sábado, 30 de abril de 2011

TERRAMÉRICA – Algas: combustível, alimento e plástico

25/4/2011 - 10h15, por Mark Sommer
 

A pesquisa das algas ganha força no setor privado e acadêmico, na medida em que revela seu potencial, afirma neste artigo exclusivo o jornalista Mark Sommer.
IlustrAlgasEnergia TERRAMÉRICA   Algas: combustível, alimento e plásticoFabricio Vanden Broeck
Trinidad, Califórnia, Estados Unidos, 25 de abril de 2011 (Terramérica).- Enquanto os combustíveis tradicionais projetam cada vez mais consequências indesejáveis, as algas, essa sujeira dos reservatórios, oferecem uma alternativa simples, de curto prazo e com muito pouco dos custos escondidos de fontes de energia mais complexas. A primeira e mais simples forma de vida, as algas, promete se converter em um recurso fundamental para o futuro do planeta como base de um biodiesel de grande qualidade que – ao contrário do milho – não desvia alimentos dos humanos.
E não são apenas combustíveis. São alimento animal e humano – pensemos na proteica e vitamínica spirulina – e o componente essencial de uma ampla gama de plásticos biodegradáveis para substituir os produzidos a partir do petróleo. As algas fazem tudo isso enquanto crescem absorvendo prodigiosas quantidades de dióxido de carbono, o gás-estufa que mais precisamos reduzir na atmosfera para frear a mudança climática.
No momento não são uma prioridade na pesquisa e no desenvolvimento dos países nem das grandes empresas, mas estão ganhando força no setor privado e acadêmico, na medida em que se revela seu potencial. Já há gigantes da energia pesquisando sobre elas como subprodutos do desenvolvimento do chamado “carvão limpo”, já que absorvem o dióxido de carbono gerado pela queima desse mineral. E o carvão não é mais do que algas de 500 milhões de anos de idade.
Então, por que não deixar de buscar carvão escavando montanhas e dedicar-se, por outro lado, a cultivar algas de rápido crescimento e grande adsorção de dióxido de carbono? Não é um sonho distante. Um fator que coloca as algas acima de quase todas as opções energéticas, convencionais ou alternativas, é sua simplicidade, onipresença e disponibilidade. Os pesquisadores afirmam que, embora existam obstáculos técnicos para uma produção em grande escala de baixo custo em vários de seus usos, nenhum parece intransponível.
Graças à sua capacidade de rápido crescimento, as algas em cultivo não exigem controle rígido. Seu florescimento é natural, e pode ser induzido com a contaminação química e agrícola. A eutrofização asfixia rios e riachos e afeta a vida aquática e marinha, pois bloqueia o fluxo de oxigênio, um processo conhecido como hipoxia. É um problema grave, que deve ser considerado nos cultivos de algas em espaço aberto, em lugar de ambientes controlados como os biodigestores, onde se produz biodiesel. Ao contrário de uma reação nuclear em cadeia, mesmo se a proliferação de algas se tornar excessiva, suas consequências sequer se aproximariam da gravidade de uma fusão atômica.
Em uma visita ao ENN Group, firma chinesa de energia que fica a uma hora de carro de Pequim, este correspondente percorreu um laboratório onde os cientistas desenvolvem microalgas para uma variedade de usos, como parte de um projeto de risco compartilhado entre o ENN e a Duke Energy, uma das maiores prestadoras de serviços públicos dos Estados Unidos.
Em uma ensolarada estufa com paredes cobertas por tubulações de vidro pelas quais circula um lodo verde, o chefe da equipe de algas da ENN, Liu Minsung, apontou para uma fileira de tubos transparentes contendo substâncias de diferentes cores e consistências e levantou uma por uma. “Esta é uma microalga em forma pura. Experimentamos com diferentes formas de microalgas e criando novas variedades para desenvolver aquelas que mais facilmente se adaptam aos nossos propósitos”, explicou.
Então, Liu levantou outro tubo. “Isto é óleo vegetal, muito puro, sem sabor, muito bom para você.” O deixou e pegou outro. “Isto é alimento animal, muito nutritivo”, disse. “Isto é biodiesel. Pode-se usar como combustível de veículos automotores, barcos e jatos”, prosseguiu. As “óleo-algas”, como as chamam alguns, são refinadas em um processo muito barato e já estabelecido.
Liu continuou. “E estas são a base dos bioplásicos. Poderiam substituir todos os plásticos que hoje obtemos do petróleo”, disse. E são biodegradáveis. Quantos anos são necessários para que tudo isto seja viável comercialmente?, perguntei. Pensou um momento, como se consultasse sua agenda. “Consulte-nos no próximo ano”, respondeu.
De fato, em 2012 a Marinha de guerra dos Estados Unidos lançará o que chama Grupo de Combate Verde, uma flotilha de barcos que funcionarão com uma mistura chamada diesel hidroprocessado renovável: metade algas e metade combustível naval destilado Otan F-76. Para 2016, a Marinha prevê lançar a Grande Frota Verde, um grupo de combate de porta-aviões formado por navios híbridos elétricos, aviões movidos a biocombustíveis, inclusive algas, e – já não tão verdes – navios nucleares.
As algas constituem um círculo completo de inovação porque servem a vários usos simultâneos, seguindo uma dinâmica mais bio-lógica do que tecno-lógica. As soluções técnicas se tornaram complexas e caras que, como ocorre com os telefones inteligentes, uma série de aplicações não essenciais acaba esgotando a capacidade básica. Como toda “solução”, as algas têm indubitavelmente lados obscuros que devemos descobrir. Contudo, o maior risco, como o do automóvel elétrico, é não desenvolvê-las.
Você pode criar suas próprias algas, já que crescem por todo lado, menos no Ártico. Se a ciência se dedicar não apenas à grande escala, mas à pequena, as comunidades locais poderão cultivar suas próprias fazendas municipais de algas e obter novas fontes de renda e combustível para suas máquinas e seus motores. A vida na Terra começou com as algas. Elas poderão nos ajudar a resgatar nosso dilema energético?

* Mark Sommer é jornalista norte-americano e dirige o premiado programa de rádio A World of Possibilities (www.aworldofpossibilities.org). Direitos Reservados IPS.
LINKS
Algas contra a mudança climática?
Em marcha o etanol de algas
ENN Group, em inglês
Duke Energy, em inglês
http://envolverde.com.br/ambiente/ciencia/terramerica-algas-combustivel-alimento-e-plastico/

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Contaminantes proibidos, com exceções

por Isolda Agazzi, da IPS
1345 Contaminantes proibidos, com exceçõesIsolda Agazzi/IPS
Os COP em produtos reciclados e novos.

Genebra, Suíça, 29/4/2011 – A V Conferência das Partes do Convênio de Estocolmo sobre Contaminantes Orgânicos Persistentes, que termina hoje em Genebra, pode aumentar o número dessas substâncias proibidas internacionalmente e, ao mesmo tempo, manter exceções em casos como o combate à malária. As alternativas ao DDT (dicloro difenil tricloroetano), um dos contaminantes orgânicos persistentes (COP) usados na luta contra a malária, estão ganhando popularidade, mas sua proibição completa não está na agenda.
“Os COP são as piores substâncias que o ser humano já criou. Deixam um legado tóxico para as gerações futuras. São persistentes no ambiente, permanecem intactos durante muitos anos e são levados por todo o planeta. Podem ser detectados inclusive no Ártico, onde nunca foram usados”, disse à IPS Björn Beeler, coordenador internacional da Rede Internacional para a Eliminação dos COP (Ipen).
Esta rede reúne 700 organizações não governamentais de aproximadamente cem países. Foi criada durante as negociações do Convênio de Estocolmo, adotado em 2001 e em vigor desde 2004, para proibir ou limitar fortemente os produtos químicos mais perigosos. Quando esse tratado foi adotado, na lista estavam incluídas 12 substâncias. Na última Conferência, realizada em 2009, outras nove foram acrescentadas.
Os COP são pesticidas, substâncias industriais e subprodutos que se propagam facilmente através do solo, da água e do ar; acumulam-se nos tecidos adiposos dos organismos vivos, entre eles os humanos, e são tóxicos tanto para pessoas como para a fauna e a flora. Também podem ser transmitidos pelo leite materno, podendo causar câncer, desordens reprodutivas e alterações no sistema imunológico. O Convênio de Estocolmo prevê sua eliminação, com poucas exceções para alguns deles, como o DDT.
São três as principais questões na agenda da Conferência deste ano. 
  • Primeiro, a inclusão na lista do endosulfan, “um assunto pelo qual a sociedade civil faz campanha há décadas”, explicou Beeler. Esta substância é um pesticida tóxico proibido em 80 países, mas que ainda é usado na China e na Índia, na maior parte da África oriental, na Argentina e no México. “O endosulfan é tão prejudicial que mesmo alguns dos países que ainda o utilizam pedem uma proibição internacional mediante o Convênio, porque isso os ajudaria a aprovar legislação nacional e a lutar contra o comércio ilegal”, disse Beeler à IPS.
  • A segunda prioridade da Conferência é a eliminação total de dois bromodifenis (pentaBDE e octaBDE), dois COP que acrescentados há dois anos, mas com exceções para sua reciclagem. “Acabamos de realizar um estudo que mostra que estes BDE são tão tóxicos e perigosos quanto os proliclrolobifenis (PCB) e o DDT”, disse Beeler. “Mas o Convênio permite que seus dejetos sejam reciclados para obter outros produtos, como espuma e plástico”, acrescentou.
  • O estudo do Ipen argumenta que o material para tapetes comumente vendidos a consumidores nos Estados Unidos e em outros países industrializados contém perigosos produtos químicos que podem causar danos ao sistema nervoso, particularmente em bebês e crianças pequenas. “O comitê de especialistas recomendou proibi-los, e a conferência deveria seguir essa recomendação. Ignorá-la por motivos políticos ou econômicos seria um crime”, disse Beeler.
A Conferência também estudará a eliminação da exceção do perfluorooctanosulfonato (PFOS), outro COP que há dois anos foi acrescentado à lista com exceções. “Este COP nunca se desintegra”, ressaltou Beeler. “Esperamos que seja adotada uma ação séria para promover a paulatina eliminação das exceções, porque este é tão tóxico quanto o DDT”, acrescentou. O DDT é, provavelmente, o COP mais conhecido. Completamente proibido no final da década de 1970 na maior parte do mundo industrial, ainda é usado em muitos países em desenvolvimento.
Embora o Convênio o proíba, pode ser usado para combater a malária, sob rígido controle da Organização Mundial da Saúde e em certas circunstâncias, somente em espaços interiores e se não há alternativas efetivas disponíveis. A Índia é o único país que ainda produz DDT.
“A Conferência avaliará se ainda há uma exceção para a malária”, disse à IPS Michael Brander, encarregado de programa na Fundação Biovision, da Suíça. Os presentes “podem concluir que não deveria haver nenhuma exceção, mas não o farão. Alguns países da África estarão a favor da proibição do DDT, mas outros são completamente contra e o problema é que deve haver consenso”, afirmou Brander. A Biodivision promove alternativas ao DDT e a pesquisa sobre soluções orgânicas na agricultura.
“O principal programa de controle da malária na África, que usa inseticidas dentro das casas, é financiado pela Iniciativa do Presidente Contra a Malária por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid)”, disse Brander. Em “Uganda, os trabalhadores que fazem sua aplicação nas casas ganham por saco. Assim, para aumentarem sua renda precisam espalhar o máximo possível”, acrescentou.
Os ministérios da Saúde também consideram o DDT uma maneira efetiva e barata de matar mosquitos, “o que não é verdade: não é a solução mais barata e existe todo tipo de problemas e efeitos colaterais quando espalhado no solo e no ar”, destacou.
A primeira assembleia mundial da Aliança Mundial para as Alternativas ao DDT aconteceu esta semana. A Biodivision apresentou um projeto executado por seu instituto associado Icepe, no qual demonstra que os casos de malária diminuíram 60% no Quênia e 70% na Etiópia mediante o uso de plantas orgânicas e de um enfoque integrado que deu participação à população local.
“Já não usamos DDT para a malária, temos alternativas”, disse à IPS Ali Mohammad Ali Mahmoud, um delegado do Sudão, durante a Conferência. “No entanto, estamos buscando fundos para que nosso plano de ação nacional elimine paulatinamente os COP. Já temos algum dinheiro do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), mas buscamos meios adicionais para colocar em prática cerca de 28 projetos”, disse.
“Por exemplo, temos velhos COP que estão ali durante anos, alguns transformadores elétricos que incluem PCB ou COP para controlar pestes na agricultura. Queremos nos livrar deles e atualizar nossa legislação para poder cumprir o Convênio”, ressaltou Mahmoud. Envolverde/IPS

domingo, 24 de abril de 2011

Sathya Sai Baba chanting the Gayatri

Minha homenagem a um grande homem que deixou nossa querida Gaia hoje, e que sempre lutou pela Paz e o Amor . Sua luz e seus ensinamento ficarão conosco para sempre!!

http://www.youtube.com/watch?v=w8HtbFugrW8&feature=player_embedded#at=10



life is a challenge
meet it!
life is a dream
realize it!
life is a game
play it!
life is love
enjoy it!
rip sathya sai baba! (11/23/26 - 4/24/11)

22 de abril - Dia da Terra - Oração à Mãe Terra

22/04/2011, por Leonardo Boff

Nota: No dia 22 de abril de 2010, numa sessão solene, a ONU votou o projeto de mudar o Dia da Terra que seria hoje para o dia da Mãe Terra. Coube a mim e a ao Presidente Evo Morales fazer a sustentação política (Evo) e a científica, ética e espiritual (eu). A mudança foi aprovada por unanimidade, por 192 votos. Essa mudança é carregada de boas consequências. Terra a gente pode comprar,vender e usar. Mãe a gente não compra nem vende nem usa, mas ama, cuida e venera. Assim devemos fazer com a nossa Grande Mãe, Pacha Mama, a Terra. Neste contexto fiz a seguinte oração: lb
“Terra minha querida, Grande Mãe e Casa Comum! Vieste nascendo, lentamente, há milhões e milhões de anos, grávida de energiais criadoras.
Teu corpo, feito de pó cósmico, era uma semente no ventre das grandes estrelas vermelhas que depois explodiram, te lançando pelo espaço ilimitado. Vieste te aninhar como embrião, no seio de uma estrela ancestral, o Sol primevo, no interior da Via-Láctea, transformada depois em Super Nova. Ela também sucumbiu de tanto esplendor e explodiu. E vieste então parar no seio acolhedor de uma Nebulosa, onde já, menina crescida, perambulavas em busca de um lar. E a Nebulosa se adensou virando um Sol esplêndido de luz e de calor: o nosso Sol.
Ele se enamorou de ti, te atraiu e te quis em sua casa, como um planeta seu, Terra junto com Marte, Mercúrio, Venus e outros companheiros teus. E celebrou o esponsal contigo. De teu matrimônio com o Sol, nasceram filhos e filhas, frutos de tua ilimitada fecundidade, desde os mais pequenininhos, bactérias, virus e fungos até os maiores e mais complexos como as plantas, os peixes e os animais. E como expressão nobre da história da vida, nos geraste a nós, homens e mulheres.
Como seres humanos, somos Terra, a parte tua que sente, pensa, ama, cuida e venera. E continuas crescendo, embora adulta, para dentro do universo rumo ao Seio do Deus-Pai-e-Mãe de infinita ternura. Desse inefável Útero viemos e para ele retornamos para recebermos suma plenitude que somente Tu, Pai-Mãe, nos podes conceder. Queremos mergulhar em Ti e ser um contigo para sempre junto com a Mãe Terra.
E agora, Terra querida, nesta Semana Santa, sinto-me um sacerdote universal. Ouso realizar o gesto de Jesus na força de seu Espírito. Como ele, cheio de unção, te tomo em minhas mãos impuras, para pronunciar sobre ti a Palavra sagrada que o universo guardava dentro de si e que tu ansiavas por ouvir:
“Hoc est corpus meum: Isto é o meu corpo. Hoc est sanguis meus: Isto é o meu sangue”
E então senti: o que era Terra se transformou em Paraiso e o que era vida humana se transfigrou em Vida divina. O que era pão se fez Corpo de Deus e o que era vinho se fez Sangue sagrado.
Finalmente, Mãe Tierra, com teus filhos e filhas, chegaste em Deus. Enfim em casa.
“Fazei isso em minha memória“.
Por isso, de tempos em tempos, cumpro o mandato do Senhor. Pronuncio a palavra essencial sobre ti, Terra querida, e sobre todo o universo.
E junto com ele e contigo nos sentimos o Corpo de Deus, no pleno esplendor de sua glória”.

sábado, 23 de abril de 2011

TERRAMÉRICA – Danos ocultos

por Emilio Godoy*
Pesquisadores acreditam que alguns efeitos da contaminação causada pelo vazamento de petróleo da British Petroleum poderão ser notados por vários anos em águas mexicanas.
MexicoTartarugaMarinha TERRAMÉRICA   Danos ocultosMauricio Ramos/IPS
As tartarugas marinhas estão entre os grandes animais que podem apresentar alterações em sua reprodução.
Cidade do México, México, 18 de abril de 2011 (Terramérica).- Quando completa um ano do pior vazamento acidental de petróleo no mar, o da British Petroleum (BP) no Golfo do México, a busca por danos em território mexicano ainda não é concludente, enquanto os cientistas continuam coletando e analisando provas. Entre 20 de abril e 15 de julho de 2010, quase cinco milhões de barris de petróleo vazaram do poço da BP em águas norte-americanas do Golfo do México, segundo medição de agências federais dos Estados Unidos. Foi o pior acidente deste tipo na história da indústria do petróleo. Do vazamento foram recuperados apenas 800 mil barris (de 159 litros).
Ao contrário dos danos ainda visíveis em águas e nas costas dos Estados Unidos, “não observamos evidência direta de altos níveis de hidrocarbonos ou de seus resíduos na área de trabalho. Não há informação sobre a chegada de hidrocarbonos associados ao vazamento a águas mexicanas”, disse ao Terramérica a doutora em Ecologia Marinha Sharon Herzka, do Centro de Pesquisa Científica e de Educação Superior de Ensenada (Cicese). Isto “provavelmente porque o ponto mais próximo entre o poço e as águas mexicanas é de cerca de 400 quilômetros”, acrescentou a pesquisadora do Cicese, com sede no Estado da Baixa Califórnia, na costa do Oceano Pacífico.
Sharon coordena uma pesquisa sobre os efeitos do vazamento, da qual participam, entre outros, a Universidade Autônoma da Baixa Califórnia (UABC) e os governamentais institutos Mexicano do Petróleo e Nacional de Ecologia. Na primeira etapa, entre 6 e 22 de novembro, uma equipe a bordo do barco oceanográfico Xiximi-1 recolheu mais de mil amostras de água e centenas de sedimentos a profundidades entre mil e 3.500 metros. A segunda fase é a análise química e biológica das amostras e a definição das características da água, como salinidade e temperatura, na área central do Golfo do México. Os resultados ficarão prontos em junho.
Contudo, Sharon alerta que “nos anos seguintes pode haver efeitos negativos indiretos”, como a redução de “mamíferos e tartarugas marinhas e espécies de peixes grandes que sustentam pescas importantes”. O Golfo do México é uma região do Oceano Atlântico que, em seus 1,55 milhão de quilômetros quadrados, contém importante bacia petrolífera, compartilhada pelos países costeiros: Estados Unidos no Norte e Noroeste, México no Oeste e Sul, Cuba no Leste. A atividade petrolífera compete com uma biodiversidade cujos recursos pesqueiros são vitais para muitas populações litorâneas.
O segundo pior vazamento marinho também aconteceu no Golfo do México, quando, em 1979, explodiu a plataforma mexicana Ixtoc, derramando 3,3 milhões de barris de óleo na água. “O Golfo do México tem uma alta capacidade natural de degradação de hidrocarbonos. Isto significa que, aparentemente, ‘consumiu’ muito do que estava na água, que não evaporou nem foi retirado perto do poço”, disse Sharon. “Manejamos o alerta sobre espécies migratórias, como a tartaruga de kemp, o atum de barbatana azul e os pelicanos, que foram afetados e chegam ao litoral de Veracruz e Yucatán”, disse ao Terramérica o coordenador da campanha de Oceanos e Costas do Greenpeace, Alejandro Olivera.
O ecologista integrou uma expedição do Greenpeace de 32 especialistas que, em outubro e novembro, percorreu a região contaminada pelo acidente, cujos resultados serão divulgados dentro de algumas semanas. Na parte norte-americana de mar, a expedição identificou uma faixa de água de vários quilômetros com baixa concentração de oxigênio, sintoma de contaminação que, segundo Alejandro, poderia aparecer em Tamaulipas, o Estado mexicano mais próximo. Além de seus mangues, que têm um papel biológico importante e servem de barreira natural contra furacões e erosão das praias, Taumalipas é o principal produtor de camarão marrom (Farfantepenaeus aztecus), com cerca de 10.784 toneladas por ano.
“No médio e longo prazos, o vazamento pode afetar a reprodução do atum de barbatana amarela e do de barbatana azul”, disse ao Terramérica o pesquisador da UABC, Rafael Solana. O atum de barbatana amarela (Thunnus albacares) e o de barbatana azul (Thunnus thynnus) estão com superexploração em águas mexicanas do Pacífico e do Golfo do México. A produção anual nesta última área é de aproximadamente mil toneladas, segundo a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico. Entre setembro e novembro do ano passado, os governos estaduais de Tamaulipas, Veracruz e Quinta Roo entraram com dois processos em tribunais norte-americanos contra a BP, a Transocean e outras empresas por possíveis danos ao ambiente marinho, à costa e aos estuários.
Os processos passaram a integrar o litígio multidistrital MDL-2179, a cargo de um tribunal de Louisiana, com outras centenas de casos consolidados de milhares de reclamantes, entre os quais estão os referentes a 11 pessoas mortas, danos pessoais, danos ambientais e econômicos. Estima-se que poderão chegar a julgamento em fevereiro do ano que vem. Um aspecto que preocupa os cientistas são as bolas de petróleo depositadas no leito marinho, formadas pela aplicação de substâncias químicas tóxicas para diluir o óleo que flutuava na água. Podem ser ingeridas por algumas espécies, entrando na cadeia alimentar. A BP reconheceu ter lançado 6,8 milhões de litros do solvente Corexit.
Os “contaminantes químicos afetam seriamente a fisiologia dos peixes, o que repercute indiretamente na própria dinâmica populacional, no ciclo reprodutor. Isso se refletirá nos rendimentos da pesca, na economia e na conservação do recurso”, explicou Rafael. O governo mexicano apoia a pesquisa do Cicese e inspecionou as águas nacionais do Golfo do México, sem encontrar rastros de petróleo. Além disso, ativou o Plano Nacional de Contingência para Combate e Controle de Vazamentos de Hidrocarbonos e Outras Substâncias Nocivas no Mar, criado no final da década de 1990.
“Os especialistas calculam que será preciso esperar até mesmo décadas para conhecer as consequências reais do vazamento”, afirma o último relatório oficial mexicano divulgado no dia 5 de agosto pela internet. Determinar o impacto ambiental do vazamento é crucial diante do apetite dos países da bacia para explorar suas jazidas. México e Estados Unidos acertaram, em 2000, no Tratado sobre Delimitação da Plataforma Continental da Região Ocidental do Golfo do México Além das 200 Milhas Náuticas, suspender por dez anos o aproveitamento das jazidas transfronteiriças na área, enquanto negociavam um regime de prospecção e exploração.
A moratória vencia em janeiro, mas em 2010 os dois governos a prorrogaram até 2014. Diante da evidência do avanço das concessões norte-americanas em águas profundas, a estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) tenta se ajustar. Em janeiro, a Comissão Nacional de Hidrocarbonos, criada em 2008, divulgou normas sobre uso de tecnologia, proteção ambiental, segurança industrial e contratação de seguros contra acidentes como o da Deepwater Horizon.
* O autor é correspondente da IPS.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Probing the Impact of Climate Change on Wildlife, Ecosystems

What do polar bears, hummingbirds, clams, bowhead whales and invasive plant species have to do with Earth science spacecraft orbiting overhead 24/7? Soon observations from NASA's Earth-observing satellites of our planet's climate will be brought to bear on understanding how different species and ecosystems respond to climate changes and developing tools to better manage wildlife and natural resources.

U.S. biosphereSatellite observations of vegetation on land and microscopic marine plants that form the base of ocean food chains are some of the NASA datasets that will be used in the new studies. Credit: NASA
HummingbirdsHummingbirds are highly sensitive to climate and weather and are a pioneer indicator of the affects of climate change. Credit: NASA/Jenny Mottar
Polar BearsOne of the new studies will investigate how climate change and sea ice loss are affecting polar bear populations in Greenland. Credit: NASA/Karen Frey

 NASA has joined with the U.S. Geological Survey, National Park Service, U.S. Fish and Wildlife Service and Smithsonian Institution to initiate new research and applications efforts that will bring the global view of climate from space down to Earth to benefit wildlife and key ecosystems.
This is the first time NASA has targeted research investigating the intersection of climate and biological studies. The projects are sponsored by the Earth Science Division in NASA's Science Mission Directorate.
The wildlife species to be studied include polar bears in Greenland, bowhead whales in the Arctic Ocean, and migratory birds and waterfowl in the United States. Other studies will focus on species of commercial interest such as clams, oysters and other bivalves in U.S. coastal waters, and Atlantic bluefin tuna in the Gulf of Mexico.
To learn more about climatic effects on plants, researchers will focus on the loss of cordgrass marshes in coastal wetlands of the southeastern states. They also will examine the stresses to native tree species, many of commercial value, across the western states and Canada.
"We know very little about how the majority of species and ecosystems will respond to environmental changes related to changing climates," said Woody Turner, manager of NASA's Ecological Forecasting program in Washington. "These projects bring together NASA's global satellite data of the physical environment with ground-based data on specific species and ecosystems and computer modeling to detect and understand biological responses to climate."
The studies will use long-term observations of Earth from space, including data on sea surface temperature, vegetation cover, rainfall, snow cover, sea ice and the variability in the microscopic marine green plants that form the base of ocean food chains.
Below are the 15 new projects and their principal investigators:
Bird Populations and Extreme Climate Events
Patricia Heglund, U.S. Fish and Wildlife Service, La Crosse, Wisconsin
Project title: "Effects of extreme climate events on avian demographics: The role of refugia in mitigating climate change"
Bowhead Whales
Elizabeth Holmes, National Oceanic and Atmospheric Fisheries Service, Seattle, Wash.
Project title: "Forecasting changes in habitat use by bowhead whales in response to Arctic climate change"
Clams, Oysters and Other Bivalves
David Wethey, University of South Carolina, Columbia
Project title: "Physiological impacts of climate change using remote sensing: An integrative approach to predicting patterns of species abundance and distribution and thresholds of ecosystem collapse"
Coastal Salt Marshes
Ilka Feller, Smithsonian Environmental Research Center, Edgewater, Md.
Project title: "Sensitivity of coastal zone ecosystems to climate change"
Website: http://www.serc.si.edu/labs/animal_plant_interaction/Trail/VirtualTour.html
Elk and Caribou
Mark Hebblewhite, University of Montana, Missoula
Project title: "Global population dynamics and climate change: Comparing species-level impacts on two contrasting large mammals"
Global Biodiversity of Land Vertebrates
Walter Jetz, Yale University, New Haven, Conn.
Project title: "Integrating global species distributions, remote-sensing information and climate station data to assess recent biodiversity response to climate change"
Habitat Modeling
Jeff Morisette, U.S. Geological Survey Fort Collins (Colo.) Science Center
Project title: "Using the U.S. Geological Survey's 'Resources for Advanced Modeling' to connect climate drivers to biological responses"
Website: http://www.fort.usgs.gov/RAM/
Hummingbird Diversity
Catherine Graham, Stony Brook University, Stony Brook, N.Y.
Project title: "Combining remote-sensing and biological data to predict the consequences of climate change on hummingbird diversity"
Website: http://www.hummonnet.org/index.html
Migratory Species
Gil Bohrer, Ohio State University, Columbus
Project title: "Discovering relationships between climate and animal migration with new tools for linking animal movement tracks with weather and land surface data"
Website: http://www.movebank.org
Migratory Fish Habitat
Mitchell Roffer, Roffer's Ocean Fishing Forecasting Services, Inc., Melbourne, Fla.
Project title: "Management and conservation of Atlantic bluefin tuna (Thunnus thynnus) and other highly migratory fish in the Gulf of Mexico under International Panel on Climate Change (IPCC) climate change scenarios: A study using regional climate and habitat models"
Website: http://www.roffs.com/NASA_NMFSBluefinTuna.html
Native Tree Species
Richard Waring, Oregon State University College of Forestry, Corvallis
Project title: "Mapping of stress on native tree species across the western United States and Canada: Interpretation of climatically induced changes using a physiologically based approach"
Website: http://www.pnwspecieschange.info/
Plants, Prey and Predators
David Mattson, U.S. Geological Survey Colorado Plateau Research Station, Flagstaff, Ariz.
Project title: "Spatial responses to climate across trophic levels: Monitoring and modeling plants, prey, and predators in the intermountain western United States"
Polar Bears
Kristin Laidre, University of Washington, Seattle
Project title: "Climate change, sea ice loss, and polar bears in Greenland"
"WhaleWatch"
Helen Bailey, University of Maryland Center for Environmental Science, Solomons, Md.
Project title: "WhaleWatch: A tool using satellite telemetry and remote-sensing environmental data to provide near real-time predictions of whale occurrence in the California Current System to reduce anthropogenic impacts"
Wildlife and Ecosystem Management
Andrew Hansen, Montana State University, Bozeman
Project title: "Using NASA resources to inform climate and land use adaptation: Ecological forecasting, vulnerability assessment, and evaluation of management options across two U.S. Department of Interior Landscape Conservation Cooperatives"
 
 Steve Cole
NASA Headquarters
http://www.nasa.gov/topics/earth/features/climate_partners.html

Dia da Terra

Lindas imagens da nossa querida GAIA.

http://www.nasa.gov/topics/earth/earthday/index.html

terça-feira, 19 de abril de 2011

Índios - ELES RESISTEM

Depois de séculos de extermínio, a população indígena volta a crescer
Bruno Paes Manso
Foto: Ricardo Stuckert
A população indígena já aumenta 3,5% ao ano, mas etnias como a dos ianomâmis não estão ainda fora de risco
Os 2,06 metros de altura do índio Mengrire causaram alvoroço entre os brasileiros quando os índios kranhacarore foram fotografados pela primeira vez na Amazônia na década de 70. Na época, esses índios gigantes eram perto de 600, vivendo à beira dos igarapés em uma floresta fechada ao longo da Serra do Cachimbo, no Pará e no Mato Grosso. Na aproximação, houve troca de presentes e abraços amistosos. Em 1975, 90% da tribo estava morta. O desfecho feliz da triste história dos panarás (pronome nós), como eles chamam a si mesmos, reflete as boas novas sobre a atual situação dos índios brasileiros. A tribo, que definhou e chegou a ter apenas 79 membros, hoje está quase três vezes maior. Em melhores condições de vida, os panarás recuperaram a auto-estima, reintroduziram os antigos rituais e aprenderam novas técnicas, como pescar com anzol. Caminharam para a extinção enquanto estiveram fora do seu habitat, ameaçados por estradas, por onde vieram a cachaça, a diarréia e as epidemias. Os panarás voltaram para a mata fechada e há uma grande quantidade de crianças entre eles nos dias de hoje.
Sim, o que durante muito tempo parecia impossível está acontecendo: o número de índios no Brasil e na Amazônia está aumentando cada vez mais. A taxa de crescimento da população indígena é de 3,5% ao ano, superando a média nacional, que é de 1,3%. "O fenômeno é semelhante ao baby boom do pós-guerra, em que as populações, depois da matança geral, tendem a recuperar as perdas reproduzindo-se mais rapidamente", diz a antropóloga Marta Azevedo, responsável por uma pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos em População da Universidade de Campinas.
 fotos: Ricardo Stuckert
Os índios ainda vivem como antigamente. O pajé Nelson (à esq.) herdou uma velha tarefa: evitar que o céu lhes caia na cabeça
Outro motivo seria a imunização dos índios por meio de vacinas e anticorpos adquiridos após o primeiro contato. O momento é de otimismo, passados os tempos de matança, escravismo, catequização forçada ou da mera indiferença das autoridades. Em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, estima-se que havia por aqui cerca de 6 milhões de índios. Nos anos 50, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, a população indígena brasileira estava entre 68.000 e 100.000 habitantes. Atualmente há cerca de 280.000 índios no Brasil. Contando os que vivem em centros urbanos, ultrapassam os 300.000.
O extermínio é um risco do passado, e os direitos sobre as terras, assegurados na Constituição de 1988, estão em fase de consolidação, com a ajuda de 100 associações indígenas legalizadas. A maior parte das terras indígenas (98%) está na Amazônia Legal, onde moram 170000 índios. São 990000 quilômetros quadrados 20% das terras amazônicas. Nos Estados do Nordeste, Sul e Sudeste, onde há menos terras para mais gente, os 110.000 índios restantes acomodam-se em 12400 quilômetros quadrados. Cada índio brasileiro hoje tem em média 3,6 quilômetros quadrados para viver, ou uma área equivalente a 436 campos de futebol. No total, é dos índios quase 12% do território nacional.
Eles produzem coletivamente, dividem o seu ganho e não conhecem a propriedade privada.
Os sinais de que isso pode
mudar ainda são tênues.
"Dinheiro pode ser importante", diz o tuxaua Mateus Cós
(ao lado)
Fotos: Ricardo Stuckert  
Com terras garantidas e população crescente, pode parecer que a situação dos índios se encontra agora sob controle. Não é bem assim. O maior desafio da atualidade é manter viva sua riqueza cultural. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia em torno de 1.300 línguas indígenas. Atualmente existem 170. O pior é que cerca de 35% dos 210 povos com culturas diferentes têm menos de 200 pessoas. Os jumas, por exemplo, viviam no século XVIII perto do Rio Purus, na divisa do Acre com o Amazonas, e eram 15.000 pessoas. Tidos como cordiais e amigáveis, muitos viraram escravos na época da colonização e parte da tribo foi dizimada. Na década de 90, restavam apenas três representantes da etnia: duas velhas índias, Baru e Inté, e o jovem guerreiro Karé, morto por uma onça há quatro anos. Foi o fim de mais um povo indígena e de sua cultura. "Cada vez que isso acontece, o prejuízo é terrível, incalculável", diz Carlos Alberto Ricardo, coordenador do Programa Rio Negro, do Instituto Socioambiental.
Entre os povos ameaçados estão os ianomâmis, que foram os últimos a ter contato com a civilização. Vivendo nas cabeceiras dos rios Negro e Branco, sua população atual chega a pouco mais de 8.000 pessoas. O encontro com garimpeiros, que invadem suas terras, trazendo doenças, violência e alcoolismo, abala a estabilidade do povo. No final da década de 80 e no início da de 90, 2.200 ianomâmis morreram em virtude da malária, em primeiro lugar, e da violência. Entre os índios, os garimpeiros são conhecidos por outro nome: os "comedores de terras". Calcula-se que 300.000 garimpeiros entraram ilegalmente em terras indígenas na Amazônia. Mas o problema não é insolúvel. Na aldeia Nazaré, onde moram 78 ianomâmis, foram expulsos pela Polícia Federal. E, sobretudo, já existem lugares onde a cultura indígena convive bem com a chegada da civilização, como no município de São Gabriel da Cachoeira (leia reportagem).
A aldeia Nazaré, na área rural de São Gabriel, é um bom exemplo de como muitos índios da Amazônia ainda conseguem viver como seus antepassados. O tuxaua Mateus Cós Santos, de 49 anos, chefe da tribo, sabe da riqueza da região, que segundo os geólogos é farta em jazidas de ouro. Admite que "ganhar dinheiro pode ser importante", mas depois de algumas prioridades. Na realidade, os índios ainda vivem como antigamente, em comunidade. Partilham o que ganham e produzem coletivamente, ajudando tribos vizinhas na caça e na pesca. Entre eles, não existe propriedade privada. Ainda têm outras coisas com que se preocupar. Evitar que o céu caia sobre suas cabeças, por exemplo. Cabe aos pajés Nelson, Renato e Manuel, através de suas rezas durante as quais cheiram um pó chamado pariká, feito com ervas que lhes permitem conversar com os espíritos , evitar a tragédia, mantendo equilibradas as colunas que sustentam o mundo de cima.
O esforço das autoridades para manter a diversidade cultural entre os índios pode evitar o desaparecimento de muita coisa interessante. Um quarto de todas as drogas prescritas pela medicina ocidental vem das plantas das florestas e três quartos foram colhidos a partir de informações de povos indígenas. Na área da educação, a língua tucana, apesar do pequeno número de palavras, é comparada por lingüistas com a língua grega por sua riqueza estrutural possui, por exemplo, doze formas diferentes de conjugar o verbo no passado. Permanece a questão de como ficará o índio num mundo globalizado, mas pelo menos já se sabe o que é preciso preservar.

 fonte: http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/p_052.html

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Inovação na governança da água e aprendizagem social no Brasil

por Pedro Jacobi*
O maior desafio é viabilizar uma política abrangente, envolvendo a sociedade civil em processos de consulta e decisórios na gestão da água.
1150 Inovação na governança da água e aprendizagem social no BrasilA gestão de bacias hidrográficas assume crescente importância no Brasil à medida que aumentam os efeitos da degradação ambiental sobre a disponibilidade de recursos hídricos. Em termos de evolução das políticas públicas no Brasil, observam-se importantes avanços no setor ao longo dos últimos 20 anos.
O país tem uma legislação integrada e descentralizada, principalmente com a edição da Lei Federal no 9.433, em 8 de janeiro de 1997, e a criação da Agência Nacional de Águas (ANA). Esta reorganização do sistema de gestão de recursos hídricos devolve o poder para as instituições descentralizadas das bacias, o que demanda um processo de negociação entre os diversos agentes públicos, usuários e sociedade civil organizada. À ANA cabe participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e prestar apoio, na esfera federal, à elaboração dos planos de recursos hídricos. Estes planos, além de investimentos, incluem ações voltadas ao fortalecimento do sistema de gestão de recursos hídricos da bacia, implantação dos sistemas de informações, de redes de monitoramento e instituições de gerenciamento. Cabe também à ANA a outorga, por meio de autorização, do direito de uso de águas de domínio da União, assim como fiscalizar diversos usos, e arrecadar, distribuir e aplicar as receitas auferidas de cobrança.
Atualmente, na gestão hídrica, enquanto arcabouço conceitual, o termo “governança” representa um enfoque conceitual que propõe caminhos teóricos e práticos alternativos, que façam uma real ligação entre as demandas sociais e sua interlocução em nível governamental. A busca por um aperfeiçoamento da gestão ocorre em razão da compreensão de que existe uma diversidade de situações e que isto representa um desafio para efetivar uma governança das águas, seja em sua origem, objetivos e níveis de alcance.
A adoção da bacia hidrográfica como unidade regional de planejamento e gerenciamento das águas resultou na delimitação de Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cujos órgãos consultivos e deliberativos de gerenciamento são denominados Comitês de Bacias Hidrográficas. O sistema baseado na tríade descentralização, participação e integração, considera principalmente a qualidade e a quantidade das águas por meio de ações que promovam os usos múltiplos dos recursos hídricos. A efetivação do processo de gestão em bacias hidrográficas ainda é embrionária, e a prioridade dos organismos de bacia se centra na criação dos instrumentos necessários para gerir. A lei ainda fortalece a gestão descentralizada de cada bacia hidrográfica, distribuindo atribuições aos comitês, subcomitês e agências, estabelece como fundamento que a água é dotada de valor econômico e institui a cobrança pelo uso do recurso como um dos principais instrumentos de atuação destes órgãos.
Portanto, a fórmula proposta é uma gestão pública colegiada dos recursos, com negociação sociotécnica por meio de Comitês de Bacias Hidrográficas e se reserva à sociedade civil uma responsabilidade central na condução da política e da gestão dos recursos hídricos. Os usuários da água, fundamentalmente, terão que se organizar e participar ativamente dos grupos de gestão, defender seus interesses quanto aos preços a serem cobrados pelo uso, assim como a aplicação dos recursos arrecadados e a concessão justa das outorgas dos direitos de uso. Obviamente, estes acertos e soluções serão conseguidos a partir de complexos processos de negociações e resolução de conflitos.
A lógica do colegiado permite que os atores envolvidos atuem, em princípio, tendo um referencial sobre seu rol, responsabilidades e atribuições, no intuito de neutralizar práticas predatórias orientadas pelo interesse econômico ou político. A dinâmica do colegiado facilita uma interação mais transparente e permeável no relacionamento entre os diferentes atores envolvidos – governos, empresários e usuários. Isto limita as chances de abuso do poder, entretanto não necessariamente da manipulação de interesses pelo Executivo. Isso dependerá, principalmente da capacidade de organização dos segmentos da sociedade civil. Outros riscos são sensivelmente atenuados, como por exemplo, a captura da instituição por interesses específicos, que contrastam com a sua  finalidade coletiva.
Para garantir uma participação mais abrangente da sociedade na gestão dos recursos hídricos, faz-se necessária uma redefinição do papel de poder em que se situam os peritos em relação aos leigos. No cotidiano das práticas de implementação da legislação, tem-se configurado redes sociais diversas para coletar informações, formar opiniões, legitimar pontos de vista, que contínua e inevitavelmente implicam redefinições das relações de poder.
O grande desafio é que esses espaços sejam efetivamente públicos, tanto no seu formato quanto nos resultados. A dimensão do conflito lhes é inerente, como é a própria democracia. Assim, os espaços de formulação de políticas onde a sociedade civil participa, marcados pelas contradições e tensões, representam um avanço na medida em que publicizam o conflito e oferecem procedimentos – discussão, negociação e voto – e espaço para que seja tratado de forma legítima.
A criação de condições para uma nova proposta de sociabilidade deve ser crescentemente apoiada em processos educativos orientados para a “deliberação pública”. Esta se concretizará principalmente pela presença crescente de uma pluralidade de atores que, por meio da ativação do seu potencial de participação, terão cada vez mais condições de intervir consistentemente e sem tutela nos processos decisórios de interesse público, legitimando e consolidando propostas de gestão baseadas na garantia do acesso à informação, e na consolidação  de canais abertos para a participação que,  por sua vez, são pré-condições básicas para a institucionalização do controle social. Não basta assegurar legalmente à população o direito de participar da gestão ambiental, estabelecendo-se conselhos, audiências públicas, fóruns, procedimentos e práticas. Isto implica em mudanças no sistema de prestação de contas à sociedade pelos gestores públicos e privados, mudanças culturais e de comportamento. Dependemos de uma mudança de paradigma para assegurar uma cidadania efetiva,  uma maior participação e a promoção do desenvolvimento sustentável.
Havendo vontade política e não se permitindo práticas de cooptação, o papel dos diversos instrumentos de participação na gestão poderão mudar os padrões de governança, estabelecendo novas mediações entre Estado e sociedade civil, baseadas no aprimoramento dos princípios de participação na gestão descentralizada e compartilhada dos recursos hídricos e das políticas ambientais.
* Pedro Roberto Jacobi é professor titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo, e coordenador do Grupo de  Pesquisa GovAgua USP e do TEIA USP – Laboratório de Educação e Ambiente.
**Publicado originalmente no site do Instituto Akatu.


http://envolverde.com.br/ambiente/agua/inovacao-na-governanca-da-agua-e-aprendizagem-social-no-brasil/

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Por uma nova economia energética

por Ricardo Abramovay*
1161 300x193 Por uma nova economia energéticaÉ necessário desfazer a ilusão, difundida amplamente por Al Gore, de que os Estados Unidos podem tornar-se independentes dos combustíveis fósseis nos próximos dez anos. Mesmo que o esforço nessa direção seja equivalente ao mobilizado durante a Segunda Guerra Mundial, levará ao menos três décadas para que fontes alternativas substituam o petróleo na matriz energética norte-americana. Os custos adicionais da construção de novas usinas nucleares, após o acidente de Fukushima, só tendem a dilatar esse prazo.
Ao mesmo tempo, ninguém ignora que é exatamente nos próximos 30 anos que o mundo vai enfrentar dois desafios civilizacionais inéditos: o primeiro é o pico do petróleo, ou seja, o momento em que sua exploração entrará em declínio terminal. O segundo, mais grave, refere-se ao fato de que as emissões de gases de efeito estufa devem iniciar trajetória seriamente declinante ainda na atual década, sob pena de se chegar ao final do século com alterações climáticas capazes de provocar catástrofes das quais o furacão Katrina oferece apenas uma pálida ideia.
A ponte que vai permitir a travessia para o fim da era fóssil não depende de um graal energético supostamente contido no hidrogênio, no prometido sequestro de carbono, nos biocombustíveis, nas turbinas eólicas ou na descoberta de telúrio que viabilize o uso em larga escala do solar fotovoltaico. Estas contribuições são relevantes, mas não garantem o essencial: a transição para uma economia de baixo carbono. O mais importante é alterar radicalmente a maneira como se faz a gestão da energia no mundo contemporâneo, particularmente nos Estados Unidos. E a mudança tem de ocorrer enquanto petróleo, carvão e gás ainda forem os combustíveis mais importantes da economia mundial.
Nos últimos 40 anos, Robert Ayres tem trabalhado na formulação de uma teoria econômica em cujo centro esteja o reconhecimento de que a vida social não depende apenas de capital e trabalho, mas também, e cada vez mais, de energia e matéria. Por incrível que pareça, essa dependência não integra o pensamento econômico que, desde o Século 18, se desenvolve separando-se da natureza e só considerando sua existência em momentos de escassez, tratados sempre como episódios passageiros, antecâmaras de nova bonança.
Neste livro, escrito com Edward Ayres (que durante muitos anos foi diretor do Worldwatch Institute), Robert Ayres propõe não uma fórmula mágica e sim um conjunto de políticas que sirvam como ponte para atravessar os próximos anos. Travessia difícil (pois abala convicções e interesses arraigados), mas indispensável e promissora para a sociedade e para o mundo dos negócios.
É bem sabido que o crescimento da economia mundial apoia-se em ganhos crescentes de eficiência energética: cada unidade de PIB é obtida com uso cada vez menor de energia e materiais. A transição dos próximos 30 anos exige, porém, que esses ganhos de eficiência sejam acelerados. É tecnicamente possível, por exemplo, dobrar a quantidade de serviços úteis que se extraem de uma unidade de energia nos Estados Unidos num prazo bastante curto, garantem os autores.
A cogeração de energia, por exemplo, levada adiante por cerca de mil indústrias americanas, poderia ser imediatamente multiplicada por dez. Isso significaria garantir cerca de 10% da capacidade de geração de energia elétrica norte-americana sem gastar um barril de petróleo ou um grama de carvão, e a custos bem menores que os envolvidos na construção de usinas termelétricas. Mais importante ainda é constatar a impressionante ineficiência das grandes centrais de energia elétrica movidas a carvão, que, nos últimos 40 anos, mantêm um padrão tecnológico quase inalterado. No cálculo dos autores, de cada sete unidades de trabalho potencial (ou seja, do serviço realmente prestado pela oferta de energia) com base em usinas elétricas a carvão, apenas uma unidade se transforma em algo útil para a sociedade. É impressionante o contraste entre o avanço representado pelo iPad e a base energética sobre a qual ele repousa.
Outro campo em que a eficiência pode estar mais no uso do que na mudança da fonte de energia é a produção combinada de calor e eletricidade (CHP, na sigla em inglês), que pressupõe o estímulo a formas descentralizadas de energia – que se chocam com os interesses das grandes usinas termelétricas. Enquanto nos Estados Unidos apenas 8% da energia elétrica vem de CHP, a Dinamarca já chegou a 51%, a Finlândia a 37% e a China a 18%.
Mas os padrões de consumo domiciliar também terão que ser alterados de forma significativa: as residências alemãs consomem 210 kWh por metro quadrado, em média. Nas novas construções, esse patamar caiu para 95 kWh e nas construções voltadas à economia de energia e materiais chega-se a 20 kWh. Este tipo de construção já avança na Europa desde os anos 1990, mas nos Estados Unidos a primeira ainda não tinha ficado pronta em 2009.
Essa mudança vai alterar igualmente o conceito de mobilidade. É difícil imaginar algo energeticamente mais ineficiente do que duas toneladas de aço, vidro e borracha para transportar um ser humano por vias congestionadas. E é bom lembrar que os motores a álcool ou elétricos pouco alteram essa ineficiência, que só será enfrentada quando a prestação do serviço de mobilidade em condições adequadas a diferentes necessidades for mais importante do que possuir um automóvel.
A ideia, tão corriqueira, de que, se esses caminhos de transição fossem tecnicamente viáveis e, de fato, positivos, o mercado já os teria levado adiante, é falsa. As crenças e os interesses consolidados em torno dos atuais padrões de produção e de consumo freiam seu avanço. Na verdade, a construção do futuro energeticamente limpo já começou. Ela tem que ser dramaticamente acelerada e, para isso, a condição é que a eficiência no uso de energia e materiais passe a ocupar, de fato, o centro da inovação tecnológica contemporânea. E é claro que isso não se refere apenas aos Estados Unidos.
Crossing the Energy Divide
Robert U. Ayres e Edward H. Ayres. Wharton. 256 págs., R$ 22,32
*Ricardo Abramovay é professor titular do departamento de Economia da FEA, do Instituto de Relações Internacionais da USP, coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental, pesquisador do CNPq e da Fapesp. www.abramovay.pro.br. Este texto também foi publicado no Valor Econômico.
**Publicado originalmente no site Outras Palavras.








http://envolverde.com.br/ambiente/artigo/por-uma-nova-economia-energetica/

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Código Florestal

APRENDER A CONVERSAR
 Pode ser uma aposta arriscada, mas estou cada vez mais convencida (como também estão alguns ambientalistas e produtores rurais que entrevisto vez ou outra) que nenhum dos lados da disputa em torno do Código Florestal terá força para empurrar a sua visão unilateralmente.

Em outras palavras, se a reforma proposta por Aldo Rebelo passar, eu é que ficarei passada. Seria necessário que o Senado e depois a própria presidente resistissem não somente à enorme pressão interna do movimento ambientalista, mas também às pressões internacionais que patrulham o que o Brasil faz de suas florestas.

Se o governo não achasse que esse caminho é uma encrenca, não estaria costurando uma proposta alternativa entre seus ministérios e com apoio técnico de todos os lados. Foram 10 mil manifestantes a favor da reforma que está na mesa, em Brasília, ontem. A reação, chamada de Marcha em Defesa do Código Florestal, está marcada para amanhã. Quantos serão?

Recentemente reencontrei um velho amigo, facilitador profissional de processos participativos, que estava me explicando por que o voto é o pior método para se chegar a qualquer decisão coletiva. O voto exclui a inteligência da minoria. É comum que as ideias mais criativas e transformadoras sejam justamente as minoritárias. Às vezes a hora daquela ideia não chegou, mas é importante que ela esteja incluída no construto final, e que tenha a oportunidade de ganhar força. “Isso é inteligência coletiva”, disse ele.

Imediatamente pensei no Código Florestal. Pensei que a tarefa de dar uma direção definitiva a esse impasse só pode ser realizada se for fruto da inteligência coletiva. Nenhum grupo de poderosos ou formadores de opinião dará conta do recado sozinho, porque a insatisfação dos demais será insustentável. Enquanto a briga segue polarizada, perde-se a oportunidade de lançar luz às inúmeras vias de convergência que estão aí, escondidinhas, só esperando para entrar em pauta.
PS: Tinha planejado comentar a decisão da OEA de requerer a suspensão das obras de Belo Monte. Mas a Natália Suzuki, do blog Janela de Babel, já disse tudo e mais um pouco. Recomendo a leitura!

Foto: João Ramid
 

SONHOS de Akira Kurosawa

http://www.youtube.com/watch?v=ZwVRKbGeCAI

segunda-feira, 4 de abril de 2011

As dez florestas mais ameaçadas do mundo

No Ano Internacional das Florestas – lançado pela ONU, a Conservação Internacional chama a atenção o para a necessidade de se proteger as florestas

Arlington, VA - EUA, 02 de fevereiro de 2011 —

Para marcar o início do Ano Internacional das Florestas, a Conservação Internacional (CI) lança hoje a lista dos dez hotspots florestais mais ameaçados do mundo. Os chamados ”hotspots de biodiversidade” são áreas de extrema riqueza biológica, com elevado índice de espécies únicas de animais e plantas, e que se encontram altamente degradados e sob risco de extinção.

No caso dos dez hotspots florestais mais críticos, todos já perderam 90% ou mais de sua cobertura original e cada um abriga pelo menos 1.500 espécies de plantas endêmicas, ou seja, que só existem ali. Eles incluem florestas no sudeste asiático, na Nova Zelândia, nas montanhas do sudoeste da China, na região costeira da África Oriental e na ilha de Madagascar. O Brasil aparece na lista com a Mata Atlântica, da qual restam apenas 8% da cobertura original, e que abriga cerca de 20 mil espécies de plantas, 40% das quais endêmicas. (Veja no quadro abaixo a localização e detalhes de cada uma das florestas).

“O Ano Internacional de Florestas deve chamar a atenção do mundo para a necessidade do aumento de proteção das florestas, pela sua vital importância para a conservação da biodiversidade, a estabilização do clima e o desenvolvimento econômico”, afirma Olivier Langrand, diretor de política internacional da CI.

As florestas cobrem apenas 30% da área de nosso planeta e ainda assim abrigam 80% da biodiversidade terrestre do mundo. Elas também garantem o sustento de 1,6 bilhão de pessoas, que dependem diretamente de florestas saudáveis para sobreviver. As interações entre as espécies e os ecossistemas fornecem muitas das necessidades mais básicas para a sobrevivência humana na Terra, tal como ar puro, solos saudáveis, remédios, polinização de safras agrícolas e água doce.

A função das florestas na estabilização do clima também deve ser reconhecida, visto que emissões resultantes da destruição de florestas representam aproximadamente 15% das emissões totais de gases do efeito estufa. Os dez hotspots florestais mais ameaçados do mundo armazenam mais de 25 gigatons de carbono, auxiliando na mitigação dos efeitos da mudança climática.

“As florestas estão sendo destruídas a uma taxa alarmante para dar lugar a pastagens, plantações, mineração e expansão de áreas urbanas. Com isso, estamos destruindo nossa própria capacidade de sobreviver,” aponta Langrand. “As florestas não podem ser vistas apenas como um grupo de árvores, mas como fornecedores de benefícios vitais. Elas são importante fator econômico no desenvolvimento de diversas cidades, fornecendo madeira, alimento, abrigo e recreação, e possuem um potencial ainda maior que precisa ser percebido em termos de provisão de água, prevenção de erosão e remoção de carbono”.

Em adição a sua relevância para a biodiversidade e a estabilização do clima, as florestas são os mais importantes reservatórios de água doce do planeta. Cerca de três quartos da água doce acessível do mundo vêm de vertentes florestais e dois terços de todas as maiores cidades em países em desenvolvimento dependem das florestas em suas cercanias para seu suprimento de água limpa.

 “Visto que a população global está projetada para atingir o total de até 9 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, o acesso à água ficará mais difícil se milhões de hectares de florestas tropicais continuarem a ser queimados todos os anos”, explica Tracy Farrell, diretora do Programa de Conservação de Água Doce da Conservação Internacional. “Excetuando-se as instalações de dessalinização, que são economicamente muito caras, ainda não encontramos outra forma de manter nosso suprimento de água doce a não ser protegendo as florestas remanescentes ao redor do mundo”.

“Durante este Ano Internacional das Florestas, encorajamos fortemente os países a realizar uma nova abordagem na proteção e preservação de suas florestas, que são ativos importantes globalmente,” adiciona Langrand. “Florestas saudáveis são uma parte importante do capital natural e nos oferecem os melhores meios econômicos para enfrentar os diversos desafios ambientais da mudança climática e a crescente demanda por produtos florestais”.

Veja abaixo a classificação e os detalhes sobre os 10 Hotsposts Florestais Mais Ameaçados do Mundo, por percentual de hábitat original remanescente:

1 - Regiões da Indo-Birmânia (Ásia-Pacífico)

Os rios e pântanos desse hotspot são extremamente importantes para a conservação de aves, tartarugas e peixes de água doce, incluindo alguns dos maiores peixes de água doce do mundo. O Lago Tonle Sap e o Rio Mekong são hábitats para a lampreia gigante Mekong (Pangasianodon gigas) e a carpa dourada de Jullien (Probarbus jullieni). Seus ecossistemas aquáticos estão sob intensa pressão em diversas áreas, e muitas áreas alagáveis de suas planícies aluviais de água doce foram destruídas pelo cultivo de arroz. Os rios foram represados para gerar eletricidade, resultando no alagamento de bancos de areia e outros hábitats que normalmente seriam expostos durante a estação seca, com impactos severos sobre ninhos de aves e espécies de tartarugas. A conversão de mangues em reservatórios de aquicultura de camarão, a pesca excessiva e o uso de técnicas de pesca destrutiva são também problemas graves para os ecossistemas costeiros e de água doce. Hoje subsistem apenas 5% do hábitat original.

2 – Nova Caledônia (Oceania)

Um arquipélago montanhoso uma vez dominado pelas florestas temperadas, a Nova Zelândia é uma terra de paisagens variadas e abriga extraordinários índices de espécies endêmicas, incluindo seu representante mais famoso, o kiwi. Nenhum de seus mamíferos, anfíbios ou répteis é encontrado em outro lugar do mundo. Curiosamente, as duas espécies registradas de mamíferos terrestres endêmicos são morcegos. Hoje, espécies invasoras representam uma séria ameaça à flora e à fauna das ilhas da Nova Zelândia. Com a chegada dos europeus no início do século 19, foram levadas ao arquipélago 34 espécies exóticas de mamíferos (incluindo gambás, coelhos, gatos, cabras e furões) e centenas de espécies de ervas daninhas invasoras. Somando-se o impacto da caça e da destruição de hábitats, os últimos duzentos anos testemunharam a extinção de inúmeras espécies de aves, invertebrados, plantas e de um morcego e um peixe endêmicos. Diversas outras espécies sobrevivem apenas em pequenas populações nas ilhas. A destruição de hábitats, de florestas e a drenagem de pântanos são também problemas-chave. Há apenas 5% de remanescentes do hábitat original do arquipélago.

3 - Sunda (Indonésia, Malásia e Brunei – Ásia-Pacífico)

O hotspot de Sunda cobre a metade ocidental do arquipélago Indo-Maláio, um arco de cerca de 17 mil ilhas equatoriais, dominado pelas duas maiores ilhas do mundo: Boréo e Sumatra. Suas espetaculares flora e fauna estão sucumbindo devido ao crescimento explosivo da indústria florestal e do comércio internacional de animais que consome tigres, macacos e espécies de tartarugas para alimentos e remédios em outros países. Populações de orangotangos, encontradas apenas nessas florestas, estão em dramático declínio. Alguns dos maiores refúgios de espécies de rinocerontes do sudeste asiático são também encontrados nas ilhas de Java e Sumatra. Assim como ocorre na maioria das áreas tropicais, suas florestas estão sendo dizimadas para usos comerciais. A produção de borracha, óleo de dendê e celulose são os três principais fatores que levam à degradação e destruição da biodiversidade de Sunda. Em Sumatra, o corte e extração insustentável e ilegal de madeira e outros produtos florestais são generalizados para abastecer a alta demanda da China, América do Norte, Europa e Japão. Hoje, apenas cerca de 7% da extensão original da floresta permanecem mais ou menos intactos.

4 – Filipinas (Ásia-Pacífico)

Mais de 7.100 ilhas estão dentro das fronteiras do hotspot das Filipinas, identificado como um dos países mais ricos em biodiversidade do mundo. Diversas espécies endêmicas estão confinadas a fragmentos de florestas que cobrem apenas 7% da extensão original do hotspot. Isso inclui cerca de 6 mil espécies de plantas e diversas espécies de aves tais como a águia das Filipinas (Pithecophaga jefferyi), a segunda maior águia do mundo. Anfíbios endêmicos são também extraordinariamente grandes e ostentam espécies únicas tais como o sapo voador pantera (Rhacophorus pardalis), que passou por diversas adaptações para planar, incluindo abas extras na pele e membranas entre os dedos para gerar elevação ao planar. As florestas filipinas são também uma das áreas em maior perigo de destruição. Historicamente devastadas pela atividade madeireira, os hoje poucos remanescentes estão sendo dizimados pela agricultura e para acomodar as necessidades da alta taxa de crescimento populacional e severa pobreza rural do país. O sustento de cerca de 80 milhões de pessoas depende principalmente de recursos naturais provenientes das florestas.

5 – Mata Atlântica (América do Sul)

A Mata Atlântica se estende por toda a costa atlântica brasileira, alongando-se para partes do Paraguai, Argentina e Uruguai, incluindo também ilhas oceânicas e o arquipélago de Fernando de Noronha. A Mata Atlântica abriga 20 mil espécies de plantas, sendo 40% delas endêmicas. Ainda assim, menos de 10% da floresta permanece de pé. Mais de duas dúzias de espécies de vertebrados ameaçadas de extinção – listadas na categoria “Criticamente em Perigo” - estão lutando para sobreviver na região, incluindo micos-leões-dourados e seis espécies de aves que habitam uma pequena faixa da floresta no Nordeste. Começando com o ciclo da cana-de-açúcar, seguido das plantações de café, a região vem sendo desmatada há centenas de anos. Agora, a Mata Atlântica está enfrentando pressão por conta da crescente urbanização e industrialização do Rio de Janeiro e São Paulo. Mais de 100 milhões de pessoas, além da indústria têxtil, agricultura, fazendas de gado e atividade madeireira da região dependem do suprimento de água doce desse remanescente florestal.

6 – Montanhas do Centro-Sul da China (Ásia)

As Montanhas do Centro-Sul da China apresentam uma ampla gama de hábitats incluindo a flora temperada com a maior taxa de endemismo no mundo. O ameaçado panda gigante (Ailuropoda melanoleuca), que é quase totalmente restrito a essas pequenas florestas, é a bandeira da conservação da região. Essas montanhas também alimentam a maioria dos sistemas hídricos da Ásia, incluindo diversas ramificações do rio Yangtze. O Rio Mekong corta a província de Yunnan e o Laos, o Camboja e o Vietnã em seu curso até o mar do sul da China. O Nujiang atinge o Oceano Índico pela província de Yunnan e Burma. As atividades ilegais de caça, coleta de lenha e pastagem são algumas das principais ameaças à biodiversidade da região. A construção da maior barragem do mundo, a de Três Gargantas, no rio Yangtze, já ameaçou e continua ameaçando fortemente a biodiversidade da área. A construção de barragens está sendo planejada em todos os rios principais da floresta, o que deve afetar os ecossistemas e a subsistência de milhões de pessoas. Ao todo, apenas cerca de 8% da extensão original do hotspot permanecem em condições inalteradas.

7 – Província Florística da Califórnia (América do Norte)

A Província Florística da Califórnia é uma zona de clima do tipo mediterrâneo, que possui altos índices de plantas endêmicas. É o lar da sequoia gigante, o maior organismo vivo do planeta, e alguns dos últimos condores da Califórnia, a maior ave da América do Norte. É o local de maior reprodução de aves dos Estados Unidos. Diversas espécies de grandes mamíferos antes encontrados nesse local estão extintas, incluindo o urso cinzento (Ursus arctos), que aparece na bandeira da Califórnia e tem sido símbolo do estado há mais de 150 anos. A vasta destruição causada pela agricultura comercial é uma grande ameaça para a região, que gera metade de todos os produtos agrícolas utilizados pelos consumidores dos EUA. O hotspot é também fortemente ameaçado pela expansão de áreas urbanas, poluição e construção de estradas, o que tornou a Califórnia um dos quatro estados mais ambientalmente degradados do país. Hoje, apenas cerca de 10% da vegetação original permanecem mais ou menos intacta.

8 – Florestas Costeiras da África Oriental (África)

Apesar de pequenos e fragmentados, os remanescentes que formam as Florestas Costeiras da África Oriental contêm níveis extraordinários de biodiversidade. As 40 mil variedades cultivadas da violeta africana, que forma a base de um comércio global de folhagens que movimenta US$100 milhões anualmente, são todas derivadas de um punhado de espécies encontradas nas florestas costeiras da Tanzânia e do Quênia. Cerca de 200 mamíferos são encontrados no hotspot, sendo 11 endêmicos, incluindo o musaranho-elefante (Rhynchocyon chrysopygus). Os primatas são espécies-símbolo para esse hotspot, incluindo três espécies de macacos endêmicos, duas das quais podem ser encontradas ao longo do rio Tana, que corta o Quênia Central. A expansão agrícola continua sendo a maior ameaça para as Florestas Costeiras da África Oriental. Devido à pobre qualidade do solo e a uma tendência de crescimento populacional, a agricultura de subsistência, assim como as fazendas comerciais, continua a consumir mais e mais dos recursos naturais da região, com apenas 10% restante das florestas originais.

9 - Madagascar e ilhas do Oceano Índico (África)

Este hotspot é um exemplo vivo da evolução de espécies em isolamento. Apesar da proximidade com a África, as ilhas não compartilham quaisquer dos grupos típicos de animais do continente vizinho. Ao invés disso, elas contêm uma exuberante coleção única de espécies, com altos níveis de endemismo. Madagascar e o grupo de ilhas vizinhas possuem um total impressionante de oito famílias de plantas, quatro famílias de aves e cinco famílias de primatas que não existem em nenhum outro lugar da Terra. As mais de 50 espécies de lêmures de Madagascar são os carismáticos embaixadores para a conservação da ilha, embora diversas espécies já tenham entrado em extinção. Em uma área que é das mais prejudicadas economicamente no mundo, a alta taxa de crescimento populacional está colocando uma enorme pressão sobre o ambiente natural. A agricultura, a caça e a extração não sustentável de madeira, além da mineração em grande e pequena escalas, são ameaças crescentes. Estima-se que restam apenas 10% do hábitat original. A proteção desses remanescentes é de suma importância já que metade da população não tem acesso adequado à água doce.

10 – Florestas de Afromontane (África Oriental)

As montanhas do hotspot de Afromontane Oriental são dispersas ao longo da extremidade oriental da África, desde a Arábia Saudita ao norte até o Zimbábue ao sul. Embora geograficamente dispersas, as montanhas que compreendem esse hotspot possuem flora extraordinariamente similar. O gênero de árvore mais frequente é o Podocarpus, embora o Juniperus seja encontrado em florestas mais secas da África nordeste e oriental. Uma zona de bambu é normalmente encontrada entre as altitudes de 2 e 3 mil metros, acima da qual existe uma zona de floresta Hagenia, até uma altitude de 3.600 metros. O Vale do Rift abriga mais mamíferos, aves e anfíbios endêmicos do que qualquer outra região da África. O evento geográfico que criou as montanhas desse hotspot também gerou alguns dos mais extraordinários lagos do mundo. Devido aos grandes lagos, um grande montante de diversidade de peixes de água doce pode ser encontrado na região, que é o hábitat de 617 espécies endêmicas. Assim como na maioria das áreas tropicais, a principal ameaça a essas florestas é a expansão da agricultura, especialmente com grandes plantações de banana, feijão e chá. Outra ameaça relativamente nova, que coincide com o aumento da população, é o crescente mercado de carne. Hoje, apenas 11% de seu hábitat original permanecem intacto.

Imagens (foto e vídeo) estão disponíveis na Conservação Internacional mediante solicitação.
Para saber mais sobre os hotspots acesse http://www.conservacao.org/noticias/noticia.php?id=71

Para mais informações:

Gabriela Michelotti, gerente de comunicação da Conservação Internacional (CI-Brasil)
g.michelotti@conservation.org escritório: +61 3226 2491; celular: +31 8407 7125

Kim McCabe, Diretora, assessoria de imprensa internacional, Conservação Internacional (CI EUA)
kmccabe@conservation.org ; escritório: +1 703-341-2546;  celular: +1 202-203-9927

Patricia Yakabe Malentaqui, Gerente, assessoria de imprensa internacional, Conservação Internacional (CI EUA)
pmalentaqui@conservation.org ; escritório: +1 703-341-2471; celular: + 1 571 225 8345

Kelsey Rosenbaum, Coordenadora, assessoria de imprensa internacional, Conservação Internacional (CI EUA)krosenbaum@conservation.org;  escritório: 703-341-2853

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...