sexta-feira, 25 de abril de 2014

Seu futuro sapato poderá ser feito com fibra de coco

por Vanessa Daraya - Info.com - 24/04/2014

Nem todo mundo sabe, mas os sapatos também agridem - e muito - o meio ambiente. O setor calçadista é muito poluente e a questão ambiental costuma ser deixada de lado pelos designers e fabricantes. Cientistas estão preocupados com isso e já buscam alternativas. No futuro, por exemplo, seu sapato poderá ser feito com fibra de coco.

O consumo de água de coco no Brasil é intenso e, apesar de ter potencial para ser reutilizado, seu descarte indevido gera problemas ambientais. Além de poluir o ar seus restos podem virar foco de animais e parasitas, quando descartados de forma irregular. Uma forma de reutilizar esse material e ainda ajudar o setor calçadista é usar a fibra do coco no solado dos sapatos.

A ideia é de Célia Regina da Costa, bacharel em têxtil e moda pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. "Como a fibra usada é oriunda do descarte do produto após o consumo da água do coco, a matéria-prima não é retirada direto de fontes como florestas, o que causaria o desmatamento", disse a INFO.

Para provar que seu projeto é viável, Célia analisou em seu mestrado a história do setor calçadista, a anatomia do pé, os tipos de sapatos usados pela humanidade, entre outros fatores. Um estudo aprofundado da fibra vegetal (fibra do coco verde) permitiu que Célia criasse um sistema para separar as fibras do coco verde e depois empregasse o material na fabricação de um solado de sapato.

A fabricação desse solado começa na coleta nos postos de vendas de água de coco. Os cocos são abertos e a parte externa (onde estão as fibras) é separada da interna (onde fica a parte comestível).

As partes com a fibra são colocadas em tanques de água por alguns dias. Depois, passam por uma máquina específica para uma melhor separação das fibras, que são lavadas em água para a remoção das impurezas.

Depois de secas, as fibras são misturadas com uma resina. Essa "mistura" vai, então, para a forma do solado que se deseja fabricar e deve secar a temperatura ambiente. O resultado é um solado de fibra de coco que pode reduzir a quantidade de matéria-prima usada nos sapatos responsável por causar danos ao planeta.

"Também colaboramos com a redução e a diminuição do lixo gerado pelo comércio da água de coco e a aglomeração e proliferação de animais como os roedores", disse. Segundo Célia, a decomposição do coco verde gasta em torno de 10 a 12 anos na natureza. Além disso, as cascas do coco verde são de origem orgânica, logo, sofrem um processo de decomposição pela ação de micro-organismos. Esse processo gera o gás metano (CH4), que contribui para o efeito estufa.

Mas os benefícios não se restringem apenas ao meio ambiente. Dar um uso ao coco verde descartado também pode gerar oportunidades no mercado de trabalho e fonte de renda para a sociedade local, como nas beiras de regiões praieiras. "A população pode se envolver na coleta e seleção ou até mesmo na elaboração das fibras e produção das partes do calçado feitas com a fibra do coco verde", afirmou.

A técnica também evita a poluição visual e ajuda a reeducar a população a dar um melhor descarte ao coco verde. "As pessoas pensam melhor na hora do descarte desse tipo de lixo orgânico quando sabem que ele pode ter um uso específico", disse.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Tecnologias evitarão emissões de poluentes?

mais uma preciosidade de Washington Novaes*

Por onde vamos caminhar? Cientistas que se têm dedicado à área do clima não se cansam de advertir que é preciso mudar radicalmente, e com urgência, nossos modos de consumir energia (e emitir poluentes). Os mais céticos, entretanto, lembram que o país mais empenhado nessa direção, a Alemanha, não tem conseguido mudar o quadro – pois, embora esteja fechando usinas movidas pela queima de carvão e estimule formatos alternativos de energia, ainda assim o consumo desse combustível fóssil bateu o recorde de duas décadas em 2013. Na China – país que mais investe hoje em energias renoveis – também o consumo de carvão continua a bater recordes. O Painel do Clima discutiu esse assunto na última reunião, em Berlim.

Por isso cresce também o número dos que acreditam que os caminhos para reduzir emissões estejam em novas tecnologias, que permitam continuar a usar as fontes poluentes, mas impedindo ao mesmo tempo que os gases cheguem à atmosfera. Como há quem acredite que novas tecnologias permitirão reduzir o fluxo de rios e evitar grandes inundações, desviando para afluentes os resíduos que assoreiam os cursos d’água ou criando lagos artificiais às margens.

Os adeptos de novas tecnologias começam a entusiasmar-se. Como, por exemplo, os que propõem e já estão testando tecnologias para usar energia excedente de usinas eólicas ou solares, que custaria muito caro estocar em baterias, estocando-a em blocos de lama gelados nos períodos em que as usinas estejam paradas por falta de ventos ou de sol. Outro caminho é o de empresas que vão usar baterias de lítio para abastecer carros elétricos – uma tecnologia que já foi testada com êxito em carros elétricos esportivos, mas não nos veículos comuns (New Scientist, 8/3). Outra empresa ainda trabalha com a tecnologia de estocar energia num tipo de vidro quase líquido, viscoso, produzido especialmente para isso – e que pode ser bombeado para onde for necessário. O projeto piloto será numa fábrica de alumínio.

Quase 150 anos depois do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, desenvolvem-se ainda projetos para converter a energia térmica do mar em formatos utilizáveis e que substituam os atuais poluentes. Segundo a New Scientist, é um caminho em desenvolvimento numa das grandes empresas do setor, a Lockheed Martin, que afirma poder prover até 4 mil vezes a energia consumida em um ano no mundo. Basicamente, trata-se de bombear água de temperaturas mais profundas e mais frias para camadas a 100 metros da superfície, mais quentes. E através de um sistema que usa amônia, o vapor trazido de maior profundidade, com temperaturas 20 graus inferiores, aciona uma turbina que gera eletricidade.

O sistema poderia operar durante as 24 horas do dia. Seria adequado para regiões tropicais e subtropicais. Uma usina de 100 MW custaria US$ 790 milhões para implantar. E a energia produzida custaria US$ 0,18 por quilowatt/hora (hoje as usinas a carvão têm custo de US$ 0,14 e as solares, de US$ 0,14 a US$ 0,26). Já há projetos em Okinawa (Japão), no Havaí, na Holanda e em Curaçau (Caribe). Em parte deles a energia solar é usada para aquecer a água mais profunda. Mas têm sido criticado por cientistas conceituados, segundo os quais se corre o risco de proliferação de algas com sua transposição para áreas mais ricas em nutrientes e livres de bactérias. Já os donos da tecnologia asseguram que não; e que a tecnologia pode gerar 50% da energia consumida no mundo, sem contribuir para o aumento da temperatura planetária.

No Canadá vai entrar em atividade um projeto que captura o dióxido de carbono de uma usina movida a carvão, a maior do país, antes que ele se dissipe na atmosfera: 90% de 1,1 milhão de toneladas será levado por encanamentos para um aquífero salino, de modo a ser sepultado quilômetros abaixo do solo. É um caminho que também já mereceu críticas fortes de cientistas, para quem o sepultamento da poluição pode contaminar aquíferos e provocar abalos sísmicos. Mas para outros é esperança de continuar utilizando o carvão.

Por isso mesmo, continua de pé ainda a tecnologia de sequestrar gases da queima do carvão e utilizá-los na geração de energia – e isso seria suficiente para atender às necessidades de várias gerações à frente. Um dos caminhos seria a gaseificação subterrânea do carvão, a 300 metros da superfície, como se faz na Rússia desde a era de Stalin. Bombas especiais conduziriam os gases para a profundidade, onde seriam queimados, e outras trariam o produto para a superfície, onde seria utilizado como combustível, depurado da poeira do carvão, resfriado, comprimido e levado por tubulações para os locais de consumo. O relato na New Scientist (15/1) é do respeitado articulista Fred Pearce, segundo quem esse processo, se chegar à escala desejada, poderá permitir a utilização de “trilhões de toneladas de carvão”, hoje condenadas por causa das emissões. E por isso já há testes também na China, na África do Sul e no Canadá, que têm grandes estoques de carvão.

Na mesma direção de evitar emissões estão as experiências com veículos elétricos – como as que permitem utilizar baterias sem fio, que recarregam de energia o veículo quando ele estaciona para receber passageiro. Nas baterias utilizadas até aqui é preciso encontrar um posto de reabastecimento e ali permanecer durante horas, com o veículo conectado por cabo à fonte de energia. A nova tecnologia foi desenvolvida há décadas, mas a baixa eficiência não permitia sua utilização em escala maior. Agora, baseia-se em indução eletromagnética, com as próprias baterias do veículo, que transfere a energia com 90% de eficiência. E justamente por essa razão já está chegando a vários países.

Serão as tecnologias que tornam viáveis fontes condenadas capazes de substituí-las a tempo de evitar o agravamento dos problemas do clima?

* Washington Novaes é jornalista,  Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A cidade que temos. A cidade que queremos

Professora de Geografia em uma escola de Rondônia, Telma Oliveira Medeiros incentivou os alunos a elaborarem propostas de melhoria para o município de Ariquemes, onde vivem. O trabalho escolar foi um sucesso e acabou sendo apresentado à comunidade no auditório do Ministério Público Municipal

Paula Peres/Bruna Nicolielo - Nova Escola - 11/2013

Ilustração: Melissa Lagôa/Foto: Mateus Andrade-Imagem News




 

















Refletir sobre o desenvolvimento sustentável na prática era o objetivo da professora Telma Oliveira Medeiros quando propôs ao 9º ano da EE Heitor Villa-Lobos, em Ariquemes, a 198 quilômetros de Porto Velho, que elaborasse propostas de melhoria para o município. Assim, ela trabalhou os conteúdos previstos para essa etapa, como turismo ecológico, cidades e hábitos de consumo mundializados, além dos objetivos de desenvolvimento do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) com base na geografia local. Também discutiu dois conceitos indissociáveis – economia e meio ambiente. “Fala-se muito sobre a importância de desenvolver o planeta do ponto de vista econômico, mas ao mesmo tempo colocamos na cabeça das crianças que é preciso preservá-lo. Isso cria um nó. A solução é apresentar o conceito de sustentabilidade”, explica André Mascaro Peres, professor de Geografia do Colégio Ítaca, em São Paulo.

A professora iniciou o projeto apresentando vídeos da coleção Patrimônios da Humanidade, da Unesco, que retratam iniciativas sustentáveis realizadas por algumas cidades europeias. Assim, ela pretendia mostrar possibilidades reais de mudança, fazendo com que os alunos percebessem que se trata de algo que depende de pequenas e grandes ações. Após a apresentação, eles discutiram sobre o que tinham observado. “A ideia era sair dos exemplos europeus que vimos nos vídeos e começar a pensar no nosso entorno”, diz Telma. 

Refletir sobre o desenvolvimento sustentável na prática era o objetivo da professora Telma Oliveira Medeiros quando propôs ao 9º ano da EE Heitor Villa-Lobos, em Ariquemes, a 198 quilômetros de Porto Velho, que elaborasse propostas de melhoria para o município. Assim, ela trabalhou os conteúdos previstos para essa etapa, como turismo ecológico, cidades e hábitos de consumo mundializados, além dos objetivos de desenvolvimento do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) com base na geografia local. Também discutiu dois conceitos indissociáveis – economia e meio ambiente. “Fala-se muito sobre a importância de desenvolver o planeta do ponto de vista econômico, mas ao mesmo tempo colocamos na cabeça das crianças que é preciso preservá-lo. Isso cria um nó. A solução é apresentar o conceito de sustentabilidade”, explica André Mascaro Peres, professor de Geografia do Colégio Ítaca, em São Paulo.

A professora iniciou o projeto apresentando vídeos da coleção Patrimônios da Humanidade, da Unesco, que retratam iniciativas sustentáveis realizadas por algumas cidades europeias. Assim, ela pretendia mostrar possibilidades reais de mudança, fazendo com que os alunos percebessem que se trata de algo que depende de pequenas e grandes ações. Após a apresentação, eles discutiram sobre o que tinham observado. “A ideia era sair dos exemplos europeus que vimos nos vídeos e começar a pensar no nosso entorno”, diz Telma. 

A princípio, os jovens não acreditavam na possibilidade de adaptar os modelos a Ariquemes. “Ela nunca vai ficar assim!” ou “Ninguém gostaria de conhecê-la”, lamentavam.

Em seguida, Telma levou os estudantes ao laboratório de informática, onde tiveram acesso a textos sobre desenvolvimento sustentável, turismo ecológico e os objetivos de desenvolvimento do milênio da ONU. Também leram trechos do livro didático. Com base nas pesquisas, todos fizeram anotações e produziram textos individuais sobre o que tinham entendido a respeito do conceito de sustentabilidade.

Na próxima etapa, a classe fez uma mesa-redonda para socializar suas descobertas. À medida que todos apresentavam as informações e discutiam, Telma estimulava paralelos entre o que tinha sido visto e a cidade, levando-os a refletir sobre os problemas locais. Ela perguntou, por exemplo, qual era a relação dos temas presentes nos textos, como coleta de lixo, tratamento da água, reciclagem e saúde, com a cidade. 

A turma concordou que os assuntos tratados tinham tudo a ver com Ariquemes. Também ficou encantada com as possibilidades do turismo ecológico. “Quando os estudantes leram um artigo a respeito, começaram a pensar em alternativas. Algumas difíceis, mas possíveis”, explica a docente.

Nesse momento, é importante problematizar a viabilidade das ideias. “É possível fazer isso?”, “Como?” e “Que recursos financiariam nossas propostas?”. Essas perguntas levam a garotada a refletir sobre suas sugestões, considerando que as soluções nem sempre são simples ou dependem apenas da boa vontade das pessoas, mas também exigem a participação de outros agentes, como o governo.

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