quinta-feira, 24 de junho de 2010

Africanos convidados para a cúpula do G-8

Africanos convidados para a cúpula do G-8
Por Stephani Nieuwoudt, da IPS

Cidade do Cabo, 24/6/2010 – O Grupo dos Oito países mais poderosos convocou sete Estados africanos para sua reunião de cúpula em Muskoka, no Canadá, gerando dúvidas entre observadores quanto a isto refletir uma genuína preocupação com as promessas não cumpridas ou se é apenas maquiagem. O primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, foi quem fez o convite a África do Sul, Malavi, Etiópia, Senegal, Nigéria, Argélia e Egito para participarem da reunião do G-8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) que seu país receberá amanhã e depois.

Francis Ikome, diretor do programa africano do Instituto para o Diálogo Mundial (IGD), organização internacional dedicada à pesquisa, com sede em Joanesburgo, se mostrou cético sobre a representação africana. “Desde o lançamento da Nova Aliança para o Desenvolvimento da África (Nepad), se tornou tendência entre os países industrializados convidar Estados africanos para cúpulas como as do G20”, disse Ikome. “Habitualmente, são feitas muitas promessas”, nunca cumpridas inteiramente, acrescentou. “Aqui, o importante é se estas nações serão capazes de fazer concessões. Esta é uma reunião de países ocidentais industrializados. Creio que os africanos foram convidados para manter as aparências”, afirmou.

A reunião incluirá uma sessão na qual os sete Estados africanos participarão, junto com Jamaica, Haiti e Colômbia, convidados com base nos objetivos canadenses de política externa centrados na América. “Os dirigentes africanos transformam a si mesmos em objeto de ridicularização se participam apenas de conversações à margem deste tipo de reunião. Um líder não deveria voar até o Canadá apenas para falar nos corredores”, disse Ikome.

Trudi Hartzenberg, diretora-executiva do não governamental Trade Law Centre (Tralac, Centro de Direito Comercial) para a África austral, considera que as reuniões paralelas podem ser benéficas para os países africanos. “Não devemos esquecer que as discussões bilaterais importantes costumam ocorrer fora dos encontros formais”, destacou Hartzenberg, cuja organização tem sede na Cidade do Cabo, na África do Sul.

Mzukisi Qobo, do Instituto Sul-Africano para os Assuntos Internacionais, com sede em Joanesburgo, também adotou posição mais suave. “Ao Canadá preocupa que esteja diminuindo o impulso que ganharam os temas africanos na Cúpula de Gleneagles, em 2005”, afirmou. Naquele encontro, foi prometida a doação de US$ 25 bilhões à África, “dos quais apenas US$ 13 bilhões se concretizaram”, acrescentou.

Outras promessas surgidas na cúpula – realizada na cidade escocesa de Gleneagles, onde estiveram líderes de Argélia, Etiópia, Gana, Nigéria, Senegal, África do Sul e Tanzânia – incluíram mais apoio às forças de paz na África e maior investimento em educação e combate a doenças como HIV/aids, malária e tuberculose. Também foi sugerido, vagamente, acabar, “algum dia”, com o protecionismo comercial do mundo ocidental, além da promessa de cancelar US$ 40 bilhões da dívida dos países mais pobres, entre eles os africanos. Os membros europeus do G-8 também se comprometeram com o objetivo de uma ajuda externa de 0,56% do produto interno bruto até 2010 e de 0,7% até 2015. 

“Os sete convidados africanos foram escolhidos porque todos eles têm papeis importantes na África”, explicou Qobo. Durante algum tempo, o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, foi um menino mimado do mundo ocidental, além da situação dos direitos humanos em seu país, segundo Qobo. Considera-se que a Etiópia é um dos principais aliados dos Estados Unidos na África, relação na qual se aposta principalmente por sua proximidade geográfica com o Oriente Médio.

Argélia e Senegal são influentes países de língua francesa, enquanto Nigéria e Egito são importantes potênciais regionais. A África do Sul é vista como a potência econômica e política da África e guia do Nepal. Junto a ela, Nigéria, Argélia, Egito e Senegal foram os iniciadores dessa aliança. Malavi, o menor e mais pobre dos sete países, atualmente preside a União Africana. A África consolidou importantes relações com nações do bloco Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e esse vínculo é visto como uma ameaça para o Ocidente, disse Qobo. “O Canadá quer entender como pode se comprometer de modo tão significativo com a África com relação aos temas que giram em torno de segurança, assistência, comércio e investimentos”, acrescentou.

Hartzenberg afirmou que os países ocidentais usam a recessão mundial como uma desculpa fácil para não cumprirem suas promessas. Ikome disse que o G-8 está perdendo sua importância no cenário mundial. “Está sendo substituído pelo Grupo dos 20 (G-20). Seria muito melhor que os países africanos estivessem representados nas cúpulas do G-20”, afirmou. IPS/Envolverde




fonte: (IPS/Envolverde)

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