sexta-feira, 19 de março de 2010

Zurique é modelo em reciclagem de lixo

Facilitar o acesso a pontos de coleta seletiva é uma das grandes armas para incentivar a reciclagem. E o governo de Zurique ainda investe em ações de reuso e redução de resíduos porque, lá, o lixo é assunto sério
Nos últimos seis anos Zurique tem aparecido repetidamente como primeira colocada no ranking de cidade com a melhor qualidade de vida do mundo. Foi a vencedora novamente em 2007/2008, segundo pesquisa realizada pela Consultoria Mercer. A preocupação com o meio ambiente - incluindo esforços para reduzir a poluição do ar, garantir recursos hídricos e respeitar a biodiversidade são apenas alguns dos benefícios proporcionados ao morador da cidade.
Existem duas plantas de incineração de lixo na região de Zurique, que fazem a queima de resíduos, transformados então em energia e aquecimento. “70% do aquecimento da cidade é gerado pelo lixo”, revela Leta Filli, diretora de comunicação do ERZ Entsorgung + Recycling Zürich (Departamento de coleta e reciclagem de lixo).
Mas esse modelo de sucesso depende de um estreito elo de comprometimento entre governo, indústria e população. Exemplo claro disso vem do sistema de coleta de lixo e reciclagem local. Trezentas e setenta mil pessoas vivem em Zurique e, só em 2007, elas tornaram possível a reciclagem de 53 mil toneladas de lixo. Os suíços reciclam cerca de 80% das garrafas PET, enquanto que a média européia varia entre 20% e 40%.
Para chegar a esses números, o governo municipal estabeleceu a política dos 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Para reduzir a produção do lixo, o primeiro passo foi mexer com o bolso do cidadão. Anualmente, cada casa paga cerca de R$130 como taxa de lixo. Esse dinheiro é utilizado para custear a infra-estrutura de coleta, incineração dos resíduos e reciclagem. Mas não é só. O lixo de cada casa só é recolhido se estiver dentro do saco plástico oficial da cidade: no caso de Zurique, o saco é branco e tem o logotipo do ERZ. Os sacos variam de cor, dependendo da cidade ou cantão suíço e são caros!! Cada unidade, com capacidade para 35 litros, custa R$ 3, e de 110 litros, R$ 9,60. “Quanto mais você recicla, menos sacos você precisa comprar”, afirma Leta. Se o lixo estiver em outro tipo de saco, simplesmente não é coletado.
O sistema de coleta é extremamente organizado. No começo do ano, é distribuído um calendário, com as datas semanais e mensais de recolhimento de material e resíduos, para os próximos 12 meses. O lixo orgânico e tudo que não pode ser reaproveitado, é coletado semanalmente. Já o esquema para o material reciclável é diferente. Papel (revistas, jornais, envelopes, etc) e karton (caixas e embalagens feitas de cartão grosso) são recolhidos separadamente, também nas residências e prédios, e devem ser arrumados em pilha, enrolados com barbante. Sim, o governo suíço exige mais esse cuidado. “Nós somos os profissionais do assunto e para darmos um destino útil a esse material, a população tem que nos ajudar preparando as pilhas corretamente”, diz a diretora de comunicação do ERZ. A coleta de papel é realizada quinzenalmente e a de karton, uma vez por mês. Com mais um detalhe: os lixeiros não levam o que é deixado na frente das casas sem, antes, examiná-lo. Se alguém – até por engano - coloca outro tipo de material no mesmo pacote, eles retiram e deixam no local.
Garrafas, vidros, metal e alumínio podem ser jogados nos latões de lixo específicos para isso. Existem vários espalhados por toda a cidade. Em alguns bairros, há mais de um ponto de entrega desse material. Vidros têm três latões diferentes: um para os de cor branca (transparente), outro para marrom e o último para o vidro verde.
Novamente o alerta: o cidadão que for pego jogando algum outro tipo de lixo nesses locais pode ser denunciado ou, então, flagrado por câmeras escondidas e será multado.
Há ainda o cargo tram, que são bondes de carga que passam, mensalmente, em várias estações da cidade para recolher grandes volumes como móveis, brinquedos, colchões e outras coisas velhas e sem utilidade.

LOGÍSTICA REVERSA
E qual é o papel da indústria e do comércio na reciclagem de Zurique? Para começar, o recolhimento das garrafas PET, de pilhas e baterias fica por conta dos supermercados. Por isso, antes de fazer as compras, a maioria dos suíços sempre se desfaz das garrafas PET nas máquinas de coleta disponíveis nesses locais.
Outra importante ajuda da indústria é informar - nas próprias embalagens - o que pode ser reciclado e o que deve ser jogado fora. Um símbolo de um saco de lixo estampado no produto indica ao consumidor que aquele item não pode ser reaproveitado.
Por último, as lojas que vendem artigos eletrônicos e eletrodomésticos são obrigadas a receber de volta os produtos velhos ou quebrados. Quando o cliente compra uma nova televisão, por exemplo, ele já está pagando uma taxa embutida no valor da TV, que garante a devolução do antigo eletrônico ao estabelecimento.

O ENTUSIASMO DOS ESTRANGEIROS
Para o estrangeiro que muda para a Suíça, o sistema de reciclagem de lixo do país parece complexo, mas acaba se tornando fácil com a prática diária.
A nutricionista Suzana Mantovani, por exemplo, mora na região de Zurique há quase dois anos e é uma entusiasta da reciclagem. “Eu separo tudo: embalagens, óleo de cozinha, resíduos químicos, medicamentos vencidos e até roupas, que aqui são encaminhadas para instituições de caridade de outros países”, diz. “Passei a prestar mais atenção na hora de fazer compras. Dou preferência aos produtos com embalagens menores, recicláveis ou que possam usar refil”.
A holandesa Kim De Keijzer conta que, desde criança, está acostumada com a reciclagem, mas admite que o preço do saco oficial de lixo de Zurique estimula as pessoas a reciclarem mais. Assim como Kim, muitas das pessoas que aderem ao sistema de separação do lixo são pais. Pensam nos filhos antes de jogar qualquer coisa fora. “Fico imaginando o futuro de minhas filhas e do planeta, por isso é tão importante fazer o melhor possível nesse sentido”, revela.
MESMO SEM CONSENSO...
Apesar da eficiência do sistema suíço, ele não é uma unanimidade. Alguns criticam a extrema complexidade da separação dos diferentes resíduos. “Seria mais fácil se você pudesse se desfazer do lixo em qualquer dia, a qualquer hora”, reclama o engenheiro suíço Phillip Moebus. Obviamente é difícil ter consenso sobre qualquer assunto, mas é fato que, aqui, a reciclagem funciona.
Quando se joga uma garrafa PET fora, no lixo normal, é preciso ter consciência do que esse simples ato implica. “Amo e respeito a natureza. Lamento a situação de devastação do planeta, assim como a triste vida das populações que não tem acesso sequer a aquilo que jogamos fora”. A lição vem da brasileira Suzana, mãe do pequeno Eric, de um ano e meio. Se tudo der certo, ele vai viver num planeta um pouco menos poluído, também graças às ações praticadas pela mãe.

fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/conteudo_467362.shtml

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