta de saneamento básico, o lançamento de produtos químicos nas redes públicas de tratamento e a poluição proveniente do lixo, respectivamente. 

SÃO PAULO E RIO PASSARAM VERGONHA 
Em análise inédita feita em rios das 32 subprefeituras da capital paulista e de 15 pontos estratégicos da cidade do Rio de Janeiro, a SOS Mata Atlântica concluiu que nenhum curso d’água desses dois municípios tem água de boa qualidade. 

Em São Paulo, o levantamento feito em fevereiro deste ano revelou que 23,53% dos rios têm qualidade péssima, 58,82% apresentam qualidade ruim e 17,65% possuem qualidade regular. Entre eles, estão o Lago do Ibirapuera e a Represa Billings. Em ambos os casos, a água foi considerada "ruim". 

Já no Rio de Janeiro, análise feita no mesmo período concluiu: 40% dos cursos d’água estão em situação regular e 60% em situação ruim - como é o caso dos rios do canal do Jockey, no Jardim Botânico, e do canal do Mangue, na Vila Isabel. 

VAMOS ÀS BOAS NOTÍCIAS 
O estudo da SOS Mata Atlântica ainda comparou a situação de 88 cursos d’água, localizados nas cidades de São Paulo e Minas Gerais, em 2010 e 2014. De acordo com o relatório, o número de rios de péssima qualidade caiu de 15 para 17, assim como os de qualidade regular - eram 50 em 2010 e são 37 em 2014. 

E mais: a quantidade de rios classificados como bons subiu de 5 para 15, assim como a de rios ruins, que foram de 18 para 29. "Mas isso não significa que aumentou o ruim. Tivemos a diminuição da quantidade de classificações péssima", explica Gustavo Veronesi, um dos organizadores do levantamento. 

Confira o relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, na íntegra.


quinta-feira, 27 de março de 2014

Brasil nega proposta para proibir testes em animais

ê o fim... como  o Brasil  pode fazer isso!!!!
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A União Europeia, Índia e Israel já baniram a realização de testes de cosméticos em animais e, recentemente, EUA, Austrália e Nova Zelândia criaram propostas legislativas para proibir a prática na indústria da beleza. Mas o Brasil parece estar indo na contramão desse movimento mundial

por Débora Spitzcovsky - Planeta Sustentável - 26/03/2014

Em reunião em Brasília, na última quinta-feira (20), o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), que pertence ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT), negou proposta apresentada pela ONG Humane Society International (HSI) para acabar, de uma vez por todas, com os testes de cosméticos em animais. 

De acordo com a organização, esse tipo de procedimento em bichos é antiético, uma vez que causa dor aos animais em nome do consumo de produtos dispensáveis, e pode ser substituído por outras técnicas, que já são adotadas por empresas da indústria da beleza que se desassociaram desse tipo de prática. 

No entanto, apesar do parecer técnico que provava a viabilidade da proibição e de petição com dezenas de milhares de assinaturas, o Concea não aprovou a proposta, cuja votação havia sido prometida para outubro. 

O Conselho preferiu propor novo regulamento geral que obriga os laboratórios a utilizar alternativas para testes em animais, cinco anos depois de serem validadas pelo governo. Segundo a HSI, a medida é um retrocesso, uma vez que essa regra já existe no Brasil desde 1998, com uma diferença: antes da nova decisão do Concea, ela deveria ser cumprida pelos laboratórios imediatamente após a validação do método alternativo, e não no prazo de cinco anos. 

"Dois terços dos brasileiros apoiam a proibição dos testes e 170 membros do Congresso Federal também defendem a ideia. É uma vergonha que os reguladores brasileiros não consigam respeitar a opinião da população e de seus representantes, que manifestaram de forma consistente sua forte oposição aos testes em animais para a indústria da beleza", diz Helder Constantino, porta-voz brasileiro da campanha Liberte-se da Crueldade, da HSI. Agora, a organização pede apoio ao ministro da Ciência e Tecnologia, Clélio Campolina Diniz, para intervir na decisão do Concea. 

Enquanto o governo não bane a prática, as atitudes dos consumidores têm grande peso. Assista, abaixo, à animação em português que a HSI fez para conscientizar as pessoas a respeito das crueldades que podem estar por trás dos produtos de beleza que são levados para casa. A organização ainda possui campanhas parecidas em outros países, como Austrália, China, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Rússia. 

http://www.youtube.com/watch?v=CKteahxI5W8

SP, RJ e MG terão a maior guerra por água na América do Sul, alerta S.O.S. Mata Atlântica

Crise da água pode fomentar conflito ainda maior na região Sudeste do Brasil. É isso o que afirma a ambientalista Malu Ribeiro, coordenadora da ONG. Leia, abaixo, a entrevista

por Thiago de Araújo - Brasil Post - 24/03/2014

Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais vão disputar de maneira cada vez mais feroz o "ouro do século 21": a água. É o que afirma a ambientalista Malu Ribeiro, coordenadora da ONG S.O.S. Mata Atlântica. Com base em dados levantados pela Organização das Nações Unidas (ONU), ela mostra que a atual crise de água no sistema Cantareira, em São Paulo, é apenas a ponta do iceberg do que pode vir por aí se não houver uma mudança na política de gestão dos recursos hídricos.

"Esse conceito pelo uso da água entre essas metrópoles e os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro é apontado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como de maior potencial de conflito por uso da água na América do Sul. Não é exagero. A gente só não chega ao extremo de uma guerra pela água porque temos esse sistema de gestão, para gerenciamento de conflitos", afirmou Malu, em entrevista ao Brasil Post.
A recente proposta do governador de SP, Geraldo Alckmin, de captar água também na Bacia do Rio Paraíba do Sul, que nasce em solo paulista mas também percorre Minas Gerais e Rio de Janeiro, acirrou o debate na última semana. A seguir, a entrevista completa com a coordenadora da ONG S.O.S. Mata Atlântica.

Como você está vendo esse plano de São Paulo captar água no Rio Paraíba do Sul?
Olha, o governador (Geraldo Alckmin) está dando essas declarações que eu também vi pela imprensa, e ele está se baseando em um estudo que há oito anos o Estado de São Paulo vem desenvolvendo que é aquele da macrometrópole, com aproveitamento da água da macrometrópole paulista, pegando as regiões de São Paulo, Campinas, Sorocaba e Baixada Santista. Esses estudos que vêm sendo desenvolvidos para a gestão da água até 2018 contemplam essas alternativas, de captação da Bacia do Paraíba do Sul, ou essa que já começou em São Lourenço, a construção de novos reservatórios, mais dois em Piracicaba, entre outros. Então não é novidade isso aí.


Quer dizer, com base nisso que ele está falando com tanta segurança e buscando essa alternativa que, do ponto de vista locacional, é próxima e em tese seria mais barata que outras. Mas, esse estudo ele vinha sendo feito há oito anos sem essa crise, então o que se fizer agora será uma medida emergencial. Portanto, você tem vários municípios, várias regiões, imaginando que o Cantareira chegue ao colapso total, que não chova o suficiente no inverno, vai gerar um estado de calamidade pública, não tem água. Esse estado de calamidade ou de emergência que a gente já se encontra, ele dispensa algumas questões como licenciamento ambiental, ou audiências públicas, justamente por ser emergencial. Apesar disso, o governador já afirmou, a gente já fez essas ponderações, que quem decida isso seja o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). O conselho nacional tem essa competência legal de, quando o interesse do uso da água extrapola mais de uma bacia, que é o caso aí que vai interferir em várias bacias, ele deve acompanhar, promover discussões e estabelecer critérios. Temos que levar (o assunto) primeiro a esse colegiado, que tem a competência legal para isso, e depois promover a avaliação ambiental estratégica, apesar da escala de emergência.

Agora não é novidade, esses estudos não caíram do céu no lugar da chuva, eles já vê sendo apontados há bastante tempo. Por que eles não foram implementados antes? Já se sabia, estão sendo produzidos há oito anos.

sábado, 22 de março de 2014

Apetite global por energia aumenta pressão sobre água

A produção de energia é responsável por 15% de retirada de água do planeta, número que deve aumentar até 2035 com incremento da demanda energética

Vanessa Barbosa , Planeta Sustentável - 24/03/2014


Os recursos hídricos estão sob pressão para atender a crescente demanda global por energia. O alerta vem de um novo relatório da ONU, lançado na última sexta-feira (21), em Tóquio, por ocasião do Dia Mundial da Água. O documento analisa criticamente a falta de coordenação e planejamento entre os dois domínios, e insta a melhorias para evitar a escassez de energia, o desabastecimento de água e a deterioração dos recursos naturais.

No total, a produção de energia é responsável por 15% de retirada de água do planeta. Mas esse número está aumentando e, em 2035, o crescimento populacional, a urbanização e o aumento do consumo prometem empurrar o consumo de água para geração de energia até 20%.

A demanda por energia elétrica deve aumentar em 70% até 2035, com mais de metade deste crescimento vindo da China e da Índia.

Recursos hídricos em declínio já estão afetando muitas partes do mundo e 20% de todos os aquíferos já são considerados sobreexplorados.

Em 2050, 2,3 bilhões de pessoas estarão vivendo em regiões sujeitas a estresse hídrico severo, especialmente na África do Norte, Central e Sul da Ásia.

De acordo com o estudo, o desafio de atender a demanda por energia pode muito bem vir às custas dos recursos hídricos. Como a preocupação com o meio ambiente e os impactos sociais das térmicas e das usinas nucleares aumenta, os países estão tentando diversificar suas fontes de energia, visando reduzir a dependência externa e mitigar os efeitos da flutuação dos preços. Mas todos as opções têm seus limites, diz a ONU.
O cultivo de biocombustíveis, que requer uma grande quantidade de água, aumentou em grande escala desde 2000. Extração de gás de xisto também se espalhou nos últimos anos, particularmente nos Estados Unidos. Mas esta energia fóssil só pode ser extraída através de fraturamento hidráulico, que requer grandes quantidades de água e apresenta o risco de contaminar os lençóis freáticos.

Fontes de energia renováveis parecem menos prejudicial para o abastecimento de água, sugere o relatório. A hidroeletricidade atualmente atende 16% da demanda de energia em todo o mundo e seu potencial ainda é pouco explorado. No entanto, a construção de barragens pode ter um impacto negativo sobre a biodiversidade e as comunidades humanas.

Outras energias alternativas estão ganhando terreno. Entre 2000 e 2010, a energia eólica e a energia solar cresceram 27% e 42%, respectivamente, em todo o mundo. Mas, embora essas tecnologias exijam muito pouca água, eles fornecem energia de forma intermitente e precisa ser combinado com outras fontes que não necessitam de água.

Assim, pondera o relatório, apesar dos progressos na área das energias renováveis, o combustível fóssil deve manter a sua liderança nos próximos anos. Pelas previsões da Agência Internacional de Energia, os combustíveis fósseis devem manter sua liderança na matriz mundial até 2035, seguido das energias renováveis.

COMO ENFRENTAR O DESAFIO DA ENERGIA
O relatório destaca a necessidade de coordenar as políticas de água e de gestão de energia para enfrentar os desafios futuros. Isto inclui a revisão de práticas de preços para garantir que a água e a energia são vendidas a preços que reflitam seu custo real e impacto ambiental com mais precisão.

Sistemas que permitem a produção combinada de água e energia elétrica, provavelmente serão a chave para o futuro, diz o estudo.

É o caso das usinas de Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos, e Shoaiba, na Arábia Saudita, que servem tanto para a dessalinização da água do mar como para a produção de energia.

Outa solução que vem ganhando força é reciclagem de água para geração de energia. A matéria orgânica serve para a produção de biogás rico em metano.

No Chile, a central de Farafana trata 50% do esgoto de Santiago e produz perto de 24 milhões de metros cúbicos de biogás. Cem mil moradores usam essa energia, em vez de gás natural.

Em Estocolmo, na Suécia, carros e táxis usam biogás produzido a partir de águas residuais. O interesse por esta tecnologia também está crescendo em países em desenvolvimento.

ÁGUA E ENERGIA: UMA RELAÇÃO DELICADA
O relatório mostra que os lugares onde as pessoas não têm acesso adequado à água coincidem, em grande parte, com aqueles onde as pessoas não têm energia elétrica, evidenciando o quão interligados são esses dois setores.

Em pleno século 21, 768 milhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso a uma fonte de água tratada, 2,5 bilhões de pessoas não têm saneamento adequado, enquanto 1,3 bilhão de pessoas não possuem acesso a energia elétrica.

A coleta, o transporte e o tratamento de água necessitam de energia, enquanto a água é utilizada na produção de energia e para a extração de combustíveis fósseis. Usinas de geração elétrica, que produzem 80% da eletricidade no mundo, utilizam grandes quantidades de água para o processo de resfriamento.

Segundo a ONU, essas relações evidenciam que as escolhas estratégicas feitas em um domínio têm repercussões sobre o outro.

domingo, 16 de março de 2014

Como espécies da Mata Atlântica responderão às mudanças climáticas e ao uso do solo?

por Karina Toledo, Agência Fapesp - 11/02/2014


Projeto que reúne pesquisadores brasileiros e americanos estuda processos da biodiversidade e das espécies da Mata Atlântica para prever seu futuro e adaptações às mudanças do clima e uso do solo. Ele foi apresentado e debatido em workshop promovido ontem (10/02) pela Fapesp e National Science Foundation





Compreender os processos evolutivos, geológicos, climáticos e genéticos por trás da enorme biodiversidade e do padrão de distribuição de espécies da Mata Atlântica e, com base nesse conhecimento, criar modelos que permitam prever, por exemplo, como essas espécies vão reagir às mudanças no clima e no uso do solo.



Esse é o objetivo central de um projeto que reúne pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos no âmbito de um acordo de cooperação científica entre o Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota-Fapesp) e o programa Dimensions of Biodiversity, da agência federal norte-americana de fomento à pesquisa National Science Foundation (NSF).



“Além de ajudar a prever o que poderá ocorrer no futuro com as espécies, os modelos a entender como está hoje distribuída a biodiversidade em áreas onde os cientistas não têm acesso. Como fazemos coletas por amostragem, seria impossível mapear todos os microambientes. Os modelos permitem extrapolar essas informações para áreas não amostradas e podem ser aplicados em qualquer tempo”, explicou Ana Carolina Carnaval, professora da The City University of New York, nos Estados Unidos, e coordenadora do projeto de pesquisa ao lado de Cristina Miyaki, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).

A proposta, segundo Carnaval, é promover a integração de pesquisadores de diversas áreas – como ecologia, geologia, biogeografia, genética, fisiologia, climatologia, taxonomia, paleologia, geomorfologia – e unir ciência básica e aplicada em benefício da conservação da Mata Atlântica.

O bioma é considerado um dos 34 hotspots (*)  mundiais, ou seja, uma das áreas prioritárias para a conservação por causa de sua enorme biodiversidade, do alto grau de endemismo de suas espécies (ocorrência apenas naquele local) e da grande ameaça de extinção resultante da intensa atividade antrópica na região.

A empreitada coordenada por Carnaval e por Miyaki teve início no segundo semestre de 2013. A rede de pesquisadores esteve reunida pela primeira vez para apresentar suas linhas de pesquisa e seus resultados preliminares na segunda-feira (10/02/14), durante o “Workshop Dimensions US-Biota São Paulo - A multidisciplinary framework for biodiversity prediction in the Brazilian Atlantic forest hotspot”.

“Convidamos alguns colaboradores além de pesquisadores envolvidos no projeto, pois queremos críticas e sugestões que permitam aperfeiçoar os trabalhos”, contou Miyaki. “Essa reunião é um marco para conseguirmos efetivar a integração entre as diversas áreas do projeto e criarmos uma linguagem única focada em compreender a Mata Atlântica e os processos que fazem esse bioma ser tão especial”, acrescentou.

(*) http://www.conservation.org.br/como/index.php?id=8

quinta-feira, 13 de março de 2014

Jornalista e empresária disseminam a prática de agricultura urbana em SP

por Raphael Martins

Claudia Visoni e Madalena Buzzo criaram uma horta comunitária – Horta das Corujas - que inspirou iniciativas semelhantes pela capital paulistana e também aulas de cultivo urbano e educação alimentar em escolas

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Disposta a adotar uma alimentação mais saudável, a jornalista Claudia Visoni resolveu instalar, em 2008, uma pequena horta em sua casa, no Alto de Pinheiros. Três anos depois, para trocar experiências com outros entusiastas da atividade, criou o grupo Hortelões Urbanos no Facebook.

Do tratamento adequado ao crescimento das folhinhas no quintal, as conversas evoluíram para a criação de um espaço público e coletivo, inspirado em modelos similares existentes nos Estados Unidos, na Argentina e na Inglaterra. Assim, em setembro de 2012, ao lado da empresária Madalena Buzzo, Claudia começou a cultivar vegetais na Praça Dolores Ibarruri, na Vila Madalena. O nome escolhido para batizar o local, Horta das Corujas, é inspirado na avenida vizinha. "Queremos promover integração social e orientar as pessoas a consumir produtos sem agrotóxicos", diz Claudia.

Com cercas baixas e portões sempre abertos, o terreno de 800 metros quadrados conta com aproximadamente oitenta espécies de hortaliças, flores e ervas. "Qualquer pessoa pode vir aqui e colher alface, cebolinha, bertalha, maracujá, chuchu e outras", explica Madalena. A iniciativa tem vinte colaboradores mais frequentes, que se revezam em funções como rega e manutenção dos canteiros. O grupo também promove mutirões semanais.

O modelo rendeu frutos e tornou-se disciplina de colégio: três escolas da Zona Oeste passaram a ministrar no espaço aulas sobre cultivo urbano e educação alimentar. Inspirados na iniciativa das Corujas, surgiram projetos parecidos em ao menos outros dez locais da capital, como na Praça dos Ciclistas, na Avenida Paulista. "Se ocupássemos outros espaços sem uso para plantar comida, resolveríamos 40% do abastecimento da cidade sem derrubar um prédio", calcula Claudia.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Os melhores e os piores países em matéria de sustentabilidade

por Rosenildo Ferreira, de 1Papo Reto

Os americanos e britânicos, de um modo geral, têm uma espécie de obsessão pela elaboração de rankings e listas em geral. Os 10 mais disso, os 10 menos daquilo… Enfim, tudo que possa ser comparado é objeto do escrutínio de algum jornalista especializado, empresa de pesquisa ou centro acadêmico de alguma universidade. Um deles é o Índice de Desempenho do Meio Ambiente (EPI, da sigla em inglês). Trata-se de um trabalho robusto, resultado da parceria de dois centros acadêmicos de primeiríssima linha: as universidades Yale e Columbia, nos Estados Unidos. Quem paga a conta são duas fundações: Samuel Family Foundation e McCall MacBain Foundation, também americanas.

shutterstock 130863860 Os melhores e os piores países em matéria de sustentabilidade
Foto: http://www.shutterstock.com/

A obsessão por métricas tem lá sua razão de ser. Apesar de não contarem a história toda, os números nos ajudam a comparar, de forma mais equilibrada e isenta, o desempenho de pessoas e de países. Afinal, quem tem um boletim acadêmico recheado de 10 terá mais chance de conseguir uma bolsa de estudo ou um bom emprego que aquele que passou raspando em todas as disciplinas, não é mesmo?

Pois bem, nesta lista, o Brasil aparece em uma posição, digamos, intermediária: com nota 52.97, ocupamos a 77ª colocação de um total de 178 países analisados. Nossos pontos fortes são os cuidados com a floresta e a oferta de água tratada. O destaque negativo é a queda nos estoques de pesca, área que nunca recebeu a atenção devida do governo, em particular, e da sociedade, em geral.

O detalhe interessante neste estudo é que a riqueza de um país, apesar de influenciar na qualidade de vida de seus habitantes, não garante, por si só, uma posição de destaque quando se fala da sustentabilidade. Isso fica claro quando analisamos a posição dos Estados Unidos. Apesar de o país contar com universalização de serviços de água e esgoto, ele desponta na 33ª colocação.

Quase mais perto do Brasil que da líder Suíça, a líder do ranking. Os pontos negativos, como a queda na oferta de pescados e também pelo fato de não ter avançado, desde 2003, no processo de recuperação da cobertura vegetal, ajudam a explicar a posição dos americanos.

O estudo também mostra o resultado do trabalho de pressão exercido por ecologistas e do aumento da consciência ambiental de governos de todos os continentes. Desde 2003, nada menos que dois bilhões de pessoas passaram a ter acesso à água tratada.

De fato, muito ainda há de ser feito para transformar a Terra em um lugar melhor para se viver. Mas os números mostram que estamos avançando em vários aspectos. E isso também vale para o Brasil, cujo maior destaque em matéria de sustentabilidade das condições de vida, neste período, foi na melhoria das condições de saúde, por conta da redução da mortalidade infantil.

Bem na foto ambiental. Conheça dos cinco países mais bem colocados:

1º Suíça
2º Luxemburgo
3º Austrália
4º Cingapura
5º República Checa

* Publicado originalmente no 1Papo Reto e retirado do site Plurale.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Um mundo mais sustentável precisa de todos

por Tarja Halonen*

Nações Unidas, fevereiro/2014 – Este mês tive o privilégio de assistir a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável de Nova Délhi, um encontro anual que trata de um tema muito próximo ao meu coração. A Cúpula reuniu pessoas extraordinárias: ganhadores do prêmio Nobel, líderes de pensamento, chefes de Estado, inovadores das corporações e da academia, com a finalidade de abordar os desafios primordiais do século 21, que se concentram em três dimensões urgentes da sustentabilidade: alimentação, água e energia.

Neste momento, cerca de 85% dos seres humanos com os quais compartilhamos esse planeta vivem sem água potável adequada. Quase a mesma quantidade não tem segurança alimentar. E quase uma em cada cinco pessoas tenta viver sem energia e sem os benefícios da eletricidade.

Cobrir as necessidades atuais sem comprometer as expectativas das gerações futuras é um assunto muito complicado. Foi estimulante ver tantos cientistas, economistas e especialistas em desenvolvimento, brilhantes e comprometidos, trabalhando duro na elaboração de ideias que possam nos ajudar a produzir, distribuir e utilizar recursos preciosos de forma mais eficiente e equitativa.

Seu trabalho é essencial, porque colocará todos nós para trabalhar com nossas capacidades únicas para solucionar os desafios realmente difíceis que temos pela frente.

Mas, do meu ponto de vista, também é fundamental potencializar as próprias pessoas que devem lidar cada dia com esses problemas: as meninas que sonham com um futuro melhor enquanto transportam água por grandes distâncias, as mulheres que trabalham com fogões ineficientes e poluentes, e os pequenos agricultores que produzem 70% dos alimentos de forma muito mais sustentável do que o agronegócio.

Devemos nos dedicar a soluções que sustentem essas pessoas como prioridade de nossas decisões, porque são suas opções individuais que definitivamente terão um papel essencial na maneira como se desenvolverá nosso futuro.

Quando se respeita completamente os direitos individuais, e quando as pessoas se encontram no centro do desenvolvimento, as soluções têm uma sustentabilidade inerente. Algo que aprendi com meu próprio país e com nossos irmãos nórdicos é que as sociedades saudáveis e produtivas geram um círculo de autossustento com melhor bem-estar e maior produtividade.

A desigualdade e a exclusão das mulheres, dos jovens e dos pobres, ao contrário, prejudicam a saúde, o bem-estar e o crescimento econômico. Embora precisemos das contribuições de todos para solucionar os problemas globais que enfrentamos, os talentos e o potencial das mulheres ainda não são plenamente aproveitados em muitos países.

Não que as mulheres não estejam trabalhando duro. Na verdade, trabalham mais como produtoras, elaboradoras, vendedoras e consumidoras de alimentos, como mães e cuidadoras, transportando água e cuidando da higiene da família. E isso geralmente sem o benefício de técnicas eficientes nem serviços de energia, ou formas modernas de contracepção.

Isso significa que as mulheres estão, em geral, sobrecarregadas pela reprodução, bem como pela produção. A triste realidade é que elas trabalham mais horas do que os homens e produzem metade dos alimentos do planeta, mas recebem apenas uma fração da renda mundial e possuem uma pequena parte das propriedades.

As mulheres tratam de assegurar alimentos para muitos. Portanto, necessitam de capacitação adequada, equipamento e direito à posse da terra. Devem poder participar da economia, e definitivamente precisam de serviços de saúde sexual e reprodutiva, pois os problemas sanitários as afetam desproporcionalmente, desde as complicações na gravidez e no parto, até a epidemia de HIV, vírus causador da aids.

A violência de gênero também cobra um preço alto. O que aconteceria se fosse liberado todo o potencial e o poder das mulheres? Imaginem o que poderiam conseguir.

Precisamos investir em empoderamento das mulheres para que consigam o tipo de transformação que possa sustentar o crescimento econômico, preservar o ambiente, fomentar a resiliência e não deixar ninguém para trás.

E precisamos investir nos direitos sexuais e reprodutivos para todos, incluindo as próximas gerações, se desejamos conseguir um verdadeiro desenvolvimento sustentável.

As mulheres estão interessadas e sensibilizadas pelas necessidades da sustentabilidade.

Quando elas têm controle e liberdade sobre suas próprias vidas sexuais e reprodutivas, tendem a escolher famílias mais sadias e menores, que possam ser mais resilientes diante das crises, dos deslocamentos ou dos desafios ambientais. Também podem aliviar a pressão que exercem as populações locais sobre recursos naturais limitados e ecossistemas frágeis.

Por isso é importante que o próximo marco para o desenvolvimento internacional – a agenda que em 2015 substituirá os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas – aborde diretamente a igualdade de gênero e os direitos sexuais e reprodutivos para todos. Estes temas vão direto ao coração da sustentabilidade. Continuo comprometida em assegurar que não sejam deixados de lado. Envolverde/IPS

* Tarja Halonen é ex-presidente da Finlândia (2000-2012) e copresidente do Grupo de Trabalho de Alto Nível da CIPD (Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento). Também ocupou cargos em fóruns internacionais como copresidente da Cúpula do Milênio e do Painel de Alto Nível do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Sustentabilidade Mundial.

(IPS)

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