quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Carbono Azul, o potencial escondido no fundo do mar

Ecossistemas marinhos são peça-chave no combate as mudanças climáticas
Cancun, México, 03 de dezembro de 2010

Depósitos de carbono ao longo das áreas costeiras em todo o globo, incluindo manguezais, bancos de gramas marinhas e marismas (que são terrenos lamosos ou alagadiços à beira do mar), vêm armazenando enormes quantidades de carbono durante séculos. E esses depósitos podem fornecer uma ferramenta imediata e de baixo custo para conter os impactos das mudanças climáticas, anunciou a Conservação Internacional (CI) esta semana, durante uma apresentação sobre o tema em Cancún, onde acontece a  16ª Conferência das Partes (COP-16) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
O evento, "Carbono Azul: valorando a mitigação de CO2 pelos ecossistemas marinhos costeiros”, organizado pela Conservação Internacional, em parceria com a União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês), trouxe a seguinte questão: estamos perdendo nossas principais reservas de carbono ao longo das zonas litorâneas?
Segundo os cientistas que apresentaram a pesquisa, a resposta é enfática: ‘sim!’.
Apelidados de "carbono azul" por sua habilidade de sequestrar e armazenar enormes quantidades de carbono, os ecossistemas marinhos costeiros apresentam grande potencial de mitigação do clima, se forem valorados e bem manejados. Segundo os cientistas, os depósitos totais de carbono por quilômetro quadrado nesses sistemas costeiros podem ser até cinco vezes maior que o carbono armazenado nas florestas tropicais. Isso é resultado da sua capacidade de sequestrar carbono em taxas até 50 vezes superiores às das florestas tropicais.
"O que temos visto é que esses três ecossistemas - manguezais, bancos de gramas marinhas e marismas - são incrivelmente eficientes em armazenar carbono no sedimento abaixo do solo por séculos a fio", afirma Emily Pidgeon, diretora do Programa Marinho de Mudanças Climáticas da Conservação Internacional. "Para nós é tão natural que os oceanos devam ser parte da solução da mudança climática, que chega a ser até surpreendente que eles não tenham sido considerados até hoje", confessa Emily.
De acordo com a análise científica, os ecossistemas costeiros estão sofrendo perdas no mundo todo, em um ritmo alarmante, sendo que aproximadamente 2% estão sendo removidos ou degradados por ano. Outras conclusões importantes do estudo sobre a degradação dos ecossistemas marinhos costeiros foram:
• 29% dos bancos de gramas marinhas do mundo foram perdidos ou degradados
• 35% dos manguezais do planeta foram perdidos ou degradados
• 35 mil km2 de manguezais foram removidos ao redor do mundo entre 1980 e 2005, o que equivale a uma área do tamanho de Taiwan.
"A perda dos manguezais é como um golpe duplo para o nosso planeta: primeiro, porque resulta numa rápida emissão dos estoques de carbono que, em muitos casos são resultado de séculos de depósitos combinada com a perda de oportunidade de futuros sequestros de carbono por essas áreas e, em segundo , porque destrói os habitats que são críticos para a as atividades de pesca em todo o mundo ", analisa Pidgeon.
Também foi anunciado na apresentação o lançamento de um novo consórcio internacional de cientistas liderado pela CI, chamando de Iniciativa do Carbono Azul (Blue Carbon Iniciative, em inglês), cujos membros incluem, além da CI, a IUCN, o Centro de Monitoramento da Conservação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP-WCMC), a Comissão Intergovernamental Oceanográfica (da Unesco), e a Restoring America´s Estuaries.
"Nós nos reunimos para estudar as possibilidades de mitigação e do valor econômico dos ecossistemas marinhos costeiros, porque essas áreas nos oferecem uma das poucas opções de baixo custo para remover o dióxido de carbono da atmosfera, de forma efetiva e imediata," explica a diretora.
Durante os próximos 2 a 4 anos, a Iniciativa Carbono Azul tem como objetivo orientar e desenvolver:
• Práticas de manejo em áreas costeiras que conservem os estoques de carbono
• Políticas que vão do âmbito local ao nacional que enfatizem a importância dos sistemas costeiros para a mitigação das mudanças climáticas
• Mecanismos de incentivo e de pagamento de carbono que valorem o carbono armazenado e sequestrado pelos ecossistemas costeiros,
• Uma rede de projetos demonstrativos, sobretudo nos ecossistemas costeiros da Indonésia, Filipinas e do Pacífico Tropical Oriental,
• Ferramentas de comunicação e de capacitação para o manejo do carbono costeiro, além de incentivos.
"É importante que a comunidade internacional comece a reconhecer o potencial valor desses ecossistemas costeiros e ofereça incentivos para a sua conservação e restauração", aponta Rebecca Chacko, diretora de Política Climática da Conservação Internacional, durante as negociações do Painel de Mudanças Climáticas que acontece em Cancun. "A partir do momento em que compreendermos o papel que esses ecossistemas desempenham na mitigação das mudanças climáticas, poderemos até sermos capazes de desenvolver um mecanismo internacional que possa contribuir para sua proteção e restauração”, completa Rebecca.
Um evento paralelo dentro da COP-16, a apresentação também  revelou os destaques de um relatório inédito do Banco Mundial sobre o carbono costeiro, que tem lançamento previsto para o início do próximo ano .
"A ciência já está disponível, mas até agora não aconteceu nenhuma atividade coordenada para consolidar esse conhecimento e transformar em política ", avalia Stephen Crooks,  autor do relatório e consultor da Restoring America´s Estuaries. "Nossa mensagem é clara: a conservação é uma alta prioridade se você quiser manter séculos de carbono estocado no solo - e não simplesmente liberá-lo no ar”, conclui o cientista.
Imagens e o PDF do artigo estão disponíveis na Conservação Internacional mediante solicitação.
Para mais informações, contate:
Conservação Internacional
Assessoria de Imprensa  - Cancun
Kim McCabe, tel: +1 202-203-9927, email: kmccabe@conservation.org  
Katrin Olson, tel +1 (202) 549-3953, email: kolson@conservation.org
Assessoria de Imprensa – EUA: Patricia Malentaqui , tel: +1 703 341 2471; cel: +1 571 225-8345; email: p.malentaqui@conservation.org
Assessoria de Imprensa – Brasil: Fernando Cardoso,  tel  (91) 3225-3848 / 3225-3707; cel: (91) 8135-6644; email: f.cardoso@consercavao.org

CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL
A Conservação Internacional (CI) é uma organização privada, sem fins lucrativos, fundada em 1987 com o objetivo de promover o bem-estar humano fortalecendo a sociedade no cuidado responsável e sustentável para com a natureza – nossa biodiversidade global -, amparada em uma base sólida de ciência, parcerias e experiências de campo. Como uma organização não governamental (ONG) global, a CI atua em mais de 40 países, distribuídos por quatro continentes. Em 1988, iniciou seus primeiros projetos no Brasil e, em 1990, se estabeleceu como uma ONG nacional. Está abrindo nova sede no Rio de Janeiro e possui escritórios em Belo Horizonte-MG, Brasília-DF e Belém-PA, além de unidades avançadas em Campo Grande-MS e Caravelas-BA. Para mais informações sobre a CI, visite www.conservacao.orgwww.conservation.org

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