domingo, 20 de junho de 2010

Pessimismo capitalista e Darwinismo social

Que fazer quando uma crise como a nossa se transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas e mostra mais  traços destrutivos que construtivos? É notório que o modelo social montado já nos primórdios da modernidade, assentado na magnificação do eu e em sua conquista do mundo em vista da acumulação privada de riqueza não pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, acreditam ainda neste projeto que é a racionalização do irracional. Hoje percebemos claramente que não podemos crescer indefinidamente porque a Terra não suporta mais nem há demanda suficiente. Este modelo não deu certo, pelas perversidades sociais e ambientais que produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como a única forma de produzir como ainda querem os membros do G-20 e do PAC.

A situação emerge mais grave ainda quando este sistema vem  apontado como o principal causador da crise ambiental generalizada, culminando com o   aquecimento global. A perpetuação deste paradigma de produção e de consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera e a existência da espécie humana sobre o planeta.
Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso olhar sobre a realidade, olhar este subjacente à atual  sociedade de marcado: o pessimismo capitalista e o darwinismo social.

O pessimismo capitalista foi bem expresso pelo pai fundador da economia moderna Adam Smith (1723-1790), professor de ética em Glasgow. Observando a sociedade, dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoistas, cada qual procurando para si o melhor. Pessimista, acreditava que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado. Só nos resta moderá-lo. A forma é criar o mercado no qual todos competem com seus produtos, equilibrando assim os impulsos  egoistas.

O outro dado é o darwinismo social raso. Assume-se a tese de Darwin, hoje vastamente questionada, de que no processo da evolução das espécies sobrevive apenas o mais forte e o mais apto a adaptar-se. Por exemplo, no mercado, se diz, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes. É  bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas fica prejudicada. 

Há que se entender corretamente a teoria de Smith. Ele não a tirou das nuvens. Viu-a na prática selvagem do capitalismo inglês nascente. O que ele fez, foi traduzi-la teoricamente no seu famoso livro: "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e assim justificá-la. Havia, na época, um processo perverso de acumulação individual e de exploração desumana da mão de obra.

Hoje não é diferente. Repito os dados já conhecidos: os três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas o que equivale a 45% da humanidade; o resultado é que mais de um bilhão passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza; no Brasil 5 mil famílias possuem 46% da riqueza nacional. Que dizem esses dados se não expressar um aterrador egoismo? Smith, preocupado com esta barbárie e como professor de ética, acreditava que o mercado, qual mão invisível, poderia controlar os egoismos e garantir o bem estar de todos. Pura ilusão, sempre desmentida pelos fatos.

Smith falhou porque foi reducionista: ficou só no egoismo. Este existe mas pode ser limitado, por aquilo que ele omitiu: a cooperação, essencial ao ser humano. Este é fruto da cooperação de seu pais e comparece como um nó-de-relações sociais. Somente sobrevive dentro de relações de reciprocidade que limitam o egoismo. É verdade que egoismo e altruismo convivem. Mas se o altruismo não prevalecer, surgem perversões como se nota nas sociedades modernas assentadas na inflação do "eu" e no enfraquecimento da cooperação. Esse egoismo coletivo faz todos serem inimigos uns dos outros.

Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da cooperação de todos com todos e na solidariedade universal e não do "eu" que exclui. Se tivermos altruismo e compaixão não deixaremos que os fracos sejam vítimas da seleção natural. Interferiremos cuidando-os, criando-lhes condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada um é mais que um produtor e um consumidor. É único no universo, portador de uma mensagem a ser ouvida e é membro da grande família humana.

Isso não é uma questão apenas de política, mas de ética humanitária, feita de solidariedade e de compaixão.

Leonardo Boff é autor de Princípio compaixão e cuidado, Vozes (2007).

Óleo de cozinha usado gera renda e energia

Por Natália Mello - 27/04/2010

O Programa Bióleo, uma parceira da Petrobrás com a Essencis Soluções Ambientais e o Instituto PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), acaba de expandir sua atuação para mais quatro cidades paulistas e pretende beneficiar 15 mil pessoas. Além de Caieiras, os municípios de Francisco Morato, Franco da Rocha, Mairiporã e Perus recebem a iniciativa.

O Bióleo, que existe desde agosto de 2009, funciona assim: depois de filtrar o óleo de cozinha usado e armazená-lo de forma adequada, a população vende o insumo para o projeto, que o transforma em biodiesel. O material é, então, misturado ao óleo diesel mineral de unidades da Petrobrás.

Toda a verba proveniente da venda do óleo de cozinha é revertida para programas sociais nas comunidades. Cursos de alfabetização, escolas para a terceira idade, hortas comunitárias, compra de material escolar e reforma de jardins e canteiros pelas cidades são alguns exemplos das atividades desenvolvidas.

“O óleo comestível não pode simplesmente ser descartado no ralo da pia. Se for parar em rios, córregos e represas, ficará na superfície e impedirá a entrada de luz que alimenta os fitoplânctons, organismos essenciais para a cadeia alimentar aquática. Em redes de drenagem, pode causar entupimentos. E nas Estações de Efluentes de Tratamentos (ETE´s), quando em grande quantidade, forma uma camada flotada espessa, mal cheirosa e afeta a performance do sistema”, afirma Luzia Galdeano, superintendente operacional da regional São Paulo da Essencis. 

Ecóleo e Sabesp expandem coleta e reciclagem de óleo

Em seminário realizado na capital paulista, parceria convocou a sociedade brasileira e fazer o descarte correto do resíduo

Um exemplo que deu certo: a coleta e reciclagem de óleo de cozinha no bairro de Cerqueira César, zona central da capital paulista, reduziu em 26% o número de casos de entupimento na rede de esgoto da região entre 2008 e 2009. A ação foi promovida pela Associação Brasileira para Sensibilização, Coleta e Reciclagem de Resíduos de Óleo Comestível (Ecóleo). Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), os chamados para desobstrução de dutos caíram de 727 para 539.

Além disso, o programa, que teve adesão de mais de 1.500 dos 1.600 prédios da região, economizou dinheiro público que seria gasto com operações de desobstruções dos dutos. Por outro lado, evitou que milhares de litros de óleo usado poluíssem os rios lagos, represas, e mares da cidade.

Hoje, o litro do resíduo em São Paulo é vendido a cerca de R$ 0,90 e gera trabalho e renda para mais de 1200 brasileiros, entre trabalhadores de empresas e associados de cooperativas que fazem a coleta e reciclagem do material.

Esses números animadores levaram a Ecóleo, em parceria com a Sabesp, a organizar o 1º Seminário sobre Coleta e Reciclagem de Óleo Vegetal Usado, que teve lugar na última quarta-feira, dia 9 de junho, na sede da Sabesp. O evento apresentou o mapeamento feito pela associação e também outros casos de ONGs e empresas que possuem programas de reciclagem de óleo.

Participaram do encontro jornalistas, organizações sociais e vários representantes de empresas e cooperativas que fazem a coleta e venda do óleo.

Célia Marcondes, presidente da Ecóleo, ressaltou a importância de medir as ações realizadas para que elas sejam replicadas. “É com esses dados que esperamos mobilizar mais brasileiros para este movimento. A parceria com a Sabesp permitiu que tivéssemos o real alcance das nossas ações. Agora, fica mais claro para todos que ninguém perde nada com a reciclagem do óleo, muito pelo contrário”.

Hoje, empresas e cooperativas ligadas à Ecóleo instalaram pontos de coleta nos condomínios residenciais e comerciais por quase todo o Brasil. Clique aqui para ver qual o ponto de coleta mais próximo da sua casa ou prédio comercial.

O volume de trabalho para coordenar o processo aumentou tanto que, juntas, as entidades ligadas a Ecóleo já recolhem só na região da Grande São Paulo, 1,7 milhão de litros de óleo usado, cerca de 5% do volume consumido na região. “Mas ainda é muito pouco, há muito óleo que está sendo descartado de forma incorreta”, alerta Marcondes. “É a lógica da logística reversa. Estamos devolvendo às indústrias o que compramos delas e garantimos a eliminação de resíduos sem danificar o meio ambiente”, explica.

Gesner Oliveira, presidente da Sabesp, comemorou os números apresentados pela Ecóleo e convocou a sociedade brasileira para o desafio de coletar e encaminhar o óleo de cozinha para reciclagem. “Programas como esse deveriam ter adesão mundial, mas por enquanto, estamos satisfeitos em saber que este projeto é um dos que tem maior adesão da população dentro da nossa empresa”, disse.

Desde 2007, a Sabesp desenvolve o Programa de reciclagem de Óleo de Cozinha (Prol) com objetivo de estimular o aproveitamento do resíduo. Hoje mais de 30 agências da empresa já recebem óleo usado em diversos municípios do Estado de São Paulo. Clique aqui para saber mais sobre o Prol.

O óleo de cozinha usado, quando reaproveitado, serve para fabricação de biosidel, sabão e detergente.

 Fonte:  Instituto Akatu – 14-jun-2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Vazamento no Golfo – O “11 de setembro” ambiental

“Da mesma forma com que os ataques do 11 de setembro modificaram profundamente a política externa dos Estados Unidos, este desastre ecológico vai nos levar a repensar nossa política ambiental e energética”, relatou o presidente dos Estados Unidos Barack Obama em entrevista ao jornal Político, segundo informou a agência France Press.
Para Obama, este acidente só mostrou de que está mais do que na hora de “fazer a transição” para novas fontes de energia. Atualmente, ele está tentando aprovar no Congresso uma política ambiental que inclui a redução das emissões de gases de efeito estufa, afinal seu país é o segundo maior poluidor, depois da China.

Já se passaram mais de oito semanas depois da explosão da plataforma Deepwater Horizon da BP, no Golfo do México, e o fechamento do poço de onde escoa petróleo a mais de 1,5 km de profundidade continua sendo prioridade, mesmo assim, o objetivo só será alcançado em meados de agosto, quando os outros poços secundários estiverem prontos.

Ainda continua impossível de se avaliar a quantidade de petróleo que vaza com precisão, mas estima-se que seja algo entre 20 mil a 40 mil barris por dia.

Nesta semana Obama está visitando os estados afetados de Mississipi, Alabama e Flórida. Na primeira escala, em Gulfport (Mississipi), ele se encontrou com o chefe da guarda-costeira encarregado de coordenar as operações que tentam impedir o vazamento e recuperar o petróleo despejado,o almirante Thad Allen. Segundo um alto funcionário da Casa Branca, Obama participará de “uma mesa-redonda com moradores da região” que vivem principalmente da pesca e do turismo, dois dos principais setores afetados pela catástrofe.



Em seguida, o presidente americano irá inspecionar um depósito de equipamentos utilizados nas operações no Alabama. Hoje (15/06), Obama irá a Pensacola, área turística do Oeste da Flórida, antes de embarcar em um voo de volta a Washington, onde deve pronunciar um discurso sobre à maré negra. Ele deverá se reunir na quarta-feira (16) com o presidente e com o diretor da BP, Carl-Henric Svanberg e Tony Hayward, respectivmente.

A BP estimou nesta segunda-feira que o vazamento já custou à empresa US$ 1,6 bilhão de dólares. Obama já teria exigido a criação de uma conta financiada pelo grupo para assegurar o pagamento das indenizações às vítimas.

A paz fundada no paradigma do cuidado, por Leonardo Boff

Fatores de violência e de empecilhos à paz são, entre outros, a vontade de poder de um pais sobre outro, o patriarcalismo cultural que ainda marginaliza a mulher e a exploração da natureza em vista do  benefício material. O patriarcalismo enfraqueceu a dimensão do feminino que nos faz a todos mais sensíveis, rebaixou a inteligência emocional, nicho do cuidado e da experiência ética e espiritual.

Essa parcialidade, negando a dimensão da anima (o feminino) não deixou de afetar fortemente a ética. O núcleo da moralidade clássica herdada dos gregos e aperfeiçoada por Kant, Habermas e Rorty tem por base inconsciente a experiência do animus (masculino). Por isso ela se funda sobre duas pilastras básicas: na justiça que se expressa nos direitos e nos deveres  dos homens (deixando invisíveis as mulheres) e na autonomia do indivíduo, na idéia  de que somente um ser livre pode ser um ser ético.

Ora, esta visão é parcial pois deixa de fora  dimensões fundamentais, próprias mas não exclusivas do feminino (anima), como as relações afetivas que se dão na família, com os outros, com a natureza e com todos com os quais nos sentimos envolvidos. Sem tais relações a sociedade perde seu rosto humano. Aqui mais que a justiça vigora a categoria maior que é a do cuidado. O cuidado é um paradigma que se opõe ao da dominação. É aquela relação que se preocupa e se responsabiliza pelo outro, que se envolve e se deixa envolver com a vida em suas muitas formas, que mostra solidariedade e compaixão, que cura feridas passadas e previne feridas futuras.

A base empírica é a experiência, tão finamente analisada pelo psicanalista inglês D. Winnicott, de que todos necessitamos de ser cuidados, acolhidos, valorizados e amados e desejamos cuidar, acolher, valorizar e amar. As portadoras privilegiadas, mas não exclusivas, desta experiência são as mulheres. Elas  estão ligadas diretamente à vida que precisa de cuidado como na maternidade, na alimentação, no desvelo na enfermidade, no acompanhamento da educação. Estas características são próprias do princípio feminino (anima) que se encontra também no homem e que as realiza a seu jeito.

No transfundo desta ética do cuidado há uma antropologia mais fecunda que aquela tradicional, base da ética dominante: parte do caráter relacional do ser humano. Ele é um ser, fundamentalmente, de afeto, portador de pathos, de capacidade de sentir e de afetar e de ser afetado. Além da razão intelectual (logos) vem dotado da razão emocional, sensiível e da razão espiritual. Ele é um ser-com-os-outros e para-os-outros no mundo. Ele não existe isolado em sua esplêndida autonomia, mas vive sempre dentro de redes de relações concretas e se encontra permanentemente conectado. Não precisa de um contrato social para poder viver-junto. Sua natureza consiste em viver comunitariamente.

Sem dúvida, para termos uma cultura da paz duradoura precisamos  instituições justas. Mas o funcionamento delas não pode ser formal nem burocrático mas humano, cuidadoso e sensível aos contextos das pessoas e de suas situações. Mais que tudo, devemos nutrir uma cultura generalizada do cuidado para com a Terra, para com as pessoas, especialmente, as mais vulneráveis e nas relações entre os povos para evitar a guerra.

Ao invés do ganha-perde passa a funcionar o ganha-ganha. Com esta estratégia, se diminuem os fatores de tensão e de conflito. Para que se chegue à paz são relevantes as virtudes assumidas conscientemente, como a transparência, a disposição ao diálogo e à escuta, a acolhida calorosa do outro. Isso o presidente Lula o enfatizou ao abordar a questão do Irã sob ameaça da truculência norteamericana e de seus aliados por causa do enriquecimento do urânio para fins pacíficos (pretexto para controlar o petróleo e o gás).

Mas há uma dimensão subjetiva e espiritual que reforça a busca da paz. É a capacidade de perdão e de esquecimento de velhas rixas e conflitos. Hoje que as culturas se encontram, deixam manifestas as tensões históricas  que separam os povos. O olhar deve ser dirigido para frente na construção da nova relação fundada numa aliança de cuidado entre todos.

Está dentro das possibilidades de nosso ser, viver esse tipo de humanismo necessário. É a condição da paz duradoura, vista já por Kant como o fundamento  da República Mundial.


(Envolverde/O autor)

16/06/2010 - 10h06

novo Código Florestal

Comissão prevê votação do novo Código Florestal para esta segunda. Lute pelo meio ambiente! 
A Comissão Especial do Código Florestal Brasileiro deve votar nesta segunda-feira (21 de junho) as mudanças no Código Florestal propostas pelo relatório do deputado Aldo Rebelo, apresentado na última semana. Estas modificações tornam a legislação menos restritiva e colocam em risco a proteção ao meio ambiente e a qualidade de vida dos brasileiros. “Este documento é dedicado aos interesses econômicos específicos de um setor e não de toda a nação e, se aprovado, o novo Código Florestal Brasileiro poderá causar retrocesso e impactos ambientais irreversíveis”, afirma Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica. Agora, é preciso que toda a sociedade fale com os políticos em que votou e cobre uma posição do governo em relação a esta nova legislação. Para saber mais sobre como agir, acesse o site da campanha Exterminadores do Futuro.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cientistas responsabilizam celular por desaparecimento de abelhas, diz site

Por clipping

O desaparecimento de abelhas que alarmou a Europa e a América do Norte está sendo creditado, por alguns cientistas, ao crescimento do uso dos celulares, segundo o site do jornal britânico “Daily Telegraph”.
De acordo com o site, a Grã Bretanha teve uma queda de 15% na sua população de abelhas nos últimos dois anos.
Pesquisadores da Universidade Punjab dizem que a radiação dos telefones celulares é um fator chave no desaparecimento e alegam que isso está envolvendo nos sentidos de navegação das abelhas.
Segundo o “Daily Telegraph”, os cientistas fizeram um experimento durante três meses e compararam a situação das abelhas que estavam coexistindo com os celulares com as que não estavam.
As que estavam no ambiente com radiação de celular tiveram uma queda dramática no tamanho de sua colmeia e redução do número de ovos postos pela abelha rainha.
As abelhas também pararam de produzir mel. (Fonte: Folha.com)

http://flawegmann.wordpress.com

segunda-feira, 14 de junho de 2010

POSTE DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA 100% ALIMENTADO POR ENERGIA EÓLICA E SOLAR

Por GEVAN OLIVEIRA
Empresário cearense desenvolve o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energia eólica e solar


Não tem mais volta.
As tecnologias limpas – aquelas que não queimam combustível fóssil – serão o futuro do planeta quando o assunto for geração de energia elétrica. E, nessa onda, a produção eólica e solar sai na frente, representando importantes fatias na matriz energética de vários países europeus, como Espanha, Alemanha e Portugal, além dos Estados Unidos. Também está na dianteira quem conseguiu vislumbrar essa realidade, quando havia apenas teorias, e preparou-se para produzir energia sem agredir o meio ambiente. No Ceará, um dos locais no mundo com maior potencial energético (limpo), um ‘cabeça chata’ pretende mostrar que o estado, além de abençoado pela natureza, é capaz de desenvolver tecnologia de ponta.
O professor Pardal cearense é o engenheiro mecânico Fernandes Ximenes, proprietário da Gram-Eollic, empresa que lançou no mercado o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energias eólica e solar. Com modelos de 12 e 18 metros de altura (feitos em aço), o que mais chama a atenção no invento, tecnicamente denominado de Produtor Independente de Energia (PIE), é a presença de um avião no topo do poste.
Feito em fibra de carbono e alumínio especial – mesmo material usado em aeronaves comerciais –, a peça tem três metros de comprimento e, na realidade, é a peça-chave do poste híbrido. Ximenes diz que o formato de avião não foi escolhido por acaso. A escolha se deve à sua aerodinâmica, que facilita a captura de raios solares e de vento. "Além disso, em forma de avião, o poste fica mais seguro. São duas fontes de energia alimentando-se ao mesmo tempo, podendo ser instalado em qualquer região e localidade do Brasil e do mundo", esclarece.
Tecnicamente, as asas do avião abrigam células solares que captam raios ultravioletas e infravermelhos por meio do silício (elemento químico que é o principal componente do vidro, cimento, cerâmica, da maioria dos componentes semicondutores e dos silicones), transformando-os em energia elétrica (até 400 watts), que é armazenada em uma bateria afixada alguns metros abaixo. Cumprindo a mesma tarefa de gerar energia, estão as hélices do avião. Assim como as naceles (pás) dos grandes cata-ventos espalhados pelo litoral cearense, a energia (até 1.000 watts) é gerada a partir do giro dessas pás.
Cada poste é capaz de abastecer outros três ao mesmo o tempo. Ou seja, um poste com um "avião" – na verdade um gerador – é capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis lâmpadas LEDs (mais eficientes e mais ecológicas, uma vez que não utilizam mercúrio, como as fluorescentes compactas) de 50.000 horas de vida útil dia e noite (cerca de 50 vezes mais que as lâmpadas em operação atualmente; quanto à luminosidade, as LEDs são oito vezes mais potentes que as convencionais). A captação (da luz e do vento) pelo avião é feita em um eixo com giro de 360 graus, de acordo com a direção do vento.

À prova de apagão
 Por meio dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o poste tem autonomia de até sete dias, ou seja, é à prova de apagão. Ximenes brinca dizendo que sua tecnologia é mais resistente que o homem: "As baterias do poste híbrido têm autonomia para 70 horas, ou seja, se faltarem vento e sol 70 horas, ou sete noites seguidas, as lâmpadas continuarão ligadas, enquanto a humanidade seria extinta porque não se consegue viver sete dias sem a luz solar".

O inventor explica que a idéia nasceu em 2001, durante o apagão. Naquela época, suas pesquisas mostraram que era possível oferecer alternativas ao caos energético. Ele conta que a caminhada foi difícil, em função da falta de incentivo – o trabalho foi desenvolvido com recursos próprios. Além disso, teve que superar o pessimismo de quem não acreditava que fosse possível desenvolver o invento. "Algumas pessoas acham que só copiamos e adaptamos descobertas de outros. Nossa tecnologia, no entanto, prova que esse pensamento está errado. Somos, sim, capazes de planejar, executar e levar ao mercado um produto feito 100% no Ceará. Precisamos, na verdade, é de pessoas que acreditem em nosso potencial", diz.

Mas esse não parece ser um problema para o inventor. Ele até arranjou um padrinho forte, que apostou na idéia: o governo do estado. O projeto, gestado durante sete anos, pode ser visto no Palácio Iracema, onde passa por testes. De acordo com Ximenes, nos próximos meses deve haver um entendimento entre as partes. Sua intenção é colocar a descoberta em praças, avenidas e rodovias.
O empresário garante que só há benefícios econômicos para o (possível) investidor. Mesmo não divulgando o valor necessário à instalação do equipamento, Ximenes afirma que a economia é de cerca de R$ 21.000 por quilômetro/mês, considerando-se a fatura cheia da energia elétrica. Além disso, o custo de instalação de cada poste é cerca de 10% menor que o convencional, isso porque economiza transmissão, subestação e cabeamento. A alternativa teria, também, um forte impacto no consumo da iluminação pública, que atualmente representa 7% da energia no estado. "Com os novos postes, esse consumo passaria para próximo de 3%", garante, ressaltando que, além das vantagens econômicas, existe ainda o apelo ambiental. "Uma vez que não haverá contaminação do solo, nem refugo de materiais radioativos, não há impacto ambiental", finaliza Fernandes Ximenes.

Vento e Sol
Com a inauguração, em agosto do ano passado, do parque eólico Praias de Parajuru, em Beberibe, o Ceará passou a ser o estado brasileiro com maior capacidade instalada em geração de energia elétrica por meio dos ventos, com mais de 150 megawatts (MW). Instalada em uma área de 325 hectares, localizada a pouco mais de cem quilômetros de Fortaleza, a nova usina passou a funcionar com 19 aerogeradores, capazes de gerar 28,8 MW. O empreendimento é resultado de uma parceria entre a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a empresa Impsa, fabricante de aerogeradores. Além dessa, a parceria prevê a construção de dois outros parques eólicos – Praia do Morgado, com uma capacidade também de 28,8 MW, e Volta do Rio, com 28 aerogeradores produzindo, em conjunto, 42 MW de eletricidade. Os dois parques serão instalados no município de Acaraú, a 240 quilômetros de Fortaleza.Se no litoral cearense não falta vento, no interior o que tem muito são raios solares. O calor, que racha a terra e enche de apreensão o agricultor em tempos de estiagem, traz como consolo a possibilidade de criação de emprego e renda a partir da geração de energia elétrica. Na região dos Inhamuns, por exemplo, onde há a maior radiação solar de todo o país, o potencial é que sejam produzidos, durante o dia, até 16 megajoules (MJ – unidade de medida da energia obtida pelo calor) por metro quadrado.
Essa característica levou investidores a escolher a região, especificamente o município de Tauá, para abrigar a primeira usina solar brasileira. O projeto está pronto e a previsão é que as obras comecem no final deste mês (abr10). O empreendimento contará com aporte do Fundo de Investimento em Energia Solar (FIES), iniciativa que dá benefícios fiscais para viabilizar a produção e comercialização desse tipo de energia, cujo custo ainda é elevado em relação a outras fontes, como hidrelétricas, térmicas e eólicas.
A usina de Tauá será construída pela MPX – empresa do grupo EBX, de Eike Batista – e inicialmente foi anunciada com uma capacidade de produção de 50 MW, o que demandaria investimentos superiores a US$ 400 milhões. Dessa forma, seria a segunda maior do mundo, perdendo apenas para um projeto em Portugal. No entanto, os novos planos da empresa apontam para uma produção inicial de apenas 1 MW, para em seguida ser ampliada, até alcançar os 5 MW já autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os equipamentos foram fornecidos pela empresa chinesa Yingli.
Segundo o presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Antônio Balhmann, essa ampliação dependerá da capacidade de financiamento do FIES. Aprovado em 2009 e pioneiro no Brasil, o fundo pagaria ao investidor a diferença entre a tarifa de referência normal e a da solar, ainda mais cara. "A energia solar hoje é inviável financeiramente, e só se torna possível agora por meio desse instrumento", esclarece. Ao todo, estima-se que o Ceará tem potencial de geração fotovoltaica de até 60.000 MW.
Também aproveitando o potencial do estado para a energia solar, uma empresa espanhola realiza estudos para definir a instalação de duas térmicas movidas a esse tipo de energia. Caso se confirme o interesse espanhol, as terras cearenses abrigariam as primeiras termossolares do Brasil. A dimensão e a capacidade de geração do investimento ainda não estão definidas, mas se acredita que as unidades poderão começar com capacidade entre 2 MW a 5 MW.

Bola da vez
De fato, em todas as partes do mundo, há esforços cada vez maiores e mais rápidos para transformar as energias limpas na bola da vez. E, nesse sentido, números positivos não faltam para alimentar tal expectativa. Organismos internacionais apontam que o mundo precisará de 37 milhões de profissionais para atuar no setor de energia renovável até 2030, e boa parte deles deverá estar presente no Brasil. Isso se o país souber aproveitar seu gigantesco potencial, especialmente para gerar energias eólica e solar. Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o dever de casa no país passa, em termos de energia solar, por exemplo, pela modernização de laboratórios, integração de centros de referência e investimento em desenvolvimento de tecnologia para obter energia fotovoltaica a baixo custo. Também precisará estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos.
"Um dos objetivos do estudo, em fase de conclusão, é identificar as oportunidades e desafios para a participação brasileira no mercado doméstico e internacional de energia solar fotovoltaica", diz o assessor técnico do CGEE, Elyas Ferreira de Medeiros. Por intermédio desse trabalho, será possível construir e recomendar ações estratégicas aos órgãos de governo, universidades e empresas, sempre articuladas com a sociedade, para inserir o país nesse segmento. Ele explica que as vantagens da energia solar são muitas e os números astronômicos. Elyas cita um exemplo: em um ano, a Terra recebe pelos raios solares o equivalente a 10.000 vezes o consumo mundial de energia no mesmo período.
O CGEE destaca, em seu trabalho, a necessidade de que sejam instituídas políticas de desenvolvimento tecnológico, com investimentos em pesquisa sobre o silício e sistemas fotovoltaicos. Há a necessidade de fomentar o desenvolvimento de uma indústria nacional de equipamentos de sistemas produtivos com alta integração, além de incentivar a implantação de um programa de desenvolvimento industrial e a necessidade de formação de profissionais para instalar, operar e manter os sistemas fotovoltaicos.

Fonte: Revista Fiec

Projeto quer dar viabilidade econômica e ambiental a postes eólicos em vez de postes de energia elétrica

Há sete anos, o fortalezense Fernando Alves Ximenes, proprietário da empresa Gram Eollic, resolveu elaborar um projeto que pretende comprovar a viabilidade econômica e ambiental da instalação e manutenção dos postes eólicos no lugar dos postes convencionais de energia elétrica, existentes em rodovias e praças públicas.

A ideia despertou o interesse do Governo do Estado, que está testando o equipamento no Palácio Iracema, dando apoio à iniciativa, que, segundo Ximenes, é uma experiência pioneira no Brasil e no mundo. "Há algo parecido apenas no Japão, mas as baterias são enterradas na terra e não suspensas", adverte.

"Trata-se de um Produtor Independente de Energia (PIE), explica. "Desenvolvemos essa tecnologia nesses últimos anos aqui no Ceará. Temos o apoio do governador e do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi/Fiec) para abrir caminho a um forma de energia livre de poluentes, resíduos gasosos, líquidos ou térmicos. Não há contaminação do solo nem refugo de materiais radioativos, ou seja, não há impacto ambiental, o que significa custo baixo".

O poste eólico é composto por um gerador de energia (as hélices), um poste galvanizado, desenvolvido em aço, entre 12 e 18 metros de comprimento, uma bateria com capacidade para 70 horas e uma lâmpada tipo LED, com vida útil de 50 mil horas. "O equipamento é todo produzido aqui. Há alguns materiais importados, mas o desenvolvimento do projeto é cearense, com muito orgulho. Também há sensores, que podem ser trocados a cada quatro anos, para evitar que as lâmpadas fiquem ligadas durante o dia".

De acordo com Ximenes, o poste eólico garante que a energia alternativa seja utilizada, normalmente, por um bom período, mesmo em condições climáticas adversas. "Pode parar de ventar por sete dias que o gerador vai liberar a energia armazenada sem nenhum problema", afirma.

Ainda de acordo com o dono do invento, o poste e o gerador têm vida útil de, aproximadamente, 20 anos cada. A lâmpada proporciona iluminação oito vezes superior às demais utilizadas, atualmente. "É um projeto inovador, pioneiro no mundo. Um poste eólico pode gerar energia para ele próprio e mais dois. Viabiliza a instalação por quilômetro, no caso das rodovias, porque elimina o custo variável de transmissão ou pedágio de energia. Além da tarifa de consumo ser zero", diz Ximenes.

Fonte: Diario do Nordeste/Negócios
Reportagem: ILO SANTIAGO JR.

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