por Davi Lira, do Porvir, 13-set-13
Mesmo estando mais presente na agenda de discussões da sociedade, a sustentabilidade é um tema que as pessoas já entenderam, mas ainda não incorporam completamente ao seu dia a dia. Isso é o que afirma o Instituto Akatu, ONG que está por trás da Edukatu, uma rede de aprendizagem virtual que busca, por meio de atividades educacionais lúdicas e interdisciplinares, estimular práticas de sustentabilidade e o consumo consciente no país entre estudantes de 6 a 14 anos. Considerada a primeira do gênero, a comunidade virtual entrou no ar nesta quarta-feira (11) e já pode ser acessada gratuitamente por professores e alunos de todo o país.
Tendo como um dos principais objetivos incentivar a troca de conhecimentos e práticas entre os professores e alunos sobre os temas sócio-ambientais, a Edukatu permite que os docentes possam montar projetos e, assim, trabalhar de forma interativa com os seus alunos as temáticas da sustentabilidade e do consumo consciente. É preciso apenas alguns minutos para criar um perfil – o de professor ou o de aluno – e usufruir das funcionalidades da plataforma. “Nossa proposta maior é a inclusão do consumo consciente dentro da educação formal, como tema transversal que pode ser trabalhado em diversas disciplinas do currículo em todas as escolas”, diz a gerente de educação do Akatu, Silvia Sá.
Dessa forma, assuntos como planejamento financeiro, ciclo da água, coleta seletiva ou impactos do homem no meio ambiente podem ser trabalhados de forma complementar ao aprendizado em sala de aula por meio do ambiente virtual da Edukatu. Para tanto, foi criada uma seção especial para que o professor crie seu projeto de aula, de curso ou atividade extra. Trata-se do seção intitulada “Circuito”, um espaço de navegação guiada, onde os alunos aprendem sobre os temas selecionados pelo professor por meio de quizzes, vídeos e jogos educativos, sempre dentro da lógica de fases e de desafios a serem cumpridos até o fim do percurso do circuito montado. Todas as atividades são divididas por nível de ensino ao qual pertencem os estudantes.
“A ideia é não ter um aprendizado unidirecional. Práticas conscientes não podem ser impostas. Por isso, o projeto conta com uma plataforma totalmente interativa”, afirma o diretor-presidente do Akatu, Helio Mattar. E para que a experiência proposta nas atividades montadas pelos professores – sempre a partir das ferramentas disponibilizadas pela plataforma –, a Edukatu ainda possui outros espaços de interlocução. Na aba “Na Mochila”, os participantes podem consultar notícias sobre educação para a sustentabilidade, planos de aulas envolvendo os 4Rs – as práticas de repensar, reduzir, reutilizar e reciclar – e analisar outros projetos que já foram incluídos pela plataforma por outros professores espalhados por todo o Brasil.
http://www.youtube.com/watch?v=16wvKuoP7WQ
E como outros ambientes de aprendizado, a exemplo do popular EdModo, a Edukatu tem no “Rede” um mural eletrônico onde professores e alunos podem fazer contato e compartilhar experiências. Se surgir dúvida, quando requisitado, mediadores do Akatu entrarão na conversa para esclarecer qualquer ponto ou questionamentos sobre a melhor forma de navegação pelo ambiente virtual. É possível também pela página inicial da aba “Rede”, checar o estágio de evolução dos circuitos que o usuário participa. Há ainda um espaço para checar quantas “medalhas” já foram garantidas pelos alunos depois que eles conseguem concluir as atividades propostas pelo professor.
Desenvolvido por meio de um processo colaborativo que envolveu especialistas em educação, em consumo consciente, sustentabilidade e cultura digital, antes do lançamento realizado hoje, a Edukatu teve que passar por uma série de testes. Durante a fase piloto feita no primeiro semestre deste ano, a ferramenta pode ser aperfeiçoada depois que 400 alunos e professores de 16 escolas públicas de todas as regiões do Brasil testaram a ferramenta. A partir do lançamento, a ideia é que mais objetos digitais de aprendizagem, especialmente os jogos, sejam adicionados às atividades que podem ser criadas no ambiente virtual.
* Publicado originalmente no site O Porvir.
Este lindo Planeta Azul, nossa querida GAIA, é possuidora de uma força e beleza tão intensa e abrangente que é impossível não sentirmos UNO com TODOS.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Top 10: árvores extraordinárias
Assim como os animais, as árvores precisam se alimentar, e
fazem de tudo para chegar à sua principal fonte de comida: a luz. As sequoias
são as maiores árvores do mundo e podem ter mais de 100 metros de altura.
General Sherman, uma sequoia de aproximadamente 2.100 anos possui um peso
equivalente a dez baleias-azuis.
Na tentativa de chegar ao topo, algumas espécies foram ao
extremo e podem até matar. A figueira mata pau começa a crescer em cima de
outras plantas. No processo acaba abraçando sua hospedeira, que não consegue
mais transportar água e nutrientes, e acaba morrendo.
Algumas delas estão na Terra há tanto tempo que presenciaram
o nascer do sol mais de um milhão de vezes. As bristocne pines têm mais de
4.600 anos, e já estavam aqui quando as pirâmides do Egito foram erguidas ou
quando Cristóvão Colombo chegou à América. Outras, como as cerejeiras e os
ipês, não vivem tanto, mas possuem flores vistosas que embelezam os campos e as
cidades pelo mundo.
Infelizmente a maior ameaça a esses seres vivos é o
desmatamento. Mas, na luta pela sobrevivência, as árvores desenvolveram
estratégias extraordinárias e farão qualquer coisa para continuar existindo.
Confira a galeria especial para o dia da árvore (21 de
setembro) que A NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ON LINE preparou para você.
Dia da Arvore - 21 de Setembro
OXIGÊNIO
Mesmo com a fumaça, dá para ver
A incessante sinfonia da floresta
Respirando pelo mundo
Vendo tudo acontecer.
Rogério Flausino
Você já deve ter ouvido falar que a Amazônia é o pulmão do mundo, por ser ela a responsável por manter os níveis de oxigênio no ar. Mas saiba que, há algum tempo, essa afirmativa foi questionada.
Apesar de as plantas produzirem oxigênio como resultado da fotossíntese, elas também respiram dia e noite, consumindo oxigênio.
Sabemos hoje que as grandes florestas, como a Amazônia, consomem quase todo o oxigênio que produzem na fotossíntese. Isso acontece porque as árvores da Amazônia são árvores velhas, em estágio de desenvolvimento avançado. Por causa disso, a quantidade de carbono que elas assimilam, durante a fotossíntese, é muito baixa, liberando praticamente todo esse carbono de volta para a atmosfera no seu processo de respiração.
Os responsáveis pela produção de oxigênio são as algas - seres aquáticos que podem ser microscópicos ou macroscópicos – e que, juntos, formam o chamado fitoplâncton. Acredita-se que o fitoplâncton produza cerca de 98% do oxigênio atmosférico. Porém, a importância desses seres vai além da fotossíntese: eles formam a base da cadeia alimentar dos ambientes aquáticos, servindo de alimento para organismos maiores.
Mas é claro que isso não anula a importância ecológica das florestas! A Amazônia é a grande responsável pelo equilíbrio climático do mundo. As plantas nela encontradas fazem muita fotossíntese. Como resultado, elas liberam moléculas de água na atmosfera, possibilitando a formação de grandes nuvens de chuva na região. Se, um dia, a Floresta Amazônica acabar, a temperatura global irá subir muito. Além disso, grandes secas poderão acontecer.
Tanto as florestas como as águas de nosso planeta estão sofrendo com nosso consumismo. E se, um dia, tudo isso que a natureza nos oferece se extinguir e literalmente virar fumaça, nós também faremos parte
dessa fumaça.
Texto originalmente escrito por Hugo Huth para o programa Ritmos da Ciência da Rádio UFMG
Educativa FM 104,5 e adaptado por Joyce Padilha de Melo.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Desmatamento na Amazônia: Avanços em conceitos e recuos nas práticas
por Washington Novaes*
Embora não surpreendam – havia indícios -, são inquietantes as informações sobre aumento do desmatamento na Amazônia. Foram 2.007 quilômetros quadrados na Amazônia Legal em um ano, segundo o Imazon (20/8), ou quase 92% mais que em igual período anterior. Aos quais se devem acrescentar 1.155 quilômetros quadrados de florestas degradadas no período. E tudo se traduzindo em 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalentes emitidas em 12 meses.
Mais complicado ainda porque um balanço oficial de cinco anos (2005-2010) dizia que o desmatamento era o único setor no País em que se haviam reduzido (em 65%) as emissões de poluentes que contribuem para o aumento da temperatura planetária, quando as emissões no setor energia haviam subido 21,4%, no tratamento de resíduos, 16,4%, na indústria, 5,3% e na agropecuária, 5,2%. Nesse quadro, as emissões totais do Brasil ficavam em 1,25 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes (2,03 bilhões em 2005), que se traduziam em cerca de 7 toneladas por brasileiro (outras fontes apontam até 10 toneladas por pessoa).
Pode ser ainda mais inquietante saber que terminou em Bonn, na Alemanha, uma reunião preparatória para a Convenção do Clima, que será realizada em novembro em Varsóvia (Polônia). E a maioria dos analistas saiu convencida de que é muito improvável, este ano ou no próximo, chegar a um acordo que defina metas obrigatórias de redução de emissões em todos os países, a serem incluídas em 2015 num convênio global para vigorarem em 2020 e possibilitarem que se contenha o aumento de temperatura na Terra em 2 graus Celsius até 2050. Também empacaram as discussões sobre contribuições financeiras dos países industrializados para “mitigação de emissões” e “adaptação às mudanças”, com os “países em desenvolvimento” exigindo recursos para compensar danos que poderiam ser de US$ 1 trilhão por ano.
Pode parecer repetitivo tratar com tanta frequência neste espaço desse tema das mudanças climáticas, mas as notícias são a cada dia mais graves. Uma boa informação, entretanto – ainda não anunciada oficialmente -, é a de que o Brasil voltará, na reunião da convenção, à proposta que fez em 1997, quando se discutia o Protocolo de Kyoto: passariam a ser obrigatórios compromissos de todos os países para reduzir as emissões de poluentes, proporcionalmente à contribuição que tenham dado para a concentração de gases na atmosfera e às suas emissões atuais (em Kyoto decidiu-se apenas que os 37 industrializados baixariam suas emissões em 5,2%, calculados sobre as de 1990; mas o protocolo não teve as adesões necessárias). Até aqui, o Brasil só tem aceitado “compromissos voluntários” de baixar entre 36,1% e 38,9% suas emissões, calculadas sobre o total a que chegaríamos em 2020.
É um assunto vital, quando cenários traçados para este século por 345 cientistas para o Painel do Clima da convenção dizem que a temperatura no Brasil pode subir até 3 graus Celsius. E a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê (20/8) que as culturas de milho, arroz e mandioca serão as mais afetadas, com perdas, hoje em mais de R$ 7 bilhões, que serão o dobro em mais algumas décadas.
Há visões mais otimistas, como as de cientistas que apontam a intenção da China e dos Estados Unidos de reduzirem em 40% as suas emissões na fabricação de cada produto. Mas a China também está deixando cientistas de cabelos em pé com a criação de uma rota de navegação para a Europa atravessando o Ártico (reduz de 48 para 33 dias o tempo gasto) – e contribuindo para mais degelo. Os Estados Unidos conseguiram baixar suas emissões intensificando a exploração de gás de xisto, com um método baseado em fratura de rochas e injeção de água e produtos químicos – que implica, no retorno deles à superfície, a mistura da água superficial com poluentes altamente danosos e em grande quantidade (o Brasil também vai entrar por esse caminho).
Acrescem-se as informações da Global Footprint Network de que no dia 20 último se completou o prazo (menos de oito meses) em que o mundo consumiu os recursos naturais que deveriam bastar para um ano todo – ou seja, a “pegada ambiental” global indica que precisamos de 50% mais de recursos que os disponíveis. E com isso se vai agravando o quadro planetário (Folha de S.Paulo, 20/8). O Japão já consome 7,1 vezes mais que os recursos disponíveis em seu território, a Grã-Bretanha, 3,5 vezes e os Estados Unidos, 1,9. O Brasil, embora use menos recursos que sua disponibilidade interna, consome mais que a média global disponível. Em 2050, afirma o estudo da Global Footprint Network, o mundo precisará de recursos equivalentes ao dobro dos disponíveis na Terra.
Não é diferente do que pensa a Convenção da Biodiversidade, que, preocupada, já em 2010 pediu que se adotassem metas de pelo menos 17% das áreas terrestres no mundo protegidas, assim como 10% de áreas oceânicas.
São visões como essa que levaram o escritor (austríaco radicado nos Estados Unidos) Fritjof Capra – autor de O Tao da Física e A Teia da Vida – a dizer no X Congresso Brasileiro de Direito Socioambiental (Instituto Carbono Brasil, 9/8), que nosso país é um dos “possíveis líderes para o desenvolvimento qualitativo sustentável” – desde que “os negócios, a economia, as tecnologias, as estruturas físicas não interfiram na capacidade da natureza de sustentar a vida”.
Porque “o crescimento infinito é ilusão”. Bem na linha que se propaga entre economistas de que já vivemos uma “crise de finitude de recursos”, com o consumo global maior que a reposição. E crescerá ainda mais, com a população mundial – hoje pouco acima de 7 bilhões de pessoas e um acréscimo de 80 milhões por ano – chegando a mais de 9 bilhões em 2050.
* Washington Novaes é jornalista.
** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.
Embora não surpreendam – havia indícios -, são inquietantes as informações sobre aumento do desmatamento na Amazônia. Foram 2.007 quilômetros quadrados na Amazônia Legal em um ano, segundo o Imazon (20/8), ou quase 92% mais que em igual período anterior. Aos quais se devem acrescentar 1.155 quilômetros quadrados de florestas degradadas no período. E tudo se traduzindo em 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalentes emitidas em 12 meses.
Mais complicado ainda porque um balanço oficial de cinco anos (2005-2010) dizia que o desmatamento era o único setor no País em que se haviam reduzido (em 65%) as emissões de poluentes que contribuem para o aumento da temperatura planetária, quando as emissões no setor energia haviam subido 21,4%, no tratamento de resíduos, 16,4%, na indústria, 5,3% e na agropecuária, 5,2%. Nesse quadro, as emissões totais do Brasil ficavam em 1,25 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes (2,03 bilhões em 2005), que se traduziam em cerca de 7 toneladas por brasileiro (outras fontes apontam até 10 toneladas por pessoa).
Pode ser ainda mais inquietante saber que terminou em Bonn, na Alemanha, uma reunião preparatória para a Convenção do Clima, que será realizada em novembro em Varsóvia (Polônia). E a maioria dos analistas saiu convencida de que é muito improvável, este ano ou no próximo, chegar a um acordo que defina metas obrigatórias de redução de emissões em todos os países, a serem incluídas em 2015 num convênio global para vigorarem em 2020 e possibilitarem que se contenha o aumento de temperatura na Terra em 2 graus Celsius até 2050. Também empacaram as discussões sobre contribuições financeiras dos países industrializados para “mitigação de emissões” e “adaptação às mudanças”, com os “países em desenvolvimento” exigindo recursos para compensar danos que poderiam ser de US$ 1 trilhão por ano.
Pode parecer repetitivo tratar com tanta frequência neste espaço desse tema das mudanças climáticas, mas as notícias são a cada dia mais graves. Uma boa informação, entretanto – ainda não anunciada oficialmente -, é a de que o Brasil voltará, na reunião da convenção, à proposta que fez em 1997, quando se discutia o Protocolo de Kyoto: passariam a ser obrigatórios compromissos de todos os países para reduzir as emissões de poluentes, proporcionalmente à contribuição que tenham dado para a concentração de gases na atmosfera e às suas emissões atuais (em Kyoto decidiu-se apenas que os 37 industrializados baixariam suas emissões em 5,2%, calculados sobre as de 1990; mas o protocolo não teve as adesões necessárias). Até aqui, o Brasil só tem aceitado “compromissos voluntários” de baixar entre 36,1% e 38,9% suas emissões, calculadas sobre o total a que chegaríamos em 2020.
É um assunto vital, quando cenários traçados para este século por 345 cientistas para o Painel do Clima da convenção dizem que a temperatura no Brasil pode subir até 3 graus Celsius. E a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê (20/8) que as culturas de milho, arroz e mandioca serão as mais afetadas, com perdas, hoje em mais de R$ 7 bilhões, que serão o dobro em mais algumas décadas.
Há visões mais otimistas, como as de cientistas que apontam a intenção da China e dos Estados Unidos de reduzirem em 40% as suas emissões na fabricação de cada produto. Mas a China também está deixando cientistas de cabelos em pé com a criação de uma rota de navegação para a Europa atravessando o Ártico (reduz de 48 para 33 dias o tempo gasto) – e contribuindo para mais degelo. Os Estados Unidos conseguiram baixar suas emissões intensificando a exploração de gás de xisto, com um método baseado em fratura de rochas e injeção de água e produtos químicos – que implica, no retorno deles à superfície, a mistura da água superficial com poluentes altamente danosos e em grande quantidade (o Brasil também vai entrar por esse caminho).
Acrescem-se as informações da Global Footprint Network de que no dia 20 último se completou o prazo (menos de oito meses) em que o mundo consumiu os recursos naturais que deveriam bastar para um ano todo – ou seja, a “pegada ambiental” global indica que precisamos de 50% mais de recursos que os disponíveis. E com isso se vai agravando o quadro planetário (Folha de S.Paulo, 20/8). O Japão já consome 7,1 vezes mais que os recursos disponíveis em seu território, a Grã-Bretanha, 3,5 vezes e os Estados Unidos, 1,9. O Brasil, embora use menos recursos que sua disponibilidade interna, consome mais que a média global disponível. Em 2050, afirma o estudo da Global Footprint Network, o mundo precisará de recursos equivalentes ao dobro dos disponíveis na Terra.
Não é diferente do que pensa a Convenção da Biodiversidade, que, preocupada, já em 2010 pediu que se adotassem metas de pelo menos 17% das áreas terrestres no mundo protegidas, assim como 10% de áreas oceânicas.
São visões como essa que levaram o escritor (austríaco radicado nos Estados Unidos) Fritjof Capra – autor de O Tao da Física e A Teia da Vida – a dizer no X Congresso Brasileiro de Direito Socioambiental (Instituto Carbono Brasil, 9/8), que nosso país é um dos “possíveis líderes para o desenvolvimento qualitativo sustentável” – desde que “os negócios, a economia, as tecnologias, as estruturas físicas não interfiram na capacidade da natureza de sustentar a vida”.
Porque “o crescimento infinito é ilusão”. Bem na linha que se propaga entre economistas de que já vivemos uma “crise de finitude de recursos”, com o consumo global maior que a reposição. E crescerá ainda mais, com a população mundial – hoje pouco acima de 7 bilhões de pessoas e um acréscimo de 80 milhões por ano – chegando a mais de 9 bilhões em 2050.
* Washington Novaes é jornalista.
** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Aprovada há três anos, Política Nacional de Resíduos Sólidos caminha a passos lentos
por Akemi Nitahara, da Agência Brasil - 9-9-2013
Rio de Janeiro – O prazo para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) termina no ano que vem, mas, apesar dos avanços muitas das diretrizes inovadoras não saíram do papel. Entre elas estão os planos nacional, estaduais e municipais com o planejamento de longo prazo para cada ente da Federação. A política nacional foi sancionada em 2010, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com o gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ronaldo Hipólito, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos está pronto, mas ainda não foi decretado pela Presidência da República. “Ele passou pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), foi discutido em audiências públicas nacionais, regionais, conselhos nacionais e temáticos. Está com a cara final, só esperando o decreto”. O texto pode ser acessado no site do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos, instrumento também em construção pelo ministério, que vai monitorar o andamento da implantação da PNRS nos estados e municípios.
Hipólito explicou que o plano apresenta diretrizes, estratégias e metas para direcionar estados e municípios sobre as áreas nas quais o governo federal pretende avançar mais rapidamente ou mais devagar nos vários pontos existentes dos instrumentos previstos na PNRS. “A política nacional coloca vários instrumentos, ela institui a necessidade de planos, de planejamento, que não é uma coisa que o brasileiro está acostumado a fazer, principalmente nessa área de resíduos sólidos”.
té o momento nenhum estado entregou ao ministério o planejamento para a implementação de políticas de resíduos sólidos. Os estados que já tinham o documento precisam se adequar às novas diretrizes. O Ministério do Meio Ambiente fez convênios para auxiliar os estados a construir seus planos e também apoia 616 municípios que se consorciaram para trabalhar no texto, selecionados por meio de chamadas públicas.
O superintendente de Políticas de Saneamento da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA), Victor Zveibil, lembra que o planejamento abrange todos os tipos de resíduos. “O Plano de Resíduos Sólidos é muito mais amplo, porque não trata apenas de resíduos domésticos. Trata de resíduos de saúde, de resíduos de construção civil, de vários fluxos de resíduos. Vai trazer, também, indicações para a questão da coleta seletiva, da inclusão social de catadores e para as questões da logística reversa”.
Entende-se por logística reversa o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou, ainda, outra destinação.
Zveibil ressaltou que até o fim de setembro a proposta do plano deve estar pronta e será enviada à análise da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ele informou que nenhum município fluminense entregou as propostas e ressaltou que ninguém é obrigado a fazer o documento.
“Chamo a atenção para o fato de que ninguém é obrigado a entregar um plano para o governo federal e nenhum município é obrigado a entregar [o plano] para o estado. Ele é um pré-requisito para acessar recursos federais. Eu vou entregar porque nós estamos fazendo o plano com parte dos recursos proveniente do governo federal”, disse o superintendente.
Outro ponto da PNRS em implantação são as cadeias de logística reversa, obrigatória para o recolhimento de alguns materiais. Ronaldo Hipólito destacou que foram instituídos grupos técnicos temáticos para começar a discutir os acordos com cinco setores: embalagem de óleos lubrificantes, embalagens em geral – plástico, metal, papelão e vidro – eletroeletrônicos, lâmpadas de mercúrio e mistas e a cadeia de medicamentos.
“O [setor] de embalagens de óleo lubrificante já foi feito todo o processo e foi assinado o acordo entre o governo e essa cadeia de embalagem, em dezembro do ano passado. A cadeia de lâmpadas e de embalagens em geral já foi feito o contato, as instruções e os estudos necessários e as empresas e associações representativas nacionais já mandaram as propostas de acordo setorial. Para a cadeia de embalagem vieram quatro propostas, nós estamos discutindo como fazer para resumir em uma só”, informou, Hipólito.
O setor de medicamentos tem algumas experiências pontuais em São Paulo e no Paraná, onde redes de farmácia fazem o recolhimento dos remédios. “Estamos verificando se essa seria a melhor forma de fazer e convocar uma chamada pública para o setor se pronunciar e apresentar os acordos”, destacou o superintendente.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012, publicação anual da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduo cresceu 1,3%, de 2011 para 2012, maior que a taxa de 0,9% de crescimento da população.
O total de lixo gerado no Brasil, em 2012, chegou a 62.730.096 toneladas, uma média de 383,2 quilos por pessoa e a coleta de resíduo sólido urbano chega a 90,7% da população. Todos os dias, são coletados 178 toneladas de lixo, 1,25 quilo por habitante. Desse total, 58% teve destinação adequada, que são os aterros sanitários; 24,2% vão para aterros controlados e 17,8% ainda vão para os lixões.
O levantamento é publicado há dez anos pela entidade e conclui que o comprometimento da sociedade brasileira com a questão aumentou muito. No entanto, a evolução para a gestão integrada dos resíduos sólidos ocorre a passos muito lentos e ainda é preciso aumentar os investimentos no setor de limpeza urbana para poder efetivar as políticas públicas previstas na Lei 12.305/2010.
Rio de Janeiro – O prazo para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) termina no ano que vem, mas, apesar dos avanços muitas das diretrizes inovadoras não saíram do papel. Entre elas estão os planos nacional, estaduais e municipais com o planejamento de longo prazo para cada ente da Federação. A política nacional foi sancionada em 2010, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com o gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ronaldo Hipólito, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos está pronto, mas ainda não foi decretado pela Presidência da República. “Ele passou pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), foi discutido em audiências públicas nacionais, regionais, conselhos nacionais e temáticos. Está com a cara final, só esperando o decreto”. O texto pode ser acessado no site do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos, instrumento também em construção pelo ministério, que vai monitorar o andamento da implantação da PNRS nos estados e municípios.
Hipólito explicou que o plano apresenta diretrizes, estratégias e metas para direcionar estados e municípios sobre as áreas nas quais o governo federal pretende avançar mais rapidamente ou mais devagar nos vários pontos existentes dos instrumentos previstos na PNRS. “A política nacional coloca vários instrumentos, ela institui a necessidade de planos, de planejamento, que não é uma coisa que o brasileiro está acostumado a fazer, principalmente nessa área de resíduos sólidos”.
té o momento nenhum estado entregou ao ministério o planejamento para a implementação de políticas de resíduos sólidos. Os estados que já tinham o documento precisam se adequar às novas diretrizes. O Ministério do Meio Ambiente fez convênios para auxiliar os estados a construir seus planos e também apoia 616 municípios que se consorciaram para trabalhar no texto, selecionados por meio de chamadas públicas.
O superintendente de Políticas de Saneamento da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA), Victor Zveibil, lembra que o planejamento abrange todos os tipos de resíduos. “O Plano de Resíduos Sólidos é muito mais amplo, porque não trata apenas de resíduos domésticos. Trata de resíduos de saúde, de resíduos de construção civil, de vários fluxos de resíduos. Vai trazer, também, indicações para a questão da coleta seletiva, da inclusão social de catadores e para as questões da logística reversa”.
Entende-se por logística reversa o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou, ainda, outra destinação.
Zveibil ressaltou que até o fim de setembro a proposta do plano deve estar pronta e será enviada à análise da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ele informou que nenhum município fluminense entregou as propostas e ressaltou que ninguém é obrigado a fazer o documento.
“Chamo a atenção para o fato de que ninguém é obrigado a entregar um plano para o governo federal e nenhum município é obrigado a entregar [o plano] para o estado. Ele é um pré-requisito para acessar recursos federais. Eu vou entregar porque nós estamos fazendo o plano com parte dos recursos proveniente do governo federal”, disse o superintendente.
Outro ponto da PNRS em implantação são as cadeias de logística reversa, obrigatória para o recolhimento de alguns materiais. Ronaldo Hipólito destacou que foram instituídos grupos técnicos temáticos para começar a discutir os acordos com cinco setores: embalagem de óleos lubrificantes, embalagens em geral – plástico, metal, papelão e vidro – eletroeletrônicos, lâmpadas de mercúrio e mistas e a cadeia de medicamentos.
“O [setor] de embalagens de óleo lubrificante já foi feito todo o processo e foi assinado o acordo entre o governo e essa cadeia de embalagem, em dezembro do ano passado. A cadeia de lâmpadas e de embalagens em geral já foi feito o contato, as instruções e os estudos necessários e as empresas e associações representativas nacionais já mandaram as propostas de acordo setorial. Para a cadeia de embalagem vieram quatro propostas, nós estamos discutindo como fazer para resumir em uma só”, informou, Hipólito.
O setor de medicamentos tem algumas experiências pontuais em São Paulo e no Paraná, onde redes de farmácia fazem o recolhimento dos remédios. “Estamos verificando se essa seria a melhor forma de fazer e convocar uma chamada pública para o setor se pronunciar e apresentar os acordos”, destacou o superintendente.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012, publicação anual da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduo cresceu 1,3%, de 2011 para 2012, maior que a taxa de 0,9% de crescimento da população.
O total de lixo gerado no Brasil, em 2012, chegou a 62.730.096 toneladas, uma média de 383,2 quilos por pessoa e a coleta de resíduo sólido urbano chega a 90,7% da população. Todos os dias, são coletados 178 toneladas de lixo, 1,25 quilo por habitante. Desse total, 58% teve destinação adequada, que são os aterros sanitários; 24,2% vão para aterros controlados e 17,8% ainda vão para os lixões.
O levantamento é publicado há dez anos pela entidade e conclui que o comprometimento da sociedade brasileira com a questão aumentou muito. No entanto, a evolução para a gestão integrada dos resíduos sólidos ocorre a passos muito lentos e ainda é preciso aumentar os investimentos no setor de limpeza urbana para poder efetivar as políticas públicas previstas na Lei 12.305/2010.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Estudantes criam garrafa que torna potável a água do mar
por TATIANE RIBEIRO, DE SÃO PAULO, 30-ago-2013
veja o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Ox6Q-ccjpsI
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2013/08/1334326-estudantes-criam-garrafa-que-torna-potavel-a-agua-do-mar.shtml
A água salgada também pode ser utilizada para matar a sede dos seres humanos. Basta colocá-la na Puri, uma garrafa recém-inventada com um sistema interno que torna a água do mar uma bebida potável.
Criada pelos universitários sul-coreanos Younsun Kim, Kangkyung Lee, Byungsoo Kim e Minji Kim, a invenção possui um pequeno sistema de bombeamento que dessaliniza o líquido por meio da osmose reversa.
Para funcionar, o usuário precisa bombear o cilindro dentro da garrafa para aumentar a pressão e ocorrer o processo de separação dos componentes por meio de uma membrana permeável à água e que barra o sal.
Além de ser essencial para salvar a vida de náufragos, os criadores recomendam o uso da Puri em longas trilhas e em viagens longas em alto mar.
veja o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Ox6Q-ccjpsI
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2013/08/1334326-estudantes-criam-garrafa-que-torna-potavel-a-agua-do-mar.shtml
domingo, 1 de setembro de 2013
A era da Energia Extrema
por Charlotte Wilson*
* Tradução: Vinícius Gomes
** Publicado originalmente no Zmag e retirado do site Outras Palavras.
Dos EUA à Índia, avança corrida por combustíveis fósseis rarefeitos e de extração dificílima. Quais são, e por que é desastroso explorá-los?
Alguns anos atrás, nas vésperas das negociações climáticas em Copenhagen, a indústria dos combustíveis fósseis parecia estar na defensiva, com o crescimento da pressão para cortar as emissões de carbono. A elevação dos preços no setor energético e as dúvidas a respeito de sua capacidade em aumentar a produção de petróleo, faziam a indústria parecer um dinossauro em luta para sobreviver. Hoje, ela está na ofensiva e, longe de enfrentar restrições, empanha-se na expansão maciça da extração de combustíveis fósseis, em novas áreas do globo.
Não há melhor medida para essa mudança que a ExxonMobil, a maior empresa privada de petróleo no mundo. Em 2008, estava financiando, agressivamente, a negação da mudança climática e fazendo lobby intenso contra as restrições impostas a seu negócio. Acelere o filme para o último verão. Na esteira da caricata conferência Rio+20, o diretor-executivo da Exxon, Rex Tillerson, em palestra para o Conselho de Relações Exteriores, não apenas reconheceu a mudança climática mas também a “abraçou” dizendo que era um “problema de engenharia” e uma oportunidade de negócio.
Os fatos são alarmantes. O preço do barril de petróleo permanece nas alturas e a concentração de dióxido de carbono na atmosfera ultrapassará 400 partes por milhão este ano, pela primeira vez na história da humanidade. O que mudou radicalmente é o volume da retórica empregada para negar essa realidade. Até as ações de mera fachada estão desaparecendo. Agora, o foco está no surgimento de “planos de de planos para suposta “reparação”, por meio de tecnologias como captura e armazenagem de carbono (CSS) ou geo-engenharia, em um futuro
distante.
Por trás de toda essa cortina de fumaça, há um mundo real não tão suscetível a esses truques. De um lado, o aumento constante da temperatura indica o que a mudança climática pode representar; de outro, o aumento nos custos energéticos marca o contínuo esgotamento dos combustíveis fósseis.
Mas os depósitos combustíveis fósseis não são poço de tamanho determinado, que está sendo consumido e em certo momento irá se esgotar. O uso das rochas betuminosas, as perfurações no Oceano Ártico e a extração de petróleo por fragmentação hidráulica (“fracking”) demonstram que, embora as reservas de extração mais fácil estejam acabando, existem sempre outras, mais difíceis de explorar, para substituir as primeiras, se você estiver suficientemente desesperado. Esses combustíveis fósseis de extração mais difícil vêm, entretanto, com um custo adicional – como se não bastasse a emissão de carbono.
Nestes casos, a exploração anda quase sempre de mãos dadas com a devastação ambiental. Isso é bem claro, por exemplo, na destruição causada nas florestas boreais em Alberta, Canadá, para extração em rochas betuminosas. Mas não apenas lá. Seja na passagem para a mineração a céu aberto, quando o carvão ficou cada vez mais escasso, ou no impulso para extração de petróleo em águas profundas, o resultado tem sido maior pressão sobre o meio-ambiente. Áreas cada vez maiores do planeta têm de ser destruídas para um retorno cada vez menor.
Os impactos sociais desses métodos mais extremos são igualmente perturbadores. Maior esforço direcionado à extração para fins energéticos significa maior trabalho e recursos consumidos. Na última década, o peso do setor de energia mais que dobrou na economia mundial – de menos de 5% para mais de 10%. Mercados complexos e mecanismos políticos têm ocultado a verdade por trás das manchetes: enquanto o setor energético cresce, o resto da economia é achatado e aqueles com menor poder político sãoRumo aos extremos
A mudança para métodos ainda mais extremos, à medida em que se exaurem os recursos fáceis de extrair, exige uma cuidadosa consideração: onde esse processo irá acabar? Quando a energia usada na extração tender a se tornar maior que a produzida, em que momento já não poderemos falar em uma “fonte de energia”? Na prática, problemas sérios surgem muito antes de este ponto ser atingido. Imagine um mundo onde a principal fonte de energia precise de metade da energia produzida para manter em funcionamento o processo de extração. Não apenas metade de toda a economia será destinada à extração de energia, mas o nível de destruição ambiental será aterrorizante.
O Reino Unido é hoje, como quase sempre, a maior ameaça no que tange extração não-convencional de gás e petróleo (coloquialmente conhecida como fracking); de gás e óleo de xisto; de metano em jazidas de carvão (CBM, em inglês) e gaseificação de carvão subterrâneo (GCS). Esses métodos consomem enorme quantidade de energia e requerem imenso volume de recursos, como plataformas avançadas de perfuração. As características comuns incluem poços densos de perfuração horizontal, algum tipo de fraturação hidráulica ou (desidratação). As quantidades de energia produzidas em cada poço são relativamente pequenas, e o período de produção é curto.
A gaseificação de carvão subterrâneo (GCS), o método mais extremo que conhecemos até o momento, envolve atear fogo no carvão subterrâneo e trazer à superfície o coquetel tóxico produzido. O Reino Unido é o pioneiro, com 21 licenças de GCS já vendidas, em seu litoral, perto de grandes cidades como Swansea, Liverpool e Edimburgo. Algo sem precedentes: uma nova licença está à venda em terra firme, no interior de Warwickshire, próximo a Leamington Spa. Uma companhia, a Five-Quarter Energy, planeja iniciar a perfuração na costa de Northumberland nesse verão (nosso inverno). os primeiros a sofrer.
A escala de tudo isso é raramente analisada. A característica mais fundamental do gás e petróleo não-convencionais é sua natureza dispersa. Qualquer poço irá produzir pouco gás, e apenas por curto período. É necessário que milhares de poços sejam constantemente perfurados, cobrindo a paisagem de buracos, para produzir volumes moderados de energia. O maior campo de gás convencional no Reino Unido era o de Saltfleetby, em Lincolnshire. Possuía oito poços, mas para se produzir a mesma quantidade de gás não-convencional seriam necessários centenas de poços.
Os maiores impactos de fracking incluem vazamento de metano, poluição e produção de resíduos tóxicos e radioativos nas águas; poluição severa do ar; industrialização desenfreada das áreas internas e aceleração da mudança climática. Entretanto, o debate público no Reino Unido concentrou-se em torno de um “não-problema”: se os terremotos subterrâneos induzidos por fracking podem causar dano na superfície. Nos EUA, desvia-se o foco dos problemas reais especulando se há alguma ligação entre a contaminação da água e uma forma específica da fraturação hidráulica. Oculta-se, assim, a ligação clara entre a contaminação e a extração de gás de xisto como um todo.
Esta estratégia tem, efetivamente, desviado a atenção do grande problema que causará impactos em nossa sociedade e meio-ambiente. Até mesmo o sistema acadêmico pode ser corrompido para servir a indústria: descobriu-se que estudos acadêmicos pró-fracking foram financiados secretamente por essa indústria.
A luta esquenta
Felizmente, a luta contra os métodos extremos esquenta. A vila rual de Balcombe é a próxima na linha de tiro, enquanto a Cuadrilla Resources (nome sugestivo…) procura estender sua extração de gás de xisto, de Lancashire para Sussex. Comunidades ameaçadas estão se organizando para resistir, seguindo o exemplo da Austrália, onde houve êxitos consideráveis na luta para travar os avanços da indústria. Embora as forças que se uniram contra as comunidades fossem formidáveis, as conquistas materializaram-se no recente pedido de James Hansen– um dos pioneiros no estudo da mudança climática – para que os combustíveis fósseis não-convencionais sejam deixados onde estão.
Ainda que os impactos nos países ricos parecem ser maléficos, eles tornam-se pequenos, quando comparados ao que os povos no sul do planeta enfrentam. São estes que não podem dar-se ao luxo de tomar água em garrafas de plástico e estão mais próximos das consequências ambientais. O anúncio recente de que a Essar Oil obteve permissão para perfurar 650 poços de carvão gaseificado (GCS) em Bengala Ocidental, ao norte de Kolkata, é apenas a ponta de um iceberg que se agiganta. A área é próxima à de maior densidade populacional na Índia e já sofre de problemas sérios com falta de água.
O diretor-executivo da Exxon teria dito, recentemente: “Qual o benefício de salvar o planeta, se a humanidade sofre?”. É como se o futuro da humanidade pudesse ser separado dos ecossistemas dos quais todos dependemos. Nessa visão de mundo distorcida, a Exxon é a salvadora, pois descobre, para nós, maneiras novas e criativas de manter níveis insustentáveis de consumo de energia.
No mundo real, está se tornando cada vez mais claro que o futuro da humanidade e do planeta dependem de manter os combustíveis fósseis onde eles estão. Isso irá requerer uma completa transformação nos sistemas econômicos e sociais que estão produzindo os métodos extremos de produção de energia.
* Tradução: Vinícius Gomes
** Publicado originalmente no Zmag e retirado do site Outras Palavras.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Brasil: candidato a sediar o Fórum Mundial da Água de 2018
por Bernhard J. Smid*
O Brasil, especificamente Brasília, concorre com a Dinamarca como candidatos finalistas a sediar o “8º Fórum Mundial da Água”, em 2018. A cada três anos, o Fórum proporciona o diálogo e a busca de estratégias de uso racional e sustentável da água no mundo.
Diferente da “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável”, o Fórum não almeja estabelecer protocolos de entendimento ou acordos. O objetivo é promover o compartilhamento de experiências e boas práticas.
A decisão, que será tomada pelos representantes do “Conselho Mundial da Água”, tem o apoio do “Senado Federal” brasileiro, além de outros interlocutores. Se Brasília for aprovada como cidade-sede, será a primeira vez que o evento ocorrerá na América Latina. Sua realização no Brasil é particularmente importante, considerando que o país detém 12% da água doce superficial do planeta, além de grandes aquíferos subterrâneos.
A proposta brasileira, se aceita, terá importante papel de interlocução para governos e sociedade civil, além de permitir uma visibilidade das características brasileiras quanto aos diversos biomas aqui presentes. O resultado sobre a escolha da cidade sede para este Fórum de 2018 será anunciado no início de 2014.
É importante observar que a gestão de águas nem sempre é bem coordenada e a preocupação com o tema é, muitas vezes, observado somente quando ocorrem desastres, como inundações, e consequentemente a restrição de água potável.
A importância do Brasil em sediar o Evento e consequentemente permitir uma ampla participação da sociedade é a chance de poder mostrar a realidade brasileira no âmbito internacional, principalmente de como diversas famílias brasileiras que residem na floresta vivem sobre o balanço de casas-barco e resistindo a grandes variações de cheias e vazantes de rios, como o “Rio Amazonas”, cuja diferença entre os períodos de cheias e vazantes é, normalmente, de 15 metros, tendo já chegado a marcas históricas de até 30 metros de variação entre os períodos.
Essa realidade, cuja experiência poderia ser um dos temas para a troca de experiências durante o Fórum, é certamente muito distante do que se verifica na Europa, onde muitos rios possuem diques de contenção para grandes inundações, como é o caso do Elba, na Alemanha.
Destaca-se, também, que a gestão dos recursos hídricos traz ainda a discussão quanto à necessidade de se discutir a mitigação e/ou a adaptação às mudanças climáticas, bem como a discussão sobre o desenvolvimento socioeconômico de regiões, como a Amazônia, bem como a implementação de infraestrutura, como as rodovias.
A última edição do “Fórum Mundial da Água” ocorreu em Marselha (França) em 2012 e teve a participação de 35 mil pessoas de 147 países. A próxima edição, em 2015, será na “Coreia do Sul”.
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Fonte:
* Bernhard J. Smid possui mestrado (Master of Arts) em Negócios Internacionais pela Munich Business School – Alemanha (2008) e MBA em Comércio Exterior e Negociações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas – FGV (Brasil). Profissionalmente, atualmente trabalha no Projeto Setorial de Promoção Comercial do Setor Lácteos (Organização das Cooperativas Brasileiras / Apex-Brasil) e é colaborador voluntário no CEIRI (Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais)
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
Distribuição geográfica de árvores da Mata Atlântica pode cair 65% até 2100
Caso se concretizem as projeções mais pessimistas do IPCC e o aquecimento atingir a casa dos quatro graus Celsius, a distribuição geográfica das árvores da Mata Atlântica poderá ter redução de até 65% em 2100
por Noêmia Lopes, Agência Fapesp - 26/08/2013
Caso se concretizem as projeções mais otimistas do IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas e a temperatura nas áreas com remanescentes de Mata Atlântica aumentar até dois graus Celsius, a distribuição geográfica das árvores desta floresta poderá ter redução de 30% em 2100. Se as estimativas mais pessimistas vingarem e o aquecimento atingir a casa dos quatro graus Celsius, tal redução poderá chegar a 65%.
O alerta foi feito por Carlos Joly, coordenador do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP) e pesquisador do IB/Unicamp - Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, durante o sexto encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, realizado no dia 22 de julho na FAPESP, em São Paulo.
Os números foram obtidos a partir de um levantamento que começou em herbários. “Identificamos pelo menos 30 pontos de ocorrência exata de árvores da Mata Atlântica e, com isso, fizemos um mapa de onde elas ocorrem hoje em determinadas condições de temperatura, precipitação, tipo de solo e altitude”, explicou Joly.
Considerando os 30 pontos iniciais, o passo seguinte foi usar um algoritmo para calcular em que outros lugares haveria potencial para a ocorrência das espécies, o que deu origem a um segundo mapa. De acordo com o pesquisador, “isso nos permitiu dizer que determinada espécie é capaz de ocorrer em certa localidade, sob certas condições anuais de temperatura e precipitação”.
Em seguida, as projeções do IPCC permitiram traçar o panorama de 2100, considerando cenários mais e menos otimistas. “Estimamos que a porção nordeste dos remanescentes – onde a estimativa é que também haja redução significativa de chuvas – vá diminuir. E a distribuição geográfica das espécies ficará mais restrita a áreas como a Serra do Mar, onde a precipitação é garantida e o relevo impede que a temperatura suba demais”, afirmou Joly.
ESTOQUES DE CARBONO
Outro tema abordado durante a conferência foi o monitoramento do carbono estocado na Floresta Atlântica paulista, em uma faixa equivalente a 14 campos de futebol entre Ubatuba e São Luiz do Paraitinga.
Desde 2005, pesquisas viabilizadas pelo BIOTA-FAPESP e pelo Programa FAPESP de PFPMCG - Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais investigam os remanescentes de Mata Atlântica na região, inclusive no que diz respeito às trocas gasosas entre as plantas e o meio ambiente.
O acompanhamento é feito por meio de cintas de aço colocadas nos troncos das árvores – a medição do diâmetro, a cada dois anos, aponta quanto carbono vem sendo fixado por elas. “Também monitoramos árvores que morrem e vão entrar em decomposição e plantas novas, que no último período verificado cresceram o bastante para entrar em nossa amostragem”, afirmou Joly. Uma torre de 60 metros de altura, equipada com um grande conjunto de sensores, também mede o fluxo de trocas gasosas, além de radiação, chuva, vento, entre outros fatores.
Os resultados obtidos até o momento apontam para a existência de grandes estoques de carbono, principalmente no solo das regiões mais altas, onde as temperaturas frias tornam o processo de decomposição mais lento e há acúmulo de serapilheira – camada fofa que se forma com folhas caídas no chão.
“Imaginamos que, em um processo de aquecimento, a serapilheira que se acumulou por milhares de anos vai se decompor mais depressa, fazendo com que a floresta libere mais gás carbônico do que pode assimilar. Ou seja, ela se tornaria uma fonte emissora e nós perderíamos o serviço ambiental de estocagem que hoje as espécies nos prestam”, explicou Joly.
Nos próximos anos, o monitoramento na Floresta Atlântica paulista será comparado a estudos na Floresta Amazônica e em florestas da Malásia, em parceria com pesquisadores britânicos. Já se sabe, por exemplo, que a Floresta Amazônica não acumula tanto carbono no solo como a Atlântica e, nas medições anuais, estabelece trocas com a atmosfera que resultam em um balanço próximo a zero.
FAUNA E SENSORIAMENTO
André Victor Lucci Freitas, pesquisador do IB/Unicamp, também participou da conferência apresentando dados sobre origem, evolução e diversidade da fauna da Mata Atlântica. Ele apontou que a grande diversificação e o alto endemismo faunístico podem ser explicados por um conjunto de processos.
“A interação entre as tolerâncias ambientais dos diferentes grupos de animais, a heterogeneidade de habitats (florestas, restingas, campos) e os processos históricos (como variações climáticas no passado) explicam a grande diversidade encontrada ao longo de toda a extensão da Mata Atlântica”, disse Freitas.
O terceiro palestrante, Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tratou sobre os bastidores do desenvolvimento de um atlas.
“O acompanhamento, agora anual, dos remanescentes da Mata Atlântica é feito a partir da interpretação de imagens de satélites. Fotografias aéreas resultariam em um detalhamento maior, mas essa ainda é uma técnica muito cara para a grande extensão que precisamos monitorar”, disse. Outro desafio é identificar desmatamentos menores causados pela expansão urbana.
De acordo com Ponzoni, o bioma cobre 7,9% de sua extensão original, se considerados os remanescentes acima de 100 hectares. Quando computados todos os polígonos com 100 hectares ou menos, o domínio é de 11% a 16%.
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