domingo, 4 de março de 2012

usina solar



A usina solar térmica Andasol 3, na Espanha, pode gerar energia também à noiteLATINSTOCK


BERLIM - A Europa busca nos desertos um caminho para suprir sua demanda energética. Em 2011, a Espanha começou a usar a todo vapor a maior usina solar no mundo, instalada numa das regiões mais áridas do país. Mas o mais ambicioso projeto europeu está em curso na África, no Deserto do Saara. É lá que o consórcio Desertec, formado por 50 empresas alemãs, começa a construir este ano uma usina de energia solar colossal. A ideia é construir usinas solares em várias partes do Saara para atender de 15% a 20% das necessidades europeias.
A primeira usina, que ocupará uma área de 12 quilômetros quadrados, fornecerá 500 megawatts de energia para o Velho Continente a partir de 2014. Mas, de acordo com Paul van Son, chefe do projeto, ainda não foi decidido se será usada a tecnologia de solartermia (aquecimento da água para a movimentação de uma turbina a vapor), ou o método fotovoltaico. A geração fotovoltaica tem a vantagem de ser mais barata, produzindo energia pela ação da luz do Sol no silício das células captadoras. Já a geração fotovoltaica, usada na usina egípcia Kuraymot é mais cara, mas tem a vantagem de permitir a produção de energia à noite. A usina egípcia foi construída pela empresa alemã Solar Millenium, que faz parte do consórcio Desertec e também construiu as usinas Andasol 1, 2 e 3 na Andaluzia, Espanha, entre as mais modernas do mundo e um exemplo do que será a usina do Saara.
Christine Krebs, porta-voz da Solar Millenium, explica que a configuração das usinas espanholas permite que o calor do dia seja guardado para geração à noite:
— O calor é armazenado, o que torna possível a produção de energia também depois do pôr do sol.
Com sede na cidade de Erlangen, a Solar Millenium está instalada onde antigamente funcionava também a filial da empresa Siemens Kraftwerkunion (KWU), responsável pela construção das usinas nucleares brasileiras Angra 2 e 3.
Apesar de o sistema de geração ainda não ter sido decidido, a primeira usina terá um investimento previsto de 2 bilhões de euros. Ao todo, o projeto, que prevê a construção de mais usinas em Marrocos, Egito, Argélia e outros países, deverá custar 400 bilhões de euros, sendo 50 bilhões $ó nas linhas de transmissão. Há poucos dias, também foi assinado um acordo com o grupo argelino Sonelgaz para a construção de usinas de energia solar no país africano.
Os cabos de transmissão já começaram a ser instalados no Mar Mediterrâneo. Para isso, foi fechado um acordo com o grupo francês Medgrid, um consórcio de 20 empresas do país. A DII (Iniciativa Industrial), o grupo que realiza o projeto Desertec, já assinou acordos de cooperação também com uma empresa espanhola que já tem uma linha de transmissão de energia entre Espanha e Marrocos com capacidade de 1.400 megawatts.
Embora o Marrocos tenha Sol em abundância, ele importa energia da Espanha. Com o projeto da Desertec, ha$á produção de energia também para consumo local. Fazem parte do consórcio alemão, criado em 2009, algumas das mais importantes empresas do país nos setores tecnológico (Siemens e ABB); de energia (RWE e E.on); e financeiro (Deutsche Bank e a companhia de resseguros Münchner Rück).
Günther Oettinger, comissário de Energia da União Européia, vê o projeto Desertec como a opção do futuro de uma Europa sem energia atômica. Por enquanto, apenas a Alemanha decidiu por lei abandonar o uso da energia nuclear, mas as alternativas renováveis são vistas como o futuro de todo o continente. Atualmente, 80% da energia da França vêm de centrais atômicas.
— Há agora uma perspectiva concreta para a produção de energia solar $eólica para o proveito das populações na Europa, Norte da África e Oriente Médio — diz Oettinger.
Noureddine Bouterc, chefe da Sonelgaz, conta que a meta de seu país é atingir 40% do abastecimento de energia vinda de fontes renováveis até 2030. Ao participar do projeto Desertec, a Argélia planeja exportar 10 gigawatts por ano.
Segundo Paul van Son, a ideia de produzir energia no deserto para o consumo na Europa deixou de ser uma visão para tornar-se uma realidade concreta. Um dos obstáculos, porém, é o ainda alto custo desta energia. Em comparação com as fontes tradicionais, a geração solar é mais cara. Mas os responsáveis pelo projeto contam com subsídios, pelo menos dos governos europeus, e com uma redução dos custos a longo prazo.
— A tecnologia é ainda nova, os custos devem baixar — pondera o chefe do Desertec.
Atualmente, os custos da energia solar e eólica — as centrais do deserto do Saara terão também turbinas para produção de energia eólica — são muito mais altos do que os das ener$nuclear, hidrelétrica ou de usinas de carvão. Christine Krebs calcula que uma quilowatt-hora de energia hidrelétrica custa seis centavos de euro. Já a mesma quantidade de energia solar custa 40 centavos de euro. Segundo ela, no começo essa forma de energia renovável vai depender dos subsídios públicos. Mas como na Alemanha decidiu depois da catástrofe de Fukushima, no Japão, desativar as usinas nucleares do país em um prazo de cerca de dez anos, a disposição do governo em dar subsídios para o projeto Desertec é grande, mesmo com a crise do euro. Ainda este ano, o consórcio vai decidir quantas usinas e qual será a área total do deserto a ser ocupada com sua rede de usinas solares e eólicas.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/usinas-solares-eolicas-no-saara-vao-abastecer-ate-20-da-europa-3629037#ixzz1o8kf3FBJ 
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