terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Acordo em Copenhague só levará a novas decepções, defende cético

Bjorn Lomborg acredita que tentar cortar emissões rapidamente é um erro.  Recursos deveriam ser investidos na resolução de outros problemas, diz.
Autor de “O Ambientalista Cético” (Campus, 2002), o dinamarquês Bjorn Lomborg acredita que um esforço mundial para cortar emissões de gases do efeito estufa no curto prazo é um gasto errado de recursos – seria mais útil, argumenta, investi-los em outros problemas igualmente graves e de mais fácil solução, como a desnutrição nos países pobres, e promover formas alternativas de energia para evitar lançar carbono na atmosfera.
Sua posição, é claro, não é bem vista por muitos ambientalistas. Apesar de discordar do que se está negociando na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 15), Lomborg tem surfado na onda das discussões sobre o efeito estufa e ganho mais notoriedade com o evento. Professor adjunto da Copenhagen Business School, o doutor em ciência política dirige ainda o Copenhagen Consensus Centre. Esta organização divulga a idéia de que as discussões em torno dos cortes de emissões de carbono têm sido uma perda de tempo – opinião expressa, inclusive, em outdoors instalados em Copenhague em plena COP 15.
O senhor argumenta que o aquecimento global não deveria ser uma prioridade porque não pode ser resolvido rapidamente. O que deveria ser prioridade da comunidade internacional?
É importante dizer que acho que o aquecimento global deveria ser uma prioridade, mas não a maior delas. Isso porque sabemos que, se for para gastar dinheiro, podemos fazer muito mais bem à humanidade colocando-o em coisas básicas, como desnutrição, saneamento básico e acesso à água potável, entre outras. Ao investir o dinheiro na questão climática como fazemos agora, provavelmente faremos muito pouco bem para cada dólar gasto.
Por que, então, o aquecimento global virou uma prioridade tão urgente? Há interesses por trás disso?
A primeira coisa que devemos reconhecer é que a mudança climática é uma prioridade no sentido de que se fala muito dela, mas se faz pouco. Está é minha principal preocupação: as mudanças climáticas são reais, são um problema, e são algo que deveríamos consertar, mas praticamente só falamos nelas de uma forma apocalíptica, como se fosse o fim da civilização, o que é infundado.
E também só falamos de cortes de emissões carbono imediatos, embora todas as análises econômicas mostrem que serão muito caros e trarão pouco benefício para o clima. Acredito que os principais motivos para que esta seja uma grande discussão - de relações públicas - são que dá boa oportunidade de notícias e dá chance para os políticos dizerem que querem salvar o mundo. Mas não leva realmente a uma solução para as mudanças climáticas.
O que estou tentando dizer é que a real “verdade inconveniente” é que gostamos de pensar que estamos fazendo algo contra as mudanças climáticas, mas até agora estamos seguindo a estratégia errada por mais de 20 anos. Na Eco 92, prometemos cortar emissões, e não fizemos isso. Em Kyoto , em 1997, prometemos cortar ainda mais e, ainda assim, não o fizemos. Então, reunir-se em Copenhague e fazer promessas ainda maiores é simplesmente uma maneira de termos um decepção ainda maior.
Então o senhor não vai participar da COP 15?
A conferência é para funcionários de governo, mas vou participar das discussões. Estou fazendo uma campanha publicitária e participando de muitas entrevistas na imprensa.
Os problemas que o senhor considera que devem ser solucionados com maior prioridade que o aquecimento global afetam principalmente os países mais pobres. No entanto, estes vêm a Copenhague na esperança de receber dinheiro das nações desenvolvidas para também controlarem suas emissões de carbono. Como esperar que os líderes dos países em desenvolvimento abram mão dessa possibilidade de ajuda financeira?
Obviamente vários países em desenvolvimento esperam receber centenas de bilhões de dólares com um acordo climático. Entendo que queiram receber este dinheiro, mas é improvável que ele venha. Já vimos isso várias vezes. Do acordo de Bonn, por exemplo, menos de 10% realmente saiu, em mais de cinco anos.
O senhor acompanhou o caso do vazamento de e-mails de pesquisadores do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)?
Acredito que esses e-mails nos mostram uma imagem muito menos bela do IPCC. Mostra que há uma crença forte em manter a ciência fechada, em afirmar que há uma só interpretação dos dados. Não contraria a ideia de que o aquecimento global é causado pelo homem, mas prejudica a imagem do painel.

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1406760-17816,00-ACORDO+EM+COPENHAGUE+SO+LEVARA+A+NOVAS+DECEPCOES+DEFENDE+CETICO.html

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